Doutorado em Harvard. Polémico. Liberal. Eis Mário Centeno. A caminho de ser ministro?

04-01-2020
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Mário Centeno, o economista que coordenou o grupo de peritos que elaborou o documento técnico com o cenário macroeconómico e as propostas que, espera-se, venham a servir de base à vertente económica do programa com que o PS se vai apresentar a eleições, é, aos 48 anos, um ilustre desconhecido para a maioria dos portugueses. No seu currículo não conta cargos políticos - até agora não lhe eram conhecidas ligações políticas -, mas sim técnicos. Sobretudo no Banco de Portugal (BdP), onde tem desenvolvido a sua carreira. Doutorado em Economia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, no ano 2000, com uma tese intitulada "Ensaios sobre Economia do Trabalho", regressou a Portugal nesse ano, ingressando no Departamento de Estudos Económicos do BdP. Onde, aliás, já tinha colaborado entre 1993 e 1995. Em 2004 foi nomeado diretor-adjunto do departamento, cargo que ocupou até ao final de 2013. Desde o início de 2014 é consultor especial do conselho de administração do BdP. É ainda professor convidado do Instituto Superior de Economia e Gestão (desde 1993) e da Universidade Nova de Lisboa (desde 2006).

MARCOS BORGA

É precisamente sobre o mercado de trabalho que tem centrado a sua investigação, desde os tempos em Harvard. No meio académico é muitas vezes visto como um liberal, devido às posições assumidas, por exemplo, no livro "O Trabalho, uma visão de mercado", publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Aí aponta a dualidade do mercado de trabalho português como um dos grandes problemas nacionais - a par das baixas qualificações de parte significativa da população - e propõe a implementação de um contrato de trabalho único, simplificando a relação contratual e acabando com os contratos a prazo. Mas garantindo com este "contrato único" a adaptabilidade de trabalhadores e empresas à evolução das condições económicas. O caminho que aponta tem o "mercado" como parceiro. Outras das suas ideias são a criação de um seguro de desemprego, com conta individual para cada trabalhador, e que a taxa contributiva das empresas esteja associada à rotatividade dos seus colaboradores, ou seja, ao número de trabalhadores que despedem. Tem defendido estas posições há anos, salientando que a segmentação entre trabalhadores que estão muito protegidos - em especial os mais velhos, com contratos permanentes - e trabalhadores quase sem proteção - em regra, mais jovens e com contratos precários - está no centro dos problemas do mercado de trabalho português. E alertando que é o número cada vez maior de trabalhadores com contratos a prazo que suporta a maioria dos custos de ajustamento da economia nacional. Não se tem furtado a polémicas. Centeno foi um dos autores de um estudo sobre o salário mínimo nacional, que conclui que um aumento do salário mínimo pode ter efeitos negativos no emprego de trabalhadores pouco qualificados. Mais ainda, num artigo de opinião publicado em outubro de 2014, no "Diário Económico", escreveu que "as políticas que definem as instituições no mercado de trabalho têm mantido uma ênfase na proteção do emprego. A regulação é muito intrusiva e extravasa os limites dos objetivos económicos dos contratos de trabalho: redução do risco e da assimetria de informação e proteção dos investimentos. Esta regulação segmentou o mercado de trabalho. Dividiu os trabalhadores dentro das empresas entre os que têm contrato permanente e os que conhecem a data do fim da sua relação laboral. Esta segmentação estendeu-se ao seguro de desemprego (um sistema elitista) e às políticas ativas de emprego (não vocacionadas para trabalhadores com mais desvantagens)".

MÁRIO BORGA

Mário Centeno, o economista que coordenou o grupo de peritos que elaborou o documento técnico com o cenário macroeconómico e as propostas que, espera-se, venham a servir de base à vertente económica do programa com que o PS se vai apresentar a eleições, é, aos 48 anos, um ilustre desconhecido para a maioria dos portugueses. No seu currículo não conta cargos políticos - até agora não lhe eram conhecidas ligações políticas -, mas sim técnicos. Sobretudo no Banco de Portugal (BdP), onde tem desenvolvido a sua carreira. Doutorado em Economia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, no ano 2000, com uma tese intitulada "Ensaios sobre Economia do Trabalho", regressou a Portugal nesse ano, ingressando no Departamento de Estudos Económicos do BdP. Onde, aliás, já tinha colaborado entre 1993 e 1995. Em 2004 foi nomeado diretor-adjunto do departamento, cargo que ocupou até ao final de 2013. Desde o início de 2014 é consultor especial do conselho de administração do BdP. É ainda professor convidado do Instituto Superior de Economia e Gestão (desde 1993) e da Universidade Nova de Lisboa (desde 2006).

MARCOS BORGA

É precisamente sobre o mercado de trabalho que tem centrado a sua investigação, desde os tempos em Harvard. No meio académico é muitas vezes visto como um liberal, devido às posições assumidas, por exemplo, no livro "O Trabalho, uma visão de mercado", publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Aí aponta a dualidade do mercado de trabalho português como um dos grandes problemas nacionais - a par das baixas qualificações de parte significativa da população - e propõe a implementação de um contrato de trabalho único, simplificando a relação contratual e acabando com os contratos a prazo. Mas garantindo com este "contrato único" a adaptabilidade de trabalhadores e empresas à evolução das condições económicas. O caminho que aponta tem o "mercado" como parceiro. Outras das suas ideias são a criação de um seguro de desemprego, com conta individual para cada trabalhador, e que a taxa contributiva das empresas esteja associada à rotatividade dos seus colaboradores, ou seja, ao número de trabalhadores que despedem. Tem defendido estas posições há anos, salientando que a segmentação entre trabalhadores que estão muito protegidos - em especial os mais velhos, com contratos permanentes - e trabalhadores quase sem proteção - em regra, mais jovens e com contratos precários - está no centro dos problemas do mercado de trabalho português. E alertando que é o número cada vez maior de trabalhadores com contratos a prazo que suporta a maioria dos custos de ajustamento da economia nacional. Não se tem furtado a polémicas. Centeno foi um dos autores de um estudo sobre o salário mínimo nacional, que conclui que um aumento do salário mínimo pode ter efeitos negativos no emprego de trabalhadores pouco qualificados. Mais ainda, num artigo de opinião publicado em outubro de 2014, no "Diário Económico", escreveu que "as políticas que definem as instituições no mercado de trabalho têm mantido uma ênfase na proteção do emprego. A regulação é muito intrusiva e extravasa os limites dos objetivos económicos dos contratos de trabalho: redução do risco e da assimetria de informação e proteção dos investimentos. Esta regulação segmentou o mercado de trabalho. Dividiu os trabalhadores dentro das empresas entre os que têm contrato permanente e os que conhecem a data do fim da sua relação laboral. Esta segmentação estendeu-se ao seguro de desemprego (um sistema elitista) e às políticas ativas de emprego (não vocacionadas para trabalhadores com mais desvantagens)".

MÁRIO BORGA

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