O novo ciclo, o fim das reuniões, a especialista que não esteve: as reações dos partidos ao encontro no Infarmed

09-07-2020
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Os encontros têm sido quinzenais mas o de esta quarta-feira foi o último: na sede do Infarmed, em Lisboa, Governo, partidos políticos e especialistas de saúde juntaram-se para avaliar pela última vez a evolução da pandemia do novo coronavírus em Portugal.

A julgar pelas reações depois do encontro, um dos pontos mais consensuais foi a informação prestada por peritos de saúde, que apontam para uma estabilização recente no número de novos casos.

No final do encontro, as reações dos partidos variaram, mas quase todos sublinharam a importância destas reuniões — e alguns, como o CDS, Chega e Iniciativa Liberal, lamentaram mesmo que estas tivessem terminado.

À esquerda do Governo, o BE apontou a mira à pouca fiabilidade do reporte de dados por laboratórios privados e quer bloquistas quer comunistas alertaram para a pouca dotação de médicos especializados em saúde pública no SNS.

Já à direita do Governo, o PSD sublinhou a importância de resolver o problema de novos contágios na região de Lisboa e Vale do Tejo e alertou para o número de novos casos em Sintra, que não pára de aumentar.

CDS, Chega e Iniciativa Liberal estiveram unidos nas críticas ao fim das reuniões, tendo o CDS e o Chega criticado explicitamente Governo e o presidente do PSD, Rui Rio (que defendeu o final dos encontros), atribuindo-lhes a responsabilidade da decisão. O Chega, que tem em André Ventura um já assumido candidato presidencial, juntou mesmo no leque de responsáveis Marcelo Rebelo de Sousa, acusado de ter demonstrado “passividade”. Já o CDS notou que uma das especialistas que contrariou António Costa na reunião anterior não esteve presente desta vez.

R baixou. PS, confiante, destaca estabilização de casos e resposta do SNS

O primeiro partido a comentar a última reunião entre filiações partidárias, Governo e técnicos de saúde foi o PS, partido de Governo. Fê-lo através de José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto dos socialistas que abordou a descida do índice R, que calcula o número média de pessoas que cada infetado contagia.

No país, o R desceu para 0,98 e “está hoje na região Norte em 1.09, na região Centro em 1.08, em Lisboa e Vale do Tejo em 0,97, no Alentejo em 0.86 e no Algarve em 0.77”, indicou José Luís Carneiro.

Está nos níveis previstos quando se avançou com o desconfinamento, o que dá segurança relativamente não apenas ao que tem vindo a ser feito como ao que aqui tem vindo a ser dito, com sentido de proporcionalidade e responsabilidade”, vincou.

O secretário-geral adjunto do PS agradeceu ainda “às autoridades de saúde que aqui prestaram contas, esclarecimentos e informações que permitiram que partidos políticos pudessem ajuizar sobre adequação de posições, sobre medidas de políticas públicas para travar o contágio e sobre o modo como o país não apenas se confinou, mas paulatinamente foi desconfinando”.

Hoje, os dados que nos foram apresentados mostram que Portugal no quadro dos países da UE continua a ser um dos países com maiores níveis de confinamento. Outra conclusão tem a ver com a estabilização, há uma estabilização na generalidade do território nacional pese embora ainda prevalecerem focos”, referiu José Luís Carneiro.

O secretário-geral adjunto do PS enalteceu ainda a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para responder à pandemia. Começando por notar um “ligeiro crescimento” de novos casos “que ocorre em determinados locais, determinados territórios”, José Luís Carneiro vincou que “a palavra das autoridades de saúde” foi de que “o SNS tem capacidade de resposta para a procura que se tem vindo a verificar quer das unidades hospitalar que das unidades de cuidados intensivos. Manifesta-se aliás um aumento significativo da confiança dos cidadãos portugueses no recurso aos cuidados primários de saúde, o que é importante”.

O socialista referiu-se ainda a “estudos aqui apresentados da parte da Escola Nacional de Saúde Pública”, que “ilustram que os indicadores de confiança no modo como temos vindo a desconfiar têm vindo a aumentar. Os portugueses estão a confiar no desconfinamento. Contudo, o cumprimento de todas as regras, atitudes e comportamentos determinados pelas autoridades de saúde deve continuar a ser observado.”

Para o PS, em Lisboa e Vale do Tejo “as medidas do ponto de vista de isolamento e apoio [de infetados] — social, financeiro, em termos de habitação e tratamento — está a produzir os seus efeitos”.

PSD: “Se falhamos na resposta de Lisboa estaremos a falhar ao país”

Pelo PSD falou, como tem sido habitual, Ricardo Baptista Leite, que retira uma conclusão desta última reunião do Infarmed: “Se falhamos na resposta de Lisboa estaremos a falhar ao país”.

Os surtos fora da Região de Lisboa já são 48 quando há duas semanas eram “apenas 12”. Além disso, constatou Batista Leite, o número de pessoas com infeção sem ligação epidemiológica são “18% na Região de Lisboa”, percentagem que na região Centro e Norte sobe para os 26%.

Há também um aumento dos internamentos e da mortalidade, indica o médico. De positivo, vincou a “aparente” estabilização dos números na região de Lisboa mas que só ocorreu nos últimos dias, pelo que é necessário ser-se “prudente”. Onde não há inversão é no concelho de Sintra, onde os números “não descem”.

O deputado esclareceu, ainda, que se verifica um aumento de procura de consultas de cuidados primários relacionados com a Covid-19. E regista como positivo, o facto dos “inquéritos epidemiológicos às pessoas com resultados positivos ser feito, agora, em 24 horas” – o que não acontecia há 15 dias. Tal, frisou, “é determinante para controlarmos a pandemia, de forma a manter as pessoas infetadas isoladas”. Ricardo Batista Leite indicou, também, que foi dada a garantia que o “isolamento, agora, está a ser feito” devidamente.

O deputado terminou a intervenção a apelar ao governo que comece a preparar o próximo inverno, que poderá “colocar uma sobrecarga sobre o Sistema Nacional de Saúde”. Não o fazer seria um erro e “fechar a economia por impreparação” seria inaceitável.

BE pede melhor reporte de laboratórios privados e lamenta desinvestimento em saúde

Outros dos representantes partidários que falou foi José Manuel Pureza, que representou o Bloco de Esquerda na reunião. O bloquista começou por “sublinhar a importância que estas reuniões tiveram na consolidação de um conhecimento que é a única forma de combater o eventual desânimo e alarme que possam aparecer”.

O que temos hoje diante de nós é realidade de dados razoavelmente estabilizados, no que diz respeito ao número de infetados, internamentos e óbitos. Mas houve também menção nesta reunião à importância de determinantes económicas e sociais da doença”, apontou Pureza.

José Manuel Pureza quis “chamar a atenção” para o que diz ter sido “sublinhado” na reunião: “a importância do movimentos pendulares, a sobrelotação de alojamento e a falta de alternativas para muita gente que não tem outra hipótese se não vir trabalhar para poder sobreviver. Esta realidade exige intervenção que vai além da saúde em sentido estrito. Precisamos de medidas com alcance sócio-económico porque combatem eficazmente a pandemia”.

Sobre o fim das reuniões no Infarmed, Pureza referiu: “Aceitando que estas reuniões tenham chegado ao fim de um ciclo, o BE entende que é muito importante que no Parlamento se continue a fiscalizar de forma muito rigorosa toda a evolução quer da pandemia quer das políticas que tenham sido e venham a ser adotadas”.

A segunda nota de José Manuel Pureza foi sobre “alguma inconsistência dos dados sobre casos reportados”. Apontou:

O país não compreende e não aceita que alguma inconsistência dos dados sobre casos reportados se deva a laboratórios privados. O BE entende que são necessárias instruções, regras vinculativas dos operadores privados por parte do Governo para que a consistência dos dados seja um fator de segurança de todas as pessoas.”

O representante do BE terminou dizendo que “fica claro quer no todo do país quer especificamente na região de Lisboa e Vale do Tejo que estamos hoje a pagar caro por um desinvestimento de sucessivos governos e responsáveis pela formação e exercício da profissão médica e por um desinvestimento muito prolongado na formação de quadros em saúde pública. E é agora que é fundamental inverter esse caminho, dotando o país de quadros em saúde pública que no futuro mais próximo possível possam robustecer a capacidade de resposta do país”.

PCP: saúde pública “é o parente pobre do SNS”

Jorge Pires, do PCP, também falou aos jornalistas e começou por referir a importância destes encontros. “Termina um ciclo”, apontou, vincando que as reuniões na sede do Infarmed, em Lisboa, tiveram uma “importância extraordinária”.

O comunista elogiou ainda o conjunto de pessoas, especialistas e técnicos envolvidos, que prestaram um “grande serviço e deram uma ajuda na compreensão da Covid-19”. Agora, realça, “a informação fica só disponibilizada pela comunicação social ou através da Assembleia da República”.

Para o deputado, é “abusivo dizer que este é um problema da área metropolitana de Lisboa”. A infeção, refere, “está concentrada em 5 concelhos e nas suas 19 freguesias” e não em toda a área metropolitana de Lisboa. Jorge Pires mencionou, ainda, a tendência de “estabilização” de novos casos revelada na reunião pelos especialistas.

No final do discurso, reconheceu que a estrutura de saúde pública, importante nesta fase de combate à pandemia, “é o parente pobre do SNS”.

CDS critica fim de reuniões, Rui Rio e revela: uma das especialistas que contrariou Costa já não esteve nesta reunião

Em nome do CDS falou António Carlos Monteiro. O vicepresidente dos centristas apontou a mira ao Governo e PSD criticando o fim destas reuniões no Infarmed. “Estas reuniões foram para nós muito importantes porque permitiram contacto com técnicos e especialistas, permitiram termos informação em primeira mão e resolver dúvidas em primeira mão. Foram fundamentais para construir unidade em torno do combate a esta doença”, começou por dizer.

Não podemos deixar de lamentar que numa altura em que a crise não está resolvida, em termos de saúde pública, que depois de numa reunião os especialistas terem contrariado as teses do sr. Primeiro-Ministro — aliás uma dessas especialistas já nem esteve presente nesta mesma reunião — vermos o presidente do maior partido de oposição, o PSD, dizer que estas reuniões passaram a ser dispensáveis e por isso mesmo deixámos de ter acesso a esta mesma informação”, criticou.

António Carlos Monteiro vincou que considera importante que “a informação seja fornecida, para se construir unidade de consenso políticos”. A existência destas reuniões “para o CDS é muito importante e lamentamos que estejam a acabar com as reuniões quando a crise de saúde pública não acabou, continua”, vincou.

“Não há nenhum milagre português como podemos perceber hoje. Portugal, que viu na imprensa internacional elogiado o seu esforço em termos de combate à pandemia, neste momento em número de contágios por milhão de habitante na Europa fica apenas atrás da Suécia, que não fez qualquer confinamento“, alertou o vicepresidente do CDS.

Aquilo que temos é um problema muito sério: os portugueses pagaram preço do confinamento em falências e desemprego e o que estamos neste momento a ver é que não houve o efeito desejado no combate à pandemia e Portugal está na lista negra dos destinos turísticos. É um setor económico fundamental para o país que vai atravessar dificuldades fortíssimas. Exige-se da parte do Governo e dos poderes públicos medidas para acompanhar este mesmo setor”, desafiou.

“Aquilo que de alguma forma sentimos é uma terrível frustração”, apontou ainda António Carlos Monteiro, lamentando que se esteja a pagar “o preço de confinamento” sem “obter os benefícios desse mesmo confinamento”. Acrescentou: “Continuarmos nesta altura com a economia em risco apesar de estarmos a desconfinar. É para nós extremamente preocupante”.

O centrista recordou que a região de Lisboa e Vale do Tejo “continua com taxas de contágio acima do desejado” e defendeu que “a situação de Lisboa arrastou o resto do país para esta situação”. “Evidentemente que não é com menos informação que o problema se resolve”, acrescentou, “muito menos quando essa informação foi dada e contrariou as teses que estavam a ser dadas por alguns políticos”.

“Fica o apelo para que esta informação continue a ser fornecida aos partidos e para que seja ponderado no futuro a reativação destas reuniões, porque é evidente que não estamos com o problema resolvido. É por isso importante que as pessoas percebam que com sinais contraditórios não se vai resolver da epidemia que nos tem afligido”.

Estes sinais contraditórios “para nós continuam a ser um dos principais problemas no contacto com estas doenças”, sublinhou ainda António Carlos Monteiro, dando exemplos: “Temos proibição de contactos, mas depois temos manifestações na rua. Temos confinamento, mas depois iniciativas com milhares de pessoas em espaços fechados. Portanto é evidente que numa altura em que a situação é grave, acabar com as reuniões é mais um desses sinais que nos parecem errados”.

André Ventura aponta PS, PSD e Marcelo como responsáveis pelo fim das reuniões

Quem também esteve presente na última reunião de avaliação quinzenal da evolução da pandemia, que decorreu esta quarta-feira no Infarmed, em Lisboa, foi André Ventura, líder e deputado do Chega.

André Ventura começou por criticar o fim destas reuniões no Infarmed, apontando a mira a PS, PSD e Marcelo Rebelo de Sousa. “É de estranhar que poucos dias depois de o presidente do PSD ter referido que estas reuniões estavam a ter cada vez menos importância, o Governo tenha também ele decidido terminar com estas reuniões — e aparentemente sob a passividade enorme do Presidente da República”.

Mostra que de facto temos um alinhamento estruturado, feito, definido, decidido à frente dos portugueses, à frente de todos, para controlar a informação, a gestão e divulgação do que se passa nesta pandemia“, acusou o líder do Chega, acrescentando: “Não foi inocente nada disto que aconteceu, hoje olhamos para trás e percebemos”.

Depois, André Ventura prosseguiu: “Estas reuniões têm uma importância fundamental se forem isentas e imparciais na transmissão de informação que nos é atribuída. Não se pode pedir por um lado que decidamos com base em conhecimento científico e por outro que se acabem com as reuniões onde se transmite esse conhecimento científico. Ou porque não gostam tanto do que é transmitido, ou porque querem fazer agora um modelo mais micro em relação ao modelo que aqui tem sido trazido”.

O líder do Chega lembrou ainda que “é a Assembleia da República que tem de tomar decisões fundamentais quer do estado de emergência e estado de calamidade, quer sobre normas extraordinárias. Portanto, não faz sentido estar a transformar este modelo num modelo micro com outras quaisquer consequências”.

Repetindo que o que originou o fim deste modelo de reuniões quinzenais no Infarmed “foi uma concertação entre o principal partido da oposição e o partido de Governo, com passividade do Presidente da República“, o líder do Chega abordou ainda a evolução da pandemia em Lisboa e Vale do Tejo: “Há uma certa estabilização com dois dados preocupantes: um aumento progressivo de contágios em todas as idades e um aumento das incidências em lares. Este segundo é o mais preocupante, porque representam [utentes dos lares] um grupo de maior risco e onde o nível de mortalidade já é elevado. Pode vir a tornar-se um verdadeiro problema”.

André Ventura notou ainda que os peritos destacaram que “o contágio social no Algarve está a aumentar de forma significativa”. Recordando que nesta região o desemprego “aumentou 200%”, concluiu: “O aumento de contágio no Algarve pode ser letal para os interesses da economia, da comunidade e da própria região. O Governo não está a conseguir comunicar bem o que se está a passar nestas regiões, quer em Lisboa quer no Algarve. Isso está a ter um impacto nocivo no nosso turismo, na nossa economia, na procura externa”.

Apontando já críticas a António Costa, André Ventura referiu: “Não bastam tweets do primeiro-ministro a dizer que há mais casos no Reino Unido do que no Algarve. Não é assim que se resolve a situação, é a transmitir para fora que o Algarve é uma região segura. É assim que se defende o nosso país, não criando máscaras ou dados pouco fiáveis em que os nossos parceiros europeus não confiam, aconselhando a não se viajar para Lisboa e Algarve”. É preciso, em suma, “comunicar melhor”, diz o líder do Chega.

A última nota do Chega foi sobre a informação prestada pelos peritos nestas reuniões. Disse André Ventura: “Sem querer colocar em causa os especialistas que aqui vêm ou credibilidade que têm, que é intocável, quando falei no aspeto de isenção…. Um dos especialistas que esteve hoje connosco — e são escolhidos pelo Governo, não são escolhidos pelos restantes partidos — disse que a nossa capacidade de mobilizar recursos era muito maior do que as dos outros e que a nossa grande vantagem, que estava a ser determinante, era a capacidade hospitalar nas várias reuniões”.

Todos sabemos que não só os recursos são parcos como inclusivamente o hospital Amadora-Sintra teve de enviar doentes para o hospital de Santarém. Não estamos aqui para ouvir propaganda, estamos aqui para ouvir dados, para os analisar e para podermos em conjunto, como partidos políticos parlamentares, tomar decisões. Dispensa-se propaganda”, apontou o líder do Chega.

Já questionado sobre o fim destas reuniões no Infarmed, disse ainda: “Assisti com estupefação às declarações do presidente do PSD. Soube que era a última reunião quando subi estas escadas e quando ouvi o Presidente da República dizer que era a última reunião. Lá dentro, depois de finalizada a intervenção, ninguém marcou uma nova reunião. O primeiro-ministro remarcava as reuniões no final. Se é este o respeito que existe pelos partidos de oposição e se é isto a transparência, vou ali e já venho”.

Para a Iniciativa Liberal atuação do governo foi “demorada e atabalhoada”

A Iniciativa Liberal também reagiu às informações que lhe foram prestadadas durante a reunião do Infarmed. Fê-lo através de Carla Castro, que defendeu que “o Governo continua com dificuldades em assumir as responsabilidades políticas e em lidar com a gestão da pandemia”. Ao invés, tem preferido encontrar “inimigos externos”, como os “cientistas, técnicos, jovens, residentes nas periferias e até outros países”.

Há uma procura de culpados. Preferia vê-los a encontrar soluções para os problemas”, referiu a representante do partido liberal.

A IL aponta ainda diversas falhas do Executivo e das autoridades com responsabilidades no combate à pandemia, como a criação de um gabinete de intervenção a 9 de junho, uma data que, segundo a Iniciativa Liberal, é reveladora de uma atuação “demorada e atabalhoada” – em contraste com outros países, que tiveram uma “atuação robusta e concreta”, além de atempada.

A IL lamenta, ainda, o fim das reuniões do Infarmed. “O objetivo seria melhorá-las e nunca terminá-las”, porque elas cumprem vários propósitos, de “escrutinar a ação governativa” a “encontrar alternativas”.

Carla Castro disso mais: lembrou que algumas narrativas foram “desconstruídas” devido a estas reuniões pelos próprios peritos. E frisou que, mesmo sem reuniões, “temos de ser exigentes com o Governo e vigilantes com as autoridades”. A representante da IL concluiu a sua intervenção destacando o problema da saúde mental que, segundo foi revelado na reunião, tem afetado especialmente jovens na faixa etária dos 16 a 25 anos.

Os Verdes lembram que Covid-19 tem atingido “famílias mais vulneráveis”

Dulce Arrojado, do Partido Ecologista Os Verdes (PEV), realçou a importância destas reuniões, que através da divulgação de “dados técnicos” contribuíram para os responsáveis políticos decidirem medidas para conter a propagação da pandemia.

A partir do que lhe foi transmitido pelos especialistas, Dulce Arrojado contou que “pode-se considerar que estamos numa situação de estabilização dos casos epidémicos”. No entanto, a pandemia “não está ultrapassada” e “teremos de viver com ela”.

A representante do partido ecologista apontou ainda para o facto da Covid-19 atingir as “famílias mais vulneráveis” que habitam o mesmo espaço e as pessoas que nunca conseguiram confinar devido ao trabalho. Por isso, realçou, é preciso não baixa a guarda e seguir as regras da DGS, de distanciamento físico e de higiene. Dulce Arrojada apelou, ainda, para as pessoas “continuarem a ir às consultas de cuidados primados”.

Os encontros têm sido quinzenais mas o de esta quarta-feira foi o último: na sede do Infarmed, em Lisboa, Governo, partidos políticos e especialistas de saúde juntaram-se para avaliar pela última vez a evolução da pandemia do novo coronavírus em Portugal.

A julgar pelas reações depois do encontro, um dos pontos mais consensuais foi a informação prestada por peritos de saúde, que apontam para uma estabilização recente no número de novos casos.

No final do encontro, as reações dos partidos variaram, mas quase todos sublinharam a importância destas reuniões — e alguns, como o CDS, Chega e Iniciativa Liberal, lamentaram mesmo que estas tivessem terminado.

À esquerda do Governo, o BE apontou a mira à pouca fiabilidade do reporte de dados por laboratórios privados e quer bloquistas quer comunistas alertaram para a pouca dotação de médicos especializados em saúde pública no SNS.

Já à direita do Governo, o PSD sublinhou a importância de resolver o problema de novos contágios na região de Lisboa e Vale do Tejo e alertou para o número de novos casos em Sintra, que não pára de aumentar.

CDS, Chega e Iniciativa Liberal estiveram unidos nas críticas ao fim das reuniões, tendo o CDS e o Chega criticado explicitamente Governo e o presidente do PSD, Rui Rio (que defendeu o final dos encontros), atribuindo-lhes a responsabilidade da decisão. O Chega, que tem em André Ventura um já assumido candidato presidencial, juntou mesmo no leque de responsáveis Marcelo Rebelo de Sousa, acusado de ter demonstrado “passividade”. Já o CDS notou que uma das especialistas que contrariou António Costa na reunião anterior não esteve presente desta vez.

R baixou. PS, confiante, destaca estabilização de casos e resposta do SNS

O primeiro partido a comentar a última reunião entre filiações partidárias, Governo e técnicos de saúde foi o PS, partido de Governo. Fê-lo através de José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto dos socialistas que abordou a descida do índice R, que calcula o número média de pessoas que cada infetado contagia.

No país, o R desceu para 0,98 e “está hoje na região Norte em 1.09, na região Centro em 1.08, em Lisboa e Vale do Tejo em 0,97, no Alentejo em 0.86 e no Algarve em 0.77”, indicou José Luís Carneiro.

Está nos níveis previstos quando se avançou com o desconfinamento, o que dá segurança relativamente não apenas ao que tem vindo a ser feito como ao que aqui tem vindo a ser dito, com sentido de proporcionalidade e responsabilidade”, vincou.

O secretário-geral adjunto do PS agradeceu ainda “às autoridades de saúde que aqui prestaram contas, esclarecimentos e informações que permitiram que partidos políticos pudessem ajuizar sobre adequação de posições, sobre medidas de políticas públicas para travar o contágio e sobre o modo como o país não apenas se confinou, mas paulatinamente foi desconfinando”.

Hoje, os dados que nos foram apresentados mostram que Portugal no quadro dos países da UE continua a ser um dos países com maiores níveis de confinamento. Outra conclusão tem a ver com a estabilização, há uma estabilização na generalidade do território nacional pese embora ainda prevalecerem focos”, referiu José Luís Carneiro.

O secretário-geral adjunto do PS enalteceu ainda a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para responder à pandemia. Começando por notar um “ligeiro crescimento” de novos casos “que ocorre em determinados locais, determinados territórios”, José Luís Carneiro vincou que “a palavra das autoridades de saúde” foi de que “o SNS tem capacidade de resposta para a procura que se tem vindo a verificar quer das unidades hospitalar que das unidades de cuidados intensivos. Manifesta-se aliás um aumento significativo da confiança dos cidadãos portugueses no recurso aos cuidados primários de saúde, o que é importante”.

O socialista referiu-se ainda a “estudos aqui apresentados da parte da Escola Nacional de Saúde Pública”, que “ilustram que os indicadores de confiança no modo como temos vindo a desconfiar têm vindo a aumentar. Os portugueses estão a confiar no desconfinamento. Contudo, o cumprimento de todas as regras, atitudes e comportamentos determinados pelas autoridades de saúde deve continuar a ser observado.”

Para o PS, em Lisboa e Vale do Tejo “as medidas do ponto de vista de isolamento e apoio [de infetados] — social, financeiro, em termos de habitação e tratamento — está a produzir os seus efeitos”.

PSD: “Se falhamos na resposta de Lisboa estaremos a falhar ao país”

Pelo PSD falou, como tem sido habitual, Ricardo Baptista Leite, que retira uma conclusão desta última reunião do Infarmed: “Se falhamos na resposta de Lisboa estaremos a falhar ao país”.

Os surtos fora da Região de Lisboa já são 48 quando há duas semanas eram “apenas 12”. Além disso, constatou Batista Leite, o número de pessoas com infeção sem ligação epidemiológica são “18% na Região de Lisboa”, percentagem que na região Centro e Norte sobe para os 26%.

Há também um aumento dos internamentos e da mortalidade, indica o médico. De positivo, vincou a “aparente” estabilização dos números na região de Lisboa mas que só ocorreu nos últimos dias, pelo que é necessário ser-se “prudente”. Onde não há inversão é no concelho de Sintra, onde os números “não descem”.

O deputado esclareceu, ainda, que se verifica um aumento de procura de consultas de cuidados primários relacionados com a Covid-19. E regista como positivo, o facto dos “inquéritos epidemiológicos às pessoas com resultados positivos ser feito, agora, em 24 horas” – o que não acontecia há 15 dias. Tal, frisou, “é determinante para controlarmos a pandemia, de forma a manter as pessoas infetadas isoladas”. Ricardo Batista Leite indicou, também, que foi dada a garantia que o “isolamento, agora, está a ser feito” devidamente.

O deputado terminou a intervenção a apelar ao governo que comece a preparar o próximo inverno, que poderá “colocar uma sobrecarga sobre o Sistema Nacional de Saúde”. Não o fazer seria um erro e “fechar a economia por impreparação” seria inaceitável.

BE pede melhor reporte de laboratórios privados e lamenta desinvestimento em saúde

Outros dos representantes partidários que falou foi José Manuel Pureza, que representou o Bloco de Esquerda na reunião. O bloquista começou por “sublinhar a importância que estas reuniões tiveram na consolidação de um conhecimento que é a única forma de combater o eventual desânimo e alarme que possam aparecer”.

O que temos hoje diante de nós é realidade de dados razoavelmente estabilizados, no que diz respeito ao número de infetados, internamentos e óbitos. Mas houve também menção nesta reunião à importância de determinantes económicas e sociais da doença”, apontou Pureza.

José Manuel Pureza quis “chamar a atenção” para o que diz ter sido “sublinhado” na reunião: “a importância do movimentos pendulares, a sobrelotação de alojamento e a falta de alternativas para muita gente que não tem outra hipótese se não vir trabalhar para poder sobreviver. Esta realidade exige intervenção que vai além da saúde em sentido estrito. Precisamos de medidas com alcance sócio-económico porque combatem eficazmente a pandemia”.

Sobre o fim das reuniões no Infarmed, Pureza referiu: “Aceitando que estas reuniões tenham chegado ao fim de um ciclo, o BE entende que é muito importante que no Parlamento se continue a fiscalizar de forma muito rigorosa toda a evolução quer da pandemia quer das políticas que tenham sido e venham a ser adotadas”.

A segunda nota de José Manuel Pureza foi sobre “alguma inconsistência dos dados sobre casos reportados”. Apontou:

O país não compreende e não aceita que alguma inconsistência dos dados sobre casos reportados se deva a laboratórios privados. O BE entende que são necessárias instruções, regras vinculativas dos operadores privados por parte do Governo para que a consistência dos dados seja um fator de segurança de todas as pessoas.”

O representante do BE terminou dizendo que “fica claro quer no todo do país quer especificamente na região de Lisboa e Vale do Tejo que estamos hoje a pagar caro por um desinvestimento de sucessivos governos e responsáveis pela formação e exercício da profissão médica e por um desinvestimento muito prolongado na formação de quadros em saúde pública. E é agora que é fundamental inverter esse caminho, dotando o país de quadros em saúde pública que no futuro mais próximo possível possam robustecer a capacidade de resposta do país”.

PCP: saúde pública “é o parente pobre do SNS”

Jorge Pires, do PCP, também falou aos jornalistas e começou por referir a importância destes encontros. “Termina um ciclo”, apontou, vincando que as reuniões na sede do Infarmed, em Lisboa, tiveram uma “importância extraordinária”.

O comunista elogiou ainda o conjunto de pessoas, especialistas e técnicos envolvidos, que prestaram um “grande serviço e deram uma ajuda na compreensão da Covid-19”. Agora, realça, “a informação fica só disponibilizada pela comunicação social ou através da Assembleia da República”.

Para o deputado, é “abusivo dizer que este é um problema da área metropolitana de Lisboa”. A infeção, refere, “está concentrada em 5 concelhos e nas suas 19 freguesias” e não em toda a área metropolitana de Lisboa. Jorge Pires mencionou, ainda, a tendência de “estabilização” de novos casos revelada na reunião pelos especialistas.

No final do discurso, reconheceu que a estrutura de saúde pública, importante nesta fase de combate à pandemia, “é o parente pobre do SNS”.

CDS critica fim de reuniões, Rui Rio e revela: uma das especialistas que contrariou Costa já não esteve nesta reunião

Em nome do CDS falou António Carlos Monteiro. O vicepresidente dos centristas apontou a mira ao Governo e PSD criticando o fim destas reuniões no Infarmed. “Estas reuniões foram para nós muito importantes porque permitiram contacto com técnicos e especialistas, permitiram termos informação em primeira mão e resolver dúvidas em primeira mão. Foram fundamentais para construir unidade em torno do combate a esta doença”, começou por dizer.

Não podemos deixar de lamentar que numa altura em que a crise não está resolvida, em termos de saúde pública, que depois de numa reunião os especialistas terem contrariado as teses do sr. Primeiro-Ministro — aliás uma dessas especialistas já nem esteve presente nesta mesma reunião — vermos o presidente do maior partido de oposição, o PSD, dizer que estas reuniões passaram a ser dispensáveis e por isso mesmo deixámos de ter acesso a esta mesma informação”, criticou.

António Carlos Monteiro vincou que considera importante que “a informação seja fornecida, para se construir unidade de consenso políticos”. A existência destas reuniões “para o CDS é muito importante e lamentamos que estejam a acabar com as reuniões quando a crise de saúde pública não acabou, continua”, vincou.

“Não há nenhum milagre português como podemos perceber hoje. Portugal, que viu na imprensa internacional elogiado o seu esforço em termos de combate à pandemia, neste momento em número de contágios por milhão de habitante na Europa fica apenas atrás da Suécia, que não fez qualquer confinamento“, alertou o vicepresidente do CDS.

Aquilo que temos é um problema muito sério: os portugueses pagaram preço do confinamento em falências e desemprego e o que estamos neste momento a ver é que não houve o efeito desejado no combate à pandemia e Portugal está na lista negra dos destinos turísticos. É um setor económico fundamental para o país que vai atravessar dificuldades fortíssimas. Exige-se da parte do Governo e dos poderes públicos medidas para acompanhar este mesmo setor”, desafiou.

“Aquilo que de alguma forma sentimos é uma terrível frustração”, apontou ainda António Carlos Monteiro, lamentando que se esteja a pagar “o preço de confinamento” sem “obter os benefícios desse mesmo confinamento”. Acrescentou: “Continuarmos nesta altura com a economia em risco apesar de estarmos a desconfinar. É para nós extremamente preocupante”.

O centrista recordou que a região de Lisboa e Vale do Tejo “continua com taxas de contágio acima do desejado” e defendeu que “a situação de Lisboa arrastou o resto do país para esta situação”. “Evidentemente que não é com menos informação que o problema se resolve”, acrescentou, “muito menos quando essa informação foi dada e contrariou as teses que estavam a ser dadas por alguns políticos”.

“Fica o apelo para que esta informação continue a ser fornecida aos partidos e para que seja ponderado no futuro a reativação destas reuniões, porque é evidente que não estamos com o problema resolvido. É por isso importante que as pessoas percebam que com sinais contraditórios não se vai resolver da epidemia que nos tem afligido”.

Estes sinais contraditórios “para nós continuam a ser um dos principais problemas no contacto com estas doenças”, sublinhou ainda António Carlos Monteiro, dando exemplos: “Temos proibição de contactos, mas depois temos manifestações na rua. Temos confinamento, mas depois iniciativas com milhares de pessoas em espaços fechados. Portanto é evidente que numa altura em que a situação é grave, acabar com as reuniões é mais um desses sinais que nos parecem errados”.

André Ventura aponta PS, PSD e Marcelo como responsáveis pelo fim das reuniões

Quem também esteve presente na última reunião de avaliação quinzenal da evolução da pandemia, que decorreu esta quarta-feira no Infarmed, em Lisboa, foi André Ventura, líder e deputado do Chega.

André Ventura começou por criticar o fim destas reuniões no Infarmed, apontando a mira a PS, PSD e Marcelo Rebelo de Sousa. “É de estranhar que poucos dias depois de o presidente do PSD ter referido que estas reuniões estavam a ter cada vez menos importância, o Governo tenha também ele decidido terminar com estas reuniões — e aparentemente sob a passividade enorme do Presidente da República”.

Mostra que de facto temos um alinhamento estruturado, feito, definido, decidido à frente dos portugueses, à frente de todos, para controlar a informação, a gestão e divulgação do que se passa nesta pandemia“, acusou o líder do Chega, acrescentando: “Não foi inocente nada disto que aconteceu, hoje olhamos para trás e percebemos”.

Depois, André Ventura prosseguiu: “Estas reuniões têm uma importância fundamental se forem isentas e imparciais na transmissão de informação que nos é atribuída. Não se pode pedir por um lado que decidamos com base em conhecimento científico e por outro que se acabem com as reuniões onde se transmite esse conhecimento científico. Ou porque não gostam tanto do que é transmitido, ou porque querem fazer agora um modelo mais micro em relação ao modelo que aqui tem sido trazido”.

O líder do Chega lembrou ainda que “é a Assembleia da República que tem de tomar decisões fundamentais quer do estado de emergência e estado de calamidade, quer sobre normas extraordinárias. Portanto, não faz sentido estar a transformar este modelo num modelo micro com outras quaisquer consequências”.

Repetindo que o que originou o fim deste modelo de reuniões quinzenais no Infarmed “foi uma concertação entre o principal partido da oposição e o partido de Governo, com passividade do Presidente da República“, o líder do Chega abordou ainda a evolução da pandemia em Lisboa e Vale do Tejo: “Há uma certa estabilização com dois dados preocupantes: um aumento progressivo de contágios em todas as idades e um aumento das incidências em lares. Este segundo é o mais preocupante, porque representam [utentes dos lares] um grupo de maior risco e onde o nível de mortalidade já é elevado. Pode vir a tornar-se um verdadeiro problema”.

André Ventura notou ainda que os peritos destacaram que “o contágio social no Algarve está a aumentar de forma significativa”. Recordando que nesta região o desemprego “aumentou 200%”, concluiu: “O aumento de contágio no Algarve pode ser letal para os interesses da economia, da comunidade e da própria região. O Governo não está a conseguir comunicar bem o que se está a passar nestas regiões, quer em Lisboa quer no Algarve. Isso está a ter um impacto nocivo no nosso turismo, na nossa economia, na procura externa”.

Apontando já críticas a António Costa, André Ventura referiu: “Não bastam tweets do primeiro-ministro a dizer que há mais casos no Reino Unido do que no Algarve. Não é assim que se resolve a situação, é a transmitir para fora que o Algarve é uma região segura. É assim que se defende o nosso país, não criando máscaras ou dados pouco fiáveis em que os nossos parceiros europeus não confiam, aconselhando a não se viajar para Lisboa e Algarve”. É preciso, em suma, “comunicar melhor”, diz o líder do Chega.

A última nota do Chega foi sobre a informação prestada pelos peritos nestas reuniões. Disse André Ventura: “Sem querer colocar em causa os especialistas que aqui vêm ou credibilidade que têm, que é intocável, quando falei no aspeto de isenção…. Um dos especialistas que esteve hoje connosco — e são escolhidos pelo Governo, não são escolhidos pelos restantes partidos — disse que a nossa capacidade de mobilizar recursos era muito maior do que as dos outros e que a nossa grande vantagem, que estava a ser determinante, era a capacidade hospitalar nas várias reuniões”.

Todos sabemos que não só os recursos são parcos como inclusivamente o hospital Amadora-Sintra teve de enviar doentes para o hospital de Santarém. Não estamos aqui para ouvir propaganda, estamos aqui para ouvir dados, para os analisar e para podermos em conjunto, como partidos políticos parlamentares, tomar decisões. Dispensa-se propaganda”, apontou o líder do Chega.

Já questionado sobre o fim destas reuniões no Infarmed, disse ainda: “Assisti com estupefação às declarações do presidente do PSD. Soube que era a última reunião quando subi estas escadas e quando ouvi o Presidente da República dizer que era a última reunião. Lá dentro, depois de finalizada a intervenção, ninguém marcou uma nova reunião. O primeiro-ministro remarcava as reuniões no final. Se é este o respeito que existe pelos partidos de oposição e se é isto a transparência, vou ali e já venho”.

Para a Iniciativa Liberal atuação do governo foi “demorada e atabalhoada”

A Iniciativa Liberal também reagiu às informações que lhe foram prestadadas durante a reunião do Infarmed. Fê-lo através de Carla Castro, que defendeu que “o Governo continua com dificuldades em assumir as responsabilidades políticas e em lidar com a gestão da pandemia”. Ao invés, tem preferido encontrar “inimigos externos”, como os “cientistas, técnicos, jovens, residentes nas periferias e até outros países”.

Há uma procura de culpados. Preferia vê-los a encontrar soluções para os problemas”, referiu a representante do partido liberal.

A IL aponta ainda diversas falhas do Executivo e das autoridades com responsabilidades no combate à pandemia, como a criação de um gabinete de intervenção a 9 de junho, uma data que, segundo a Iniciativa Liberal, é reveladora de uma atuação “demorada e atabalhoada” – em contraste com outros países, que tiveram uma “atuação robusta e concreta”, além de atempada.

A IL lamenta, ainda, o fim das reuniões do Infarmed. “O objetivo seria melhorá-las e nunca terminá-las”, porque elas cumprem vários propósitos, de “escrutinar a ação governativa” a “encontrar alternativas”.

Carla Castro disso mais: lembrou que algumas narrativas foram “desconstruídas” devido a estas reuniões pelos próprios peritos. E frisou que, mesmo sem reuniões, “temos de ser exigentes com o Governo e vigilantes com as autoridades”. A representante da IL concluiu a sua intervenção destacando o problema da saúde mental que, segundo foi revelado na reunião, tem afetado especialmente jovens na faixa etária dos 16 a 25 anos.

Os Verdes lembram que Covid-19 tem atingido “famílias mais vulneráveis”

Dulce Arrojado, do Partido Ecologista Os Verdes (PEV), realçou a importância destas reuniões, que através da divulgação de “dados técnicos” contribuíram para os responsáveis políticos decidirem medidas para conter a propagação da pandemia.

A partir do que lhe foi transmitido pelos especialistas, Dulce Arrojado contou que “pode-se considerar que estamos numa situação de estabilização dos casos epidémicos”. No entanto, a pandemia “não está ultrapassada” e “teremos de viver com ela”.

A representante do partido ecologista apontou ainda para o facto da Covid-19 atingir as “famílias mais vulneráveis” que habitam o mesmo espaço e as pessoas que nunca conseguiram confinar devido ao trabalho. Por isso, realçou, é preciso não baixa a guarda e seguir as regras da DGS, de distanciamento físico e de higiene. Dulce Arrojada apelou, ainda, para as pessoas “continuarem a ir às consultas de cuidados primados”.

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