Ministra "foi excessiva ao dizer que lay-off não iria prolongar-se”

24-05-2020
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"António Pedro Pereira" 23 Maio, 2020 • 06:47 Partilhar este artigo Facebook

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CIP acredita que medida para proteger o emprego não vai acabar em junho. Já a CEO da Sociedade Ponto Verde diz que “há falta de indústria de reciclagem”.

António Saraiva desmontou a intenção sinalizada pela ministra de Estado e da Presidência de que o lay-off não será prolongado depois de junho. “Foi excessiva”, garantiu o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP). E no mesmo dia do debate do Estado da Nação, o primeiro-ministro António Costa admitiu que poderia não ser assim.

No início da semana, Mariana Vieira da Silva deu a entender que o lay-off, que perdura desde meados de março e até final de junho, não será prolongado.

“A retoma, como temos avaliado ao longo destes programas, vai ser lenta, assimétrica, quer em termos de setores, quer em termos de atividades, e por muito otimistas que sejamos não podemos pensar que vai acontecer de uma forma fantástica e que todos os empregos estão acautelados e que a confiança vai imediatamente ser restaurada”, afirmou António Saraiva.

O presidente da CIP acrescenta mesmo que “sabemos que não vai ser assim. E porque não vai ser assim não creio que o governo não esteja sensível a dilatar o prazo do lay-off, porque muitas empresas vão necessitar de gradualmente ir adaptando a sua resposta, a oferta à diferente procura que vão ter”.

Para António Saraiva é “por isso fundamental que o lay-off seja estendido por mais um período de tempo, em função da avaliação que se vai fazendo e em sede de concertação social, é para isso também que o diálogo social serve, para que possamos lançar medidas que se adaptem às necessidades que a avaliação legitimar”.

“Acho que a senhora ministra foi excessiva e demasiado taxativa em dizer que o lay-off não iria prolongar-se. Vai ter de o fazer, mas como representante do governo não o quis fazer prematuramente”, disparou o presidente da CIP.

A verdade é que no dia em que foi emitido o programa Estado da Nação, uma iniciativa do Dinheiro Vivo (DV) e TSF, em parceria com o Santander, António Costa abriu essa porta, como o DV noticiou na quarta-feira. “O Presidente da República pressionou o Governo a prorrogar a medida para lá de 30 de junho para evitar mais desemprego. A resposta não compromete, mas o primeiro-ministro deixa a porta aberta ao prolongamento do regime simplificado de lay-off, em vigor desde março e que termina no final de junho”.

António Costa, em resposta ao deputado do CDS-PP, João Almeida, afirmou: “Quando segunda ou terça-feira tivermos oportunidade para discutir o programa de emergência económica e social, uma das medidas que tem de ser devidamente ponderada é se devemos regressar simplesmente ao regime normal, que vigora desde os anos 80, ou se deve haver outra medida alternativa’.

Sim ao fundo de capitalização

Na terça-feira, António Saraiva voltou a ser recebido pelo primeiro-ministro. “Entre as várias medidas que apresentámos, de facto, na reunião com o senhor primeiro-ministro, estava a criação de um fundo de capitalização de empresas”, confirmou o líder da CIP.

“Sugerimos que o fundo deveria ter um montante na ordem dos três mil milhões de euros para ter alguma expressão. É um fundo de emergência, mas acaba por ser um fundo de fundos e devia estar na órbita da Instituição Financeira de Desenvolvimento , dando à IFD essa operacionalização para a capitalização das empresas.

Através de fundos de capital de risco, da forma mais consentânea com o atingir deste objetivo, e este fundo poderia ser potenciado pelos recursos do Banco Europeu de Investimento e no âmbito do Portugal Venture Capital Initiative, que também têm montantes por utilizar, e serviria para estes novos investimentos”, explicou.

Um fundo, sublinha António Saraiva, que serviria “para cobrir prejuízos e depois novos investimentos para a modernização, expansão e internacionalização, exportação ou substituição de importações, fator que para nós é igualmente importante que, gradualmente, possamos ir substituindo as importações por fabrico interno”.

E alertou que esta capitalização é fundamental “para evitar incumprimentos de créditos inexistentes e que o sistema bancário ficasse com problemas como a crise anterior lhe provocou”. Além disso, sublinha, é preciso “proteger as empresas portuguesas que, “com esta capitalização, ficariam menos expostas à compra oportunista de concorrentes ou até à sua aquisição por fundos-abutre que sempre aparecem nestas situações em que as empresas se encontram mais fragilizadas”.

O líder dos patrões adiantou que “o governo mostrou enorme sensibilidade e concordância com estas nossas posições”, e ficou de constituir um grupo de trabalho no âmbito do ministério da Economia, envolvendo as entidades associativas empresariais, para operacionalizar o fundo.

“O governo disse que na sua avaliação esse valor seria excessivo, mas fiquei com a convicção, na conversa, que pelo menos os dois mil milhões seriam possíveis de atingir. Fiquei com essa expectativa”, revelou António Saraiva.

João Duque, economista e professor universitário do ISEG, e também um dos participantes do debate, sublinhou “que estas medidas, que de alguma forma não exigem um reembolso, são muito importantes para as empresas, porque já bem basta estas paragens que não são apenas de dois meses. São mais do que dois meses, porque a retoma não se faz à velocidade de cruzeiro em que estávamos”.

Industrialização verde

A convidada do último Estado da Nação de uma série de oito programas, Ana Isabel Trigo Morais, presidente executiva da Sociedade Ponto Verde, falou da obrigatoriedade de mudanças relativas a um “novo futuro”. “Cabe-nos contribuir para a sua construção, e aqui no setor em que todos operamos, o setor do ambiente, da sustentabilidade, da economia circular da reciclagem”, lançou.

“A industrialização verde pode ser uma oportunidade interessante para Portugal. Na Sociedade Ponto Verde sentimos que há falta de indústria de reciclagem. Sentimos que há grandes deficiências no sistema que está por conquistar e achamos que a estrutura que o país tem ainda está longe de estar adaptada e preparada para as novas metas que vamos ter de cumprir não tarda, daqui a quatro ou cinco anos”, enquadrou a CEO da Sociedade Ponto Verde.

E sublinhou: “O país vai ter de mudar muito, vamos ter de recolher as embalagens de garrafas de bebidas. 77% de qualquer embalagem tem de ser colocada. Vamos precisar de matéria-prima para refazermos o conceito de economia circular. É uma obrigação para as empresas incorporar esta matéria-prima”.

Ana Isabel Trigo Pereira considera que “a industrialização verde é uma oportunidade muito grande e devíamos ter uma linha condutora de política ambiental para que o país desse espaço a que as empresas tivessem capacidade de acompanhar este rumo do mundo. Sentimos muita falta de uma política baseada em incentivos à transformação verde e menos numa política de que o ambiente agora está na moda”.

A responsável da Sociedade Ponto Verde concretizou: “Não vamos pensar aqui numa nova fiscalidade ou numa nova proibição, ou banir determinados materiais sem se perceber que a transformação, precisando de tempo, precisa também de uma nova orientação. E talvez seja disso que sentimos mais falta. Temos dialogado com o governo”.

Rui Constantino, economista-chefe do Santander Portugal, concorda com esta necessidade. “Sobre a transformação da economia e a transformação verde, é um caminho que iremos seguir, iremos avançar. Creio que independentemente do que os supervisores ou os reguladores ou os legisladores venham a dizer, a economia como um todo, incluindo o setor bancário, vai avançar nesse sentido enquanto fator diferenciador e gerador de valor”.

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CIP acredita que medida para proteger o emprego não vai acabar em junho. Já a CEO da Sociedade Ponto Verde diz que “há falta de indústria de reciclagem”.

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No início da semana, Mariana Vieira da Silva deu a entender que o lay-off, que perdura desde meados de março e até final de junho, não será prolongado.

“A retoma, como temos avaliado ao longo destes programas, vai ser lenta, assimétrica, quer em termos de setores, quer em termos de atividades, e por muito otimistas que sejamos não podemos pensar que vai acontecer de uma forma fantástica e que todos os empregos estão acautelados e que a confiança vai imediatamente ser restaurada”, afirmou António Saraiva.

O presidente da CIP acrescenta mesmo que “sabemos que não vai ser assim. E porque não vai ser assim não creio que o governo não esteja sensível a dilatar o prazo do lay-off, porque muitas empresas vão necessitar de gradualmente ir adaptando a sua resposta, a oferta à diferente procura que vão ter”.

Para António Saraiva é “por isso fundamental que o lay-off seja estendido por mais um período de tempo, em função da avaliação que se vai fazendo e em sede de concertação social, é para isso também que o diálogo social serve, para que possamos lançar medidas que se adaptem às necessidades que a avaliação legitimar”.

“Acho que a senhora ministra foi excessiva e demasiado taxativa em dizer que o lay-off não iria prolongar-se. Vai ter de o fazer, mas como representante do governo não o quis fazer prematuramente”, disparou o presidente da CIP.

A verdade é que no dia em que foi emitido o programa Estado da Nação, uma iniciativa do Dinheiro Vivo (DV) e TSF, em parceria com o Santander, António Costa abriu essa porta, como o DV noticiou na quarta-feira. “O Presidente da República pressionou o Governo a prorrogar a medida para lá de 30 de junho para evitar mais desemprego. A resposta não compromete, mas o primeiro-ministro deixa a porta aberta ao prolongamento do regime simplificado de lay-off, em vigor desde março e que termina no final de junho”.

António Costa, em resposta ao deputado do CDS-PP, João Almeida, afirmou: “Quando segunda ou terça-feira tivermos oportunidade para discutir o programa de emergência económica e social, uma das medidas que tem de ser devidamente ponderada é se devemos regressar simplesmente ao regime normal, que vigora desde os anos 80, ou se deve haver outra medida alternativa’.

Sim ao fundo de capitalização

Na terça-feira, António Saraiva voltou a ser recebido pelo primeiro-ministro. “Entre as várias medidas que apresentámos, de facto, na reunião com o senhor primeiro-ministro, estava a criação de um fundo de capitalização de empresas”, confirmou o líder da CIP.

“Sugerimos que o fundo deveria ter um montante na ordem dos três mil milhões de euros para ter alguma expressão. É um fundo de emergência, mas acaba por ser um fundo de fundos e devia estar na órbita da Instituição Financeira de Desenvolvimento , dando à IFD essa operacionalização para a capitalização das empresas.

Através de fundos de capital de risco, da forma mais consentânea com o atingir deste objetivo, e este fundo poderia ser potenciado pelos recursos do Banco Europeu de Investimento e no âmbito do Portugal Venture Capital Initiative, que também têm montantes por utilizar, e serviria para estes novos investimentos”, explicou.

Um fundo, sublinha António Saraiva, que serviria “para cobrir prejuízos e depois novos investimentos para a modernização, expansão e internacionalização, exportação ou substituição de importações, fator que para nós é igualmente importante que, gradualmente, possamos ir substituindo as importações por fabrico interno”.

E alertou que esta capitalização é fundamental “para evitar incumprimentos de créditos inexistentes e que o sistema bancário ficasse com problemas como a crise anterior lhe provocou”. Além disso, sublinha, é preciso “proteger as empresas portuguesas que, “com esta capitalização, ficariam menos expostas à compra oportunista de concorrentes ou até à sua aquisição por fundos-abutre que sempre aparecem nestas situações em que as empresas se encontram mais fragilizadas”.

O líder dos patrões adiantou que “o governo mostrou enorme sensibilidade e concordância com estas nossas posições”, e ficou de constituir um grupo de trabalho no âmbito do ministério da Economia, envolvendo as entidades associativas empresariais, para operacionalizar o fundo.

“O governo disse que na sua avaliação esse valor seria excessivo, mas fiquei com a convicção, na conversa, que pelo menos os dois mil milhões seriam possíveis de atingir. Fiquei com essa expectativa”, revelou António Saraiva.

João Duque, economista e professor universitário do ISEG, e também um dos participantes do debate, sublinhou “que estas medidas, que de alguma forma não exigem um reembolso, são muito importantes para as empresas, porque já bem basta estas paragens que não são apenas de dois meses. São mais do que dois meses, porque a retoma não se faz à velocidade de cruzeiro em que estávamos”.

Industrialização verde

A convidada do último Estado da Nação de uma série de oito programas, Ana Isabel Trigo Morais, presidente executiva da Sociedade Ponto Verde, falou da obrigatoriedade de mudanças relativas a um “novo futuro”. “Cabe-nos contribuir para a sua construção, e aqui no setor em que todos operamos, o setor do ambiente, da sustentabilidade, da economia circular da reciclagem”, lançou.

“A industrialização verde pode ser uma oportunidade interessante para Portugal. Na Sociedade Ponto Verde sentimos que há falta de indústria de reciclagem. Sentimos que há grandes deficiências no sistema que está por conquistar e achamos que a estrutura que o país tem ainda está longe de estar adaptada e preparada para as novas metas que vamos ter de cumprir não tarda, daqui a quatro ou cinco anos”, enquadrou a CEO da Sociedade Ponto Verde.

E sublinhou: “O país vai ter de mudar muito, vamos ter de recolher as embalagens de garrafas de bebidas. 77% de qualquer embalagem tem de ser colocada. Vamos precisar de matéria-prima para refazermos o conceito de economia circular. É uma obrigação para as empresas incorporar esta matéria-prima”.

Ana Isabel Trigo Pereira considera que “a industrialização verde é uma oportunidade muito grande e devíamos ter uma linha condutora de política ambiental para que o país desse espaço a que as empresas tivessem capacidade de acompanhar este rumo do mundo. Sentimos muita falta de uma política baseada em incentivos à transformação verde e menos numa política de que o ambiente agora está na moda”.

A responsável da Sociedade Ponto Verde concretizou: “Não vamos pensar aqui numa nova fiscalidade ou numa nova proibição, ou banir determinados materiais sem se perceber que a transformação, precisando de tempo, precisa também de uma nova orientação. E talvez seja disso que sentimos mais falta. Temos dialogado com o governo”.

Rui Constantino, economista-chefe do Santander Portugal, concorda com esta necessidade. “Sobre a transformação da economia e a transformação verde, é um caminho que iremos seguir, iremos avançar. Creio que independentemente do que os supervisores ou os reguladores ou os legisladores venham a dizer, a economia como um todo, incluindo o setor bancário, vai avançar nesse sentido enquanto fator diferenciador e gerador de valor”.

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