Está feita a remodelação: Pedro Nuno Santos, Mariana Vieira da Silva e Nelson Souza sobem a ministros

12-05-2020
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É o nome menos surpreendente da lista, era dada como certa a promoção dentro do Executivo, e há dias que só se discutia qual era a amplitude da pasta que lhe seria atribuída. Faz sentido: o importante trabalho que Pedro Nuno Santos desempenhou no governo, de articulação parlamentar com os partidos que formam a chamada “geringonça”, a partir de um gabinete que passou a ser conhecido como “a cave”, foi bem sucedido mas estava basicamente esgotado com a aprovação do último orçamento da legislatura. Para além disso, Pedro Nuno Santos não escondia o cansaço acumulado com quase quatro anos naquelas funções que, em entrevista ao Observador, chegou a descrever também como a de “moço de recados”, ou “bola de ping-pong”. Embora o próprio considere redutora essa definição, executou um trabalho essencialmente político no governo e só agora ganha uma pasta mais setorial. A que herda, Infraestruturas, não é seguramente das mais fáceis, incluí os investimentos rodo e ferroviários, os aeroportos e as telecomunicações e esses são dossiers que têm estado debaixo de críticas à direita e à esquerda, e com o anterior titular em campanha, não é provável que as críticas baixem de tom.

Numa mudança da orgânica do governo, ganha ainda a pasta da Habitação que estava nas mãos de João Pedro Matos Fernandes. No parlamento, já acompanhava de perto a negociação do pacote da habitação que é um tema quente e que é suposto ser uma das prioridades até ao final da legislatura.

https://observador.pt/videos/entrevista-2/pedro-nuno-santos-um-proclamador-forjado-na-rota-da-carne-assada/

Diz que nasceu e cresceu no PS, e no partido já foi secretário-geral da JS entre 2004 e 2008, líder de federação em quatro mandatos e presidente de concelhia. Tem ambições políticas que não esconde, ao ponto de no último Congresso ter sido preciso António Costa vir dizer que ainda não tinha posto “os papéis para a reforma”. Apoiante do primeiro-ministro desde a primeira hora, é ao lado dele que se costuma sentar nos debates quinzenais, e jura-lhe “lealdade até ao fim”. Ao mesmo tempo vai reclamando para si alguns louros do sucesso desta governação inédita: não só o facto de ter tido um papel importante nas negociações para as posições conjuntas com os partidos à esquerda, como também o papel que os Assuntos Parlamentares tiveram na negociação dos orçamentos: “O Orçamento que sai das Finanças, tal como as Finanças o desejariam, não tinha passado uma única vez”, chegou a dizer na mesma entrevista onde assumia ter qualidades políticas para qualquer função ministeriável. António Costa parece ter concordado. Ou decidiu pagar para ver.

Agora como ministro das Infraestruturas e Habitação terá como secretários de Estado Ana Pinho (que se mantém na Habitação embora tenha saído da dependência do Ministro do Ambiente), e ganha duas novas entradas: na secretaria de Estado das Infrasestruturas, saiu Guilherme W. de Oliveira Martins e é substituído por Jorge Delgado, professor e Engenheiro Civil que era até agora presidente da Metro do Porto; como secretário de Estado-adjunto e das Comunicações entra Alberto Souto de Miranda, que sai da Caixa Geral de Depósitos para onde tinha sido nomeado por este governo como vogal não executivo do Conselho de Administração.

O “doutor Nélson” vai gerir ministério que tem em Costa o criador

Nélson de Souza foi um dos governantes que transitaram da câmara de Lisboa para o governo de António Costa logo assim que o PS chegou ao poder em 2015. Nascido na Índia em 1954 e licenciado no ISEG um ano depois do 25 de abril, Nélson Souza era diretor geral de uma associação patronal (a Associação Industrial Portuguesa, que faz parte da CIP) quando foi trabalhar como assessor de Fernando Medina para a maior autarquia do país.

Nélson de Souza é do círculo próximo de António Costa e, segundo contaram ao Observador membros do Governo, às vezes até é confundido com o primeiro-ministro por serem “fisicamente parecidos“. Muito conhecido do mundo empresarial, é raro o empresário que trabalhe com fundos comunitários que não conheça o “doutor Nélson”, como é referido o secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão.

Na câmara começou por assessorar Medina, que nessa altura tinha o pelouro das Finanças, mas três meses depois de chegar à autarquia o então vice-presidente nomeou-o diretor municipal das Finanças. Se Medina era uma espécie de Centeno de Costa na câmara, Nélson de Souza era uma espécie de Mourinho Félix de Medina.

No Governo era o homem de Pedro Marques para a vertente de fundos comunitários para as empresas, sendo também uma mais valia no campo das candidaturas autárquicas aos fundos, já que tinha essa experiência da autarquia lisboeta. É por ele que têm também passado as negociações para o próximo Quadro Comunitário de Apoio 2021-2027. Agora, foi promovido a ministro. Do Planeamento, com especial enfoque nos Fundos Comunitários.

Antes do atual Governo, Nélson de Souza já tinha sido gestor do Programa Compete/QREN e do Prime, administrador do IAPMEI (Agência para a Competitividade e Inovação, I.P) e gestor de programas no PEDIP (Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa). Já tinha também passado por outros governos socialistas. No primeiro Governo de António Guterres, Nélson de Souza foi chefe gabinete do ministro da Economia Daniel Bessa e no segundo governo do agora secretário-geral da ONU foi mesmo secretário de Estado das Pequenas e Médias Empresas, do Comércio e dos Serviços, que também dependia do ministério da Economia.

A criação deste ministério tem dedo direto de António Costa, que tem dado uma grande importância aos assuntos comunitários e que vê nos fundos europeus a mais importante fonte de investimento público nos próximos anos. Segundo fontes governamentais, António Costa tem dado uma extrema importância ao Pacto de Estabilidade e ao Programa Nacional de Reformas que transformou “numa espécie de segundo programa de Governo“. Agora faz com que os Fundos Europeus não dependam de nenhum ministério, mas que seja quase um “supra-ministério”, transversal a várias áreas setorais.

A importância que António Costa dá a Bruxelas parte de uma estratégia de contrabalançar o euroceticismo dos parceiros de esquerda com uma imagem de “bom aluno” junto da União Europeia. É por aí que vai passar muito da mensagem do PS na campanha das Europeias: que o PS cumpriu as metas exigidas por Bruxelas e que, por isso, tem legitimidade de exigir mais.

Nelson de Souza passa a ter como Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Maria do Céu Albuquerque, até agora presidente da Câmara de Abrantes.

Mariana Vieira da Silva sai dos bastidores

É o nome menos surpreendente da lista, era dada como certa a promoção dentro do Executivo, e há dias que só se discutia qual era a amplitude da pasta que lhe seria atribuída. Faz sentido: o importante trabalho que Pedro Nuno Santos desempenhou no governo, de articulação parlamentar com os partidos que formam a chamada “geringonça”, a partir de um gabinete que passou a ser conhecido como “a cave”, foi bem sucedido mas estava basicamente esgotado com a aprovação do último orçamento da legislatura. Para além disso, Pedro Nuno Santos não escondia o cansaço acumulado com quase quatro anos naquelas funções que, em entrevista ao Observador, chegou a descrever também como a de “moço de recados”, ou “bola de ping-pong”. Embora o próprio considere redutora essa definição, executou um trabalho essencialmente político no governo e só agora ganha uma pasta mais setorial. A que herda, Infraestruturas, não é seguramente das mais fáceis, incluí os investimentos rodo e ferroviários, os aeroportos e as telecomunicações e esses são dossiers que têm estado debaixo de críticas à direita e à esquerda, e com o anterior titular em campanha, não é provável que as críticas baixem de tom.

Numa mudança da orgânica do governo, ganha ainda a pasta da Habitação que estava nas mãos de João Pedro Matos Fernandes. No parlamento, já acompanhava de perto a negociação do pacote da habitação que é um tema quente e que é suposto ser uma das prioridades até ao final da legislatura.

https://observador.pt/videos/entrevista-2/pedro-nuno-santos-um-proclamador-forjado-na-rota-da-carne-assada/

Diz que nasceu e cresceu no PS, e no partido já foi secretário-geral da JS entre 2004 e 2008, líder de federação em quatro mandatos e presidente de concelhia. Tem ambições políticas que não esconde, ao ponto de no último Congresso ter sido preciso António Costa vir dizer que ainda não tinha posto “os papéis para a reforma”. Apoiante do primeiro-ministro desde a primeira hora, é ao lado dele que se costuma sentar nos debates quinzenais, e jura-lhe “lealdade até ao fim”. Ao mesmo tempo vai reclamando para si alguns louros do sucesso desta governação inédita: não só o facto de ter tido um papel importante nas negociações para as posições conjuntas com os partidos à esquerda, como também o papel que os Assuntos Parlamentares tiveram na negociação dos orçamentos: “O Orçamento que sai das Finanças, tal como as Finanças o desejariam, não tinha passado uma única vez”, chegou a dizer na mesma entrevista onde assumia ter qualidades políticas para qualquer função ministeriável. António Costa parece ter concordado. Ou decidiu pagar para ver.

Agora como ministro das Infraestruturas e Habitação terá como secretários de Estado Ana Pinho (que se mantém na Habitação embora tenha saído da dependência do Ministro do Ambiente), e ganha duas novas entradas: na secretaria de Estado das Infrasestruturas, saiu Guilherme W. de Oliveira Martins e é substituído por Jorge Delgado, professor e Engenheiro Civil que era até agora presidente da Metro do Porto; como secretário de Estado-adjunto e das Comunicações entra Alberto Souto de Miranda, que sai da Caixa Geral de Depósitos para onde tinha sido nomeado por este governo como vogal não executivo do Conselho de Administração.

O “doutor Nélson” vai gerir ministério que tem em Costa o criador

Nélson de Souza foi um dos governantes que transitaram da câmara de Lisboa para o governo de António Costa logo assim que o PS chegou ao poder em 2015. Nascido na Índia em 1954 e licenciado no ISEG um ano depois do 25 de abril, Nélson Souza era diretor geral de uma associação patronal (a Associação Industrial Portuguesa, que faz parte da CIP) quando foi trabalhar como assessor de Fernando Medina para a maior autarquia do país.

Nélson de Souza é do círculo próximo de António Costa e, segundo contaram ao Observador membros do Governo, às vezes até é confundido com o primeiro-ministro por serem “fisicamente parecidos“. Muito conhecido do mundo empresarial, é raro o empresário que trabalhe com fundos comunitários que não conheça o “doutor Nélson”, como é referido o secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão.

Na câmara começou por assessorar Medina, que nessa altura tinha o pelouro das Finanças, mas três meses depois de chegar à autarquia o então vice-presidente nomeou-o diretor municipal das Finanças. Se Medina era uma espécie de Centeno de Costa na câmara, Nélson de Souza era uma espécie de Mourinho Félix de Medina.

No Governo era o homem de Pedro Marques para a vertente de fundos comunitários para as empresas, sendo também uma mais valia no campo das candidaturas autárquicas aos fundos, já que tinha essa experiência da autarquia lisboeta. É por ele que têm também passado as negociações para o próximo Quadro Comunitário de Apoio 2021-2027. Agora, foi promovido a ministro. Do Planeamento, com especial enfoque nos Fundos Comunitários.

Antes do atual Governo, Nélson de Souza já tinha sido gestor do Programa Compete/QREN e do Prime, administrador do IAPMEI (Agência para a Competitividade e Inovação, I.P) e gestor de programas no PEDIP (Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa). Já tinha também passado por outros governos socialistas. No primeiro Governo de António Guterres, Nélson de Souza foi chefe gabinete do ministro da Economia Daniel Bessa e no segundo governo do agora secretário-geral da ONU foi mesmo secretário de Estado das Pequenas e Médias Empresas, do Comércio e dos Serviços, que também dependia do ministério da Economia.

A criação deste ministério tem dedo direto de António Costa, que tem dado uma grande importância aos assuntos comunitários e que vê nos fundos europeus a mais importante fonte de investimento público nos próximos anos. Segundo fontes governamentais, António Costa tem dado uma extrema importância ao Pacto de Estabilidade e ao Programa Nacional de Reformas que transformou “numa espécie de segundo programa de Governo“. Agora faz com que os Fundos Europeus não dependam de nenhum ministério, mas que seja quase um “supra-ministério”, transversal a várias áreas setorais.

A importância que António Costa dá a Bruxelas parte de uma estratégia de contrabalançar o euroceticismo dos parceiros de esquerda com uma imagem de “bom aluno” junto da União Europeia. É por aí que vai passar muito da mensagem do PS na campanha das Europeias: que o PS cumpriu as metas exigidas por Bruxelas e que, por isso, tem legitimidade de exigir mais.

Nelson de Souza passa a ter como Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Maria do Céu Albuquerque, até agora presidente da Câmara de Abrantes.

Mariana Vieira da Silva sai dos bastidores

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