que raio de saúde a nossa: sobre a suspeição (ou realidade) da selecção de doentes pelo SNS

05-05-2020
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O Diário de Notícias de hoje está de parabéns.Muitos dos post publicados em blogs sobre a saúde, fazem referência a um artigo de opinião de Helena Garrido editado no DN de hoje. A Directora Adjunta deste jornal, duma forma extremamente clara e realista aponta alguns dos riscos que corre o SNS com a orientação que está a ser dada pelo actual Ministério da Saúde de Correia Campos, na sequência do de Luís Filipe Pereira.Apesar do desmentido do Ministério da Saúde que segundo informou vai proceder à recolha de informações sobre a veracidade da afirmação do presidente da Entidade Reguladora da Saúde sobre a suspeita de recusa de tratamento de alguns doentes do SNS pelos HH públicos, não resisto também aqui de prestar a merecida homenagem à jornalista Helena Garrido por tão excelente texto."Na série televisiva Dr. House há uns episódios em que a clínica recebe uma generosa injecção de capital de um empresário que obviamente se impõe como presidente da administração. O hospital passa a ser gerido com critérios puramente financeiros. Depois de várias peripécias, o empresário vai-se embora e leva o dinheiro consigo. Tudo regressa à normalidade, gastando-se o que for preciso para salvar uma vida. Não se explica como se passa a pagar as facturas.Na realidade é preciso ter quem pague as facturas. Mas quando se impõem critérios apenas financeiros nos hospitais o resultado é, obviamente, a degradação dos serviços de saúde.Quando, em 2002, o então ministro da Saúde Luís Filipe Pereira começou a concretizar o modelo dos hospitais com gestão empresarial, uma ideia do seu antecessor e actual ministro Correia de Campos, percebeu-se logo que os doentes mais caros e prolongados estavam condenados. No papel existia um modelo com vários tipos de hospitais. Uns tinham objectivos financeiros apertados. E quando se alertava para o efeito perverso que a ausência de objectivos de qualidade poderia causar, a resposta estava nos hospitais de retaguarda, que iriam aparecer e que garantiriam o tratamento aos doentes prolongados e mais caros. Como se esperava, só se concretizou a parte financeira do modelo. E aconteceu exactamente o que se previa: hospitais a recusarem doentes que lhes podem "estragar" os objectivos... financeiros.A afirmação de ontem do presidente da Entidade Reguladora da Saúde, Álvaro Almeida, revelando existir a "suspeita" de que há hospitais públicos a recusarem acompanhar portadores de esclerose múltipla não é nada que não se esperasse. É de elogiar a coragem de dizer o que já se esperava, mas deve igualmente criticar-se a forma como o fez. Um responsável pela regulação da saúde não pode falar em "suspeitas". Se existem casos deve actuar de imediato.O modelo que está em vigor reúne condições para os hospitais recusarem não apenas acompanhar portadores de esclerosse como muitos outros casos.A gestão empresarial dos hospitais pode ser um caminho para reduzir o desperdício e melhorar os cuidados médicos. Mas, como está concretizada, é apenas uma via de degradar a assistência na saúde. Os objectivos financeiros deveriam ter sido completados com exigência de qualidade e obviamente com os hospitais de retaguarda. Como sempre, ficou-se pelo corte de custos e pela criação de empresas com lugares para ocupar nas administrações. Tudo o resto, o mais importante, ficou por fazer estragando uma boa solução. O resultado final, ainda o veremos, será gastar mais e ter pior saúde. Lamentável"Helena Garrido


O Diário de Notícias de hoje está de parabéns.Muitos dos post publicados em blogs sobre a saúde, fazem referência a um artigo de opinião de Helena Garrido editado no DN de hoje. A Directora Adjunta deste jornal, duma forma extremamente clara e realista aponta alguns dos riscos que corre o SNS com a orientação que está a ser dada pelo actual Ministério da Saúde de Correia Campos, na sequência do de Luís Filipe Pereira.Apesar do desmentido do Ministério da Saúde que segundo informou vai proceder à recolha de informações sobre a veracidade da afirmação do presidente da Entidade Reguladora da Saúde sobre a suspeita de recusa de tratamento de alguns doentes do SNS pelos HH públicos, não resisto também aqui de prestar a merecida homenagem à jornalista Helena Garrido por tão excelente texto."Na série televisiva Dr. House há uns episódios em que a clínica recebe uma generosa injecção de capital de um empresário que obviamente se impõe como presidente da administração. O hospital passa a ser gerido com critérios puramente financeiros. Depois de várias peripécias, o empresário vai-se embora e leva o dinheiro consigo. Tudo regressa à normalidade, gastando-se o que for preciso para salvar uma vida. Não se explica como se passa a pagar as facturas.Na realidade é preciso ter quem pague as facturas. Mas quando se impõem critérios apenas financeiros nos hospitais o resultado é, obviamente, a degradação dos serviços de saúde.Quando, em 2002, o então ministro da Saúde Luís Filipe Pereira começou a concretizar o modelo dos hospitais com gestão empresarial, uma ideia do seu antecessor e actual ministro Correia de Campos, percebeu-se logo que os doentes mais caros e prolongados estavam condenados. No papel existia um modelo com vários tipos de hospitais. Uns tinham objectivos financeiros apertados. E quando se alertava para o efeito perverso que a ausência de objectivos de qualidade poderia causar, a resposta estava nos hospitais de retaguarda, que iriam aparecer e que garantiriam o tratamento aos doentes prolongados e mais caros. Como se esperava, só se concretizou a parte financeira do modelo. E aconteceu exactamente o que se previa: hospitais a recusarem doentes que lhes podem "estragar" os objectivos... financeiros.A afirmação de ontem do presidente da Entidade Reguladora da Saúde, Álvaro Almeida, revelando existir a "suspeita" de que há hospitais públicos a recusarem acompanhar portadores de esclerose múltipla não é nada que não se esperasse. É de elogiar a coragem de dizer o que já se esperava, mas deve igualmente criticar-se a forma como o fez. Um responsável pela regulação da saúde não pode falar em "suspeitas". Se existem casos deve actuar de imediato.O modelo que está em vigor reúne condições para os hospitais recusarem não apenas acompanhar portadores de esclerosse como muitos outros casos.A gestão empresarial dos hospitais pode ser um caminho para reduzir o desperdício e melhorar os cuidados médicos. Mas, como está concretizada, é apenas uma via de degradar a assistência na saúde. Os objectivos financeiros deveriam ter sido completados com exigência de qualidade e obviamente com os hospitais de retaguarda. Como sempre, ficou-se pelo corte de custos e pela criação de empresas com lugares para ocupar nas administrações. Tudo o resto, o mais importante, ficou por fazer estragando uma boa solução. O resultado final, ainda o veremos, será gastar mais e ter pior saúde. Lamentável"Helena Garrido

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