Huawei: Operadores mantêm o tema dos fornecedores de 5G em aberto

30-09-2020
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Os operadores portugueses ainda não assinaram todos os contratos com os fabricantes com quem irão trabalhar na quinta geração de rede móvel (5G), a escolha ainda não está fechada. É uma questão de grande delicadeza e cautela, e já não é possível adiá-la por muito mais tempo, uma vez que o concurso para a atribuição do 5G deverá arrancar em outubro. À cabeça, surgem três grandes fornecedores: a Huawei e as europeias Ericsson e Nokia. E dificilmente haverá outra marca que se consiga intrometer entre estes três.

"Portugal tem de escolher agora entre os aliados e os chineses", o aviso foi deixado pelo embaixador dos EUA em Portugal, George Glass, em entrevista ao Expresso, este fim de semana. A estratégia da quinta geração móvel (5G) e a necessidade de afastar a Huawei é um dos pontos vincados pelo embaixador.

Os operadores recusaram fazer qualquer comentário. É uma questão política. Os grandes operadores móveis, MEO, NOS e Vodafone, preferem para já não comentar, nem revelar quem são os fornecedores com quem vão trabalhar. A Huawei também optou pelo silêncio.

Em Portugal, sabe-se já, a Huawei não será usada na rede core, a infraestrutura que inclui servidores e dispositivos que encaminham o tráfego para os diferentes pontos. Mas poderá eventualmente ser usada em outras áreas, como a de rádio.

Dando seguimento às orientações definidas pela Comissão Europeia, o gabinete de Mariana Vieira da Silva, ministra de Estado e da Presidência, assumiu a primeira posição oficial de Portugal sobre a matéria: independentemente da origem, nenhum fornecedor será excluído à partida das redes 5G que deverão estrear no início do ano em Portugal. E se nada tiver mudado desde então, é essa a posição oficial que ainda deve constar em Bruxelas, no âmbito de um processo de auscultação que o executivo europeu fez aos Estados Membros.

Esta decisão oficial do governo português não excluiu a Huawei, que, devido à interdição comercial de foi alvo nos EUA, concentra todas as atenções. Mas o governo juntou uma condição a esta posição oficial depois de receber do Centro Nacional de Segurança um relatório sobre este assunto: nenhum fornecedor é excluído à partida, mas todos fornecedores terão de passar em auditorias de segurança, sempre as autoridades nacionais as solicitem. Só assim poderão entrar nas redes 5G que vão ser instaladas em Portugal.

Em julho, depois de alguma incerteza, a Comissão Europeia recomendou aos Estados Membros que limitassem o uso de fornecedores de alto risco. No sector das telecomunicações não terá faltado quem lesse Huawei na expressão "fornecedores de alto risco"... até porque tendo em conta que as principais concorrentes da marca chinesa são europeias, essa posição poderia garantir que os investimentos na 5G ficariam em "casa".

Huawei está no 4G

Vamos ter de esperar ainda algum tempo para ter a certeza que papel irá a Huawei desempenhar em Portugal no 5G. E até que ponto ela estará ou na nova geração de rede móvel. Certo é que a Huawei é um dos fornecedores usados na rede de 4G, a base da futura 5G. E para as componentes que a tecnológica chinesa forneceu sejam substituídas será preciso que os operadores façam alguns investimentos para as retirar, o que pode demorar dois anos, dizem fontes do setor.

Se isso acontecer, vai haver atrasos no 5G. A Vodafone, a NOS e a Meo já fizeram questão de o dizer. "Convém que tenhamos consciência de que, se a decisão da Europa for no sentido de não permitir o desenvolvimento de redes 5G da Huawei, isso significa um atraso de, pelo menos, dois anos para os países europeus”, sublinhou Miguel Almeida, presidente da NOS, em março, na apresentação dos resultados. Os operadores têm defendido também que excluir a Huawei vai ter consequências futuras ao nível da inovação.

A Vodafone Portugal tem a Ericsson como parceiro exclusivo na rádio - mas teve até há bem pouco tempo, num caso raro dentro do grupo, equipamentos de core da Huawei a operarem para o mercado português (que entretanto já terão sido descontinuados). Tendo em conta que a parceria com a Ericsson aparenta ser inabalável, resta saber se a fabricante sueca foi igualmente a escolhida para os equipamentos de core.

A MEO deverá ter mais do que um fornecedor na rádio - mas também há mais que uma fonte que garante que a operadora, apesar de ter recebido o ultimato do governo francês para se desfazer dos equipamentos da marca chinesa, está em vias de ter toda a rede de rádio equipada com a marca Huawei em Portugal.

A NOS ainda não fechou o dossiê - mas sabe-se que, até à data, tem repartido os investimentos entre diferentes fornecedores na rádio. Mas não tem Huawei no core.

Portugal ainda mantém a Huawei em campo

A posição assumida pelo Governo transforma o mercado português numa das "casas" que faltam conquistar no xadrez que se está a desenhar no mapa europeu: enquanto países como França, Reino Unido, Letónia e Estónia já disseram expressa ou implicitamente que vão excluir a Huawei, outros como a Holanda e a Hungria mantém a possibilidade de uso da Huawei. Em contrapartida, o filet mignon do mercado, a Alemanha, mantém-se dividida tanto no parlamento como nos diferentes intervenientes da indústria local, que receia perder as encomendas chinesas.

A posição de não exclusão portuguesa, com a possibilidade de serem exigidas auditorias, presta-se a prolongar a disputa - e a manter em aberto a ideia de que o executivo poderá um dia mudar de posição, caso haja lóbi nesse sentido. Ou pressões diplomáticas, como aquelas que o embaixador americano George Glass proferiu em entrevista ao Expresso do fim de semana passado, lembrando que a cooperação militar dos EUA pode ser afetada, caso Portugal mantenha o uso de componentes da Huawei nas redes 5G.

Mas também é necessário lembrar que todo o processo iniciado pela Comissão Europeia ainda em 2019 deu aos diferentes estados-membros a possibilidade de identificarem quais os fornecedores que consideram de alto risco e de aplicarem as medidas que considerem mais adequadas para os limitar. E caso sejam aplicadas, essas medidas limitadoras podem variar consoante sejam aplicadas área do core ou área do rádio (que abrange antenas e estações-base, e não os servidores e dispositivos que gerem o tráfego).

Por parte dos EUA, a pressão da administração Trump para afastar definitivamente os chineses do 5G é grande. "Preferíamos que não houvesse qualquer equipamento da Huawei na rede de 5G", afirmou George Glass. Inclusive na transmissão via rádio.

A tecnológica chinesa Huawei foi banida do mercado americano depois de ter sido colocada na lista negra do Departamento de Defesa dos EUA. Antes do aparente ultimato que o embaixador americano deixou no passado fim de semana, Ajit Pai, responsável pela Comissão Federal das Comunicações - a congénere americana da "nossa" Autoridade Nacional das Comunicações - passou por Portugal durante um périplo inédito que tinha por objetivo convencer países europeus dos alegados riscos do uso das tecnologias chinesas. Antes disso, o secretário de estado americano Mike Pompeo já tinha vindo a Portugal com notório intuito de fazer pressão diplomática, ao mesmo que proceder a uma primeira contagem de potenciais aliados na UE na recusa de entrada para as tecnologias chinesas.

Os operadores portugueses ainda não assinaram todos os contratos com os fabricantes com quem irão trabalhar na quinta geração de rede móvel (5G), a escolha ainda não está fechada. É uma questão de grande delicadeza e cautela, e já não é possível adiá-la por muito mais tempo, uma vez que o concurso para a atribuição do 5G deverá arrancar em outubro. À cabeça, surgem três grandes fornecedores: a Huawei e as europeias Ericsson e Nokia. E dificilmente haverá outra marca que se consiga intrometer entre estes três.

"Portugal tem de escolher agora entre os aliados e os chineses", o aviso foi deixado pelo embaixador dos EUA em Portugal, George Glass, em entrevista ao Expresso, este fim de semana. A estratégia da quinta geração móvel (5G) e a necessidade de afastar a Huawei é um dos pontos vincados pelo embaixador.

Os operadores recusaram fazer qualquer comentário. É uma questão política. Os grandes operadores móveis, MEO, NOS e Vodafone, preferem para já não comentar, nem revelar quem são os fornecedores com quem vão trabalhar. A Huawei também optou pelo silêncio.

Em Portugal, sabe-se já, a Huawei não será usada na rede core, a infraestrutura que inclui servidores e dispositivos que encaminham o tráfego para os diferentes pontos. Mas poderá eventualmente ser usada em outras áreas, como a de rádio.

Dando seguimento às orientações definidas pela Comissão Europeia, o gabinete de Mariana Vieira da Silva, ministra de Estado e da Presidência, assumiu a primeira posição oficial de Portugal sobre a matéria: independentemente da origem, nenhum fornecedor será excluído à partida das redes 5G que deverão estrear no início do ano em Portugal. E se nada tiver mudado desde então, é essa a posição oficial que ainda deve constar em Bruxelas, no âmbito de um processo de auscultação que o executivo europeu fez aos Estados Membros.

Esta decisão oficial do governo português não excluiu a Huawei, que, devido à interdição comercial de foi alvo nos EUA, concentra todas as atenções. Mas o governo juntou uma condição a esta posição oficial depois de receber do Centro Nacional de Segurança um relatório sobre este assunto: nenhum fornecedor é excluído à partida, mas todos fornecedores terão de passar em auditorias de segurança, sempre as autoridades nacionais as solicitem. Só assim poderão entrar nas redes 5G que vão ser instaladas em Portugal.

Em julho, depois de alguma incerteza, a Comissão Europeia recomendou aos Estados Membros que limitassem o uso de fornecedores de alto risco. No sector das telecomunicações não terá faltado quem lesse Huawei na expressão "fornecedores de alto risco"... até porque tendo em conta que as principais concorrentes da marca chinesa são europeias, essa posição poderia garantir que os investimentos na 5G ficariam em "casa".

Huawei está no 4G

Vamos ter de esperar ainda algum tempo para ter a certeza que papel irá a Huawei desempenhar em Portugal no 5G. E até que ponto ela estará ou na nova geração de rede móvel. Certo é que a Huawei é um dos fornecedores usados na rede de 4G, a base da futura 5G. E para as componentes que a tecnológica chinesa forneceu sejam substituídas será preciso que os operadores façam alguns investimentos para as retirar, o que pode demorar dois anos, dizem fontes do setor.

Se isso acontecer, vai haver atrasos no 5G. A Vodafone, a NOS e a Meo já fizeram questão de o dizer. "Convém que tenhamos consciência de que, se a decisão da Europa for no sentido de não permitir o desenvolvimento de redes 5G da Huawei, isso significa um atraso de, pelo menos, dois anos para os países europeus”, sublinhou Miguel Almeida, presidente da NOS, em março, na apresentação dos resultados. Os operadores têm defendido também que excluir a Huawei vai ter consequências futuras ao nível da inovação.

A Vodafone Portugal tem a Ericsson como parceiro exclusivo na rádio - mas teve até há bem pouco tempo, num caso raro dentro do grupo, equipamentos de core da Huawei a operarem para o mercado português (que entretanto já terão sido descontinuados). Tendo em conta que a parceria com a Ericsson aparenta ser inabalável, resta saber se a fabricante sueca foi igualmente a escolhida para os equipamentos de core.

A MEO deverá ter mais do que um fornecedor na rádio - mas também há mais que uma fonte que garante que a operadora, apesar de ter recebido o ultimato do governo francês para se desfazer dos equipamentos da marca chinesa, está em vias de ter toda a rede de rádio equipada com a marca Huawei em Portugal.

A NOS ainda não fechou o dossiê - mas sabe-se que, até à data, tem repartido os investimentos entre diferentes fornecedores na rádio. Mas não tem Huawei no core.

Portugal ainda mantém a Huawei em campo

A posição assumida pelo Governo transforma o mercado português numa das "casas" que faltam conquistar no xadrez que se está a desenhar no mapa europeu: enquanto países como França, Reino Unido, Letónia e Estónia já disseram expressa ou implicitamente que vão excluir a Huawei, outros como a Holanda e a Hungria mantém a possibilidade de uso da Huawei. Em contrapartida, o filet mignon do mercado, a Alemanha, mantém-se dividida tanto no parlamento como nos diferentes intervenientes da indústria local, que receia perder as encomendas chinesas.

A posição de não exclusão portuguesa, com a possibilidade de serem exigidas auditorias, presta-se a prolongar a disputa - e a manter em aberto a ideia de que o executivo poderá um dia mudar de posição, caso haja lóbi nesse sentido. Ou pressões diplomáticas, como aquelas que o embaixador americano George Glass proferiu em entrevista ao Expresso do fim de semana passado, lembrando que a cooperação militar dos EUA pode ser afetada, caso Portugal mantenha o uso de componentes da Huawei nas redes 5G.

Mas também é necessário lembrar que todo o processo iniciado pela Comissão Europeia ainda em 2019 deu aos diferentes estados-membros a possibilidade de identificarem quais os fornecedores que consideram de alto risco e de aplicarem as medidas que considerem mais adequadas para os limitar. E caso sejam aplicadas, essas medidas limitadoras podem variar consoante sejam aplicadas área do core ou área do rádio (que abrange antenas e estações-base, e não os servidores e dispositivos que gerem o tráfego).

Por parte dos EUA, a pressão da administração Trump para afastar definitivamente os chineses do 5G é grande. "Preferíamos que não houvesse qualquer equipamento da Huawei na rede de 5G", afirmou George Glass. Inclusive na transmissão via rádio.

A tecnológica chinesa Huawei foi banida do mercado americano depois de ter sido colocada na lista negra do Departamento de Defesa dos EUA. Antes do aparente ultimato que o embaixador americano deixou no passado fim de semana, Ajit Pai, responsável pela Comissão Federal das Comunicações - a congénere americana da "nossa" Autoridade Nacional das Comunicações - passou por Portugal durante um périplo inédito que tinha por objetivo convencer países europeus dos alegados riscos do uso das tecnologias chinesas. Antes disso, o secretário de estado americano Mike Pompeo já tinha vindo a Portugal com notório intuito de fazer pressão diplomática, ao mesmo que proceder a uma primeira contagem de potenciais aliados na UE na recusa de entrada para as tecnologias chinesas.

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