“Sei o que é estar 24 anos fechada numa casa”: o grito dos cuidadores informais na campanha do BE

26-02-2020
marcar artigo

Alice Oliveira tem 82 anos. Muitos deles passou-os a tratar do marido, que já morreu. A sua intervenção no encontro de Catarina Martins com cuidadores informais (na Escola Superior Artística do Porto, na manhã desta terça-feira), foi das mais breves.

“Sei o que é estar 24 anos fechada numa casa. A minha filha, que tinha o seu emprego, fazia-me as compras”, disse Alice, que viajou desde Cascais para relatar o seu caso. Mais tarde, diria ao Expresso o que a motiva: “A minha luta é para que outras não passem pelo que eu passei”.

Alice Oliveira é, pois, uma ex-cuidadora informal. Assim como Joaquim Ribeiro o foi entre 2009 e 2017. Era empresário, teve de desfazer-se do que tinha, ficou “descapitalizado”, perdeu carreira contributiva naqueles oito anos, hoje a “saúde já não permite alguns trabalhos”, e os empregos que tinha à disposição há dois anos eram “os que ninguém quer”.

Outros vivem o presente sem previsões para o futuro. Sofia Figueiredo é cuidadora a tempo parcial. O que a preocupa é articular os trabalho com o tempo de que necessita para tratar dos seus. Já Joaquim Santos, 73 anos (em conjunto com a mulher, um ano mais velha) cuida de dois netos com paralisia cerebral. “Estamos a fazer tudo para que a minha filha possa continuar a trabalhar”, diz. Manuela Cunha trata do marido, que tem incapacidade a 90%. Manuela não tem rendimentos. Vendo as coisas do ponto de vista formal: ela, cuidadora do marido que tem absoluta dependência, depende formalmente dele.

Os exemplos repetem-se, tocam-se, complementam-se. São pessoas sem carreira contributiva reconhecida, que por isso não terão um dia acesso a uma reforma, ou ela será tão baixa que é como se não existisse. São portugueses (na esmagadora maioria mulheres) sem tempo de descanso, pois a falta de uma rede pública ou cooperativa que receba as pessoas que têm a cargo por um dado período não lhes consente o direito de tirarem alguns momentos para si). São ex-cuidadores que depois se vêem a braços com as dificuldades de resinserçao, profissional, muitas vezes social, porque as situações vividas deixam marcas, e muitas vezes doenças. São pessoas que prestam um serviço público, apesar de ele ser em primeiro lugar um apoio aos que lhe são próximos.

Para todos os cuidadores informais, a aprovação do estatuto (publicado há menos de um mês em Diário da república) foi “uma mão cheia de esperança que se abriu”, disse a primeira oradora da sessão, que tem há 38 anos uma filha a cargo.

A luta pelos cuidadores foi iniciada pelo Bloco em 2016, por Marisa Matias, no âmbito do Parlamento Europeu. No plano nacional, o dossiê está nas mãos do deputado José Soeiro.

Há, como em muitas outras situações, duas formas de ver a questão: pelo copo meio vazio e pelo copo meio vazio.

O copo cheio é a consagração do princípio. O copo meio vazio é regulamentação da própria lei, ainda por fazer, que lhe dará maior ou menor efetividade. A lei determina 120 dias para a sua regulamentação, mas o relógio já está a contar e faltam menos de uma centena de dias.

Alice Oliveira tem 82 anos. Muitos deles passou-os a tratar do marido, que já morreu. A sua intervenção no encontro de Catarina Martins com cuidadores informais (na Escola Superior Artística do Porto, na manhã desta terça-feira), foi das mais breves.

“Sei o que é estar 24 anos fechada numa casa. A minha filha, que tinha o seu emprego, fazia-me as compras”, disse Alice, que viajou desde Cascais para relatar o seu caso. Mais tarde, diria ao Expresso o que a motiva: “A minha luta é para que outras não passem pelo que eu passei”.

Alice Oliveira é, pois, uma ex-cuidadora informal. Assim como Joaquim Ribeiro o foi entre 2009 e 2017. Era empresário, teve de desfazer-se do que tinha, ficou “descapitalizado”, perdeu carreira contributiva naqueles oito anos, hoje a “saúde já não permite alguns trabalhos”, e os empregos que tinha à disposição há dois anos eram “os que ninguém quer”.

Outros vivem o presente sem previsões para o futuro. Sofia Figueiredo é cuidadora a tempo parcial. O que a preocupa é articular os trabalho com o tempo de que necessita para tratar dos seus. Já Joaquim Santos, 73 anos (em conjunto com a mulher, um ano mais velha) cuida de dois netos com paralisia cerebral. “Estamos a fazer tudo para que a minha filha possa continuar a trabalhar”, diz. Manuela Cunha trata do marido, que tem incapacidade a 90%. Manuela não tem rendimentos. Vendo as coisas do ponto de vista formal: ela, cuidadora do marido que tem absoluta dependência, depende formalmente dele.

Os exemplos repetem-se, tocam-se, complementam-se. São pessoas sem carreira contributiva reconhecida, que por isso não terão um dia acesso a uma reforma, ou ela será tão baixa que é como se não existisse. São portugueses (na esmagadora maioria mulheres) sem tempo de descanso, pois a falta de uma rede pública ou cooperativa que receba as pessoas que têm a cargo por um dado período não lhes consente o direito de tirarem alguns momentos para si). São ex-cuidadores que depois se vêem a braços com as dificuldades de resinserçao, profissional, muitas vezes social, porque as situações vividas deixam marcas, e muitas vezes doenças. São pessoas que prestam um serviço público, apesar de ele ser em primeiro lugar um apoio aos que lhe são próximos.

Para todos os cuidadores informais, a aprovação do estatuto (publicado há menos de um mês em Diário da república) foi “uma mão cheia de esperança que se abriu”, disse a primeira oradora da sessão, que tem há 38 anos uma filha a cargo.

A luta pelos cuidadores foi iniciada pelo Bloco em 2016, por Marisa Matias, no âmbito do Parlamento Europeu. No plano nacional, o dossiê está nas mãos do deputado José Soeiro.

Há, como em muitas outras situações, duas formas de ver a questão: pelo copo meio vazio e pelo copo meio vazio.

O copo cheio é a consagração do princípio. O copo meio vazio é regulamentação da própria lei, ainda por fazer, que lhe dará maior ou menor efetividade. A lei determina 120 dias para a sua regulamentação, mas o relógio já está a contar e faltam menos de uma centena de dias.

marcar artigo