A censura a Riccardo Marchi e o Chega

10-09-2020
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Esta semana, o investigador Riccardo Marchi foi alvo de uma censura coletiva por pares. É revelador que professores universitários e investigadores se tenham juntado para, publicamente, repudiar uma opinião individual e procurar fixar um pensamento único sobre o Chega e sobre André Ventura. Para os subscritores da nota de “repúdio”, Riccardo Marchi estará a higienizar a realidade, ao defender que o Chega não é um partido fascista nem racista, mas sim radical e antissistema. Pior, suprema infâmia para os “repudiadores”, o investigador do ISCTE-IUL defendeu a tese fora do meio académico, em horário nobre, e sem contraditório.

Este episódio faz lembrar outro recente, quando alguns repudiaram com pobreza de espírito a “aula” de Rui Tavares na telescola. Infelizmente, a intolerância é uma velha característica humana, assim como as tentativas de homogeneização do pensamento. Durante o “terror” (1792-95), na revolução francesa, os jacobinos impuseram o princípio da ditadura da maioria, instituindo comités de vigilância com a função de repudiar todo o pensamento autónomo que se desviasse da corrente dominante. Esta corrente jacobina, que depois fez escola em regimes autoritários e totalitários de esquerda e de direita, é em tudo contrária à liberdade individual. As opiniões rebatem-se no espaço público com opiniões contrárias, e não com repúdios coletivos, e a livre expressão de um pensamento não deve ser rebatida com argumentos maioritários. Foi exatamente o que esta censura procurou fazer. Riccardo Marchi defende que o Chega é um partido antissistema mas não fascista. Concordo. O Chega é um partido de direita radical, com características de extrema direita, e liderado por um homem populista e oportunista. Isto não faz do Chega um partido recomendável, muito pelo contrário mas, também, não o torna um partido fascista, o que não significa ignorar que alguns dos seus elementos são racistas, e têm ligações ou simpatias neonazis, e que o perigo de uma maior radicalização do seu discurso seja real.

A acusação de que Riccardo Marchi está a procurar usar um trabalho académico para legitimar o Chega devia embaraçar os próprios subscritores do repúdio, vários deles reputados académicos, com acesso privilegiado ao espaço público e posição política conhecida. O que dizer então do uso do termo “fascista”, empregue frequentemente na nossa democracia para condicionar politicamente instituições e pessoas que, objetivamente, não o são? Este é um qualificativo muito usado no combate político, também por académicos e, que me lembre, o seu uso abusivo nunca foi alvo de um repúdio coletivo.

Do que li, não me parece que Riccardo Marchi pretenda “higienizar” o Chega, tornando-o “respeitável” por via de trabalhos académicos. Pelo contrário, situou-se precisamente fora do combate político. Foi o que os “repudiadores” não fizeram, ao procurar homogeneizar com o peso do pensamento maioritário, e assim fixar doutrina. Não deixa, pois, de ser irónico que tal corrente assente na ditadura da maioria se assuma como a exclusiva defensora das minorias. Reinterpretando uma frase icónica dos estudantes franceses no maio de 1968, mais do que dever ser proibido proibir, deveria ser proibido censurar por preconceitos ou motivações políticas, individuais ou coletivas. No meio de tudo isto, André Ventura é o único que tem razões para esfregar as mãos. As acusações de “fascista” e “racista” geram muito mais soundbytes do que as secas qualificações de “radical” e “antissistema”. É um tempo de antena quase tão bom quanto uma noite de comentário futebolístico.

Esta semana, o investigador Riccardo Marchi foi alvo de uma censura coletiva por pares. É revelador que professores universitários e investigadores se tenham juntado para, publicamente, repudiar uma opinião individual e procurar fixar um pensamento único sobre o Chega e sobre André Ventura. Para os subscritores da nota de “repúdio”, Riccardo Marchi estará a higienizar a realidade, ao defender que o Chega não é um partido fascista nem racista, mas sim radical e antissistema. Pior, suprema infâmia para os “repudiadores”, o investigador do ISCTE-IUL defendeu a tese fora do meio académico, em horário nobre, e sem contraditório.

Este episódio faz lembrar outro recente, quando alguns repudiaram com pobreza de espírito a “aula” de Rui Tavares na telescola. Infelizmente, a intolerância é uma velha característica humana, assim como as tentativas de homogeneização do pensamento. Durante o “terror” (1792-95), na revolução francesa, os jacobinos impuseram o princípio da ditadura da maioria, instituindo comités de vigilância com a função de repudiar todo o pensamento autónomo que se desviasse da corrente dominante. Esta corrente jacobina, que depois fez escola em regimes autoritários e totalitários de esquerda e de direita, é em tudo contrária à liberdade individual. As opiniões rebatem-se no espaço público com opiniões contrárias, e não com repúdios coletivos, e a livre expressão de um pensamento não deve ser rebatida com argumentos maioritários. Foi exatamente o que esta censura procurou fazer. Riccardo Marchi defende que o Chega é um partido antissistema mas não fascista. Concordo. O Chega é um partido de direita radical, com características de extrema direita, e liderado por um homem populista e oportunista. Isto não faz do Chega um partido recomendável, muito pelo contrário mas, também, não o torna um partido fascista, o que não significa ignorar que alguns dos seus elementos são racistas, e têm ligações ou simpatias neonazis, e que o perigo de uma maior radicalização do seu discurso seja real.

A acusação de que Riccardo Marchi está a procurar usar um trabalho académico para legitimar o Chega devia embaraçar os próprios subscritores do repúdio, vários deles reputados académicos, com acesso privilegiado ao espaço público e posição política conhecida. O que dizer então do uso do termo “fascista”, empregue frequentemente na nossa democracia para condicionar politicamente instituições e pessoas que, objetivamente, não o são? Este é um qualificativo muito usado no combate político, também por académicos e, que me lembre, o seu uso abusivo nunca foi alvo de um repúdio coletivo.

Do que li, não me parece que Riccardo Marchi pretenda “higienizar” o Chega, tornando-o “respeitável” por via de trabalhos académicos. Pelo contrário, situou-se precisamente fora do combate político. Foi o que os “repudiadores” não fizeram, ao procurar homogeneizar com o peso do pensamento maioritário, e assim fixar doutrina. Não deixa, pois, de ser irónico que tal corrente assente na ditadura da maioria se assuma como a exclusiva defensora das minorias. Reinterpretando uma frase icónica dos estudantes franceses no maio de 1968, mais do que dever ser proibido proibir, deveria ser proibido censurar por preconceitos ou motivações políticas, individuais ou coletivas. No meio de tudo isto, André Ventura é o único que tem razões para esfregar as mãos. As acusações de “fascista” e “racista” geram muito mais soundbytes do que as secas qualificações de “radical” e “antissistema”. É um tempo de antena quase tão bom quanto uma noite de comentário futebolístico.

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