Rui Rio sobre Tancos. "Não vejo como António Costa não tenha aqui responsabilidades"

05-05-2020
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Reportagem atualizada ao longo do dia de campanha

É o momento mais solene da campanha. Dada a “gravidade” do tema, Rui Rio reservou uma sala de hotel à última hora, chamou os jornalistas e fez uma conferência de imprensa sobre o caso Tancos, que caiu em cheio na campanha eleitoral. Para Rui Rio, é “pouco crível” que o primeiro-ministro não soubesse do encobrimento, já que o ministro da Defesa sabia, e diz que António Costa tem de responder à questão: sabia ou não sabia? Qualquer que seja a resposta, para o líder do PSD é “grave”. “Não vejo como [António Costa] não tenha aqui responsabilidades”. Mais: Rui Rio sugere ainda que foi o Governo que implicou o Presidente da República na história para “desviar” atenções do essencial.

“É pouco crível que um ministro não articule aspetos desta gravidade com um primeiro-ministro”, insistiu Rui Rio, sublinhando que nunca vai poder garantir que Costa sabia ou que não sabia, a não ser que o próprio o diga, mas qualquer que seja a resposta, tem implicações políticas. “Perante um assunto desta gravidade, o ministro não avisa o primeiro-ministro? Não articula com o primeiro-ministro? Sabemos que articulou com o então presidente da concelhia do PS do Porto, que é também deputado [Tiago Barbosa Ribeiro], e não articula com o secretário-geral do partido, que é também primeiro-ministro?”

Para Rui Rio, se a resposta a esta pergunta for afirmativa, “que é o mais provável”, então o primeiro-ministro foi “conivente com o que se passou”, isto é, foi conivente com a encenação do achamento das armas supostamente roubadas em Tancos. Se o então ministro José Azeredo Lopes não articulou com o primeiro-ministro, então “temos outro problema grave”: “temos um governo em que os ministros não informam o primeiro-ministro do que de mais relevante e grave se passa no seu ministério”. Para Rio, ambas as possibilidades são “muito más”.

“O que está na acusação pode não ser tudo verdade, mas não é seguramente tudo mentira”

Com António Costa em silêncio sobre o caso — a única coisa que disse foi “há justiça o que é da justiça” — Rui Rio vem agora cavalgar o trunfo eleitoral que lhe caiu do céu. Mas separando as águas: o julgamento de Azeredo Lopes cabe à justiça, e Rio até admite que há factos da acusação que possam não ser provados em tribunal, mas a conivência de António Costa, ou a falta de autoridade de António Costa sobre o seu ministro, é uma questão “de ordem política”.

A verdade é que Rui Rio, que tirou a tarde de campanha para ler a acusação, e mesmo assim admite que não leu as 500 páginas todas, tem de gerir o caso com pinças. Isto porque o líder do PSD tem tido um discurso muito vincado em matéria de justiça e de presunção de inocência, tendo até obrigado os seus candidatos a deputados a assinarem o compromisso de que se demitem de funções caso sejam condenados em primeira instância em qualquer caso judicial. Ou seja, até à condenação, são considerados inocentes.

Daí que Rui Rio tenha vincado que “podemos tirar algumas conclusões da acusação, mas não muitas porque é uma acusação, não uma sentença transitada em julgado: o que está escrito na acusação pode não ser tudo provado em tribunal, pode não ser tudo verdade, mas seguramente não é tudo mentira tal é a forma como a acusação está formulada”, disse.

Independentemente disso, Rio diz que através da acusação já dá para concluir que “é grave em termos de funcionamento do Estado de direito democrático, porque mostra que há dentro de serviços do Estado notórias cumplicidades para dificultar a ação da justiça, seja da PGR, seja da PJ. Isto é claro independentemente de os factos serem todos apurados ou uma parte deles”.

Rio sugere que Governo implicou Marcelo para desviar atenções

Questionado sobre um tweet do vice-presidente social-democrata David Justino, que sugere que houve uma encenação política envolvendo o Presidente da República para desviar as atenções da implicação do Governo no caso de Tancos, Rui Rio foi claro: “Tudo leva a crer que sim, que foi uma encenação para que saíssem notícias a tentar pôr uma cortina de fumo”, disse.

Tancos fora da campanha? Sim! Mas a encenação política do “Achamento" e a encenação recente envolvendo o PR, revela um padrão de comportamento político indisfarçável. Por isso deve ser discutido na campanha, até às últimas consequências! — David Justino (@jdjustino) September 26, 2019

Rui Rio, que há dois dias, em Faro, lançava um enigmático aviso sobre a possibilidade de o Partido Socialista se preparar para uma “nova encenação” para desviar atenções, vem agora confirmar que se poderia estar a referir a esta situação que envolveu o Presidente da República.

Para o líder do PSD, há ainda um problema adicional, que é o envolvimento do deputado (e candidato a deputado) Tiago Barbosa Ribeiro no caso. Segundo avançou o Observador , o ministro trocou SMS com o então deputado onde Azeredo Lopes diz que “sabia” da encenação para encontrar as armas. E esse mesmo deputado disse no Parlamento que a audição do ministro tinha sido “sólida e esclarecedora”, tendo a comissão de inquérito aprovado um relatório que vai agora em sentido contrário à decisão da Justiça, que acusou o então ministro de três crimes: prevaricação, favorecimento de funcionário, denegação de justiça e abuso de poder.

É neste sentido que Rio confirma ainda que o PSD vai convocar uma reunião extraordinária da comissão permanente da Assembleia da República. E é neste sentido que conclui que, perante tudo isto, é o “eleitorado” que tem de tirar ilações. “Se o primeiro-ministro insistir em dizer que nada sabia, ele não terá grandes consequências a tirar, o eleitorado é que terá”, disse.

Rui Rio dançou e virou o “desespero” para Costa

“Não arrisca, doutor Rui Rio?”

“Não sei, não sou ribatejano…”

“É fácil: dois para a frente, dois para trás e encaixa no sítio”.

Caravana do PSD segue animada. Rui Rio foi desafiado a dançar “o cavalinho” no Ribatejo . “Dançar como?”, perguntou. “É fácil: dois para a frente, dois para trás, e encaixa” #legislativas2019 pic.twitter.com/cSbXZ2iCGs — Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) September 26, 2019

A ensaiadora do grupo de folclore da Associação Recreativa do Porto Alto, que recebeu Rui Rio junto a um arrozal de Santo Estevão, Benavente, não resistiu a desafiar o líder do PSD para uns passos de dança. E Rui Rio, que ontem, em Évora, tinha ouvido muitas músicas mas ficado pelas palmas, lá aceitou assumir o palco. Era tempo de virar o jogo: Rio dança alegremente, enquanto Costa “perde o pé”.

Dançou, rodopiou, virou, saltou, estalinhos nos dedos, e já está. A dança chamava-se “o cavalinho” e Rui Rio cumpriu os mínimos exigidos por lei aos dançarinos amadores. Apesar de as sondagens continuarem a mostrar o PS a ganhar e o PSD (bem) atrás [na casa dos 27%], a caravana social-democrata segue animada por terras do sul e do centro, depois de uma receção colorida em Évora, terreno que é difícil para os laranjas. Na comitiva, esta quinta-feira, comentava-se entre dentes que o mesmo não se passava com a caravana socialista, que “ontem até escondeu uma arruada”.

Foi isso mesmo que Rui Rio disse aos jornalistas quando foi questionado sobre o caso Tancos, cuja acusação foi conhecida esta quinta-feira. O caso, já se percebeu, “não é grave, é gravíssimo”, mas Rui Rio só quer falar dele “mais logo” quando tiver oportunidade de ler devidamente a acusação. “É obrigatório falar disto, sim, mas tenho de olhar para a acusação como um todo”, disse, lembrando que é o primeiro a defender que não se deve fazer julgamentos na praça pública, mas quando a justiça faz o seu trabalho, então tudo bem.

Reportagem atualizada ao longo do dia de campanha

É o momento mais solene da campanha. Dada a “gravidade” do tema, Rui Rio reservou uma sala de hotel à última hora, chamou os jornalistas e fez uma conferência de imprensa sobre o caso Tancos, que caiu em cheio na campanha eleitoral. Para Rui Rio, é “pouco crível” que o primeiro-ministro não soubesse do encobrimento, já que o ministro da Defesa sabia, e diz que António Costa tem de responder à questão: sabia ou não sabia? Qualquer que seja a resposta, para o líder do PSD é “grave”. “Não vejo como [António Costa] não tenha aqui responsabilidades”. Mais: Rui Rio sugere ainda que foi o Governo que implicou o Presidente da República na história para “desviar” atenções do essencial.

“É pouco crível que um ministro não articule aspetos desta gravidade com um primeiro-ministro”, insistiu Rui Rio, sublinhando que nunca vai poder garantir que Costa sabia ou que não sabia, a não ser que o próprio o diga, mas qualquer que seja a resposta, tem implicações políticas. “Perante um assunto desta gravidade, o ministro não avisa o primeiro-ministro? Não articula com o primeiro-ministro? Sabemos que articulou com o então presidente da concelhia do PS do Porto, que é também deputado [Tiago Barbosa Ribeiro], e não articula com o secretário-geral do partido, que é também primeiro-ministro?”

Para Rui Rio, se a resposta a esta pergunta for afirmativa, “que é o mais provável”, então o primeiro-ministro foi “conivente com o que se passou”, isto é, foi conivente com a encenação do achamento das armas supostamente roubadas em Tancos. Se o então ministro José Azeredo Lopes não articulou com o primeiro-ministro, então “temos outro problema grave”: “temos um governo em que os ministros não informam o primeiro-ministro do que de mais relevante e grave se passa no seu ministério”. Para Rio, ambas as possibilidades são “muito más”.

“O que está na acusação pode não ser tudo verdade, mas não é seguramente tudo mentira”

Com António Costa em silêncio sobre o caso — a única coisa que disse foi “há justiça o que é da justiça” — Rui Rio vem agora cavalgar o trunfo eleitoral que lhe caiu do céu. Mas separando as águas: o julgamento de Azeredo Lopes cabe à justiça, e Rio até admite que há factos da acusação que possam não ser provados em tribunal, mas a conivência de António Costa, ou a falta de autoridade de António Costa sobre o seu ministro, é uma questão “de ordem política”.

A verdade é que Rui Rio, que tirou a tarde de campanha para ler a acusação, e mesmo assim admite que não leu as 500 páginas todas, tem de gerir o caso com pinças. Isto porque o líder do PSD tem tido um discurso muito vincado em matéria de justiça e de presunção de inocência, tendo até obrigado os seus candidatos a deputados a assinarem o compromisso de que se demitem de funções caso sejam condenados em primeira instância em qualquer caso judicial. Ou seja, até à condenação, são considerados inocentes.

Daí que Rui Rio tenha vincado que “podemos tirar algumas conclusões da acusação, mas não muitas porque é uma acusação, não uma sentença transitada em julgado: o que está escrito na acusação pode não ser tudo provado em tribunal, pode não ser tudo verdade, mas seguramente não é tudo mentira tal é a forma como a acusação está formulada”, disse.

Independentemente disso, Rio diz que através da acusação já dá para concluir que “é grave em termos de funcionamento do Estado de direito democrático, porque mostra que há dentro de serviços do Estado notórias cumplicidades para dificultar a ação da justiça, seja da PGR, seja da PJ. Isto é claro independentemente de os factos serem todos apurados ou uma parte deles”.

Rio sugere que Governo implicou Marcelo para desviar atenções

Questionado sobre um tweet do vice-presidente social-democrata David Justino, que sugere que houve uma encenação política envolvendo o Presidente da República para desviar as atenções da implicação do Governo no caso de Tancos, Rui Rio foi claro: “Tudo leva a crer que sim, que foi uma encenação para que saíssem notícias a tentar pôr uma cortina de fumo”, disse.

Tancos fora da campanha? Sim! Mas a encenação política do “Achamento" e a encenação recente envolvendo o PR, revela um padrão de comportamento político indisfarçável. Por isso deve ser discutido na campanha, até às últimas consequências! — David Justino (@jdjustino) September 26, 2019

Rui Rio, que há dois dias, em Faro, lançava um enigmático aviso sobre a possibilidade de o Partido Socialista se preparar para uma “nova encenação” para desviar atenções, vem agora confirmar que se poderia estar a referir a esta situação que envolveu o Presidente da República.

Para o líder do PSD, há ainda um problema adicional, que é o envolvimento do deputado (e candidato a deputado) Tiago Barbosa Ribeiro no caso. Segundo avançou o Observador , o ministro trocou SMS com o então deputado onde Azeredo Lopes diz que “sabia” da encenação para encontrar as armas. E esse mesmo deputado disse no Parlamento que a audição do ministro tinha sido “sólida e esclarecedora”, tendo a comissão de inquérito aprovado um relatório que vai agora em sentido contrário à decisão da Justiça, que acusou o então ministro de três crimes: prevaricação, favorecimento de funcionário, denegação de justiça e abuso de poder.

É neste sentido que Rio confirma ainda que o PSD vai convocar uma reunião extraordinária da comissão permanente da Assembleia da República. E é neste sentido que conclui que, perante tudo isto, é o “eleitorado” que tem de tirar ilações. “Se o primeiro-ministro insistir em dizer que nada sabia, ele não terá grandes consequências a tirar, o eleitorado é que terá”, disse.

Rui Rio dançou e virou o “desespero” para Costa

“Não arrisca, doutor Rui Rio?”

“Não sei, não sou ribatejano…”

“É fácil: dois para a frente, dois para trás e encaixa no sítio”.

Caravana do PSD segue animada. Rui Rio foi desafiado a dançar “o cavalinho” no Ribatejo . “Dançar como?”, perguntou. “É fácil: dois para a frente, dois para trás, e encaixa” #legislativas2019 pic.twitter.com/cSbXZ2iCGs — Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) September 26, 2019

A ensaiadora do grupo de folclore da Associação Recreativa do Porto Alto, que recebeu Rui Rio junto a um arrozal de Santo Estevão, Benavente, não resistiu a desafiar o líder do PSD para uns passos de dança. E Rui Rio, que ontem, em Évora, tinha ouvido muitas músicas mas ficado pelas palmas, lá aceitou assumir o palco. Era tempo de virar o jogo: Rio dança alegremente, enquanto Costa “perde o pé”.

Dançou, rodopiou, virou, saltou, estalinhos nos dedos, e já está. A dança chamava-se “o cavalinho” e Rui Rio cumpriu os mínimos exigidos por lei aos dançarinos amadores. Apesar de as sondagens continuarem a mostrar o PS a ganhar e o PSD (bem) atrás [na casa dos 27%], a caravana social-democrata segue animada por terras do sul e do centro, depois de uma receção colorida em Évora, terreno que é difícil para os laranjas. Na comitiva, esta quinta-feira, comentava-se entre dentes que o mesmo não se passava com a caravana socialista, que “ontem até escondeu uma arruada”.

Foi isso mesmo que Rui Rio disse aos jornalistas quando foi questionado sobre o caso Tancos, cuja acusação foi conhecida esta quinta-feira. O caso, já se percebeu, “não é grave, é gravíssimo”, mas Rui Rio só quer falar dele “mais logo” quando tiver oportunidade de ler devidamente a acusação. “É obrigatório falar disto, sim, mas tenho de olhar para a acusação como um todo”, disse, lembrando que é o primeiro a defender que não se deve fazer julgamentos na praça pública, mas quando a justiça faz o seu trabalho, então tudo bem.

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