Falta de competitividade pode afetar recuperação em Portugal

29-04-2020
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A “falta de competitividade e produtividade” da economia portuguesa pode “ter um impacto na capacidade de recuperação” nacional no período pós-crise associada à Covid-19, defendeu, em entrevista à agência Lusa, a economista Inês Domingos.

“Independentemente do que aconteceu agora [crise associada à pandemia de Covid-19], houve muito poucas medidas para aumentar a competitividade e a produtividade do país nos últimos anos”, considerou a antiga deputada do PSD em entrevista à Lusa.

Inês Domingos previu que “essa falta de competitividade e produtividade poderá ter um impacto na capacidade da recuperação” que o país pode ter no futuro, “mas mais a longo prazo”.

“Houve uma certa indiferença do Governo para implementar medidas” de fomento à competitividade “nos últimos quatro ou cinco anos”, defendeu a economista, acrescentando que o atual regime de impostos não contribuiu “para que as empresas pudessem ser competitivas fiscalmente e em termos de custos de contexto, da legislação ou de regulamentos”.

Assim, atualmente, Portugal não está “numa posição muito forte para relançar a economia com muita força quando o efeito do vírus passar“, considerou a antiga parlamentar do PSD.

Face à atual crise económica e à perspetiva de algumas empresas fecharem portas em vez de recorrerem ao lay-off [suspensão temporária do contrato de trabalho], a economista alertou que isso pode configurar “uma situação em que os empresários acabam por usar estas circunstâncias muito difíceis para ter alguma flexibilidade que se calhar não conseguem ter de outra forma”.

“Isso também resulta da falta de flexibilidade que tiveram no passado. Se o tivessem feito com uma regulação laboral mais flexível, que permitisse fazer isso noutros períodos, os próprios trabalhadores que saíssem dessas empresas tinham encontrado outras coisas para fazer, teriam encontrado outro emprego, se calhar. Agora será mais difícil”, argumentou.

Inês Domingos relevou ainda que a pouca flexibilidade laboral “pode também representar um custo elevado” para as empresas, já que quando ela não existe “pode acontecer que os empresários acabem por fazer isso [fechar] nas piores circunstâncias possíveis, até para os próprios trabalhadores, em situações de emergência para todos”.

Relativamente aos apoios às empresas, a economista realçou que em Portugal “há uma grande dualidade do mercado de trabalho, em que há pessoas que têm trabalho em empresas, têm contratos, e depois há pessoas que não, e acabam por ter pouco acesso aos mecanismos tradicionais de apoio”.

Reconhecendo que o Governo foi, com o tempo, alargando a base de apoios sociais em resposta à crise económica da pandemia de Covid-19 a vários tipos de trabalhadores, Inês Domingos referiu que “é fundamental que as micro e muito pequenas empresas” tenham acesso a essas ajudas.

Relativamente ao tipo de apoio através da contração de dívida, a economista referiu que “a forma como está construído acaba por deixar de lado muitas empresas que estão em dificuldades e que poderão também ter dificuldades a aceder a esse crédito”.

Eu acho que será forçosamente necessário flexibilizar, fazer mais medidas diretas e talvez mais medidas a fundo perdido”, opinou, reconhecendo que nas circunstâncias de imprevisibilidade é compreensível “que não se acerte imediatamente”.

A antiga parlamentar alerta ainda para cuidados necessários a prestar nos apoios, especialmente na diferenciação entre empresas que atualmente “têm problemas de liquidez e depois, quando a economia retomar, irão recuperar”, e as “empresas que se calhar já não estavam bem”.

“É preciso certificarmo-nos que não estamos a apoiar empresas que, de qualquer forma, não teriam condições“, concluiu, alertando também para o aumento do nível geral de endividamento.

“Independentemente do que venha a acontecer na Europa, vai haver mais dívida em Portugal”, observou, considerando que o período de crescimento anterior à crise poderia ter sido aproveitado para reduzir mais rapidamente, por exemplo, o rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB).

A economista crê que se tivesse existido “uma ação mais rápida […], agora seria mais fácil ter mais medidas, ou usar melhor as medidas e ter um maior endividamento do Estado”.

Para Inês Domingos, a dívida “vai ser uma questão que se vai pôr para Portugal quando a situação normalizar”, e aí haverá novamente “a questão de como se vai ter crescimento sustentado e reduzir a dívida”.

“São questões que se vão pôr mais no longo prazo, mas que é importante começar a pensar nelas agora, para começar a direcionar os apoios e as medidas que temos para as empresas da forma mais eficaz possível, para ter a certeza que depois, na recuperação, conseguimos, de facto, crescer”, concluiu.

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A “falta de competitividade e produtividade” da economia portuguesa pode “ter um impacto na capacidade de recuperação” nacional no período pós-crise associada à Covid-19, defendeu, em entrevista à agência Lusa, a economista Inês Domingos.

“Independentemente do que aconteceu agora [crise associada à pandemia de Covid-19], houve muito poucas medidas para aumentar a competitividade e a produtividade do país nos últimos anos”, considerou a antiga deputada do PSD em entrevista à Lusa.

Inês Domingos previu que “essa falta de competitividade e produtividade poderá ter um impacto na capacidade da recuperação” que o país pode ter no futuro, “mas mais a longo prazo”.

“Houve uma certa indiferença do Governo para implementar medidas” de fomento à competitividade “nos últimos quatro ou cinco anos”, defendeu a economista, acrescentando que o atual regime de impostos não contribuiu “para que as empresas pudessem ser competitivas fiscalmente e em termos de custos de contexto, da legislação ou de regulamentos”.

Assim, atualmente, Portugal não está “numa posição muito forte para relançar a economia com muita força quando o efeito do vírus passar“, considerou a antiga parlamentar do PSD.

Face à atual crise económica e à perspetiva de algumas empresas fecharem portas em vez de recorrerem ao lay-off [suspensão temporária do contrato de trabalho], a economista alertou que isso pode configurar “uma situação em que os empresários acabam por usar estas circunstâncias muito difíceis para ter alguma flexibilidade que se calhar não conseguem ter de outra forma”.

“Isso também resulta da falta de flexibilidade que tiveram no passado. Se o tivessem feito com uma regulação laboral mais flexível, que permitisse fazer isso noutros períodos, os próprios trabalhadores que saíssem dessas empresas tinham encontrado outras coisas para fazer, teriam encontrado outro emprego, se calhar. Agora será mais difícil”, argumentou.

Inês Domingos relevou ainda que a pouca flexibilidade laboral “pode também representar um custo elevado” para as empresas, já que quando ela não existe “pode acontecer que os empresários acabem por fazer isso [fechar] nas piores circunstâncias possíveis, até para os próprios trabalhadores, em situações de emergência para todos”.

Relativamente aos apoios às empresas, a economista realçou que em Portugal “há uma grande dualidade do mercado de trabalho, em que há pessoas que têm trabalho em empresas, têm contratos, e depois há pessoas que não, e acabam por ter pouco acesso aos mecanismos tradicionais de apoio”.

Reconhecendo que o Governo foi, com o tempo, alargando a base de apoios sociais em resposta à crise económica da pandemia de Covid-19 a vários tipos de trabalhadores, Inês Domingos referiu que “é fundamental que as micro e muito pequenas empresas” tenham acesso a essas ajudas.

Relativamente ao tipo de apoio através da contração de dívida, a economista referiu que “a forma como está construído acaba por deixar de lado muitas empresas que estão em dificuldades e que poderão também ter dificuldades a aceder a esse crédito”.

Eu acho que será forçosamente necessário flexibilizar, fazer mais medidas diretas e talvez mais medidas a fundo perdido”, opinou, reconhecendo que nas circunstâncias de imprevisibilidade é compreensível “que não se acerte imediatamente”.

A antiga parlamentar alerta ainda para cuidados necessários a prestar nos apoios, especialmente na diferenciação entre empresas que atualmente “têm problemas de liquidez e depois, quando a economia retomar, irão recuperar”, e as “empresas que se calhar já não estavam bem”.

“É preciso certificarmo-nos que não estamos a apoiar empresas que, de qualquer forma, não teriam condições“, concluiu, alertando também para o aumento do nível geral de endividamento.

“Independentemente do que venha a acontecer na Europa, vai haver mais dívida em Portugal”, observou, considerando que o período de crescimento anterior à crise poderia ter sido aproveitado para reduzir mais rapidamente, por exemplo, o rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB).

A economista crê que se tivesse existido “uma ação mais rápida […], agora seria mais fácil ter mais medidas, ou usar melhor as medidas e ter um maior endividamento do Estado”.

Para Inês Domingos, a dívida “vai ser uma questão que se vai pôr para Portugal quando a situação normalizar”, e aí haverá novamente “a questão de como se vai ter crescimento sustentado e reduzir a dívida”.

“São questões que se vão pôr mais no longo prazo, mas que é importante começar a pensar nelas agora, para começar a direcionar os apoios e as medidas que temos para as empresas da forma mais eficaz possível, para ter a certeza que depois, na recuperação, conseguimos, de facto, crescer”, concluiu.

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