Bloco de notas: Terrorismo ecologista (III)

05-05-2020
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1. Vou tentar explicar da forma mais simples. Transgénico, ou organismo geneticamente modificado (OGM) é uma planta (ainda não se põe, na prática, a questão dos animais - a não ser o seu uso em investigação -, mas vai-se pôr) em cujo genoma se insere um gene estranho, que vai fazer com que a planta produza uma nova proteína. Pode ser um pesticida, um insecticida, um factor de resistência à secura do solo, etc. Até pode ser, como já exemplifiquei, uma vacina. Uma consequência óbvia é que isto dispensa o uso de pesticidas e de insecticidas químicos, muitas vezes de alta toxicidade.2. Uma das coisas que mais costuma surpreender os meus alunos de biologia molecular é que parece haver uma aberração na dimensão total dos códigos genéticos. O maior é o humano, mas só se esquecermos o caso especial do trigo e do milho, mais ricos geneticamente do que o homem. Só porque, desde há milhares de anos, o homem cultiva cereais com o dobro do número inicial de cromossomas. A biotecnologia não é coisa moderna! Com isto, ninguém hoje é capaz de dizer o que era o milho primitivo.3. Há riscos? Claro que sim, mas controlados. Não posso esgotar a lista, mas vou dar alguns exemplos. Obviamente que, ao comermos cereais transgénicos ou carne de animais alimentados com eles, não estamos a incorporar no nosso genoma o gene estranho. Não estranhem eu começar por isto, é porque já li este disparate. O que estamos a ingerir é a proteína estranha. Isto poderia ser significativo no caso do cereal, mas este serve maioritariamente é para rações. No caso da carne, a dose é negligível. Toxicidade não há, em testes muito mais exigentes do que os utilizados para numerosos produtos da nossa vida corrente (as meninas verdeufémias não usam cosméticos?). Fica, não negligivelmente, a possibilidade de alergias, mas estas são por natureza individuais e não testáveis com facilidade. Claro que há outros problemas; não me acusem de ignorância, é que tenho de me cingir ao espaço de um “post”. De qualquer forma, nem tem importância, porque a maioria destes activistas é iletrada e cientificamente ignorante (excepto na sua certeza de que os cientistas, por natureza, são uns malfeitores e génios horrorosamente frankensteinianos).4. Diverte-me ver os seus cartazes de milho tóxico e milho doente. Lembra-me a velha criada preta do “Bem vindo, Mr. Chance” que dizia que ele só tinha papas de milho na cabeça. Há por aí gente que, infelizmente, parece ter é papas de milho doente ou de milho tóxico. Os seus patronos políticos e ideológicos, que não têm papas nenhumas na cabeça, não percebem isto, ou são desonestos política e intelectualmente?5. Caso especial é o do potencial risco para a biodiversidade. Estas culturas não vão dominar as outras? Estes activistas tão bem informados desconhecem que, cada vez mais, os cereais transgénicos serão estéreis, não haverá pólen fértil a esvoaçar pelos campos. A cada sementeira, obrigatoriamente novas sementes. Mesmo assim, por precaução, é obrigatório actualmente manter uma distância de segurança entre culturas normais e culturas transgénicas.6. Dizem que ainda não está provado que não haja riscos. Cientificamente, isto é uma estupidez. Não pode haver demonstração absoluta, apenas a aceitação de uma certa probabilidade significativa. Hoje, nos EUA, 90% da soja cultivada, um principal ingrediente das rações, é transgénica. Onde é que há alguma suspeita de risco? Insisto: a discussão sobre os transgénicos é irracional, ideológica e política, e principalmente dominante na Europa porque os alemães ainda não souberam digerir os seus pecados históricos.7. E há risco zero, em alguma coisa da nossa vida? Só metendo-me num buraco para não ser atropelado, não naufragar num cruzeiro, não me ir num acidente de avião, deixar-me morrer com um AVC por não tomar anti-hipertensivos, que têm efeitos secundários não negligíveis. Mesmo assim, o buraco teria de ser à prova de raio e de terramoto. E, já agora, à prova do risco mais absoluto que há, o de morrer, seja quando e como.8. Finalmente, uma pequena nota suscitada por um artigo de Vasco Graça Moura (Público, 21.8.2007) em que ele afirma que a invocação de Eufémia indica logo quem está por detrás disto. Se está a pensar no PCP, creio que se engana. Sobre isto, veja-se a argumentação sólida de Tiago Barbosa Ribeiro, no Contratempos. Também não digo que seja o BE mas, se não é, muito puxão de orelhas vai levar Miguel Portas.À margem. Um amigo criticou o título destas notas, por exagerado. Prefere ecovandalismo. O que é preciso para que seja terrorismo, que haja mortos? Creio que a diferença é outra. Vandalismo é selvajaria gratuita, sem motivação que não seja pura e simples patologia psíquica e social. Terrorismo é o mesmo acto praticado como meio consciente de afirmação ideológica ou política. Neste sentido, mesmo que o acto tenha sido “soft”, para mim é terrorismo.


1. Vou tentar explicar da forma mais simples. Transgénico, ou organismo geneticamente modificado (OGM) é uma planta (ainda não se põe, na prática, a questão dos animais - a não ser o seu uso em investigação -, mas vai-se pôr) em cujo genoma se insere um gene estranho, que vai fazer com que a planta produza uma nova proteína. Pode ser um pesticida, um insecticida, um factor de resistência à secura do solo, etc. Até pode ser, como já exemplifiquei, uma vacina. Uma consequência óbvia é que isto dispensa o uso de pesticidas e de insecticidas químicos, muitas vezes de alta toxicidade.2. Uma das coisas que mais costuma surpreender os meus alunos de biologia molecular é que parece haver uma aberração na dimensão total dos códigos genéticos. O maior é o humano, mas só se esquecermos o caso especial do trigo e do milho, mais ricos geneticamente do que o homem. Só porque, desde há milhares de anos, o homem cultiva cereais com o dobro do número inicial de cromossomas. A biotecnologia não é coisa moderna! Com isto, ninguém hoje é capaz de dizer o que era o milho primitivo.3. Há riscos? Claro que sim, mas controlados. Não posso esgotar a lista, mas vou dar alguns exemplos. Obviamente que, ao comermos cereais transgénicos ou carne de animais alimentados com eles, não estamos a incorporar no nosso genoma o gene estranho. Não estranhem eu começar por isto, é porque já li este disparate. O que estamos a ingerir é a proteína estranha. Isto poderia ser significativo no caso do cereal, mas este serve maioritariamente é para rações. No caso da carne, a dose é negligível. Toxicidade não há, em testes muito mais exigentes do que os utilizados para numerosos produtos da nossa vida corrente (as meninas verdeufémias não usam cosméticos?). Fica, não negligivelmente, a possibilidade de alergias, mas estas são por natureza individuais e não testáveis com facilidade. Claro que há outros problemas; não me acusem de ignorância, é que tenho de me cingir ao espaço de um “post”. De qualquer forma, nem tem importância, porque a maioria destes activistas é iletrada e cientificamente ignorante (excepto na sua certeza de que os cientistas, por natureza, são uns malfeitores e génios horrorosamente frankensteinianos).4. Diverte-me ver os seus cartazes de milho tóxico e milho doente. Lembra-me a velha criada preta do “Bem vindo, Mr. Chance” que dizia que ele só tinha papas de milho na cabeça. Há por aí gente que, infelizmente, parece ter é papas de milho doente ou de milho tóxico. Os seus patronos políticos e ideológicos, que não têm papas nenhumas na cabeça, não percebem isto, ou são desonestos política e intelectualmente?5. Caso especial é o do potencial risco para a biodiversidade. Estas culturas não vão dominar as outras? Estes activistas tão bem informados desconhecem que, cada vez mais, os cereais transgénicos serão estéreis, não haverá pólen fértil a esvoaçar pelos campos. A cada sementeira, obrigatoriamente novas sementes. Mesmo assim, por precaução, é obrigatório actualmente manter uma distância de segurança entre culturas normais e culturas transgénicas.6. Dizem que ainda não está provado que não haja riscos. Cientificamente, isto é uma estupidez. Não pode haver demonstração absoluta, apenas a aceitação de uma certa probabilidade significativa. Hoje, nos EUA, 90% da soja cultivada, um principal ingrediente das rações, é transgénica. Onde é que há alguma suspeita de risco? Insisto: a discussão sobre os transgénicos é irracional, ideológica e política, e principalmente dominante na Europa porque os alemães ainda não souberam digerir os seus pecados históricos.7. E há risco zero, em alguma coisa da nossa vida? Só metendo-me num buraco para não ser atropelado, não naufragar num cruzeiro, não me ir num acidente de avião, deixar-me morrer com um AVC por não tomar anti-hipertensivos, que têm efeitos secundários não negligíveis. Mesmo assim, o buraco teria de ser à prova de raio e de terramoto. E, já agora, à prova do risco mais absoluto que há, o de morrer, seja quando e como.8. Finalmente, uma pequena nota suscitada por um artigo de Vasco Graça Moura (Público, 21.8.2007) em que ele afirma que a invocação de Eufémia indica logo quem está por detrás disto. Se está a pensar no PCP, creio que se engana. Sobre isto, veja-se a argumentação sólida de Tiago Barbosa Ribeiro, no Contratempos. Também não digo que seja o BE mas, se não é, muito puxão de orelhas vai levar Miguel Portas.À margem. Um amigo criticou o título destas notas, por exagerado. Prefere ecovandalismo. O que é preciso para que seja terrorismo, que haja mortos? Creio que a diferença é outra. Vandalismo é selvajaria gratuita, sem motivação que não seja pura e simples patologia psíquica e social. Terrorismo é o mesmo acto praticado como meio consciente de afirmação ideológica ou política. Neste sentido, mesmo que o acto tenha sido “soft”, para mim é terrorismo.

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