Colina Sagrada

20-06-2020
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A dupla vida da Capital Europeia da Cultura

Numa altura em que se ouvem publicamente os primeiros sinais de insatisfação ao pouco envolvimento e à falta de informação da comunidade sobre a componente cultural da CEC 2012, parece-me importante olhar para estes últimos três anos e reflectir sobre a forma como o processo foi evoluindo.

E olhando para trás, algo torna-se por demais evidente: a CEC nasceu em Novembro de 2006, por decisão do Conselho de Ministros, morreu a Novembro de 2007 com a entrega da candidatura na União Europeia e ressuscitou, não ao terceiro dia, mas 18 meses depois, com o anúncio oficial de Guimarães como Capital Europeia da Cultura 2012.

Mais do que tentar apurar responsabilidades sobre a letargia que contaminou a evolução da CEC e que se manifesta agora nos sinais de impaciência e insatisfação evidenciados no debate de há alguns dias na Sociedade Martins Sarmento, importa perceber que muito do trabalho que se iniciou em Julho de 2009, podia e devia estar já feito.

Disse Eduardo Lourenço, no Salão Nobre da SMS, que "Guimarães tem um tempo muito particular". Passe o abuso do aproveitamento de tais palavras, atrevo-me a dizer que, entre Dezembro de 2007 e Maio de 2009, o tempo parou em Guimarães. O Grupo Missão, que elaborou um ambicioso Documento de Candidatura, depois de vários meses de preparação e contacto com os mais variados agentes da cidade, retirou-se de cena. E com a sua extinção, o entusiasmo até aí gerado não foi devidamente potenciado. Tarefas importantes que dariam visibilidade e poderiam ajudar a manter o envolvimento dos cidadãos não foram realizadas. A publicação do Documento de Candidatura, por exemplo. A criação do logótipo. A implementação da marca "Guimarães 2012" nos eventos referência da cidade. O aproveitamento do Serviço Educativo do CCVF e a sua ligação já estabelecida com as escolas. Ao contrário do que seria expectável, na componente cultural da CEC investiu-se no sigilo e no silêncio.

Provavelmente existirão razões formais, estratégicas ou políticas para este comportamento. Como mencionei anteriormente, mais importante do que apurar responsabilidades, é contextualizar a evolução do processo e perceber que a origem da insatisfação não incide propriamente sobre o que não se fez nestes últimos 6 meses, mas sim sobre o que não se fez nos últimos 2 anos.

Partindo daqui, duma consciência colectiva de que podia ter sido feito mais por todos os actores até agora envolvidos no processo, parece-me mais fácil olharmos para este novo início com a Fundação Cidade de Guimarães e concentrarmo-nos no essencial: refocar o projecto na comunidade e aproveitar todos os recursos e pessoas disponíveis, para que o objectivo ambicioso das linhas orientadoras da Capital Europeia da Cultura, de transformar Guimarães, esteja mais próximo de se tornar realidade.

A dupla vida da Capital Europeia da Cultura

Numa altura em que se ouvem publicamente os primeiros sinais de insatisfação ao pouco envolvimento e à falta de informação da comunidade sobre a componente cultural da CEC 2012, parece-me importante olhar para estes últimos três anos e reflectir sobre a forma como o processo foi evoluindo.

E olhando para trás, algo torna-se por demais evidente: a CEC nasceu em Novembro de 2006, por decisão do Conselho de Ministros, morreu a Novembro de 2007 com a entrega da candidatura na União Europeia e ressuscitou, não ao terceiro dia, mas 18 meses depois, com o anúncio oficial de Guimarães como Capital Europeia da Cultura 2012.

Mais do que tentar apurar responsabilidades sobre a letargia que contaminou a evolução da CEC e que se manifesta agora nos sinais de impaciência e insatisfação evidenciados no debate de há alguns dias na Sociedade Martins Sarmento, importa perceber que muito do trabalho que se iniciou em Julho de 2009, podia e devia estar já feito.

Disse Eduardo Lourenço, no Salão Nobre da SMS, que "Guimarães tem um tempo muito particular". Passe o abuso do aproveitamento de tais palavras, atrevo-me a dizer que, entre Dezembro de 2007 e Maio de 2009, o tempo parou em Guimarães. O Grupo Missão, que elaborou um ambicioso Documento de Candidatura, depois de vários meses de preparação e contacto com os mais variados agentes da cidade, retirou-se de cena. E com a sua extinção, o entusiasmo até aí gerado não foi devidamente potenciado. Tarefas importantes que dariam visibilidade e poderiam ajudar a manter o envolvimento dos cidadãos não foram realizadas. A publicação do Documento de Candidatura, por exemplo. A criação do logótipo. A implementação da marca "Guimarães 2012" nos eventos referência da cidade. O aproveitamento do Serviço Educativo do CCVF e a sua ligação já estabelecida com as escolas. Ao contrário do que seria expectável, na componente cultural da CEC investiu-se no sigilo e no silêncio.

Provavelmente existirão razões formais, estratégicas ou políticas para este comportamento. Como mencionei anteriormente, mais importante do que apurar responsabilidades, é contextualizar a evolução do processo e perceber que a origem da insatisfação não incide propriamente sobre o que não se fez nestes últimos 6 meses, mas sim sobre o que não se fez nos últimos 2 anos.

Partindo daqui, duma consciência colectiva de que podia ter sido feito mais por todos os actores até agora envolvidos no processo, parece-me mais fácil olharmos para este novo início com a Fundação Cidade de Guimarães e concentrarmo-nos no essencial: refocar o projecto na comunidade e aproveitar todos os recursos e pessoas disponíveis, para que o objectivo ambicioso das linhas orientadoras da Capital Europeia da Cultura, de transformar Guimarães, esteja mais próximo de se tornar realidade.

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