Mário Centeno ainda nem completou uma semana sentado na secretária de governador do Banco de Portugal e já tem um pedido do Parlamento para divulgar informação até agora considerada confidencial. E que, caso siga a linha do seu antecessor, desafia o que o seu Governo defendeu.
O Bloco de Esquerda pretende que o ex-ministro das Finanças entregue o relatório que avalia a atuação do supervisor na queda do Banco Espírito Santo, que Carlos Costa nunca quis divulgar. Um relatório secreto que o Governo – quando Centeno o integrava – quis ver, mas sem sucesso.
“O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda vem por este meio dirigir ao governador do Banco de Portugal o envio à Assembleia da República do relatório do trabalho de auditoria à intervenção do Banco de Portugal no caso Grupo Espírito Santo”, aponta o requerimento assinado por Mariana Mortágua, datado de 23 de julho.
Em causa está a auditoria interna ao processo de resolução do BES, que avaliou o trabalho do supervisor, num trabalho que foi liderado pelo ex-vice-governador João Costa Pinto e que contou com o apoio da Boston Consulting Group (BCG) – contratada por 910 mil euros.
Ao longo dos anos, os deputados (incluindo do PS de Costa) foram tentando ter acesso a este relatório que, segundo foi noticiado pelo "Jornal de Negócios", é bastante crítico da atuação do supervisor tanto na liderança de Carlos Costa como na de Vítor Constâncio, concluindo que houve dois dossiês (BES Angola e relação do banco com o GES) em que a autoridade tinha alguma informação, mas não a usou na supervisão sobre o banco.
Só que o governador, embora instado a revelá-lo, sempre se recusou a entregá-lo. Ora por ter um conteúdo confidencial, ou por considerar que as informações que aí constam não se inseriam no âmbito dos inquéritos parlamentares em que eram solicitados os documentos. O documento terá cerca de 600 páginas e a única informação pública relaciona-se com as recomendações deixadas e nunca sobre as conclusões.
Governo, de Centeno, tinha curiosidade em ver documento
Sobre o assunto, o primeiro-ministro anunciou, há mais de um ano, que o Governo – que Centeno integrou – tinha pedido ao Banco de Portugal aquela auditoria interna, mas que o supervisor tinha recusado a divulgação. “Claro que tenho curiosidade. Acho que todos temos curiosidade. Qualquer português tem curiosidade”, disse António Costa, em março de 2019 (quem também tem pedido este documento é a defesa de Ricardo Salgado, por considerar que lhe dá armas na luta judicial contra a autoridade bancária).
No Parlamento, João Costa Pinto, que assumiu a liderança da “comissão de avaliação às decisões e à atuação do Banco de Portugal na supervisão do BES”, respondeu que o “relatório pode ser de grande utilidade para tirar lições que evitem a repetição de erros passados”. Nada mais quis dizer, por considerar que quem deveria divulgar era o governador.
Essa afirmação consta do requerimento entregue por Mariana Mortágua esta quinta-feira, onde também aproveitou para usar as palavras de Mário Centeno no Parlamento.
“Na audição que antecedeu a sua nomeação, o atual governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, declarou que o Banco de Portugal não pode viver numa torre de marfim. Assim, tendo em conta a importância da divulgação deste relatório para o escrutínio da atividade do Banco de Portugal, em particular da sua intervenção no caso GES, o grupo parlamentar do Bloco de Esquerda vem, mais uma vez, requerer o seu envio à Assembleia da República”, adianta o requerimento.
Centeno tem agora de tomar uma decisão enquanto governador que poderá desafiar o que defendeu o Governo que integrou como cargo de ministro das Finanças.
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Mário Centeno ainda nem completou uma semana sentado na secretária de governador do Banco de Portugal e já tem um pedido do Parlamento para divulgar informação até agora considerada confidencial. E que, caso siga a linha do seu antecessor, desafia o que o seu Governo defendeu.
O Bloco de Esquerda pretende que o ex-ministro das Finanças entregue o relatório que avalia a atuação do supervisor na queda do Banco Espírito Santo, que Carlos Costa nunca quis divulgar. Um relatório secreto que o Governo – quando Centeno o integrava – quis ver, mas sem sucesso.
“O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda vem por este meio dirigir ao governador do Banco de Portugal o envio à Assembleia da República do relatório do trabalho de auditoria à intervenção do Banco de Portugal no caso Grupo Espírito Santo”, aponta o requerimento assinado por Mariana Mortágua, datado de 23 de julho.
Em causa está a auditoria interna ao processo de resolução do BES, que avaliou o trabalho do supervisor, num trabalho que foi liderado pelo ex-vice-governador João Costa Pinto e que contou com o apoio da Boston Consulting Group (BCG) – contratada por 910 mil euros.
Ao longo dos anos, os deputados (incluindo do PS de Costa) foram tentando ter acesso a este relatório que, segundo foi noticiado pelo "Jornal de Negócios", é bastante crítico da atuação do supervisor tanto na liderança de Carlos Costa como na de Vítor Constâncio, concluindo que houve dois dossiês (BES Angola e relação do banco com o GES) em que a autoridade tinha alguma informação, mas não a usou na supervisão sobre o banco.
Só que o governador, embora instado a revelá-lo, sempre se recusou a entregá-lo. Ora por ter um conteúdo confidencial, ou por considerar que as informações que aí constam não se inseriam no âmbito dos inquéritos parlamentares em que eram solicitados os documentos. O documento terá cerca de 600 páginas e a única informação pública relaciona-se com as recomendações deixadas e nunca sobre as conclusões.
Governo, de Centeno, tinha curiosidade em ver documento
Sobre o assunto, o primeiro-ministro anunciou, há mais de um ano, que o Governo – que Centeno integrou – tinha pedido ao Banco de Portugal aquela auditoria interna, mas que o supervisor tinha recusado a divulgação. “Claro que tenho curiosidade. Acho que todos temos curiosidade. Qualquer português tem curiosidade”, disse António Costa, em março de 2019 (quem também tem pedido este documento é a defesa de Ricardo Salgado, por considerar que lhe dá armas na luta judicial contra a autoridade bancária).
No Parlamento, João Costa Pinto, que assumiu a liderança da “comissão de avaliação às decisões e à atuação do Banco de Portugal na supervisão do BES”, respondeu que o “relatório pode ser de grande utilidade para tirar lições que evitem a repetição de erros passados”. Nada mais quis dizer, por considerar que quem deveria divulgar era o governador.
Essa afirmação consta do requerimento entregue por Mariana Mortágua esta quinta-feira, onde também aproveitou para usar as palavras de Mário Centeno no Parlamento.
“Na audição que antecedeu a sua nomeação, o atual governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, declarou que o Banco de Portugal não pode viver numa torre de marfim. Assim, tendo em conta a importância da divulgação deste relatório para o escrutínio da atividade do Banco de Portugal, em particular da sua intervenção no caso GES, o grupo parlamentar do Bloco de Esquerda vem, mais uma vez, requerer o seu envio à Assembleia da República”, adianta o requerimento.
Centeno tem agora de tomar uma decisão enquanto governador que poderá desafiar o que defendeu o Governo que integrou como cargo de ministro das Finanças.