Marcelo, o radical consensual. Portas, o marcelista moderado

24-10-2020
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OUTRAS NOTÍCIAS

Se o Presidente da República pede consenso para soluções radicais, então que dizer do Orçamento do Estado que é tudo menos radical e que talvez por isso não consiga atrair os parceiros para o consenso necessário à aprovação? Depois da dramatização da semana passada, em que o Bloco esteve praticamente fora de jogo, amanhã recomeçam as negociações com PAN, BE e PCP. Ontem, Catarina Martins respondeu a Costa: se garantir a contratação de médicos, “mas se garantir a sério” e se “responder a quem fica desempregado, se responder a sério” e tiver rigor nas contas públicas, “de certeza o BE viabilizará”. Uma pergunta: deixa cair o Novo Banco? É que nessas declarações omitiu o elefante na sala. Já Jerónimo de Sousa quer mais medidas para os jovens, e apesar de atacar as “políticas de direita” reconhece aspetos “positivos “em algumas áreas” do orçamento.

No rasto de outros orçamentos, a história faz manchete no “Público”: Os colégios com contratos de associação sofreram uma derrota em toda a linha na guerra jurídica que desencadearam contra o Ministério da Educação em 2016: as 55 decisões judiciais foram favoráveis às posições do Governo.

Com tempestade no Orçamento, vai chegar-nos Bárbara, não a santa, com muita chuva e ventos fortes: em comunicado, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera anunciou a aproximação e os efeitos da depressão Bárbara que serão jsentidos a partir da tarde de hoje e até ao final de terça-feira. Proteja-se.

Não é um anticiclone, mas é nos Açores: 3500 eleitores já votaram antecipadamente para as eleições regionais do próximo domingo. Pode ler aqui a reportagem publicada no Expresso deste sábado sobre a primeira campanha da era covid em Portugal, da Sara Sousa Oliveira

Por falar em clima, não esteve lá muito bom no Estádio de Alvalade no fim de mais um clássico controverso que acabou com o empate a dois entre o Sporting e o FC Porto este sábado. Com os rivais empatados, a ventania do Benfica deu ontem três a zero ao Rio Ave, com reparos de Jorge Jesus que quer mais da equipa e a aceitação da derrota por parte de Mário Silva.

Nas duas rodas, na velocidade, Miguel Oliveira ficou apenas no 16º lugar no MotoGP de Aragão. O piloto português não conseguiu terminar nos pontos. Mas nas duas rodas em que mandam as pernas, o português João Almeida continuou de camisola rosa no Giro de Itália, depois de uma dura prova de montanha. O português pedalou sozinho durante muito tempo, foi o quarto mais rápido e conseguiu manter a liderança para entrar na terceira semana da prova com vantagem.

LÁ FORA...

Donald Trump é o “Radicalizador em chefe”, segundo a descrição de Jesse Wegman, membro do editorial board do “The New York Times”, neste artigo sobre como o Presidente norte-americano incentivou a ação de 13 homens que planearam o rapto de Gretchen Whitmer, governadora do Michigan e que foram presos a semana passada. Para se impressionar com o assunto, é obrigatório ler esta reportagem do Ricardo Lourenço, correspondente do Expresso nos Estados Unidos, publicada no jornal de sábado sobre essa extrema-direita armada e racista que Trump não condena e os teóricos da conspiração do QAnon cujos tweets o Presidente partilha. Os ventos estão cada vez mais perigosos, a poucas semanas das eleições.

Perante tudo isto, pelo menos o Facebook parece estar a mudar e já rejeitou 2,2 milhões de anúncios que pretendiam obstruir eleições nos EUA. Numa entrevista ao semanário francês "Jornal du Dimanche", o vice-presidente da Facebook para as relações públicas e comunicação, Nick Clegg, disse que "foram lançados alertas sobre 150 milhões de informações falsas verificadas por meios de comunicação independente".

Em França, houve ontem manifestações de reação ao crime hediondo sobre o professor de História que foi decapitado por ter mostrado as caricaturas de Maomé. Vale a pena ler a crónica de hoje do Rui Tavares no “Público”, também ele professor de História: “Como Samuel Paty, sou historiador, e já dei aulas sobre a história da censura e liberdade de expressão nas quais não poderia deixar de incluir as caricaturas de Maomé”. Enquanto isso, do outro lado da Mancha, um homicida que enfrentou um terrorista na London Bridge, em Londres, recebe um perdão de Isabel II: Steven Gallant, de 42 anos, que tinha sido condenado em 2005 a uma pena de 17 anos de prisão pelo assassinato de um bombeiro, vê agora a sua pena reduzida em 10 meses.

Entretanto, na Bielorrússia continua a haver manifestações contra o presidente Lukashenko e houve mais de 100 detidos. Esta ação de protesto é a primeira em grande escala desde o ultimato dado ao presidente no poder desde 1994, pela principal figura da oposição Svetlana Tikhanovskaïa.

Na Bolívia, o delfim de Evo Morales assumiu a vitória nas presidenciais e diz que democracia voltou ao país. Depois de uma sondagem à boca das urnas indicar que ganhou as eleições para a presidência à primeira volta, Luis Arce anunciou "um Governo de unidade nacional".

Uma boa notícia, haja uma: a Microsoft desenvolveu uma máquina com inteligência artificial que permite localizar o lixo presente nos oceanos e associa-se ao projeto “The Ocean Cleanup”, cujos navios coletores removem das águas 68 toneladas de resíduos flutuantes todos os anos.

FRASES

“Quando a pandemia for usada para asfixiar a vivência democrática, a única resposta proporcional será a desobediência civil.”

M. Patrão Neves, professora catedrática de Ética, “Público”

“Basta ver o Orçamento de Estado para se perceber que o governo evoluiu a sua posição para acomodar parcialmente as exigências do BE. Parece-me que o Bloco está a ver mal a situação atual”.

Paulo Trigo Pereira, economista, ex-deputado do PS, “Observador”

O QUE ANDO A LER

O economista Paulo Trigo Pereira, que na legislatura anterior foi deputado do PS e depois não inscrito, escreveu um livro que será lançado amanhã na linha do que se vai fazendo "lá fora" sobre os defeitos do sistema que merecem correção, enquanto os populismos crescem. "Democracia em Portugal - como evitar o seu declínio" (Almedina) é uma reflexão de quem esteve por dentro do sistema a vê-lo de fora.

Entre os vários problemas que vai apontando ao longo do livro, enquanto dá exemplos da experiências que viveu na Assembleia da República - desde a forma como está a ser legislada a eutanásia à maneira atabalhoada como os partidos trabalharam na reforma das transparência - Trigo Pereira aponta para "a fraqueza dos partidos e da sua formação de quadros" como um "problema solucionável, mas que deve ser olhado de frente". Imagina-se a perplexidade com que este académico deve ter ficado perante a qualidade de muitos dos seus colegas deputados, quando aponta a "inexistência de think tanks partidários que produzam verdadeiro pensamento ou debate”. Nesse caso não seria preciso recorrer aos independentes produtores de ideias, como aconteceu recentemente com António Costa Silva.

Outra das preocupações do economista é a crescente fragmentação política com as respetivas consequências: a instabilidade. “Não é realista pensar em estabilidade política com governos minoritários e sem existirem coligações formais ou acordos escritos que sustentem a governação. O que ainda é mais verdade em tempos difíceis como os em que vivemos”, escreve o autor numa análise que encaixa como uma luva nas semanas que estamos a viver de impasse orçamental e ameaças de crise política. Trigo Pereira fala ainda da necessidade de se mudar a lei eleitoral para aproximar eleitos e eleitores - uma das suas causas pessoais -, aponta a complexidade e entorses do processo orçamental e critica a reforma das CCDR, como uma uma realidade "inacabada e desconjuntada.”

Fica a recomendação de leitura, espero que comece bem a semana em que o outono finalmente começa com modos de inverno. Tenha um bom dia e continue a seguir o Expresso, a Tribuna e a Blitz.

OUTRAS NOTÍCIAS

Se o Presidente da República pede consenso para soluções radicais, então que dizer do Orçamento do Estado que é tudo menos radical e que talvez por isso não consiga atrair os parceiros para o consenso necessário à aprovação? Depois da dramatização da semana passada, em que o Bloco esteve praticamente fora de jogo, amanhã recomeçam as negociações com PAN, BE e PCP. Ontem, Catarina Martins respondeu a Costa: se garantir a contratação de médicos, “mas se garantir a sério” e se “responder a quem fica desempregado, se responder a sério” e tiver rigor nas contas públicas, “de certeza o BE viabilizará”. Uma pergunta: deixa cair o Novo Banco? É que nessas declarações omitiu o elefante na sala. Já Jerónimo de Sousa quer mais medidas para os jovens, e apesar de atacar as “políticas de direita” reconhece aspetos “positivos “em algumas áreas” do orçamento.

No rasto de outros orçamentos, a história faz manchete no “Público”: Os colégios com contratos de associação sofreram uma derrota em toda a linha na guerra jurídica que desencadearam contra o Ministério da Educação em 2016: as 55 decisões judiciais foram favoráveis às posições do Governo.

Com tempestade no Orçamento, vai chegar-nos Bárbara, não a santa, com muita chuva e ventos fortes: em comunicado, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera anunciou a aproximação e os efeitos da depressão Bárbara que serão jsentidos a partir da tarde de hoje e até ao final de terça-feira. Proteja-se.

Não é um anticiclone, mas é nos Açores: 3500 eleitores já votaram antecipadamente para as eleições regionais do próximo domingo. Pode ler aqui a reportagem publicada no Expresso deste sábado sobre a primeira campanha da era covid em Portugal, da Sara Sousa Oliveira

Por falar em clima, não esteve lá muito bom no Estádio de Alvalade no fim de mais um clássico controverso que acabou com o empate a dois entre o Sporting e o FC Porto este sábado. Com os rivais empatados, a ventania do Benfica deu ontem três a zero ao Rio Ave, com reparos de Jorge Jesus que quer mais da equipa e a aceitação da derrota por parte de Mário Silva.

Nas duas rodas, na velocidade, Miguel Oliveira ficou apenas no 16º lugar no MotoGP de Aragão. O piloto português não conseguiu terminar nos pontos. Mas nas duas rodas em que mandam as pernas, o português João Almeida continuou de camisola rosa no Giro de Itália, depois de uma dura prova de montanha. O português pedalou sozinho durante muito tempo, foi o quarto mais rápido e conseguiu manter a liderança para entrar na terceira semana da prova com vantagem.

LÁ FORA...

Donald Trump é o “Radicalizador em chefe”, segundo a descrição de Jesse Wegman, membro do editorial board do “The New York Times”, neste artigo sobre como o Presidente norte-americano incentivou a ação de 13 homens que planearam o rapto de Gretchen Whitmer, governadora do Michigan e que foram presos a semana passada. Para se impressionar com o assunto, é obrigatório ler esta reportagem do Ricardo Lourenço, correspondente do Expresso nos Estados Unidos, publicada no jornal de sábado sobre essa extrema-direita armada e racista que Trump não condena e os teóricos da conspiração do QAnon cujos tweets o Presidente partilha. Os ventos estão cada vez mais perigosos, a poucas semanas das eleições.

Perante tudo isto, pelo menos o Facebook parece estar a mudar e já rejeitou 2,2 milhões de anúncios que pretendiam obstruir eleições nos EUA. Numa entrevista ao semanário francês "Jornal du Dimanche", o vice-presidente da Facebook para as relações públicas e comunicação, Nick Clegg, disse que "foram lançados alertas sobre 150 milhões de informações falsas verificadas por meios de comunicação independente".

Em França, houve ontem manifestações de reação ao crime hediondo sobre o professor de História que foi decapitado por ter mostrado as caricaturas de Maomé. Vale a pena ler a crónica de hoje do Rui Tavares no “Público”, também ele professor de História: “Como Samuel Paty, sou historiador, e já dei aulas sobre a história da censura e liberdade de expressão nas quais não poderia deixar de incluir as caricaturas de Maomé”. Enquanto isso, do outro lado da Mancha, um homicida que enfrentou um terrorista na London Bridge, em Londres, recebe um perdão de Isabel II: Steven Gallant, de 42 anos, que tinha sido condenado em 2005 a uma pena de 17 anos de prisão pelo assassinato de um bombeiro, vê agora a sua pena reduzida em 10 meses.

Entretanto, na Bielorrússia continua a haver manifestações contra o presidente Lukashenko e houve mais de 100 detidos. Esta ação de protesto é a primeira em grande escala desde o ultimato dado ao presidente no poder desde 1994, pela principal figura da oposição Svetlana Tikhanovskaïa.

Na Bolívia, o delfim de Evo Morales assumiu a vitória nas presidenciais e diz que democracia voltou ao país. Depois de uma sondagem à boca das urnas indicar que ganhou as eleições para a presidência à primeira volta, Luis Arce anunciou "um Governo de unidade nacional".

Uma boa notícia, haja uma: a Microsoft desenvolveu uma máquina com inteligência artificial que permite localizar o lixo presente nos oceanos e associa-se ao projeto “The Ocean Cleanup”, cujos navios coletores removem das águas 68 toneladas de resíduos flutuantes todos os anos.

FRASES

“Quando a pandemia for usada para asfixiar a vivência democrática, a única resposta proporcional será a desobediência civil.”

M. Patrão Neves, professora catedrática de Ética, “Público”

“Basta ver o Orçamento de Estado para se perceber que o governo evoluiu a sua posição para acomodar parcialmente as exigências do BE. Parece-me que o Bloco está a ver mal a situação atual”.

Paulo Trigo Pereira, economista, ex-deputado do PS, “Observador”

O QUE ANDO A LER

O economista Paulo Trigo Pereira, que na legislatura anterior foi deputado do PS e depois não inscrito, escreveu um livro que será lançado amanhã na linha do que se vai fazendo "lá fora" sobre os defeitos do sistema que merecem correção, enquanto os populismos crescem. "Democracia em Portugal - como evitar o seu declínio" (Almedina) é uma reflexão de quem esteve por dentro do sistema a vê-lo de fora.

Entre os vários problemas que vai apontando ao longo do livro, enquanto dá exemplos da experiências que viveu na Assembleia da República - desde a forma como está a ser legislada a eutanásia à maneira atabalhoada como os partidos trabalharam na reforma das transparência - Trigo Pereira aponta para "a fraqueza dos partidos e da sua formação de quadros" como um "problema solucionável, mas que deve ser olhado de frente". Imagina-se a perplexidade com que este académico deve ter ficado perante a qualidade de muitos dos seus colegas deputados, quando aponta a "inexistência de think tanks partidários que produzam verdadeiro pensamento ou debate”. Nesse caso não seria preciso recorrer aos independentes produtores de ideias, como aconteceu recentemente com António Costa Silva.

Outra das preocupações do economista é a crescente fragmentação política com as respetivas consequências: a instabilidade. “Não é realista pensar em estabilidade política com governos minoritários e sem existirem coligações formais ou acordos escritos que sustentem a governação. O que ainda é mais verdade em tempos difíceis como os em que vivemos”, escreve o autor numa análise que encaixa como uma luva nas semanas que estamos a viver de impasse orçamental e ameaças de crise política. Trigo Pereira fala ainda da necessidade de se mudar a lei eleitoral para aproximar eleitos e eleitores - uma das suas causas pessoais -, aponta a complexidade e entorses do processo orçamental e critica a reforma das CCDR, como uma uma realidade "inacabada e desconjuntada.”

Fica a recomendação de leitura, espero que comece bem a semana em que o outono finalmente começa com modos de inverno. Tenha um bom dia e continue a seguir o Expresso, a Tribuna e a Blitz.

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