Querido Mário Centeno,

10-01-2020
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Dada a nossa intimidade decorrente da extensa partilha dos meus rendimentos com o Ministério que chefias, certamente que não acharás desadequado o tom informal desta carta.

Como sabes, culminou na passada consoada mais uma troca de geringonças, que isto de brinquedos e meias é coisa de antigamente. Foi um momento bonito de se ver, com embrulhos trazidos pelo Pai Natal para miúdos e graúdos.

É sobre ele, o Pai Natal, que te escrevo.

Dá-se o caso de há uns meses ter comprado no estrangeiro um coisita electrónica, aqui tendo chegado via postal. Os teus serviços aduaneiros, e muito bem, abriram o pacote para inspecção, se bem que adivinho também alguma curiosidade obsessiva no acto, e aplicaram uma taxa alfandegária e IVA pelo serviço prestado. Chegada a encomenda, foi reconfortante saber que esta tinha sido agraciada com o consentimento dos teus serviços.

No entanto, interrogo-me sobre qual será a situação com as prendas trazidas pelo Pai Natal.

Não será surpresa para ti que a sua produção tem lugar em oficinas localizadas no Pólo Norte, fora do espaço Schengen, portanto, o que se traduz numa importação de bens sujeitos à atenção dos teus serviços alfandegários.

E é aqui que reside a minha preocupação, pois talvez te tenha passado despercebido que as renas vêm por aí noite dentro, a puxarem um trenó repleto de artigos, sem que, ali para os lados de Vilar Formoso, haja notícia de um guiché localizado algures entre as nuvens baixas e as altas da rota do Pai Natal.

É de averiguar, mas pode dar-se o caso de o simpático velhote barbudo andar na candonga. Se for esse o caso, estaremos perante a desagradável situação de as famílias portuguesas estarem a ser privadas da bênção que o teu ministério tão carinhosamente, com carimbo dizendo “DESALFANDEGADO”, estampa nas encomendadas vistoriadas.

Depois dos fogos, das cheias e do SNS a cair, não podemos permitir mais esta desfeita aos portugueses. Por isso, peço-te, a bem da Nação, que vejas o que é que se passa nesta situação.

Já agora que te escrevo, poderias também dar uma palavrinha ao André Silva do PAN quando te cruzares com ele no Parlamento? É por causa das renas. Aquilo de puxarem um trenó a contra-relógio por esses céus fora apresenta traços de abuso dos pobres animais. Já era tempo de abraçamos o século XXI trocando a tracção animal por algo eléctrico, como um Tesla, mas sem baterias de lítio, para não causar mais embaraços ao teu partido e à Maria Flor Pedroso.

Atentamente,

jmc

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Dada a nossa intimidade decorrente da extensa partilha dos meus rendimentos com o Ministério que chefias, certamente que não acharás desadequado o tom informal desta carta.

Como sabes, culminou na passada consoada mais uma troca de geringonças, que isto de brinquedos e meias é coisa de antigamente. Foi um momento bonito de se ver, com embrulhos trazidos pelo Pai Natal para miúdos e graúdos.

É sobre ele, o Pai Natal, que te escrevo.

Dá-se o caso de há uns meses ter comprado no estrangeiro um coisita electrónica, aqui tendo chegado via postal. Os teus serviços aduaneiros, e muito bem, abriram o pacote para inspecção, se bem que adivinho também alguma curiosidade obsessiva no acto, e aplicaram uma taxa alfandegária e IVA pelo serviço prestado. Chegada a encomenda, foi reconfortante saber que esta tinha sido agraciada com o consentimento dos teus serviços.

No entanto, interrogo-me sobre qual será a situação com as prendas trazidas pelo Pai Natal.

Não será surpresa para ti que a sua produção tem lugar em oficinas localizadas no Pólo Norte, fora do espaço Schengen, portanto, o que se traduz numa importação de bens sujeitos à atenção dos teus serviços alfandegários.

E é aqui que reside a minha preocupação, pois talvez te tenha passado despercebido que as renas vêm por aí noite dentro, a puxarem um trenó repleto de artigos, sem que, ali para os lados de Vilar Formoso, haja notícia de um guiché localizado algures entre as nuvens baixas e as altas da rota do Pai Natal.

É de averiguar, mas pode dar-se o caso de o simpático velhote barbudo andar na candonga. Se for esse o caso, estaremos perante a desagradável situação de as famílias portuguesas estarem a ser privadas da bênção que o teu ministério tão carinhosamente, com carimbo dizendo “DESALFANDEGADO”, estampa nas encomendadas vistoriadas.

Depois dos fogos, das cheias e do SNS a cair, não podemos permitir mais esta desfeita aos portugueses. Por isso, peço-te, a bem da Nação, que vejas o que é que se passa nesta situação.

Já agora que te escrevo, poderias também dar uma palavrinha ao André Silva do PAN quando te cruzares com ele no Parlamento? É por causa das renas. Aquilo de puxarem um trenó a contra-relógio por esses céus fora apresenta traços de abuso dos pobres animais. Já era tempo de abraçamos o século XXI trocando a tracção animal por algo eléctrico, como um Tesla, mas sem baterias de lítio, para não causar mais embaraços ao teu partido e à Maria Flor Pedroso.

Atentamente,

jmc

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