Luís Montenegro. “Como líder do PSD, também votarei a favor de muitas propostas do governo no orçamento”

11-05-2020
marcar artigo

Quando Luís Montenegro chegou à redação do Observador na quarta-feira, 11, para gravar a entrevista, metade das televisões tinham Rui Rio nos ecrãs, no programa de Cristina Ferreira, e a outra metade mostrava a imagem de Marta Temido a anunciar uma ‘bazuca’ para o Serviço Nacional de Saúde: mais 800 milhões de euros. O candidato à liderança do PSD esteve uns minutos a informar-se, via smartphone, sobre o que estava a ministra da Saúde a dizer. Quando entrou para o estúdio, a conferência de imprensa já esmorecia mas Rio continuava frente a uma árvore de Natal na “casa da Cristina”.

No programa “Sob Escuta” da Rádio Observador, Luís Montenegro admitiu que se for líder também vai votar a favor de propostas do PS no orçamento – embora mantenha que é de rejeitar a versão final do documento -, desvalorizou o facto dos deputados da Madeira poderem viabilizar o OE, disse ser convictamente contra a Regionalização neste momento, afastou o ‘Chega’ de uma grande coligação de Governo (talvez daqui a 4 anos seja diferente) e disse ainda — na sequência das suspeitas do Ministério Público sobre o seu apoiante Almeida Henriques — que não vai penalizar um autarca em funções só porque é acusado. Confessou que ele e alguns amigos pagam a candidatura, admitiu voltar a privatizar a TAP se for o melhor para o país e diz que, se perder as diretas no PSD, será apenas advogado. Surpresa: defende Rio na questão da “coligação negativa” do IVA. Eis a entrevista de Luís Montenegro, aqui na íntegra, com mais 10 minutos do que a versão transmitida na Rádio Observador.

[Veja aqui o melhor da entrevista a Luís Montenegro:]

O Governo acabou de anunciar uma das novidades do próximo Orçamento do Estado e que tem a ver com um reforço de 800 milhões para a saúde, redução da dívida, contratação de mais de oito mil profissionais. Como é que um candidato à liderança do PSD olha para este anúncio: é uma boa notícia, como prometeu o primeiro-ministro?

Essa notícia é sobretudo uma confissão de falhanço, visto que este governo e este primeiro-ministro exercem funções há mais de quatro anos e parece que só agora despertaram para a necessidade de olhar de outra forma para a prestação de cuidados de saúde em Portugal.

Havia condições para o fazer antes?

Havia condições seguramente para fazer muito mais e muito melhor e para distribuir o investimento público de uma forma mais equilibrada e justa. Não conheço o desenho final deste programa, mas já percebi que grande parte deste reforço financeiro é absorvido para pagamento de dívidas em atraso. Não estou a dizer que não seja necessário, que é, mas é mais um sintoma daquilo que foram os últimos quatro anos de gestão do sistema de saúde.

E foram o quê?

Foi o retomar de acumulação de dívidas e, portanto, de asfixia de todos os operadores e fornecedores do Estado que se refletiu muitas vezes em deficiente prestação de cuidados de saúde aos cidadãos. Por outro lado, a outra vertente é a contratação de pessoal, com o governo já a anunciar um plano para 2021. É sempre este hábito socialista de projetar muito para a frente a execução dos planos, mas isto também significa que todas as promessas que tinham sido feitas ao longo dos últimos tempos não foram cumpridas. Quantas vezes já ouvimos o primeiro-ministro dizer no Parlamento que tinha contratado mais médicos, que ia abrir concurso para contratar mais enfermeiros, mais auxiliares? A verdade é que parece que tudo estava por fazer, porque tudo vai começar de novo no Ministério da Saúde.

Portanto, é uma confissão de falhanço do Governo?

Sim. Creio que é muito importante que o governo tenha, de uma vez, assumido este falhanço e assumido que os meios que é preciso dar ao sistema de saúde devem ser reforçados. Mas há um problema de base que esta solução não vem resolver: este governo é marcadamente complexado do ponto de vista ideológico. E está, fruto das amarras que juntam o PS, PCP e Bloco de Esquerda, muito enfeudado na prestação de cuidados de saúde por serviços estatais, que creio que são o principal do sistema.

O Estado não deve prestar cuidados de saúde?

Não ponho isso em causa. O Estado tem obrigação de garantir o acesso aos cuidados de saúde e de ter uma rede de oferta de cuidados de saúde aos mais variados níveis. Mas isso está longe de satisfazer as necessidades da população, em particular da mais carenciada. O que era bom que este governo fizesse era contar com a iniciativa privada, com as empresas privadas de saúde e com a iniciativa do setor social, com as Instituições Particulares de Solidariedade Social que prestam serviço público de saúde, conferindo acesso aos cuidados de saúde que muitas vezes o Estado é incapaz de garantir. Que pudesse contratualizar com estes setores a forma de todos os cidadãos – e não só aqueles que têm mais recursos financeiros – poderem também aceder a essa capacidade de resposta que está instalada um pouco por todo o território nacional.

Fala em complexo ideológico. É a favor das Parcerias Público Privadas (PPP) na Saúde?

Se elas refletirem maior qualidade, maior eficiência, menor custo para o Estado e um acesso generalizado aos cidadãos, não tenho nenhum problema em lidar com as PPP no âmbito da Saúde. E há bons exemplos: aquilo que aconteceu nos últimos anos em Braga, é só ir lá e falar com as pessoas. Eu já visitei, aliás, já tive até a necessidade de uma vez ser assistido no Hospital de Braga, e vejo o reconhecimento que as pessoas têm ao serviço que foi prestado enquanto a PPP esteve vigente. Não há razão para estar a mudar. As pessoas têm, aliás, receio que essa mudança possa refletir-se em prejuízo na oferta de cuidados e de tratamentos, de cumprimento de prazos.

Quando Luís Montenegro chegou à redação do Observador na quarta-feira, 11, para gravar a entrevista, metade das televisões tinham Rui Rio nos ecrãs, no programa de Cristina Ferreira, e a outra metade mostrava a imagem de Marta Temido a anunciar uma ‘bazuca’ para o Serviço Nacional de Saúde: mais 800 milhões de euros. O candidato à liderança do PSD esteve uns minutos a informar-se, via smartphone, sobre o que estava a ministra da Saúde a dizer. Quando entrou para o estúdio, a conferência de imprensa já esmorecia mas Rio continuava frente a uma árvore de Natal na “casa da Cristina”.

No programa “Sob Escuta” da Rádio Observador, Luís Montenegro admitiu que se for líder também vai votar a favor de propostas do PS no orçamento – embora mantenha que é de rejeitar a versão final do documento -, desvalorizou o facto dos deputados da Madeira poderem viabilizar o OE, disse ser convictamente contra a Regionalização neste momento, afastou o ‘Chega’ de uma grande coligação de Governo (talvez daqui a 4 anos seja diferente) e disse ainda — na sequência das suspeitas do Ministério Público sobre o seu apoiante Almeida Henriques — que não vai penalizar um autarca em funções só porque é acusado. Confessou que ele e alguns amigos pagam a candidatura, admitiu voltar a privatizar a TAP se for o melhor para o país e diz que, se perder as diretas no PSD, será apenas advogado. Surpresa: defende Rio na questão da “coligação negativa” do IVA. Eis a entrevista de Luís Montenegro, aqui na íntegra, com mais 10 minutos do que a versão transmitida na Rádio Observador.

[Veja aqui o melhor da entrevista a Luís Montenegro:]

O Governo acabou de anunciar uma das novidades do próximo Orçamento do Estado e que tem a ver com um reforço de 800 milhões para a saúde, redução da dívida, contratação de mais de oito mil profissionais. Como é que um candidato à liderança do PSD olha para este anúncio: é uma boa notícia, como prometeu o primeiro-ministro?

Essa notícia é sobretudo uma confissão de falhanço, visto que este governo e este primeiro-ministro exercem funções há mais de quatro anos e parece que só agora despertaram para a necessidade de olhar de outra forma para a prestação de cuidados de saúde em Portugal.

Havia condições para o fazer antes?

Havia condições seguramente para fazer muito mais e muito melhor e para distribuir o investimento público de uma forma mais equilibrada e justa. Não conheço o desenho final deste programa, mas já percebi que grande parte deste reforço financeiro é absorvido para pagamento de dívidas em atraso. Não estou a dizer que não seja necessário, que é, mas é mais um sintoma daquilo que foram os últimos quatro anos de gestão do sistema de saúde.

E foram o quê?

Foi o retomar de acumulação de dívidas e, portanto, de asfixia de todos os operadores e fornecedores do Estado que se refletiu muitas vezes em deficiente prestação de cuidados de saúde aos cidadãos. Por outro lado, a outra vertente é a contratação de pessoal, com o governo já a anunciar um plano para 2021. É sempre este hábito socialista de projetar muito para a frente a execução dos planos, mas isto também significa que todas as promessas que tinham sido feitas ao longo dos últimos tempos não foram cumpridas. Quantas vezes já ouvimos o primeiro-ministro dizer no Parlamento que tinha contratado mais médicos, que ia abrir concurso para contratar mais enfermeiros, mais auxiliares? A verdade é que parece que tudo estava por fazer, porque tudo vai começar de novo no Ministério da Saúde.

Portanto, é uma confissão de falhanço do Governo?

Sim. Creio que é muito importante que o governo tenha, de uma vez, assumido este falhanço e assumido que os meios que é preciso dar ao sistema de saúde devem ser reforçados. Mas há um problema de base que esta solução não vem resolver: este governo é marcadamente complexado do ponto de vista ideológico. E está, fruto das amarras que juntam o PS, PCP e Bloco de Esquerda, muito enfeudado na prestação de cuidados de saúde por serviços estatais, que creio que são o principal do sistema.

O Estado não deve prestar cuidados de saúde?

Não ponho isso em causa. O Estado tem obrigação de garantir o acesso aos cuidados de saúde e de ter uma rede de oferta de cuidados de saúde aos mais variados níveis. Mas isso está longe de satisfazer as necessidades da população, em particular da mais carenciada. O que era bom que este governo fizesse era contar com a iniciativa privada, com as empresas privadas de saúde e com a iniciativa do setor social, com as Instituições Particulares de Solidariedade Social que prestam serviço público de saúde, conferindo acesso aos cuidados de saúde que muitas vezes o Estado é incapaz de garantir. Que pudesse contratualizar com estes setores a forma de todos os cidadãos – e não só aqueles que têm mais recursos financeiros – poderem também aceder a essa capacidade de resposta que está instalada um pouco por todo o território nacional.

Fala em complexo ideológico. É a favor das Parcerias Público Privadas (PPP) na Saúde?

Se elas refletirem maior qualidade, maior eficiência, menor custo para o Estado e um acesso generalizado aos cidadãos, não tenho nenhum problema em lidar com as PPP no âmbito da Saúde. E há bons exemplos: aquilo que aconteceu nos últimos anos em Braga, é só ir lá e falar com as pessoas. Eu já visitei, aliás, já tive até a necessidade de uma vez ser assistido no Hospital de Braga, e vejo o reconhecimento que as pessoas têm ao serviço que foi prestado enquanto a PPP esteve vigente. Não há razão para estar a mudar. As pessoas têm, aliás, receio que essa mudança possa refletir-se em prejuízo na oferta de cuidados e de tratamentos, de cumprimento de prazos.

marcar artigo