O triunfo dos porcos (perdão, bácoros)

10-12-2019
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A narrativa

terça-feira, agosto 27, 2013

Por
Groink

A história dá muitas voltas, quando o PS de António José Seguro se
propõe fazer o balanço do socratismo. No site do PS, onde em tempos a
herança de José Sócrates tinha sido apagada, agora aparece glorificada. O
primeiro-ministro que deixou o país em resgate financeiro torna-se, no
registo actual, campeão da consolidação orçamental.
“Consolidámos as
contas públicas”, lê-se em www.ps.pt, sob o epíteto ‘PS_propõe e Faz’,
no capítulo ‘Marcas da Governação Socialista’. “Reduzimos o défice
orçamental para valores nunca antes atingidos”, começa o texto. “Entre
2005 e 2008, o défice orçamental passou de 6,1% (implícito, 6,8%) para
2,6%, o valor mais baixo da Democracia”.
O_SOL questionou a
direcção do PS sobre a ‘narrativa’ que deixa de fora o resto da
governação de Sócrates, período em que as contas públicas derraparam (o
défice orçamental em 2010 era de 9,9%). Sem resposta.
No site,
ignora-se a intervenção da troika e e sugere-se que, não fora o trabalho
feito entre 2005 e 2008, a realidade seria mais negra. “A consolidação
orçamental deixou-nos melhor preparados para responder à crise. Foi por
ter resolvido em tempo útil a crise governamental recebida em 2005 que o
Estado dispôs de margem para responder à crise económica mundial,
apoiando as famílias e empresas”.
Terminando o balanço das contas
socráticas com uma referência aos sistemas de protecção social, o site
do PS diz que o “Serviço Nacional de Saúde geriu criteriosamente as
verbas afectadas, terminando com a crónica derrapagem das suas contas”.
No início do mandato de Seguro, a ala socrática criticou o novo líder
por não defender o antecessor. E o próprio José Sócrates queixou-se
recentemente do mesmo.
Fonte: sol.sapo.pt
Fascinante esta visão da história. Fala-se de um ano e temos um renascido das cinzas.

O problema é que não é toda a verdade. Se bem me lembro o 1º Governo de Sócrates tomou posse a 12 de Março de 2005. E ganhou com o enorme favor de Constâncio com a sua previsão de 6.83% de deficit.
Os números do PORDATA não andam muito longe disto (parece haver um shift de um ano entre os dois gráficos)

2003 -3,7
2004 -4,0
2005 -6,5
2006 -4,6
2007 -3,2
2008 -3,7
2009 -10,2
2010 -9,9
2011 -4,4
2012 -6,4

E fonte Eurostat

2003 -3,7
2004 -4,0
2005 -6,5
2006 -4,6
2007 -3,1
2008 -3,6
2009 -10,2
2010 -9,8
2011 -4,4
2012 -6,4

Não há fonte oficial que corrobore os tais 2.6%. Nem sequer se aproxima. Parece ser um número que só o PS conhece.
Mas numa coisa todos são unânimes e é no descalabro pós 2008 que o PS convenientemente esquece. Tal como o deficit de 2005 que Constâncio garantia que seria de 6.83% (se nada fosse feito). Pois parece que o que fizeram não terá sido grande coisa porque esse deficit acabou por ser de 6.5%.
E note-se que em 2005 o escalão de IRS para rendimentos de 60.000 euros foi aumentado para 42%, houve alterações ao IVA, imposto sobre tabaco, produtos petrolíferos, IMI, IMT, IUC etc etc etc.
Com medidas fiscais fortemente penalizadoras "reduziram" do hipotético 6.83% de Constâncio vs os 6.4% de Bagão Félix, para os 6.5%.

These include a gradual increase in the retirement age for Portugal’s
700,000 civil servants from 60 to 65, freezing public sector promotions
and reducing sick-leave payments, a 2 percent increase in Value-Added
Tax (VAT) to 21 percent, a rise in tobacco and fuel taxes and the
creation of a new income tax band of 42 percent on incomes greater than
€60,000

Aqui temos a "sensibilidade" do PS. E isto numa altura em que não estávamos nem de perto na situação de emergência em que estamos hoje. Que eles criaram...

Mais tarde agravaram o IVA em mais 2 pontos percentuais (os famosos PEC's), voltaram a mexer em mais uma série de impostos de tal forma que despoletaram a discussão da "consilidação das contas públicas pelo lado da receita" que levou ao chumbo do PEC IV.

Nos anos PS, começou o esbulho fiscal.

Já nem lhes interessa parecer sérios. Contam apenas que as pessoas tradicionalmente desmemoriadas acreditem no que lhes é dito. Mais que falta de vergonha é pura e simples falta de honestidade.

Se tomarmos os anos Sócrates 2005 a 2011, anos dos quais terá sido responsável pelos orçamentos temos uma média de 7.01%. Note-se que o ano de 2011 já conta com as medidas e as rectificações adoptadas por ESTE governo.
Por outro lado a média destes dois anos é de 5.4%.

Foi então a brilhante Governação de Sócrates que conseguiu isto? A contrair dívida à louca e a desorçamentar tudo o que podia (e não podia) ?
E com o serviço da dívida que foi contraindo e vai sendo amortizada estes ainda conseguem ficar abaixo?

Esta constatação será talvez a melhor prova de como foi danosa a gestão do PS. E notem que estamos a falar dum racio numa altura em que o PIB ainda não tinha contraído da maneira que sabemos. O que quer dizer que em valor absoluto o PS conseguiu rebentar em 7 anos 49% acima do PIB do país e deixar um legado para dezenas de anos que nos vai asfixiar.
Esse sim foi o legado de Socrates e não a revisão criativa da história e dos números que o PS coloca no seu site.

Há uns anos atrás era fácil mentir assim e escapar. Hoje a confirmação e acesso aos dados é incrivelmente fácil e este tipo de aldrabice não resiste a alguma curiosidade do leitor (eleitor).

Mas continuam a tentar e alguns caem nesta conversa. Outros mais informados sabem que é mentira. A imprensa que tem o dever de escalpelizar este tipo de coisas não fala sequer na falsidade dos números. Limita-se a reportar o facto de esta informação estar publicada no site do PS. Contraponto ou números oficiais - nada.
Estamos bem servidos com políticos e jornalistas deste calibre. Muito bem servidos.

A narrativa

terça-feira, agosto 27, 2013

Por
Groink

A história dá muitas voltas, quando o PS de António José Seguro se
propõe fazer o balanço do socratismo. No site do PS, onde em tempos a
herança de José Sócrates tinha sido apagada, agora aparece glorificada. O
primeiro-ministro que deixou o país em resgate financeiro torna-se, no
registo actual, campeão da consolidação orçamental.
“Consolidámos as
contas públicas”, lê-se em www.ps.pt, sob o epíteto ‘PS_propõe e Faz’,
no capítulo ‘Marcas da Governação Socialista’. “Reduzimos o défice
orçamental para valores nunca antes atingidos”, começa o texto. “Entre
2005 e 2008, o défice orçamental passou de 6,1% (implícito, 6,8%) para
2,6%, o valor mais baixo da Democracia”.
O_SOL questionou a
direcção do PS sobre a ‘narrativa’ que deixa de fora o resto da
governação de Sócrates, período em que as contas públicas derraparam (o
défice orçamental em 2010 era de 9,9%). Sem resposta.
No site,
ignora-se a intervenção da troika e e sugere-se que, não fora o trabalho
feito entre 2005 e 2008, a realidade seria mais negra. “A consolidação
orçamental deixou-nos melhor preparados para responder à crise. Foi por
ter resolvido em tempo útil a crise governamental recebida em 2005 que o
Estado dispôs de margem para responder à crise económica mundial,
apoiando as famílias e empresas”.
Terminando o balanço das contas
socráticas com uma referência aos sistemas de protecção social, o site
do PS diz que o “Serviço Nacional de Saúde geriu criteriosamente as
verbas afectadas, terminando com a crónica derrapagem das suas contas”.
No início do mandato de Seguro, a ala socrática criticou o novo líder
por não defender o antecessor. E o próprio José Sócrates queixou-se
recentemente do mesmo.
Fonte: sol.sapo.pt
Fascinante esta visão da história. Fala-se de um ano e temos um renascido das cinzas.

O problema é que não é toda a verdade. Se bem me lembro o 1º Governo de Sócrates tomou posse a 12 de Março de 2005. E ganhou com o enorme favor de Constâncio com a sua previsão de 6.83% de deficit.
Os números do PORDATA não andam muito longe disto (parece haver um shift de um ano entre os dois gráficos)

2003 -3,7
2004 -4,0
2005 -6,5
2006 -4,6
2007 -3,2
2008 -3,7
2009 -10,2
2010 -9,9
2011 -4,4
2012 -6,4

E fonte Eurostat

2003 -3,7
2004 -4,0
2005 -6,5
2006 -4,6
2007 -3,1
2008 -3,6
2009 -10,2
2010 -9,8
2011 -4,4
2012 -6,4

Não há fonte oficial que corrobore os tais 2.6%. Nem sequer se aproxima. Parece ser um número que só o PS conhece.
Mas numa coisa todos são unânimes e é no descalabro pós 2008 que o PS convenientemente esquece. Tal como o deficit de 2005 que Constâncio garantia que seria de 6.83% (se nada fosse feito). Pois parece que o que fizeram não terá sido grande coisa porque esse deficit acabou por ser de 6.5%.
E note-se que em 2005 o escalão de IRS para rendimentos de 60.000 euros foi aumentado para 42%, houve alterações ao IVA, imposto sobre tabaco, produtos petrolíferos, IMI, IMT, IUC etc etc etc.
Com medidas fiscais fortemente penalizadoras "reduziram" do hipotético 6.83% de Constâncio vs os 6.4% de Bagão Félix, para os 6.5%.

These include a gradual increase in the retirement age for Portugal’s
700,000 civil servants from 60 to 65, freezing public sector promotions
and reducing sick-leave payments, a 2 percent increase in Value-Added
Tax (VAT) to 21 percent, a rise in tobacco and fuel taxes and the
creation of a new income tax band of 42 percent on incomes greater than
€60,000

Aqui temos a "sensibilidade" do PS. E isto numa altura em que não estávamos nem de perto na situação de emergência em que estamos hoje. Que eles criaram...

Mais tarde agravaram o IVA em mais 2 pontos percentuais (os famosos PEC's), voltaram a mexer em mais uma série de impostos de tal forma que despoletaram a discussão da "consilidação das contas públicas pelo lado da receita" que levou ao chumbo do PEC IV.

Nos anos PS, começou o esbulho fiscal.

Já nem lhes interessa parecer sérios. Contam apenas que as pessoas tradicionalmente desmemoriadas acreditem no que lhes é dito. Mais que falta de vergonha é pura e simples falta de honestidade.

Se tomarmos os anos Sócrates 2005 a 2011, anos dos quais terá sido responsável pelos orçamentos temos uma média de 7.01%. Note-se que o ano de 2011 já conta com as medidas e as rectificações adoptadas por ESTE governo.
Por outro lado a média destes dois anos é de 5.4%.

Foi então a brilhante Governação de Sócrates que conseguiu isto? A contrair dívida à louca e a desorçamentar tudo o que podia (e não podia) ?
E com o serviço da dívida que foi contraindo e vai sendo amortizada estes ainda conseguem ficar abaixo?

Esta constatação será talvez a melhor prova de como foi danosa a gestão do PS. E notem que estamos a falar dum racio numa altura em que o PIB ainda não tinha contraído da maneira que sabemos. O que quer dizer que em valor absoluto o PS conseguiu rebentar em 7 anos 49% acima do PIB do país e deixar um legado para dezenas de anos que nos vai asfixiar.
Esse sim foi o legado de Socrates e não a revisão criativa da história e dos números que o PS coloca no seu site.

Há uns anos atrás era fácil mentir assim e escapar. Hoje a confirmação e acesso aos dados é incrivelmente fácil e este tipo de aldrabice não resiste a alguma curiosidade do leitor (eleitor).

Mas continuam a tentar e alguns caem nesta conversa. Outros mais informados sabem que é mentira. A imprensa que tem o dever de escalpelizar este tipo de coisas não fala sequer na falsidade dos números. Limita-se a reportar o facto de esta informação estar publicada no site do PS. Contraponto ou números oficiais - nada.
Estamos bem servidos com políticos e jornalistas deste calibre. Muito bem servidos.

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