Aventar

14-11-2019
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Olhem quem se juntou ao PCP e a outros companheiros de luta de certa esquerda portuguesa, o Nigel! Que maravilha. Por estes dias, vejo juntar-se a este belo grupo de “Putinianos dos Últimos Dias” os chalupas que acreditavam que a vacina para combater a Covid era uma estratégia do Bill Gates para nos “chipar” a todos ou que nos iam infiltrar uma cena qualquer no braço com 5G (confesso que nesta estive esperançado pois nalgumas zonas deste belo rochedo a rede de telemóvel é miserável. Não resultou, dasss). E os terraplanistas. Sim, esses também andam por essas bandas. Les beaux esprits se rencontrent….

Ver o Nigel, o Tiago e a Raquel juntos no mesmo barco fez-me olhar para a realidade com outros olhos. Quando era adolescente (no século passado) costumava juntar-me com os amigos na conversa noite e madrugada fora ali para as bandas do cruzamento da Areosa. De quando em vez surgiam umas figuras fascinantes que desciam a rua de Costa Cabral até ao cruzamento. Eram os mais rebeldes pacientes do Hospital Conde Ferreira. Escapuliam-se dos seus dormitórios pela calada da noite e vagueavam pela Costa Cabral. Uns apareciam nas Antas, outros no Marquês e os que vos falo inclinavam para a “minha” Areosa. Talvez por ser a descer. Talvez.

O que sei é que se juntavam a nós, pediam um cigarro, acendiam e fumavam o SG Filtro com o vigor e o prazer de um fruto que lhes era proibido. E falavam. Falavam muito. Para alguns, no meu grupo, era uma verdadeira conversa de doidos e afastavam-se. Para mim (e para o nosso José Mário Teixeira) não era motivo de alheamento. Pelo contrário. Nunca percebi se por um certo pudor e respeito ficava ali a ouvir. Ou, se calhar, era curiosidade. Ou ainda, como diziam, era proximidade – diz-se que os “tolos” reconhecem os seus pares. Who knows…

De repente, sem mais nem menos, partiam. Subiam em direcção ao seu hospital. E ficávamos nós a comentar esses momentos que eram sempre surreais. O mesmo surreal que sinto quando ouço os Boaventura, as Raquel e outros espíritos sobre a culpa da Ucrânia, da Nato, do imperialismo e do Sérgio Conceição na invasão russa da Ucrânia.

No fundo, continuo na mesma. Fico a ouvi-los. Bastava pedirem e até lhes oferecia um cigarro. Já não um SG Filtro pois disso não há por estas bandas. Mas um Camel dos meus. E depois, era vê-los partir. Não para o hospital, como os outros do passado século. Para o conforto dos seus sofás de couro de Professor Doutor com todas as letras numa qualquer faculdade das nossas Universidades. Só que destes tenho medo. Podem vir a ser professores da minha filha. São professores dos filhos dos outros. MEDO.

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Olhem quem se juntou ao PCP e a outros companheiros de luta de certa esquerda portuguesa, o Nigel! Que maravilha. Por estes dias, vejo juntar-se a este belo grupo de “Putinianos dos Últimos Dias” os chalupas que acreditavam que a vacina para combater a Covid era uma estratégia do Bill Gates para nos “chipar” a todos ou que nos iam infiltrar uma cena qualquer no braço com 5G (confesso que nesta estive esperançado pois nalgumas zonas deste belo rochedo a rede de telemóvel é miserável. Não resultou, dasss). E os terraplanistas. Sim, esses também andam por essas bandas. Les beaux esprits se rencontrent….

Ver o Nigel, o Tiago e a Raquel juntos no mesmo barco fez-me olhar para a realidade com outros olhos. Quando era adolescente (no século passado) costumava juntar-me com os amigos na conversa noite e madrugada fora ali para as bandas do cruzamento da Areosa. De quando em vez surgiam umas figuras fascinantes que desciam a rua de Costa Cabral até ao cruzamento. Eram os mais rebeldes pacientes do Hospital Conde Ferreira. Escapuliam-se dos seus dormitórios pela calada da noite e vagueavam pela Costa Cabral. Uns apareciam nas Antas, outros no Marquês e os que vos falo inclinavam para a “minha” Areosa. Talvez por ser a descer. Talvez.

O que sei é que se juntavam a nós, pediam um cigarro, acendiam e fumavam o SG Filtro com o vigor e o prazer de um fruto que lhes era proibido. E falavam. Falavam muito. Para alguns, no meu grupo, era uma verdadeira conversa de doidos e afastavam-se. Para mim (e para o nosso José Mário Teixeira) não era motivo de alheamento. Pelo contrário. Nunca percebi se por um certo pudor e respeito ficava ali a ouvir. Ou, se calhar, era curiosidade. Ou ainda, como diziam, era proximidade – diz-se que os “tolos” reconhecem os seus pares. Who knows…

De repente, sem mais nem menos, partiam. Subiam em direcção ao seu hospital. E ficávamos nós a comentar esses momentos que eram sempre surreais. O mesmo surreal que sinto quando ouço os Boaventura, as Raquel e outros espíritos sobre a culpa da Ucrânia, da Nato, do imperialismo e do Sérgio Conceição na invasão russa da Ucrânia.

No fundo, continuo na mesma. Fico a ouvi-los. Bastava pedirem e até lhes oferecia um cigarro. Já não um SG Filtro pois disso não há por estas bandas. Mas um Camel dos meus. E depois, era vê-los partir. Não para o hospital, como os outros do passado século. Para o conforto dos seus sofás de couro de Professor Doutor com todas as letras numa qualquer faculdade das nossas Universidades. Só que destes tenho medo. Podem vir a ser professores da minha filha. São professores dos filhos dos outros. MEDO.

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