Na Grande Maçã, no Penico, na Área 51, na terra do Marco e pelos ares

08-12-2019
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Vários países da Europa têm dimensões maiores e mais
florestas do que Portugal. É um facto que este foi um verão longo, extremamente
seco e com temperaturas altas. Mas a verdade é que tragédia de Pedrogão não nos
ensinou nada. Morreram 66 pessoas, um incontável número de feridos, bens
perdidos, casas, florestas irrecuperáveis nos próximos anos. A culpa não foi de
ninguém. Aliás, culpa, é uma palavra proibida e associada a crenças religiosas
judaico-cristãs. Troquemos então a palavra culpa por responsabilidade. Quem
deve assumir? Em Pedrogão: ninguém até agora. Não se demitiu nem foram
demitidas pessoas nesta tragédia que ceifou 66 vidas. Toda a gente nos
atentados de Paris colocou “Je suis Charlie” mas 66 pessoas morrerem queimadas
a fugir ou a proteger os seus bens não é tão mediático como ser morto por
terroristas. Que medidas foram tomadas para que algo do género não se
repetisse? Tudo se adia neste país.

Num outono pouco comum, com temperaturas de verão e
chuva que teima em não cair, repete-se a tragédia. Portugal a norte do Tejo a
arder. Quarenta e um (41) mortos. Um secretário de Estado da Administração
Interna que acha que os cidadãos têm que ser proactivos. A sério? Um senhor com
responsabilidades políticas achar que os civis podem ajudar em vez de
atrapalhar numa tragédia? Quais as razões para se terem extinguido as vigias
nas florestas, sabendo que as temperaturas continuariam altas? Qual a razão de
os militares não terem sido convocados para ajudar na patrulha de estradas
e/ou florestas para dar nem que fosse uma sensação ínfima de respeito e
segurança e demover os supostos incendiários?  Relatos de estradas não cortadas por falta de
efectivos? E declarações como “os bombeiros não podem estar em todo o lado”? Como
é possível uma mata real, mandada plantar por Dom Dinis no séc. XIII,  que sobreviveu durante séculos e que é propriedade
do Estado português ter 80% da sua área queimada num fim de semana? Como é possível uma das dirigentes da Protecção Civil ler (não falar de improviso) que Vieira do Minho e Guimarães são no distrito da Guarda. Como há margem para erros destes na leitura de comunicados? Tudo parece improvisado. Era como se me colocassem a mim a falar de microeconomia.

Eu vi em directo as declarações de  António Costa na madrugada de segunda nas instalações da Protecção Civil em Carnaxide: “não existem varinhas mágicas”. Foi inacreditável o que ouvi. Só lhe faltou dizer: “vamos esperar e sentar-nos à espera que tudo arda”. Alguém dizia, e bem, que a António Costa tem-lhe faltado sentimento, afecto, conforto. O homem parece um autómato insensível a tamanha tragédia. Ontem à noite, preferi manter a tv desligada, porque me bastava o cheiro e a visão que tenho de casa. Mas li que a postura de António Costa se manteve. Um discurso técnico, insensível, arrogante. Não é isto que se espera de um Primeiro-Ministro. Palavras de força e apoio, de energia, de alento. Esperávamos um homem mais sensível e mais humano. Um homem que se comovesse, que falasse mais com o coração e menos com a cabeça. Ele e a Ministra da Administração Interna suportada (apenas) por ele são pessoas sós no autismo dos seus gabinetes e na segurança das suas cosmopolitas casas.

Onde estão as consequências políticas do relatório
de Pedrogão? Não é nos momentos adversos que se conhecem as pessoas? Como é
possível nenhuma das deputadas das geringonça, sempre tão activas nas redes
sociais a apontar erros aos outros, não fazerem um mea culpa e proporem
alterações nas leis, como por ex,  aumentar drasticamente a moldura penal para quem
deflagra incêndios que têm consequências que as três gerações futuras ainda
poderão ver e sentir?

Hoje de manhã passei nos montes que rodeiam Braga e
era um manto coberto de preto e fumo. Que tristeza que me deu. Impossível ficar
indiferente a este cenário de devastação. E que inúteis nos sentimos quando a
única ajuda que podemos pedir e clamar seja a universal natureza. Quando temos
um Primeiro-Ministro que está mais preocupado em manter uma Ministra. E uma
Ministra a dizer que seria mais fácil abandonar porque não teve férias. Estas atitudes
de irresponsabilidade política fazem recuar-me uns anos e louvar quando
tínhamos homens e políticos de verdade que assumiam politicamente erros que não
tinham directamente intervenção deles, como foi o caso da demissão do então
Ministro Jorge Coelho aquando da queda da ponte de Entre-os-Rios.

Que (mais) esta tragédia nos ensine alguma coisa.
Que sejam nomeadas pessoas competentes para os cargos de chefia, gente com
valor demonstrado na sociedade e na academia. Empreguem os boys dos partidos
nos gabinetes e como putos de recados com bons salários e os seus fatos de bom
corte, mas por favor, não coloquem (mais) gente incompetente a coordenar coisas
para as quais não têm conhecimento.

O numero de mortos e feridos nestes incêndios foi uma
tragédia. Pessoas que morreram na maior das aflições sem serem ajudadas. Como
poderemos ficar indiferentes? Como poderemos não pedir responsabilidades? Como
poderemos continuar com a nossa vidinha? Como podemos nos calar? E saber que uma
Ministra com esta incompetência e esta falta de noção das suas limitações se
mantenha no cargo, como uma lapa, repetindo “não me demito”, é de dar dó. Esta
morte lenta na fogueira do poder não dignifica ninguém. Mas, de facto, já
perdeu o tempo. Já nada do que fizer será uma atitude digna e sair de cabeça
levantada.

Não estou a pedir a cabeça de ninguém. Somos todos
humanos. Errar é humano. Mas errar duas vezes, no mesmo ano, separados apenas
por meses, com consequências tão devastadoras é resignarmo-nos à nossa
inutilidade. Informaram-me que 234 800 000
EUROS: é quanto o Estado prevê gastar em 2018 em combate a incêndios. Zero (0) EUROS: é quanto o Estado prevê gastar em 2018 em prevenção de incêndios.
(Mais) palavras para quê? Deitemo-nos,
pois, em posição fetal a chorar e acordemos quando já não restar mais nada para
arder e mais nada para salvar.

Copyright: Pedro Remy

Vários países da Europa têm dimensões maiores e mais
florestas do que Portugal. É um facto que este foi um verão longo, extremamente
seco e com temperaturas altas. Mas a verdade é que tragédia de Pedrogão não nos
ensinou nada. Morreram 66 pessoas, um incontável número de feridos, bens
perdidos, casas, florestas irrecuperáveis nos próximos anos. A culpa não foi de
ninguém. Aliás, culpa, é uma palavra proibida e associada a crenças religiosas
judaico-cristãs. Troquemos então a palavra culpa por responsabilidade. Quem
deve assumir? Em Pedrogão: ninguém até agora. Não se demitiu nem foram
demitidas pessoas nesta tragédia que ceifou 66 vidas. Toda a gente nos
atentados de Paris colocou “Je suis Charlie” mas 66 pessoas morrerem queimadas
a fugir ou a proteger os seus bens não é tão mediático como ser morto por
terroristas. Que medidas foram tomadas para que algo do género não se
repetisse? Tudo se adia neste país.

Num outono pouco comum, com temperaturas de verão e
chuva que teima em não cair, repete-se a tragédia. Portugal a norte do Tejo a
arder. Quarenta e um (41) mortos. Um secretário de Estado da Administração
Interna que acha que os cidadãos têm que ser proactivos. A sério? Um senhor com
responsabilidades políticas achar que os civis podem ajudar em vez de
atrapalhar numa tragédia? Quais as razões para se terem extinguido as vigias
nas florestas, sabendo que as temperaturas continuariam altas? Qual a razão de
os militares não terem sido convocados para ajudar na patrulha de estradas
e/ou florestas para dar nem que fosse uma sensação ínfima de respeito e
segurança e demover os supostos incendiários?  Relatos de estradas não cortadas por falta de
efectivos? E declarações como “os bombeiros não podem estar em todo o lado”? Como
é possível uma mata real, mandada plantar por Dom Dinis no séc. XIII,  que sobreviveu durante séculos e que é propriedade
do Estado português ter 80% da sua área queimada num fim de semana? Como é possível uma das dirigentes da Protecção Civil ler (não falar de improviso) que Vieira do Minho e Guimarães são no distrito da Guarda. Como há margem para erros destes na leitura de comunicados? Tudo parece improvisado. Era como se me colocassem a mim a falar de microeconomia.

Eu vi em directo as declarações de  António Costa na madrugada de segunda nas instalações da Protecção Civil em Carnaxide: “não existem varinhas mágicas”. Foi inacreditável o que ouvi. Só lhe faltou dizer: “vamos esperar e sentar-nos à espera que tudo arda”. Alguém dizia, e bem, que a António Costa tem-lhe faltado sentimento, afecto, conforto. O homem parece um autómato insensível a tamanha tragédia. Ontem à noite, preferi manter a tv desligada, porque me bastava o cheiro e a visão que tenho de casa. Mas li que a postura de António Costa se manteve. Um discurso técnico, insensível, arrogante. Não é isto que se espera de um Primeiro-Ministro. Palavras de força e apoio, de energia, de alento. Esperávamos um homem mais sensível e mais humano. Um homem que se comovesse, que falasse mais com o coração e menos com a cabeça. Ele e a Ministra da Administração Interna suportada (apenas) por ele são pessoas sós no autismo dos seus gabinetes e na segurança das suas cosmopolitas casas.

Onde estão as consequências políticas do relatório
de Pedrogão? Não é nos momentos adversos que se conhecem as pessoas? Como é
possível nenhuma das deputadas das geringonça, sempre tão activas nas redes
sociais a apontar erros aos outros, não fazerem um mea culpa e proporem
alterações nas leis, como por ex,  aumentar drasticamente a moldura penal para quem
deflagra incêndios que têm consequências que as três gerações futuras ainda
poderão ver e sentir?

Hoje de manhã passei nos montes que rodeiam Braga e
era um manto coberto de preto e fumo. Que tristeza que me deu. Impossível ficar
indiferente a este cenário de devastação. E que inúteis nos sentimos quando a
única ajuda que podemos pedir e clamar seja a universal natureza. Quando temos
um Primeiro-Ministro que está mais preocupado em manter uma Ministra. E uma
Ministra a dizer que seria mais fácil abandonar porque não teve férias. Estas atitudes
de irresponsabilidade política fazem recuar-me uns anos e louvar quando
tínhamos homens e políticos de verdade que assumiam politicamente erros que não
tinham directamente intervenção deles, como foi o caso da demissão do então
Ministro Jorge Coelho aquando da queda da ponte de Entre-os-Rios.

Que (mais) esta tragédia nos ensine alguma coisa.
Que sejam nomeadas pessoas competentes para os cargos de chefia, gente com
valor demonstrado na sociedade e na academia. Empreguem os boys dos partidos
nos gabinetes e como putos de recados com bons salários e os seus fatos de bom
corte, mas por favor, não coloquem (mais) gente incompetente a coordenar coisas
para as quais não têm conhecimento.

O numero de mortos e feridos nestes incêndios foi uma
tragédia. Pessoas que morreram na maior das aflições sem serem ajudadas. Como
poderemos ficar indiferentes? Como poderemos não pedir responsabilidades? Como
poderemos continuar com a nossa vidinha? Como podemos nos calar? E saber que uma
Ministra com esta incompetência e esta falta de noção das suas limitações se
mantenha no cargo, como uma lapa, repetindo “não me demito”, é de dar dó. Esta
morte lenta na fogueira do poder não dignifica ninguém. Mas, de facto, já
perdeu o tempo. Já nada do que fizer será uma atitude digna e sair de cabeça
levantada.

Não estou a pedir a cabeça de ninguém. Somos todos
humanos. Errar é humano. Mas errar duas vezes, no mesmo ano, separados apenas
por meses, com consequências tão devastadoras é resignarmo-nos à nossa
inutilidade. Informaram-me que 234 800 000
EUROS: é quanto o Estado prevê gastar em 2018 em combate a incêndios. Zero (0) EUROS: é quanto o Estado prevê gastar em 2018 em prevenção de incêndios.
(Mais) palavras para quê? Deitemo-nos,
pois, em posição fetal a chorar e acordemos quando já não restar mais nada para
arder e mais nada para salvar.

Copyright: Pedro Remy

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