Memórias das Pedras Talhas

24-06-2020
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Arqueologia nos tempos do IPPC

Os anos 80, na minha opinião mais
que suspeita, foram um período determinante no enorme salto qualitativo que a
Arqueologia portuguesa deu no final do século passado. É óbvio que as
transformações então conseguidas eram também elas resultantes, apesar do
atraso, das novas condições sociais e políticas proporcionadas pelo 25 de Abril
de 1974, pesem embora as grandes dificuldades económicas que então, tanto ou
mais do que hoje, condicionavam a actuação dos serviços públicos. Com
efeito e apesar das movimentações promovidas e organizadas por alguns sectores
logo nos dias imediatos à Revolução, as verdadeiras mudanças na Arqueologia só
começariam a concretizar-se após a criação do Instituto Português do Património
Cultural (IPPC) em 1980, com uma Direcção de Serviços de Arqueologia articulada
com três Serviços Regionais localizados em Braga, Coimbra e Évora, afinal a
grande inovação reclamada desde o século XIX por Estácio da Veiga. (Está por
fazer a história da “arqueologia portuguesa na Revolução dos Cravos”, ainda que
esteja prometido um livro sobre esse tema por um dos seus mais destacados
protagonistas, Jorge Paulino Ferreira, professor no Instituto Superior Técnico
mas há muito afastado das arqueologias, e que deverá ser deveras interessante
pela amostra do que nos revelou no colóquio organizado pelo MNA em 9 de Maio,
do ano passado  para comemorar o 40º
aniversário da Revolução dos Cravos: ARQUEOLOGIA,
PATRIMÓNIO E MUSEUS NOS TEMPOS DA MUDANÇA).

Quase todos tínhamos então
consciência da mudança que estávamos a protagonizar e daí também alguma
necessidade de comunicação com o público e os restantes sectores da Cultura.
Assim, no final de 1986 (era Presidente do IPPC o malogrado João Palma
Ferreira, um intelectual, tradutor do Ulysses de Joyce, mas que ficara conhecido
do grande público por uma controversa passagem pela Direcção da RTP) o
Departamento de Arqueologia propôs-se e a sugestão foi aceite, montar uma exposição
na Galeria Almada Negreiros, um espaço cultural existente no rés-do-chão da
Secretaria de Estado da Cultura, então localizada na Avenida da República ao lado
do conhecido restaurante Galeto e normalmente monopolizado pelas “artes
plásticas” contemporâneas. Num tempo quase record foi possível conceber e
montar uma exposição que procurava mostrar os resultados conseguidos por este
sector e sobretudo justificar a pertinência dos Serviços Regionais de
Arqueologia, então os únicos serviços descentralizados da área da cultura, o
que levantava dúvidas e críticas noutras áreas então menos dinâmicas. E de
facto, a exposição, embora contando com contribuições significativas do próprio
Departamento, nomeadamente da nova área da Arqueologia Subaquática e do Serviço
Regional do Centro dirigido pelo José Beleza Moreira (recordo a apresentação de
um grande sarcófago medieval em pedra de Ançã, escavado num grande cipo romano,
proveniente de uma escavação de emergência daquele serviço e cujo transporte
levantou dificuldades logísticas significativas), estruturou-se em torno de
duas exposições que apresentavam os resultados de acções dos próprios serviços
Regionais: “Uma Sepultura Romana de Bracara Augusta”, organizada pelo Serviço
do Norte, em colaboração com a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho,
serviço que era então dirigido pelo Francisco Sande Lemos; e “O Depósito Votivo
da II Idade do Ferro de Garvão” uma exposição organizada pelo Serviço Regional
de Arqueologia do Sul, dirigido pelo Dr. Caetano Melo Beirão e que contava com
a colaboração do Museu de Arqueologia de Setúbal.

A exposição “5 anos de
arqueologia do IPPC”, realizada há quase 30 anos, contava com uma pequena
brochura de apoio cujo download pode
aqui ser feito.

https://www.academia.edu/attachments/36755292/download_file?st=MTQyNDg4MzM3OSw4My4yNDAuMTQ0LjQsMTg0OTM5&s=work_strip

Aproveito também para divulgar algumas fotos inéditas de 20 de
Novembro de 1986 que registam o acto da inauguração, muito
concorrida, nomeadamente pelos colegas da SEC que trabalhavam nos gabinetes dos
restantes andares do edifício da Avenida da República.

Parte da equipa de montagem do Departamento de Arqueologia do IPPC. O malogrado Carlos Jorge Ferreira, a Susana Correia (actualmente na DRCALEN) e a Ana Isabel Santos (hoje no MNA)

Na inauguração. Reconhece-se em primeiro plano o Guilherme Cardoso falando com o Fernando Lourenço e mais a trás o António Cavaleiro paixão, falecido o ano passado.

 Em primeiro plano de novo o Carlos Jorge, o Carlos Fabião e o José Beleza Moreira, então director do Serviço Regional de Arqueologia do Centro

António Carlos Silva conversando com o pré-historiador americano Anthony Marks e com Fernando real. Mais atrás reconhece-se o falecido (2013) jornalista José Roby Amorim, que nas páginas do Século e de outros órgãos de comunicação tratava com regularidade de assuntos de património e arqueologia.

Arqueologia nos tempos do IPPC

Os anos 80, na minha opinião mais
que suspeita, foram um período determinante no enorme salto qualitativo que a
Arqueologia portuguesa deu no final do século passado. É óbvio que as
transformações então conseguidas eram também elas resultantes, apesar do
atraso, das novas condições sociais e políticas proporcionadas pelo 25 de Abril
de 1974, pesem embora as grandes dificuldades económicas que então, tanto ou
mais do que hoje, condicionavam a actuação dos serviços públicos. Com
efeito e apesar das movimentações promovidas e organizadas por alguns sectores
logo nos dias imediatos à Revolução, as verdadeiras mudanças na Arqueologia só
começariam a concretizar-se após a criação do Instituto Português do Património
Cultural (IPPC) em 1980, com uma Direcção de Serviços de Arqueologia articulada
com três Serviços Regionais localizados em Braga, Coimbra e Évora, afinal a
grande inovação reclamada desde o século XIX por Estácio da Veiga. (Está por
fazer a história da “arqueologia portuguesa na Revolução dos Cravos”, ainda que
esteja prometido um livro sobre esse tema por um dos seus mais destacados
protagonistas, Jorge Paulino Ferreira, professor no Instituto Superior Técnico
mas há muito afastado das arqueologias, e que deverá ser deveras interessante
pela amostra do que nos revelou no colóquio organizado pelo MNA em 9 de Maio,
do ano passado  para comemorar o 40º
aniversário da Revolução dos Cravos: ARQUEOLOGIA,
PATRIMÓNIO E MUSEUS NOS TEMPOS DA MUDANÇA).

Quase todos tínhamos então
consciência da mudança que estávamos a protagonizar e daí também alguma
necessidade de comunicação com o público e os restantes sectores da Cultura.
Assim, no final de 1986 (era Presidente do IPPC o malogrado João Palma
Ferreira, um intelectual, tradutor do Ulysses de Joyce, mas que ficara conhecido
do grande público por uma controversa passagem pela Direcção da RTP) o
Departamento de Arqueologia propôs-se e a sugestão foi aceite, montar uma exposição
na Galeria Almada Negreiros, um espaço cultural existente no rés-do-chão da
Secretaria de Estado da Cultura, então localizada na Avenida da República ao lado
do conhecido restaurante Galeto e normalmente monopolizado pelas “artes
plásticas” contemporâneas. Num tempo quase record foi possível conceber e
montar uma exposição que procurava mostrar os resultados conseguidos por este
sector e sobretudo justificar a pertinência dos Serviços Regionais de
Arqueologia, então os únicos serviços descentralizados da área da cultura, o
que levantava dúvidas e críticas noutras áreas então menos dinâmicas. E de
facto, a exposição, embora contando com contribuições significativas do próprio
Departamento, nomeadamente da nova área da Arqueologia Subaquática e do Serviço
Regional do Centro dirigido pelo José Beleza Moreira (recordo a apresentação de
um grande sarcófago medieval em pedra de Ançã, escavado num grande cipo romano,
proveniente de uma escavação de emergência daquele serviço e cujo transporte
levantou dificuldades logísticas significativas), estruturou-se em torno de
duas exposições que apresentavam os resultados de acções dos próprios serviços
Regionais: “Uma Sepultura Romana de Bracara Augusta”, organizada pelo Serviço
do Norte, em colaboração com a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho,
serviço que era então dirigido pelo Francisco Sande Lemos; e “O Depósito Votivo
da II Idade do Ferro de Garvão” uma exposição organizada pelo Serviço Regional
de Arqueologia do Sul, dirigido pelo Dr. Caetano Melo Beirão e que contava com
a colaboração do Museu de Arqueologia de Setúbal.

A exposição “5 anos de
arqueologia do IPPC”, realizada há quase 30 anos, contava com uma pequena
brochura de apoio cujo download pode
aqui ser feito.

https://www.academia.edu/attachments/36755292/download_file?st=MTQyNDg4MzM3OSw4My4yNDAuMTQ0LjQsMTg0OTM5&s=work_strip

Aproveito também para divulgar algumas fotos inéditas de 20 de
Novembro de 1986 que registam o acto da inauguração, muito
concorrida, nomeadamente pelos colegas da SEC que trabalhavam nos gabinetes dos
restantes andares do edifício da Avenida da República.

Parte da equipa de montagem do Departamento de Arqueologia do IPPC. O malogrado Carlos Jorge Ferreira, a Susana Correia (actualmente na DRCALEN) e a Ana Isabel Santos (hoje no MNA)

Na inauguração. Reconhece-se em primeiro plano o Guilherme Cardoso falando com o Fernando Lourenço e mais a trás o António Cavaleiro paixão, falecido o ano passado.

 Em primeiro plano de novo o Carlos Jorge, o Carlos Fabião e o José Beleza Moreira, então director do Serviço Regional de Arqueologia do Centro

António Carlos Silva conversando com o pré-historiador americano Anthony Marks e com Fernando real. Mais atrás reconhece-se o falecido (2013) jornalista José Roby Amorim, que nas páginas do Século e de outros órgãos de comunicação tratava com regularidade de assuntos de património e arqueologia.

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