Covid 19. Eurogrupo reutiliza palavras de Draghi e pede ao fundo de resgate do Euro que estude medidas

30-09-2020
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Não foi uma reunião de grandes anúncios ou de novas medidas europeias como alguns pediam, mas os ministros europeus das finanças avançam uma promessa que é para ficar registada: "o nosso compromisso neste tempo de necessidade não tem limites, faremos tudo o que que for preciso, e ainda mais, para restaurar a confiança e apoiar uma retoma rápida".

As palavras são de Mário Centeno, que recupera uma célebre frase de um outro Mário - Draghi - que em 2012, quando era presidente do Banco Central Europeu, assegurou estar disposto a fazer "whatever it takes" para acalmar mercados e salvar a Zona Euro.

O Presidente do Eurogrupo não dispõe das mesmas armas do BCE, mas empenha o compromisso político, repetindo que os 19 da Moeda Única - e os oito que não têm Euro - estão dispostos a recorrer a todos os instrumentos disponíveis para fazer face à pandemia de Covid19, que os próprios técnicos da Comissão Europeia admitem que deverá levar a uma provável recessão temporária este ano.

A questão que se coloca passa por saber se os instrumentos que existem são suficientes, numa altura em que surgem apelos - por exemplo da bancada socialista no Parlamento Europeu - para que se mobilize também o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), o fundo de resgate da Zona Euro.

Os ministros das finanças não dão ainda esse passo, mas deixam uma janela aberta e pedem à Comissão Europeia e ao MEE que "explorem formas, no âmbito dos seus mandatos, para responder aos desafios colocados pelo (novo) coronavírus".

"O MEE é, de facto, um mecanismo de resolução de crise", diz Mário Centeno. No entanto, o momento atual tem contornos diferentes da última crise financeira. E mesmo que "nenhuma solução esteja a ser posta de lado", o português escusa-se a entrar em detalhes daquilo que será possível fazer, evitando também a pergunta sobre uma "possível linha de crédito a Itália", o país europeu mais afetado pela pandemia.

"Todos os nossos estados membros continuam a ter acesso aos mercados", lembra o diretor do Mecanismo Europeu de Estabilidade, sublinhando que estamos perante "um choque simétrico" que atinge todos os países europeus e que "não é igual ao que vimos em 2010, 2011 e 2012, quando os países perderam o acesso aos mercados e o MEE teve de intervir".

Mas apesar das diferenças, e da situação inédita, o alemão Klaus Regling promete fazer o que lhe pediu o Eurogrupo e vai procurar formas de contribuir face "às circunstâncias muito difíceis", até porque o fundo de resgate da Moeda Única dispõe de instrumentos, "muitos dos quais nunca foram usados".

O "flexível" Pacto de Estabilidade e Crescimento

É grande a incerteza e os impactos negativos da pandemia são ainda difíceis de quantificar. Muito vai depender do tempo que demorar a controlar o número de infeções. Face a um problema que atinge todos os governos europeus, até os defensores mais ortodoxos das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento concordam com a necessidade de aproveitar toda a flexibilidade permitida pelas regras.

Por enquanto, só é acionada a cláusula de eventos extraordinários que permite acomodar a despesa extra que for feita para conter o surto. Os gastos com saúde, hospitais, equipamento médico e de apoio a trabalhadores e empresas serão descontados do esforço de ajustamento orçamental e do cálculo do défice estrutural.

Foi isso que a Comissão propôs, deixando para mais tarde - e em caso de grave quebra da economia - a possibilidade de acionar também a cláusula geral de derrogação, para acomodar um maior apoio da política orçamental. Trata-se de um botão vermelho, que suspende as metas de ajustamento, e que os ministros das Finanças também não quiseram pressionar na videoconferência desta segunda-feira.

Centeno escuda-se nas indicações e proposta da Comissão, garantindo, porém, que o PEC "não se atravessará no caminho da luta contra esta doença", quando "são poucas as dúvidas" de que a Covid 19 "vai provocar uma severa quebra económica".

27 coordenam medidas nacionais e saúdam europeias

Foi já a segunda videoconferência realizada em março e o compromisso é para que este tipo de reunião se realize "pelo menos uma vez por semana", para coordenar esforços.

As contas apontam para que "as medidas nacionais e europeias combinadas representem em média cerca de 1% do Produto Interno Bruto e para que a medidas combinadas de liquidez rondem os 10% do PIB". Sem especificar o que é nacional e o que é europeu, o Presidente do Eurogrupo referiu ainda a ajuda "dos poderosos estabilizadores automáticos" existentes.

Às medidas sobretudo nacionais, juntam-se as recentes propostas da Comissão Europeia, "saudadas" pelos ministros, incluindo os 37 mil milhões de euros da Iniciativa de Resposta ao Coronavírus.

Não é dinheiro novo, mas permitirá que os países utilizem, nos próximos tempos, verbas dos fundos estruturais - que lhe já lhes estavam alocadas - para apoiar os sistemas de saúde, as Pequenas e Médias Empresas e o mercado de trabalho. "Outros 28 mil milhões de euros de fundos estruturais serão disponibilizados para estas despesas", é dito ainda por Centeno.

Os ministros "saúdam" também o envolvimento do Banco Europeu de investimento para mobilizar 8 mil milhões - apoiados numa garantia do orçamento comunitário - para facilitar o financiamento a PME. E ainda as decisões de política monetária tomadas na semana passada pelo Banco Central Europeu. Na altura, a presidente da instituição, Christine Lagarde, também lhes deixou um recado: para uma ambiciosa e coordena política orçamental.

O otimista

O ministro alemão das Finanças terminou a videoconferência satisfeito. Numa declaração enviada aos jornalistas, Olaf Scholz fez questão de dizer que a reunião do "Eurogrupo mostrou que a Europa está determinada a enfrentar o desafio" e que os 27 vão garantir que será possível "sair desta crise em boa forma". "Vamos ser bem sucedidos porque juntamos forças e atuamos de forma solidária", concluiu.

Esta terça-feira, a discussão volta a subir de nível. Será a vez dos 27 chefes de Estado e de Governo falarem por videoconferência.

Não foi uma reunião de grandes anúncios ou de novas medidas europeias como alguns pediam, mas os ministros europeus das finanças avançam uma promessa que é para ficar registada: "o nosso compromisso neste tempo de necessidade não tem limites, faremos tudo o que que for preciso, e ainda mais, para restaurar a confiança e apoiar uma retoma rápida".

As palavras são de Mário Centeno, que recupera uma célebre frase de um outro Mário - Draghi - que em 2012, quando era presidente do Banco Central Europeu, assegurou estar disposto a fazer "whatever it takes" para acalmar mercados e salvar a Zona Euro.

O Presidente do Eurogrupo não dispõe das mesmas armas do BCE, mas empenha o compromisso político, repetindo que os 19 da Moeda Única - e os oito que não têm Euro - estão dispostos a recorrer a todos os instrumentos disponíveis para fazer face à pandemia de Covid19, que os próprios técnicos da Comissão Europeia admitem que deverá levar a uma provável recessão temporária este ano.

A questão que se coloca passa por saber se os instrumentos que existem são suficientes, numa altura em que surgem apelos - por exemplo da bancada socialista no Parlamento Europeu - para que se mobilize também o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), o fundo de resgate da Zona Euro.

Os ministros das finanças não dão ainda esse passo, mas deixam uma janela aberta e pedem à Comissão Europeia e ao MEE que "explorem formas, no âmbito dos seus mandatos, para responder aos desafios colocados pelo (novo) coronavírus".

"O MEE é, de facto, um mecanismo de resolução de crise", diz Mário Centeno. No entanto, o momento atual tem contornos diferentes da última crise financeira. E mesmo que "nenhuma solução esteja a ser posta de lado", o português escusa-se a entrar em detalhes daquilo que será possível fazer, evitando também a pergunta sobre uma "possível linha de crédito a Itália", o país europeu mais afetado pela pandemia.

"Todos os nossos estados membros continuam a ter acesso aos mercados", lembra o diretor do Mecanismo Europeu de Estabilidade, sublinhando que estamos perante "um choque simétrico" que atinge todos os países europeus e que "não é igual ao que vimos em 2010, 2011 e 2012, quando os países perderam o acesso aos mercados e o MEE teve de intervir".

Mas apesar das diferenças, e da situação inédita, o alemão Klaus Regling promete fazer o que lhe pediu o Eurogrupo e vai procurar formas de contribuir face "às circunstâncias muito difíceis", até porque o fundo de resgate da Moeda Única dispõe de instrumentos, "muitos dos quais nunca foram usados".

O "flexível" Pacto de Estabilidade e Crescimento

É grande a incerteza e os impactos negativos da pandemia são ainda difíceis de quantificar. Muito vai depender do tempo que demorar a controlar o número de infeções. Face a um problema que atinge todos os governos europeus, até os defensores mais ortodoxos das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento concordam com a necessidade de aproveitar toda a flexibilidade permitida pelas regras.

Por enquanto, só é acionada a cláusula de eventos extraordinários que permite acomodar a despesa extra que for feita para conter o surto. Os gastos com saúde, hospitais, equipamento médico e de apoio a trabalhadores e empresas serão descontados do esforço de ajustamento orçamental e do cálculo do défice estrutural.

Foi isso que a Comissão propôs, deixando para mais tarde - e em caso de grave quebra da economia - a possibilidade de acionar também a cláusula geral de derrogação, para acomodar um maior apoio da política orçamental. Trata-se de um botão vermelho, que suspende as metas de ajustamento, e que os ministros das Finanças também não quiseram pressionar na videoconferência desta segunda-feira.

Centeno escuda-se nas indicações e proposta da Comissão, garantindo, porém, que o PEC "não se atravessará no caminho da luta contra esta doença", quando "são poucas as dúvidas" de que a Covid 19 "vai provocar uma severa quebra económica".

27 coordenam medidas nacionais e saúdam europeias

Foi já a segunda videoconferência realizada em março e o compromisso é para que este tipo de reunião se realize "pelo menos uma vez por semana", para coordenar esforços.

As contas apontam para que "as medidas nacionais e europeias combinadas representem em média cerca de 1% do Produto Interno Bruto e para que a medidas combinadas de liquidez rondem os 10% do PIB". Sem especificar o que é nacional e o que é europeu, o Presidente do Eurogrupo referiu ainda a ajuda "dos poderosos estabilizadores automáticos" existentes.

Às medidas sobretudo nacionais, juntam-se as recentes propostas da Comissão Europeia, "saudadas" pelos ministros, incluindo os 37 mil milhões de euros da Iniciativa de Resposta ao Coronavírus.

Não é dinheiro novo, mas permitirá que os países utilizem, nos próximos tempos, verbas dos fundos estruturais - que lhe já lhes estavam alocadas - para apoiar os sistemas de saúde, as Pequenas e Médias Empresas e o mercado de trabalho. "Outros 28 mil milhões de euros de fundos estruturais serão disponibilizados para estas despesas", é dito ainda por Centeno.

Os ministros "saúdam" também o envolvimento do Banco Europeu de investimento para mobilizar 8 mil milhões - apoiados numa garantia do orçamento comunitário - para facilitar o financiamento a PME. E ainda as decisões de política monetária tomadas na semana passada pelo Banco Central Europeu. Na altura, a presidente da instituição, Christine Lagarde, também lhes deixou um recado: para uma ambiciosa e coordena política orçamental.

O otimista

O ministro alemão das Finanças terminou a videoconferência satisfeito. Numa declaração enviada aos jornalistas, Olaf Scholz fez questão de dizer que a reunião do "Eurogrupo mostrou que a Europa está determinada a enfrentar o desafio" e que os 27 vão garantir que será possível "sair desta crise em boa forma". "Vamos ser bem sucedidos porque juntamos forças e atuamos de forma solidária", concluiu.

Esta terça-feira, a discussão volta a subir de nível. Será a vez dos 27 chefes de Estado e de Governo falarem por videoconferência.

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