“É uma tolice continuar a usar gás natural”, diz ministro do Ambiente

29-09-2020
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O ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, voltou a defender a aposta do Governo no hidrogénio verde como a melhor forma de descarbonizar a indústria nacional e garantiu que num cenário de reindustrialização de Portugal e da Europa “é uma tolice continuar a usar gás natural”.

“Descarbonização e eletrificação não são sinónimos. O gás faz falta para a reindustrialização do país, mas tem forçosamente de ser de origem renovável. É uma tolice continuar a usar gás natural”, disse Matos Fernandes na abertura da conferência “Ação Climática – Desafios Estratégicos”, que decorre esta segunda-feira na Alfândega do Porto e na qual participa António Costa Silva, CEO da petrolífera Partex e consultor do Governo para o Plano de Recuperação Económica, além dos ministros que tutelam as pastas dos principais temas em debate: ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes e o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos.

“Quando falamos em descarbonizar o país falamos numa maior eletrificação do país. Vamos mesmo chegar a 2030 com 80% da eletricidade que consumimos a partir de fontes renováveis. Isto significa muito menos importações de combustíveis fósseis — petróleo e carvão — com grandes ganhos para a balança comercial e com muito maior autonomia energética. A eletricidade não resolve tudo, por isso tem de continuar a haver gás. Deve ser o gás natural? Numa fase de transição não há alternativa. No futuro, não. Devem ser gases renováveis, como o hidrogénio e o biometano, que vão poder ser injetado na rede de gás”, explicou o ministro.

Na primeira mesa redonda da conferência, dedicada ao tema “A ação climática na recuperação económica”, Matos Fernandes frisou a importância cada vez maior das políticas ambientais para a criação de riqueza. “O ambiente deve ter uma política ativa e de investimentos. A presidente da Comissão Europeia já disse que os investimentos na sustentabilidade vão ser o motor da recuperação económica e Portugal quer liderar processo. É fundamental desbloquear fundos públicos para esta transição. Já estamos à frente da média e já conseguimos provar em 2019 que não há uma relação feliz entre emissões poluentes e crescimento da economia”, disse o governante com a pasta do Ambiente e Ação Climática, deixando um recado ao sistema financeiro: “Não sei quanto tempo mais os bancos vão viver sem testes de stress associados aos seus investimentos verdes”.

Sobre este tema, Sofia Santos, economista especializada em sustainable finance que calculou que Portugal terá de investir dois mil milhões de euros por ano para atingir as metas de neutralidade carbónica, lembrou que “o dinheiro privado é mais abundante que o dinheiro público e no espaço de cinco anos o setor financeiro terá de ser muito diferente do que é hoje”. Já em 2022, garante, todo o setor financeiro “vai ter de começar a reportar investimentos sustentáveis”.

Por seu lado, António Costa Silva lembrou que em março de 2020 o petróleo fez História ao negociar a valores negativos na bolsa de Nova Iorque. “Estamos numa encruzilhada: a procura de petróleo está pela primeira vez a declinar e as renováveis a crescer. Temos grandes petrolíferas como a Exxon Mobil a sair do mercado de capitais e a perder a sua capitalização bolsista. É uma oportunidade histórica”, disse o gestor.

Costa Silva voltou a sublinhar que “o hidrogénio não é delírio tecnológico” e disse não perceber “as guerras tribais” em torno do hidrogénio” em Portugal. “A aposta no hidrogénio tem de ser compreendida no contexto de descarbonização da economia. É fundamental paras as cimenteiras e as petroquímicas. As empresas sabem que se não descarbonizarem vão ser afetadas na sua atividade porque todos os stakeholders o vão exigir. A energia vai desempenhar papel fulcral na nova onda de desenvolvimento económico”, disse o consultor do Governo, que fez toda a sua carreira no setor petrolífero.

Do lado dos ambientalistas, Francisco Ferreira, da Zero, apontou algumas “reticências” face ao hidrogénio, a começar pelo risco de “apostar apenas neste gás renovável como uma commodity para exportação”. E porque o hidrogénio em Portugal está muito ligado ao solar, a somar às necessidades crescentes de geração de eletricidade renovável, alertou para o perigo de “alcatifar zonas inteiras do país com painéis fotovoltaicos”, tendo em conta os condicionalismos que existem na rede em relação aos pontos de interligação. “Não podemos ter centenas de hectares de solar em salvaguardar a paisagem. Por isso temos de apostar mais nas comunidades energéticas e na energia solar nos edifícios”, defendeu.

Em resposta, à margem da conferência, Matos Fernandes disse concordar com Francisco Ferreira sobre a necessidade de as “as comunidades de autoconsumo terem de florescer” e lembrou que “já há legislação para isso”. No entanto, sobre a imagem de alcatifar o país com painéis solares, o ministro frisou que “os 7 GW de produção solar concentrada necessários para cumprir as metas não vão ser instalados no ar, mas sim no chão”.

“Todos os grandes projetos solares têm de ter uma avaliação de impacto ambiental. Há áreas em Portugal em que os solos são muito pobres e o único rendimento que os proprietários podem obter é arrendar terrenos para a produção de energia solar. Não podemos dizer que queremos energias renováveis, que o solar tem de crescer exponencialmente porque a energia hídrica vai perder importância e depois não ter onde instalar centrais solares”, rematou o ministro.

O ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, voltou a defender a aposta do Governo no hidrogénio verde como a melhor forma de descarbonizar a indústria nacional e garantiu que num cenário de reindustrialização de Portugal e da Europa “é uma tolice continuar a usar gás natural”.

“Descarbonização e eletrificação não são sinónimos. O gás faz falta para a reindustrialização do país, mas tem forçosamente de ser de origem renovável. É uma tolice continuar a usar gás natural”, disse Matos Fernandes na abertura da conferência “Ação Climática – Desafios Estratégicos”, que decorre esta segunda-feira na Alfândega do Porto e na qual participa António Costa Silva, CEO da petrolífera Partex e consultor do Governo para o Plano de Recuperação Económica, além dos ministros que tutelam as pastas dos principais temas em debate: ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes e o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos.

“Quando falamos em descarbonizar o país falamos numa maior eletrificação do país. Vamos mesmo chegar a 2030 com 80% da eletricidade que consumimos a partir de fontes renováveis. Isto significa muito menos importações de combustíveis fósseis — petróleo e carvão — com grandes ganhos para a balança comercial e com muito maior autonomia energética. A eletricidade não resolve tudo, por isso tem de continuar a haver gás. Deve ser o gás natural? Numa fase de transição não há alternativa. No futuro, não. Devem ser gases renováveis, como o hidrogénio e o biometano, que vão poder ser injetado na rede de gás”, explicou o ministro.

Na primeira mesa redonda da conferência, dedicada ao tema “A ação climática na recuperação económica”, Matos Fernandes frisou a importância cada vez maior das políticas ambientais para a criação de riqueza. “O ambiente deve ter uma política ativa e de investimentos. A presidente da Comissão Europeia já disse que os investimentos na sustentabilidade vão ser o motor da recuperação económica e Portugal quer liderar processo. É fundamental desbloquear fundos públicos para esta transição. Já estamos à frente da média e já conseguimos provar em 2019 que não há uma relação feliz entre emissões poluentes e crescimento da economia”, disse o governante com a pasta do Ambiente e Ação Climática, deixando um recado ao sistema financeiro: “Não sei quanto tempo mais os bancos vão viver sem testes de stress associados aos seus investimentos verdes”.

Sobre este tema, Sofia Santos, economista especializada em sustainable finance que calculou que Portugal terá de investir dois mil milhões de euros por ano para atingir as metas de neutralidade carbónica, lembrou que “o dinheiro privado é mais abundante que o dinheiro público e no espaço de cinco anos o setor financeiro terá de ser muito diferente do que é hoje”. Já em 2022, garante, todo o setor financeiro “vai ter de começar a reportar investimentos sustentáveis”.

Por seu lado, António Costa Silva lembrou que em março de 2020 o petróleo fez História ao negociar a valores negativos na bolsa de Nova Iorque. “Estamos numa encruzilhada: a procura de petróleo está pela primeira vez a declinar e as renováveis a crescer. Temos grandes petrolíferas como a Exxon Mobil a sair do mercado de capitais e a perder a sua capitalização bolsista. É uma oportunidade histórica”, disse o gestor.

Costa Silva voltou a sublinhar que “o hidrogénio não é delírio tecnológico” e disse não perceber “as guerras tribais” em torno do hidrogénio” em Portugal. “A aposta no hidrogénio tem de ser compreendida no contexto de descarbonização da economia. É fundamental paras as cimenteiras e as petroquímicas. As empresas sabem que se não descarbonizarem vão ser afetadas na sua atividade porque todos os stakeholders o vão exigir. A energia vai desempenhar papel fulcral na nova onda de desenvolvimento económico”, disse o consultor do Governo, que fez toda a sua carreira no setor petrolífero.

Do lado dos ambientalistas, Francisco Ferreira, da Zero, apontou algumas “reticências” face ao hidrogénio, a começar pelo risco de “apostar apenas neste gás renovável como uma commodity para exportação”. E porque o hidrogénio em Portugal está muito ligado ao solar, a somar às necessidades crescentes de geração de eletricidade renovável, alertou para o perigo de “alcatifar zonas inteiras do país com painéis fotovoltaicos”, tendo em conta os condicionalismos que existem na rede em relação aos pontos de interligação. “Não podemos ter centenas de hectares de solar em salvaguardar a paisagem. Por isso temos de apostar mais nas comunidades energéticas e na energia solar nos edifícios”, defendeu.

Em resposta, à margem da conferência, Matos Fernandes disse concordar com Francisco Ferreira sobre a necessidade de as “as comunidades de autoconsumo terem de florescer” e lembrou que “já há legislação para isso”. No entanto, sobre a imagem de alcatifar o país com painéis solares, o ministro frisou que “os 7 GW de produção solar concentrada necessários para cumprir as metas não vão ser instalados no ar, mas sim no chão”.

“Todos os grandes projetos solares têm de ter uma avaliação de impacto ambiental. Há áreas em Portugal em que os solos são muito pobres e o único rendimento que os proprietários podem obter é arrendar terrenos para a produção de energia solar. Não podemos dizer que queremos energias renováveis, que o solar tem de crescer exponencialmente porque a energia hídrica vai perder importância e depois não ter onde instalar centrais solares”, rematou o ministro.

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