Pina Moura: PS consternado com a morte do antigo 'superministro'

03-03-2020
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O Partido Socialista manifestou, esta sexta-feira, consternação com a morte de Joaquim Pina Moura, prestando homenagem ao antigo ministro de António Guterres e deputado à Assembleia da República em quatro legislaturas. O ex-ministro da Economia e das Finanças morreu em casa, em Lisboa, aos 67 anos, nesta quinta-feira, devido a doença neurodegenerativa, disse à Lusa o filho, o fotojornalista João Pina.

Numa nota de pesar, o PS endereça “as mais sentidas condolências” à família e aos amigos mais íntimos de Pina Moura. Licenciado em economia e pós-graduado em economia monetária, Pina Moura exerceu os cargos de secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, ministro da Economia e das Finanças nos governos de António Guterres.

“Neste momento de luto, o Partido Socialista não quer deixar de prestar uma sentida homenagem a Pina Moura pela sua dedicação e apego aos valores do Partido Socialista, que une todos os camaradas neste momento de perda”, lê-se no comunicado. O antigo primeiro-ministro português António Guterres também enviou uma mensagem de pesar à família do amigo Joaquim Pina Moura.

“Foi com profunda tristeza que soube do falecimento do meu amigo”, escreveu o atual secretário-geral da ONU. Na declaração à Lusa, António Guterres lembrou que Pina Moura teve uma vida de “grande dedicação” a causa pública: “Como eu próprio pude testemunhar durante anos de trabalho conjunto”, sublinhou Guterres, que entre 1995 e 2002 teve Joaquim Pina Moura como secretário de Estado Adjunto (1995) e como ministro da Economia e das Finanças (1999).

Natural de Loriga, Seia (distrito da Guarda), Pina Moura foi membro do Partido Comunista Português entre 1972 e 1991, tendo aderido ao Partido Socialista em setembro de 1995. Com o Partido Socialista no Governo, Pina Moura foi um dos “braços direitos" de Guterres, o que lhe valeu a alcunha de 'cardeal'. De secretário de Estado Adjunto de António Guterres, em 1995, o economista passou para ministro da Economia em 1997.

Em 1999, ganhou novo cognome, o de 'superministro', ao juntar as pastas da Economia e das Finanças, que concentravam toda a política económica. Pina Moura foi ainda administrador da Galp e presidente da Iberdrola Portugal.

No dia a seguir à sua morte, também o ministro de Estado, da Economia e Transição Digital, Pedro Siza Vieira, fez questão de salientar a “militância política destacada” do antigo ministro, “antes e depois do 25 de abril”.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, salientou, por sua vez, o contributo de Pina Moura para a “construção da democracia e o desenvolvimento do país”, assinalando que “o seu empenho ao serviço de Portugal será sempre recordado”. Manifestado o seu pesar, o atual titular da pasta das Finanças realçou, em declarações à Lusa, o o empenho de Pina Moura ao serviço Portugal, que “será sempre recordado e merece o público reconhecimento”.

'Cunhal dos pequeninos' sai o PCP em 1991

Aos 20 anos, como militante do PCP, a que aderiu em 1972, usou o mesmo pseudónimo – 'Duarte' - do líder histórico dos comunistas portugueses. Por isso, passou a ser chamado, durante anos, de 'Cunhal dos pequeninos' e visto, por alguns militantes comunistas, como seu “delfim”. Mas o seu percurso político começou antes da Revolução dos Cravos. Em 1974, passou pela militância na organização de juventude do PCP, que chegou a coordenar, e ascendendo ao Comité Central, juntamente com Zita Seabra, em 1976.

Nesse ano, após o período do Processo Revolucionário em Curso (PREC), Pina Moura foi um dos líderes da União de Estudantes Comunistas (UEC) e três anos depois trabalhou com Vítor Dias na Secção de Informação e Propaganda, de onde saiu em 1987 para a comissão de atividades económicas do PCP.

No ano seguinte, em 1988, votou contra a expulsão de Zita Seabra e começou aí a sua dissidência, com críticas à orientação estratégica do partido, embora ainda tenha sido eleito, nesse ano, para o Comité Central. Em vários congressos, e na sua preparação, sucederam as divergências com Cunhal, dele e de críticos como Barros Moura, Raimundo Narciso ou José Luís Judas.

Em 1988, defendeu o voto secreto, a abertura do órgão oficial, Avante! à discussão interna e a apresentação de moções alternativas. Numa reunião na sede do PCP, Cunhal responde-lhe que, se os 150 mil militantes escrevessem moções, não haveria papel que chegasse, lê-se num perfil intitulado “Pina Moura: O orquestrador-mor”, publicado no jornal Público, em novembro de 1995.

Em 1990, insiste na proposta. Sem resultado. No congresso em que Carlos Carvalhas foi eleito secretário-geral, Pina Moura apoiou-o, mas faz uma intervenção crítica, questiona o leninismo. “Sinto que é meu dever exprimir aqui a minha discordância”, começou por dizer, depois do vocativo “camaradas”. É apupado, mas, no fim, recebeu alguns aplausos.

A Lusa descreveu o sucedido desta forma: “Pina Moura, membro suplente do Comité Central, rejeitou a ‘análise marxista-leninista’, contestou o ‘centralismo democrático’ e opinou que o PCP tem de ‘começar de novo’”. A rutura só aconteceu no ano seguinte, em 1991, quando o militante 130 do PCP atacou a liderança de Cunhal pelo apoio dos comunistas portugueses ao golpe de Estado contra Mikhail Gorbachev na URSS, o país elogiado pelo partido ao longo de décadas e que meses depois deixou de existir.

Saiu do partido, sem falar com Cunhal, em 3 de outubro de 1991, dia em o PSD ganhou a segunda maioria absoluta, entregando uma carta na sede da Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa. “Saí nesse dia, mas já tinha decidido abandonar cerca de dois meses antes, quando, ao arrepio do Comité Central, a Comissão Política entendeu apoiar publicamente o golpe – que depois foi derrotado – contra Mikhail Gorbachev. Aí percebi que não tinha mais nada a fazer dentro do Partido Comunista”, recordou, numa entrevista ao Expresso, em fevereiro de 2000.

Em 1992, esteve na fundação da Plataforma de Esquerda com outros ex-comunistas, como Barros Moura, Raimundo Narciso, já de aproximação ao PS de António Guterres, afastando-se de dirigentes como Miguel Portas e Daniel Oliveira, mais tarde fundadores do Bloco de Esquerda. Com a chegada de António Guterres à liderança do PS, tornou-se um dos "independentes" que ajuda ao lançamento dos Estados Gerais para uma Nova Maioria, que abriu o caminho à vitória dos socialistas nas legislativas de 1995.

O Partido Socialista manifestou, esta sexta-feira, consternação com a morte de Joaquim Pina Moura, prestando homenagem ao antigo ministro de António Guterres e deputado à Assembleia da República em quatro legislaturas. O ex-ministro da Economia e das Finanças morreu em casa, em Lisboa, aos 67 anos, nesta quinta-feira, devido a doença neurodegenerativa, disse à Lusa o filho, o fotojornalista João Pina.

Numa nota de pesar, o PS endereça “as mais sentidas condolências” à família e aos amigos mais íntimos de Pina Moura. Licenciado em economia e pós-graduado em economia monetária, Pina Moura exerceu os cargos de secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, ministro da Economia e das Finanças nos governos de António Guterres.

“Neste momento de luto, o Partido Socialista não quer deixar de prestar uma sentida homenagem a Pina Moura pela sua dedicação e apego aos valores do Partido Socialista, que une todos os camaradas neste momento de perda”, lê-se no comunicado. O antigo primeiro-ministro português António Guterres também enviou uma mensagem de pesar à família do amigo Joaquim Pina Moura.

“Foi com profunda tristeza que soube do falecimento do meu amigo”, escreveu o atual secretário-geral da ONU. Na declaração à Lusa, António Guterres lembrou que Pina Moura teve uma vida de “grande dedicação” a causa pública: “Como eu próprio pude testemunhar durante anos de trabalho conjunto”, sublinhou Guterres, que entre 1995 e 2002 teve Joaquim Pina Moura como secretário de Estado Adjunto (1995) e como ministro da Economia e das Finanças (1999).

Natural de Loriga, Seia (distrito da Guarda), Pina Moura foi membro do Partido Comunista Português entre 1972 e 1991, tendo aderido ao Partido Socialista em setembro de 1995. Com o Partido Socialista no Governo, Pina Moura foi um dos “braços direitos" de Guterres, o que lhe valeu a alcunha de 'cardeal'. De secretário de Estado Adjunto de António Guterres, em 1995, o economista passou para ministro da Economia em 1997.

Em 1999, ganhou novo cognome, o de 'superministro', ao juntar as pastas da Economia e das Finanças, que concentravam toda a política económica. Pina Moura foi ainda administrador da Galp e presidente da Iberdrola Portugal.

No dia a seguir à sua morte, também o ministro de Estado, da Economia e Transição Digital, Pedro Siza Vieira, fez questão de salientar a “militância política destacada” do antigo ministro, “antes e depois do 25 de abril”.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, salientou, por sua vez, o contributo de Pina Moura para a “construção da democracia e o desenvolvimento do país”, assinalando que “o seu empenho ao serviço de Portugal será sempre recordado”. Manifestado o seu pesar, o atual titular da pasta das Finanças realçou, em declarações à Lusa, o o empenho de Pina Moura ao serviço Portugal, que “será sempre recordado e merece o público reconhecimento”.

'Cunhal dos pequeninos' sai o PCP em 1991

Aos 20 anos, como militante do PCP, a que aderiu em 1972, usou o mesmo pseudónimo – 'Duarte' - do líder histórico dos comunistas portugueses. Por isso, passou a ser chamado, durante anos, de 'Cunhal dos pequeninos' e visto, por alguns militantes comunistas, como seu “delfim”. Mas o seu percurso político começou antes da Revolução dos Cravos. Em 1974, passou pela militância na organização de juventude do PCP, que chegou a coordenar, e ascendendo ao Comité Central, juntamente com Zita Seabra, em 1976.

Nesse ano, após o período do Processo Revolucionário em Curso (PREC), Pina Moura foi um dos líderes da União de Estudantes Comunistas (UEC) e três anos depois trabalhou com Vítor Dias na Secção de Informação e Propaganda, de onde saiu em 1987 para a comissão de atividades económicas do PCP.

No ano seguinte, em 1988, votou contra a expulsão de Zita Seabra e começou aí a sua dissidência, com críticas à orientação estratégica do partido, embora ainda tenha sido eleito, nesse ano, para o Comité Central. Em vários congressos, e na sua preparação, sucederam as divergências com Cunhal, dele e de críticos como Barros Moura, Raimundo Narciso ou José Luís Judas.

Em 1988, defendeu o voto secreto, a abertura do órgão oficial, Avante! à discussão interna e a apresentação de moções alternativas. Numa reunião na sede do PCP, Cunhal responde-lhe que, se os 150 mil militantes escrevessem moções, não haveria papel que chegasse, lê-se num perfil intitulado “Pina Moura: O orquestrador-mor”, publicado no jornal Público, em novembro de 1995.

Em 1990, insiste na proposta. Sem resultado. No congresso em que Carlos Carvalhas foi eleito secretário-geral, Pina Moura apoiou-o, mas faz uma intervenção crítica, questiona o leninismo. “Sinto que é meu dever exprimir aqui a minha discordância”, começou por dizer, depois do vocativo “camaradas”. É apupado, mas, no fim, recebeu alguns aplausos.

A Lusa descreveu o sucedido desta forma: “Pina Moura, membro suplente do Comité Central, rejeitou a ‘análise marxista-leninista’, contestou o ‘centralismo democrático’ e opinou que o PCP tem de ‘começar de novo’”. A rutura só aconteceu no ano seguinte, em 1991, quando o militante 130 do PCP atacou a liderança de Cunhal pelo apoio dos comunistas portugueses ao golpe de Estado contra Mikhail Gorbachev na URSS, o país elogiado pelo partido ao longo de décadas e que meses depois deixou de existir.

Saiu do partido, sem falar com Cunhal, em 3 de outubro de 1991, dia em o PSD ganhou a segunda maioria absoluta, entregando uma carta na sede da Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa. “Saí nesse dia, mas já tinha decidido abandonar cerca de dois meses antes, quando, ao arrepio do Comité Central, a Comissão Política entendeu apoiar publicamente o golpe – que depois foi derrotado – contra Mikhail Gorbachev. Aí percebi que não tinha mais nada a fazer dentro do Partido Comunista”, recordou, numa entrevista ao Expresso, em fevereiro de 2000.

Em 1992, esteve na fundação da Plataforma de Esquerda com outros ex-comunistas, como Barros Moura, Raimundo Narciso, já de aproximação ao PS de António Guterres, afastando-se de dirigentes como Miguel Portas e Daniel Oliveira, mais tarde fundadores do Bloco de Esquerda. Com a chegada de António Guterres à liderança do PS, tornou-se um dos "independentes" que ajuda ao lançamento dos Estados Gerais para uma Nova Maioria, que abriu o caminho à vitória dos socialistas nas legislativas de 1995.

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