Melo ‘à europeias’ volta para malhar na esquerda, jornais e comentadores

02-11-2019
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De bandeira azul-clara na mão, José Marques Freitas esperava esta tarde, em Braga, pelo início de uma arruada que já ia atrasada. E, enquanto esperava, apresentou-se ao Expresso como um reformado a quem caem todos os meses 350 euros de pensão na conta, mostrando-se indignado com os impostos que paga. Poderia ser só um vimaranense que se revê nas críticas que Cristas faz diariamente à “mais alta carga fiscal de sempre”, mas afinal é mais do que isso: Marques Freitas, 65 anos, “já era do CDS antes de ele existir”. Afinal, ajudou a legalizar o partido em 1974, recolhendo cerca de “mil e quinhentas assinaturas” ao lado do padre da terra. Alheio a isso não terá sido o facto de ser então vizinho de Freitas do Amaral, um dos fundadores do partido. Está “otimista, como sempre”, nos resultados de outubro. Este eleitor já não precisa de ser convencido.

É inevitável repetir o nome de Nuno Melo, que assim que entrou na sala que o esperava para discursar, em Famalicão, começou a disparar em todas as direções e fez um dos mais dramáticos apelos ao voto da campanha. Esquerda, comentadores, jornais, partidos novos: ninguém escapou a um Melo que voltou ao estilo das europeias - e que pela primeira vez admitiu que é preciso estar "atento" ao que dizem as sondagens.

Esquerda, comentadores, jornalistas, partidos novos - a lista dos alvos de Nuno Melo no discurso com que entrou na campanha do CDS, esta terça-feira, é extensa e variada. De Pedro Santana Lopes aos moderadores dos debates em que participou nas europeias, ninguém escapou aos ataques de um Nuno Melo que chegou embalado e falou “com o coração”, tornando-se rapidamente o protagonista da noite. Tudo por um objetivo: um apelo ao voto puro e duro, com uma alta dose de dramatização à mistura.

O eurodeputado mantinha-se discreto desde a derrota nas europeias, em maio, mas pareceu ter aproveitado esse tempo para recarregar baterias. Apareceu em Famalicão, sua terra natal, com energia para atribuir aos mais diversos fatores a tendência de perda que as sondagens apontam ao CDS. E para fazer um discurso claramente de direita, a lembrar os que pronunciou durante a campanha das europeias (com lembranças do PREC e das expropriações à mistura).

A dramatização do discurso atingiu assim um claro pico: neste arranque de campanha, Cristas andou por Setúbal e Braga, dois distritos em que teme perder deputados (incluindo o líder parlamentar, Nuno Magalhães), a pedir votos, a tentar convencer indecisos, a mostrar que não deitou a toalha ao chão. Chamou reforços: Paulo Portas, soube-se esta terça-feira, será o mandatário da campanha em Aveiro; Nuno Melo, retirado de jogo desde as europeias, voltou com um discurso arrasador.

Esquerda quer "destruir o nosso modo de vida"

Em primeiro lugar, Melo quis malhar na esquerda, que nas europeias chegou a dizer querer ultrapassar em número de votos - fasquia que falhou. Porque o que está em causa nestas eleições é “saber se PSD e CDS juntos conseguem ter mais um deputado que seja do que todos os outros à esquerda”, dedicou-se a atacar, sobretudo Bloco de Esquerda e PCP. Foi bem atrás: de volta ao PREC e a 1975, falou de partidos que “lutavam pela instalação de uma ditadura” e “ocupavam herdades”; hoje, “preocupam-se em ensinar aos jovens a facilidade do cultivo de drogas recreativas” e em “impor uma doutrina de género”.

Em conclusão, Melo disparou assim: “Esta gente e esta esquerda existe para destruir tudo aquilo em que acreditamos”. Não seriam os únicos partidos sob ataque. Os votos nos partidos novos, prosseguiu, desvalorizando os “discursos de novidade e de refundação” feitos por Aliança e Chega!, foram os culpados por Pedro Mota Soares (número dois na lista das europeias) não ter chegado a Bruxelas. Um aviso relevante para outubro: “Os votos nos novos só fragmentam o espaço político. Nenhum dos dispersos beneficiou fosse quem fosse”.

Mas se é costume ouvir Melo ao ataque à esquerda, a verdade é que desta vez o eurodeputado alargou o leque de alvos. “Alguém dizia por aí que há uma crise na direita”, recordou, depois de há meses Marcelo Rebelo de Sousa ter avisado para isso mesmo. Mas o que Melo deteta em Portugal é mesmo “uma grande falta de imparcialidade na política”. Porquê? Porque toda a opinião é favorável a António Costa, “condicionando os resultados”; porque a imprensa não questiona o primeiro-ministro sobre os casos judiciais que envolvem seus nomeados, “privilegia e toma partido”; porque os comentadores que analisam os debates são “todos de esquerda”.

Diretos ao que interessa

Se há estratégia que ninguém tenta sequer ensaiar é desmentir o momento possível que o partido vive, e que pode piorar após o dia 6 de outubro - a aposta é mais em dramatizar e menos em desvalorizar, e talvez por isso se ouça menos o habitual discurso sobre as sondagens “valerem o que valem”. “Temos de reconhecer que hoje as sondagens acertam um bocadinho melhor”, reconheceu Melo, recordando os tempos em que, candidato a eurodeputado pela primeira vez, era confrontado com esses números aos quais afinal “devemos estar atentos”: “Sei o que era ter de sorrir, ter de me animar”.

Por isso, e “com a liberdade de quem não é candidato e a tranquilidade de quem foi eleito”, Melo passou diretamente ao apelo ao voto, tão cru que soou ao que normalmente se verifica na reta final da campanha e não logo ao início. “Quem se sinta de centro-direita, quem não quer que os socialistas governem, tem mesmo de escolher o CDS. Não é irrelevante escolher entre PSD e CDS. E é importante que quem votou no CDS não deixe de votar no CDS”. Ou seja, é importante mobilizar o eleitorado habitual e obrigá-lo a sair de casa no dia 6 de outubro, assim como é importante não deixar o voto útil fugir para o PSD. Para evitar que o mau resultado previsto se confirme.

Se Melo conseguiu desde logo levantar a sala, Telmo Correia - que concorre como cabeça de lista a Braga, prevendo-se que apenas o seu lugar esteja seguro - apostou nalgumas fórmulas semelhantes, embora com menos “coração”, como disse, do que Melo. Atacou “comentadores e cronistas” por “tanta opinião negativa”. Criticou “aquelas criaturas” - leia-se BE e PCP - pela incoerência nas críticas ao Governo. Zangou-se com a “condescendência, no mínimo, da comunicação social” a lidar com a esquerda. E rematou com o puro apelo ao voto no único partido “assumidamente de direita”: “Num momento desta exigência, temos de lutar pelo resultado, talvez com mais empenhamento do que qualquer um dos que tivemos antes. Não desperdicem votos num momento destes. Não fiquem em casa”.

A cargo de Cristas ficou o discurso mais programático, e em tom mais tranquilo, da noite. Melo e Correia já tinham colocado as cartas na mesa e explicado o que estava em causa; à líder coube relembrar as principais medidas do programa e, sobretudo, apelar à "ambição" dos portugueses para estimular o crescimento do país. Com uma garantia: é preciso combater a lembrança ainda viva da troika, um dos principais problemas com que se debate na campanha de rua. Estas eleições são "novas e críticas". Não se pode abrir mão de nenhum voto, sobretudo dos indecisos: "Temos de os conquistar um a um".

De bandeira azul-clara na mão, José Marques Freitas esperava esta tarde, em Braga, pelo início de uma arruada que já ia atrasada. E, enquanto esperava, apresentou-se ao Expresso como um reformado a quem caem todos os meses 350 euros de pensão na conta, mostrando-se indignado com os impostos que paga. Poderia ser só um vimaranense que se revê nas críticas que Cristas faz diariamente à “mais alta carga fiscal de sempre”, mas afinal é mais do que isso: Marques Freitas, 65 anos, “já era do CDS antes de ele existir”. Afinal, ajudou a legalizar o partido em 1974, recolhendo cerca de “mil e quinhentas assinaturas” ao lado do padre da terra. Alheio a isso não terá sido o facto de ser então vizinho de Freitas do Amaral, um dos fundadores do partido. Está “otimista, como sempre”, nos resultados de outubro. Este eleitor já não precisa de ser convencido.

É inevitável repetir o nome de Nuno Melo, que assim que entrou na sala que o esperava para discursar, em Famalicão, começou a disparar em todas as direções e fez um dos mais dramáticos apelos ao voto da campanha. Esquerda, comentadores, jornais, partidos novos: ninguém escapou a um Melo que voltou ao estilo das europeias - e que pela primeira vez admitiu que é preciso estar "atento" ao que dizem as sondagens.

Esquerda, comentadores, jornalistas, partidos novos - a lista dos alvos de Nuno Melo no discurso com que entrou na campanha do CDS, esta terça-feira, é extensa e variada. De Pedro Santana Lopes aos moderadores dos debates em que participou nas europeias, ninguém escapou aos ataques de um Nuno Melo que chegou embalado e falou “com o coração”, tornando-se rapidamente o protagonista da noite. Tudo por um objetivo: um apelo ao voto puro e duro, com uma alta dose de dramatização à mistura.

O eurodeputado mantinha-se discreto desde a derrota nas europeias, em maio, mas pareceu ter aproveitado esse tempo para recarregar baterias. Apareceu em Famalicão, sua terra natal, com energia para atribuir aos mais diversos fatores a tendência de perda que as sondagens apontam ao CDS. E para fazer um discurso claramente de direita, a lembrar os que pronunciou durante a campanha das europeias (com lembranças do PREC e das expropriações à mistura).

A dramatização do discurso atingiu assim um claro pico: neste arranque de campanha, Cristas andou por Setúbal e Braga, dois distritos em que teme perder deputados (incluindo o líder parlamentar, Nuno Magalhães), a pedir votos, a tentar convencer indecisos, a mostrar que não deitou a toalha ao chão. Chamou reforços: Paulo Portas, soube-se esta terça-feira, será o mandatário da campanha em Aveiro; Nuno Melo, retirado de jogo desde as europeias, voltou com um discurso arrasador.

Esquerda quer "destruir o nosso modo de vida"

Em primeiro lugar, Melo quis malhar na esquerda, que nas europeias chegou a dizer querer ultrapassar em número de votos - fasquia que falhou. Porque o que está em causa nestas eleições é “saber se PSD e CDS juntos conseguem ter mais um deputado que seja do que todos os outros à esquerda”, dedicou-se a atacar, sobretudo Bloco de Esquerda e PCP. Foi bem atrás: de volta ao PREC e a 1975, falou de partidos que “lutavam pela instalação de uma ditadura” e “ocupavam herdades”; hoje, “preocupam-se em ensinar aos jovens a facilidade do cultivo de drogas recreativas” e em “impor uma doutrina de género”.

Em conclusão, Melo disparou assim: “Esta gente e esta esquerda existe para destruir tudo aquilo em que acreditamos”. Não seriam os únicos partidos sob ataque. Os votos nos partidos novos, prosseguiu, desvalorizando os “discursos de novidade e de refundação” feitos por Aliança e Chega!, foram os culpados por Pedro Mota Soares (número dois na lista das europeias) não ter chegado a Bruxelas. Um aviso relevante para outubro: “Os votos nos novos só fragmentam o espaço político. Nenhum dos dispersos beneficiou fosse quem fosse”.

Mas se é costume ouvir Melo ao ataque à esquerda, a verdade é que desta vez o eurodeputado alargou o leque de alvos. “Alguém dizia por aí que há uma crise na direita”, recordou, depois de há meses Marcelo Rebelo de Sousa ter avisado para isso mesmo. Mas o que Melo deteta em Portugal é mesmo “uma grande falta de imparcialidade na política”. Porquê? Porque toda a opinião é favorável a António Costa, “condicionando os resultados”; porque a imprensa não questiona o primeiro-ministro sobre os casos judiciais que envolvem seus nomeados, “privilegia e toma partido”; porque os comentadores que analisam os debates são “todos de esquerda”.

Diretos ao que interessa

Se há estratégia que ninguém tenta sequer ensaiar é desmentir o momento possível que o partido vive, e que pode piorar após o dia 6 de outubro - a aposta é mais em dramatizar e menos em desvalorizar, e talvez por isso se ouça menos o habitual discurso sobre as sondagens “valerem o que valem”. “Temos de reconhecer que hoje as sondagens acertam um bocadinho melhor”, reconheceu Melo, recordando os tempos em que, candidato a eurodeputado pela primeira vez, era confrontado com esses números aos quais afinal “devemos estar atentos”: “Sei o que era ter de sorrir, ter de me animar”.

Por isso, e “com a liberdade de quem não é candidato e a tranquilidade de quem foi eleito”, Melo passou diretamente ao apelo ao voto, tão cru que soou ao que normalmente se verifica na reta final da campanha e não logo ao início. “Quem se sinta de centro-direita, quem não quer que os socialistas governem, tem mesmo de escolher o CDS. Não é irrelevante escolher entre PSD e CDS. E é importante que quem votou no CDS não deixe de votar no CDS”. Ou seja, é importante mobilizar o eleitorado habitual e obrigá-lo a sair de casa no dia 6 de outubro, assim como é importante não deixar o voto útil fugir para o PSD. Para evitar que o mau resultado previsto se confirme.

Se Melo conseguiu desde logo levantar a sala, Telmo Correia - que concorre como cabeça de lista a Braga, prevendo-se que apenas o seu lugar esteja seguro - apostou nalgumas fórmulas semelhantes, embora com menos “coração”, como disse, do que Melo. Atacou “comentadores e cronistas” por “tanta opinião negativa”. Criticou “aquelas criaturas” - leia-se BE e PCP - pela incoerência nas críticas ao Governo. Zangou-se com a “condescendência, no mínimo, da comunicação social” a lidar com a esquerda. E rematou com o puro apelo ao voto no único partido “assumidamente de direita”: “Num momento desta exigência, temos de lutar pelo resultado, talvez com mais empenhamento do que qualquer um dos que tivemos antes. Não desperdicem votos num momento destes. Não fiquem em casa”.

A cargo de Cristas ficou o discurso mais programático, e em tom mais tranquilo, da noite. Melo e Correia já tinham colocado as cartas na mesa e explicado o que estava em causa; à líder coube relembrar as principais medidas do programa e, sobretudo, apelar à "ambição" dos portugueses para estimular o crescimento do país. Com uma garantia: é preciso combater a lembrança ainda viva da troika, um dos principais problemas com que se debate na campanha de rua. Estas eleições são "novas e críticas". Não se pode abrir mão de nenhum voto, sobretudo dos indecisos: "Temos de os conquistar um a um".

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