Finlândia ameaça rasgar tratado fiscal com Portugal

12-05-2020
marcar artigo

É um compromisso com quase 50 anos (assinado em 1971): Portugal e a Finlândia têm um acordo sobre a tributação dos pensionistas estrangeiros que, na prática, evita que um mesmo cidadão, natural da Finlândia mas que seja considerado residente não habitual em Portugal, seja taxado duplamente. Mas agora a Finlândia ameaça rasgar esse tratado fiscal, se o governo de António Costa não se apressar a ratificar, no Parlamento português, uma alteração já negociada entre os dois países. E põe pressão máxima em António Costa.

Em comunicado, o Ministério das Finanças finlandês lembra que os dois países já tinham chegado a um entendimento sobre esse tema em novembro de 2016, altura em que assinaram, em Bruxelas, um novo acordo fiscal entre os dois países que salvaguardava estas situações. Mas, se em Helsínquia, o Governo finlandês levou logo no mês seguinte a ratificação do acordo ao Parlamento, em Lisboa, o Governo tem vindo a adiar o envio da legislação para a Assembleia da República. Contactado pelo Observador, o Ministério das Finanças atirou as explicações para o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), que têm a competência para processos de aprovação de Acordos Internacionais.

Fonte oficial do MNE adiantou ao Observador que está em curso o processo de ratificação, em Portugal, do acordo de dupla tributação assinado com a Finlândia, no final de 2016. Só que esse processo implica a apresentação de uma proposta de resolução pelo Governo à Assembleia da República cuja a aprovação, segundo a mesma fonte, está em curso.

Helsínquia quer evitar que os cidadãos finlandeses que vivem em Portugal não paguem IRS no seu país. A questão é que, sem as alterações ratificadas, os pensionistas finlandeses que são considerados residentes em território português deixam de pagar impostos na Finlândia (por via do acordo fiscal entre os dois países) e também não pagam em Portugal (por via da legislação favorável prevista no país para os residentes estrangeiros). É para resolver esta “injustiça” que a Finlândia está a bater o pé.

É isso que se lê no comunicado oficial do Ministério das Finanças finlandês, liderado por Petteri Orpo, e disponibilizado, em inglês, na internet: a atual convenção, lê-se, é “inconsistente com a noção de justiça em matéria de tributação das pensões”. Uma queixa que aliás é comum a outros países do norte da Europa que carregam mais nos impostos, com a Suécia.

Se Portugal não ratificar o acordo até ao final do ano, no início de 2019 deixa de estar em vigor qualquer tipo de acordo, passando a aplicar-se as regras fiscais normais aos residentes finlandeses.

“O tratado fiscal entre Finlândia e Portugal não traduz atualmente a ideia de uma tributação justa das pensões, razão pela qual o Conselho de Ministros propõe que o mesmo deixe de vigorar a partir do início de 2019”, declarou o ministro à imprensa finlandesa.

É sobre esse atraso que agora a Finlândia vem reclamar, colocando pressão máxima no Governo de António Costa: se Portugal não ratificar a legislação, então a Finlândia vai rasgar a convenção de 1971 que evita a dupla tributação. A ameaça não é só fogo de vista. Segundo o Público, que cita fonte oficial do governo finlandês, o executivo aprovou mesmo esta semana a legislação que rasga aquele acordo bilateral, tendo sido enviada para o Parlamento daquele país esta quinta-feira. A ideia é ser discutida e votada até ao final de junho — para que o acordo bilateral seja mesmo revogado é preciso que a Finlândia notifique Portugal com pelo menos seis meses de antecedência.

O Jornal de Negócios, que avançou a notícia, adianta que se a ameaça for para a frente, será mesmo a primeira vez que a Finlândia toma uma iniciativa desta natureza.

Centeno. Taxa mínima de IRS em nome da “boa relação fiscal” com parceiros

Em setembro do ano passado, questionado sobre a tributação de reformados estrangeiros em Portugal, já no quadro da insatisfação manifestada por alguns outros Estados-membros, com a Finlândia à cabeça, o ministro das Finanças, Mário Centeno, indicou que o Governo estava a estudar “já há alguns meses” a introdução de uma taxa mínima de IRS, em nome da “boa relação fiscal” com outros países europeus.

“Nós estamos a olhar para essa questão já há alguns meses, num contexto que também tem em conta aquilo que é a realidade de outros países europeus. Nós achamos que há ajustamentos a fazer nessa matéria. Pensamos que num contexto também, mais do que de transparência, de boa relação fiscal em termos europeus, isso merecia a nossa atenção”, assumiu, em declarações em Tallin, à margem de uma reunião informal do Eurogrupo (ao qual ainda não presidia).

Questionado sobre se sentiu pressões por parte de outros países — como a Finlândia –, o ministro apontou que “há acordos de tributação com muitos países que são geridos de forma bilateral, esses acordos estão em vigor e estão a ser cumpridos, e há momentos de discussão desses acordos”.

“Nós gostaríamos, mais do que reagir a algumas posições que, até com alguma falta de informação, foram sendo feitas, que definíssemos uma estratégia mais completa para podermos enquadrar todas as situações”, argumentou.

O Observador também questionou as Finanças sobre eventuais alterações ao regime de tributação favorável para estrangeiros, mas não obteve resposta.

Atualizado às 20.30 com resposta do Ministério dos Negócios Estrangeiros

É um compromisso com quase 50 anos (assinado em 1971): Portugal e a Finlândia têm um acordo sobre a tributação dos pensionistas estrangeiros que, na prática, evita que um mesmo cidadão, natural da Finlândia mas que seja considerado residente não habitual em Portugal, seja taxado duplamente. Mas agora a Finlândia ameaça rasgar esse tratado fiscal, se o governo de António Costa não se apressar a ratificar, no Parlamento português, uma alteração já negociada entre os dois países. E põe pressão máxima em António Costa.

Em comunicado, o Ministério das Finanças finlandês lembra que os dois países já tinham chegado a um entendimento sobre esse tema em novembro de 2016, altura em que assinaram, em Bruxelas, um novo acordo fiscal entre os dois países que salvaguardava estas situações. Mas, se em Helsínquia, o Governo finlandês levou logo no mês seguinte a ratificação do acordo ao Parlamento, em Lisboa, o Governo tem vindo a adiar o envio da legislação para a Assembleia da República. Contactado pelo Observador, o Ministério das Finanças atirou as explicações para o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), que têm a competência para processos de aprovação de Acordos Internacionais.

Fonte oficial do MNE adiantou ao Observador que está em curso o processo de ratificação, em Portugal, do acordo de dupla tributação assinado com a Finlândia, no final de 2016. Só que esse processo implica a apresentação de uma proposta de resolução pelo Governo à Assembleia da República cuja a aprovação, segundo a mesma fonte, está em curso.

Helsínquia quer evitar que os cidadãos finlandeses que vivem em Portugal não paguem IRS no seu país. A questão é que, sem as alterações ratificadas, os pensionistas finlandeses que são considerados residentes em território português deixam de pagar impostos na Finlândia (por via do acordo fiscal entre os dois países) e também não pagam em Portugal (por via da legislação favorável prevista no país para os residentes estrangeiros). É para resolver esta “injustiça” que a Finlândia está a bater o pé.

É isso que se lê no comunicado oficial do Ministério das Finanças finlandês, liderado por Petteri Orpo, e disponibilizado, em inglês, na internet: a atual convenção, lê-se, é “inconsistente com a noção de justiça em matéria de tributação das pensões”. Uma queixa que aliás é comum a outros países do norte da Europa que carregam mais nos impostos, com a Suécia.

Se Portugal não ratificar o acordo até ao final do ano, no início de 2019 deixa de estar em vigor qualquer tipo de acordo, passando a aplicar-se as regras fiscais normais aos residentes finlandeses.

“O tratado fiscal entre Finlândia e Portugal não traduz atualmente a ideia de uma tributação justa das pensões, razão pela qual o Conselho de Ministros propõe que o mesmo deixe de vigorar a partir do início de 2019”, declarou o ministro à imprensa finlandesa.

É sobre esse atraso que agora a Finlândia vem reclamar, colocando pressão máxima no Governo de António Costa: se Portugal não ratificar a legislação, então a Finlândia vai rasgar a convenção de 1971 que evita a dupla tributação. A ameaça não é só fogo de vista. Segundo o Público, que cita fonte oficial do governo finlandês, o executivo aprovou mesmo esta semana a legislação que rasga aquele acordo bilateral, tendo sido enviada para o Parlamento daquele país esta quinta-feira. A ideia é ser discutida e votada até ao final de junho — para que o acordo bilateral seja mesmo revogado é preciso que a Finlândia notifique Portugal com pelo menos seis meses de antecedência.

O Jornal de Negócios, que avançou a notícia, adianta que se a ameaça for para a frente, será mesmo a primeira vez que a Finlândia toma uma iniciativa desta natureza.

Centeno. Taxa mínima de IRS em nome da “boa relação fiscal” com parceiros

Em setembro do ano passado, questionado sobre a tributação de reformados estrangeiros em Portugal, já no quadro da insatisfação manifestada por alguns outros Estados-membros, com a Finlândia à cabeça, o ministro das Finanças, Mário Centeno, indicou que o Governo estava a estudar “já há alguns meses” a introdução de uma taxa mínima de IRS, em nome da “boa relação fiscal” com outros países europeus.

“Nós estamos a olhar para essa questão já há alguns meses, num contexto que também tem em conta aquilo que é a realidade de outros países europeus. Nós achamos que há ajustamentos a fazer nessa matéria. Pensamos que num contexto também, mais do que de transparência, de boa relação fiscal em termos europeus, isso merecia a nossa atenção”, assumiu, em declarações em Tallin, à margem de uma reunião informal do Eurogrupo (ao qual ainda não presidia).

Questionado sobre se sentiu pressões por parte de outros países — como a Finlândia –, o ministro apontou que “há acordos de tributação com muitos países que são geridos de forma bilateral, esses acordos estão em vigor e estão a ser cumpridos, e há momentos de discussão desses acordos”.

“Nós gostaríamos, mais do que reagir a algumas posições que, até com alguma falta de informação, foram sendo feitas, que definíssemos uma estratégia mais completa para podermos enquadrar todas as situações”, argumentou.

O Observador também questionou as Finanças sobre eventuais alterações ao regime de tributação favorável para estrangeiros, mas não obteve resposta.

Atualizado às 20.30 com resposta do Ministério dos Negócios Estrangeiros

marcar artigo