Evitar o desastre económico

09-04-2020
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É seguro arriscar que nas próximas semanas vão estar menos portugueses em idade ativa a trabalhar do que em qualquer outra altura. Não por falta de trabalho para fazer, nem por escolha de ir de férias, mas por causa do choque singular que afeta o nosso país. O choque imposto pelo vírus e pelas medidas de saúde necessárias reduz hoje, direta e expressivamente, o fator trabalho. Esta situação leva ao quase fecho da atividade económica e pode-se prolongar por algum tempo, esperemos que não muito longo. Mas mesmo que seja só umas semanas, exige uma resposta agora da política económica.

No imediato, sem trabalhadores, produz-se pouco, ou mesmo nada. Para além daqueles que não conseguem exercer a sua atividade remotamente (por exemplo, o turismo, onde se criaram grande parte dos empregos nos últimos anos), na maioria dos casos, uma hora trabalhada em casa não gera o mesmo que uma hora trabalhada no local habitual. Reconhecendo que este constrangimento ao total de horas (produtivas) trabalhadas na economia é necessário para debelar o ritmo da pandemia, qualquer estímulo à atividade económica hoje revelar-se-á custoso e ineficaz. Cortar impostos hoje, ou aumentar a despesa pública em obras ou outros investimentos, é uma receita habitual contra as recessões económicas. Mas hoje estas políticas serão uma perda de tempo e dinheiro. Não há procura a estimular, nem oferta a incentivar, quando os trabalhadores e consumidores estão em casa à força.

Pelo contrário, a mobilização de recursos para o combate à epidemia é crucial. Produzir ventiladores, produtos sanitários ou equipamentos de proteção individual é tão ou mais urgente do que produzir balas em tempo de guerra. Financiar o SNS, pôr camas de hospital rapidamente disponíveis, e recrutar profissionais de saúde já reformados ou ainda a meio dos seus cursos é uma prioridade. Em tudo isso, sem hesitar em recorrer à dívida pública quando necessário, porque é para situações como estas que ela existe.

Nesta economia que vive quase em racionamento, os mecanismos habituais da economia de mercado e os sinais que deles resultam são substituídos por outros. O sistema de preços comporta-se de forma menos informativa pois em cada setor, em cada dia, tanto podemos ter falta de clientes ou falta de trabalhadores. A prática de preços proibitivos de certos bens, como as máscaras, merece intervenção A OLX e a Amazon, para preservar a sua reputação, removeram muitos dos itens com preços absurdos. Por isso, a inflação tanto pode disparar, como tornar-se deflação sem que isto nos diga muito sobre a estabilidade dos preços no médio prazo ou sobre a política monetária.

As práticas de açambarcamento que vemos são más pela pressão que exercem sobre as cadeias de distribuição. Elas alimentam mais açambarcamento, numa corrida desenfreada que cria estrangulamentos nas cadeias de produção. Para além disso, elas criam questões distributivas: para um supermercado será indiferente vender tudo o que tem nas prateleiras a 1 ou a 100 pessoas (a receita é a mesma), mas as implicações para as vidas das pessoas são bastante diferentes. É nestes casos que o argumento económico do racionamento entra em jogo.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, referia-se com razão a este estado como uma “economia de guerra”. Gastar rapidamente e com poucos limites num setor, acumular dívida publica, ignorar os números de inflação, permitir o racionamento. Todas elas são políticas que quase sempre levam a um desastre mas que hoje o evitam.

É seguro arriscar que nas próximas semanas vão estar menos portugueses em idade ativa a trabalhar do que em qualquer outra altura. Não por falta de trabalho para fazer, nem por escolha de ir de férias, mas por causa do choque singular que afeta o nosso país. O choque imposto pelo vírus e pelas medidas de saúde necessárias reduz hoje, direta e expressivamente, o fator trabalho. Esta situação leva ao quase fecho da atividade económica e pode-se prolongar por algum tempo, esperemos que não muito longo. Mas mesmo que seja só umas semanas, exige uma resposta agora da política económica.

No imediato, sem trabalhadores, produz-se pouco, ou mesmo nada. Para além daqueles que não conseguem exercer a sua atividade remotamente (por exemplo, o turismo, onde se criaram grande parte dos empregos nos últimos anos), na maioria dos casos, uma hora trabalhada em casa não gera o mesmo que uma hora trabalhada no local habitual. Reconhecendo que este constrangimento ao total de horas (produtivas) trabalhadas na economia é necessário para debelar o ritmo da pandemia, qualquer estímulo à atividade económica hoje revelar-se-á custoso e ineficaz. Cortar impostos hoje, ou aumentar a despesa pública em obras ou outros investimentos, é uma receita habitual contra as recessões económicas. Mas hoje estas políticas serão uma perda de tempo e dinheiro. Não há procura a estimular, nem oferta a incentivar, quando os trabalhadores e consumidores estão em casa à força.

Pelo contrário, a mobilização de recursos para o combate à epidemia é crucial. Produzir ventiladores, produtos sanitários ou equipamentos de proteção individual é tão ou mais urgente do que produzir balas em tempo de guerra. Financiar o SNS, pôr camas de hospital rapidamente disponíveis, e recrutar profissionais de saúde já reformados ou ainda a meio dos seus cursos é uma prioridade. Em tudo isso, sem hesitar em recorrer à dívida pública quando necessário, porque é para situações como estas que ela existe.

Nesta economia que vive quase em racionamento, os mecanismos habituais da economia de mercado e os sinais que deles resultam são substituídos por outros. O sistema de preços comporta-se de forma menos informativa pois em cada setor, em cada dia, tanto podemos ter falta de clientes ou falta de trabalhadores. A prática de preços proibitivos de certos bens, como as máscaras, merece intervenção A OLX e a Amazon, para preservar a sua reputação, removeram muitos dos itens com preços absurdos. Por isso, a inflação tanto pode disparar, como tornar-se deflação sem que isto nos diga muito sobre a estabilidade dos preços no médio prazo ou sobre a política monetária.

As práticas de açambarcamento que vemos são más pela pressão que exercem sobre as cadeias de distribuição. Elas alimentam mais açambarcamento, numa corrida desenfreada que cria estrangulamentos nas cadeias de produção. Para além disso, elas criam questões distributivas: para um supermercado será indiferente vender tudo o que tem nas prateleiras a 1 ou a 100 pessoas (a receita é a mesma), mas as implicações para as vidas das pessoas são bastante diferentes. É nestes casos que o argumento económico do racionamento entra em jogo.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, referia-se com razão a este estado como uma “economia de guerra”. Gastar rapidamente e com poucos limites num setor, acumular dívida publica, ignorar os números de inflação, permitir o racionamento. Todas elas são políticas que quase sempre levam a um desastre mas que hoje o evitam.

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