Gremlin Literário

04-09-2020
marcar artigo

Diz que chegou “da província” e vê-se que diz a verdade. Não que Viseu seja a terra inferior e apalermada que Mendes sugere, espreitando por cima do ombro, imaginando que desceu a Lisboa e encontrou uma grande civilização entre São Bento e os festivais de rock. “A província”, tal como era entendida no tempo em que essa expressão se usava, não se aplica a Viseu e já quase nem faz sentido no país que existe hoje, mas encaixa perfeitamente na maneira retrógrada e preguiçosa, até um bocadinho salazarista, como Francisco Mendes da Silva constrói a ambição dele. Pobre Viseu que criou mais este medíocre. O ministro Centeno, famoso por mentir ao país, merece-lhe a simpatia porque Mendes acha que “ainda não sabemos” o que “esteve em causa”; e por isso não houve “qualquer imoralidade”. Aprecia a indefinição ideológica, defende certas “causas”, diz que é pouco ortodoxo; declara que o “acusam” de “não ser de direita”. Efectivamente não é de direita, até me custa escrever uma evidência destas, mas esse não é o ponto; ele diz isto convencido da sua extraordinária complexidade, uma obra de arte da filosofia política com uma combinação de perspectivas tão pessoal que tentar classificá-lo como esquerda ou direita é um exercício de excessiva simplificação. Mendes quer que o vejam assim, vive neste capricho, e declama as platitudes dele olhando o mundo pela janela com um sorrisinho de satisfação intriguista. Cheguei a sentir pena do incapaz. Que ele vá expandir-se para a televisão com dois carroceiros e um possidónio faz parte dos planos: os Mendes da vida precisam de se fazer notados. Que ele respeite Galamba pela grosseria, pela falta de escrúpulos e pela capacidade de se malcriar, também não é uma informação nova. Não lhe devia tocar (a não ser com um pau), se fosse inteligente; Galamba é uma ofensa estética, Mendes é candidato a governante (Deus se amerceie de nós!), a exibição pública de uma amizade é um gesto político e tem consequências. De resto estas amizades nunca foram, que eu tivesse dado conta, publicamente correspondidas. Galamba trata Mendes como o patife trata a namorada púbere: com algum nojo e sobranceira brutalidade. A entrevista (“i”, 27 de Março 2017) anda para a frente e para trás, encaracola-se em voltinhas sem saída, sem nunca se afastar da ideia principal: dada por estabelecida a incompetência de Mendes para afirmar a direita, este profeta consome-se em maquinações para se pendurar no PS. Prevenido, como manda a sabedoria e a prudência, com um sistema teórico aprimorado e firme, assente em subtilezas finíssimas, que o deixam livre para adornar à esquerda ou à direita consoante a oportunidade. O que importa é concertar um entendimento, um acordo entre ele e os outros democratas, que garanta um grau de respeitabilidade sem vigilância nem oposição; e que, ao mesmo tempo, alivie os rústicos do peso das escolhas, das decisões, das eleições, desejavelmente até do livre arbítrio e da opinião própria – que é, como sabemos, meio caminho andado para a dissidência e a desarmonia, mas não vamos exagerar. O bom povo, como as crianças, precisa de ser conduzido e protegido, não é assim? Mendes tem sentimentos, “irritou-se” quando o PS não viu as coisas da mesma maneira. Acha que foi “artificial”. Não percebe que o PS é aquilo que o PS faz. Se o PS decidiu rejeitar os partidos do sistema e formou uma aliança aberrante com a extrema-esquerda, o PS é hoje um partido aberrante e radicalizado. Convém meter isto na cabeça, muito bem arrumadinho, de uma vez por todas: como avisou Paulo Portas, a direita só volta a ser governo com uma maioria absoluta. Mas não, o nosso herói não gosta da ideia: “o CDS não nasceu para ser mordomo do PSD”. Curiosíssimo. O CDS acabou de governar com o PSD por 4 anos, do princípio ao fim do mandato, durante um dos períodos mais difíceis e cruéis da nossa história. Ajudou a livrar o país de uma encrenca colossal; e a ganhar as eleições seguintes, ficando a meia dúzia de deputados para voltar a governar. Mendes não vê dignidade nisto. No entendimento dele, o CDS não contribuiu para alterar a natureza de um governo do PSD; o CDS foi “mordomo”. E Mendes não quer vê-lo descer nunca mais a essa circunstância vil. Suponho que o PS, coligado com Mendes, reservaria para o CDS um lugar mais honrado. O raciocínio não parece lúcido, pelo menos à primeira vista; mas em algum plano ele deve ser impecável, porque o homem pensa à luz das “influências do parlamentarismo britânico”. Também diz que desde a geringonça “o regime constitucional mudou”, e nós já sabemos, neste ponto da entrevista, que a tradução desta frase em língua de Mendes é: “está aberta a porta para todos os conúbios torpes”. A direita, continua ele, deve defender o Estado Social - para recuperar o voto dos funcionários públicos. Mendes não pensa no país. Se pensasse prevenia que o Estado Social, se o quisermos conservar, tem de ser visto e revisto com muita atenção, e sujeito a escolhas, porque não há nem vai haver dinheiro para o manter desordenado e gigantesco como está. Como também não percebeu que não é possível haver “elevador social” numa economia estagnada. E diz que “a ideologia foi suspensa no tempo da troika”, talvez a frase mais incompreensível da entrevista inteira; a ideologia é um ponto de vista, nunca pode ser “suspensa” e não foi, sobretudo no tempo da troika. Como é que este filósofo imagina que “a salvação do país” é possível sem um ponto de vista? Nenhuma destas gotas de sabedoria em estado concentrado chega sequer perto do momento em que Mendes declara o seguinte: “qualquer político que queira o poder por boas razões faria a mesma coisa na posição de António Costa”. É preciso ler a frase duas vezes para acreditar. “Qualquer” político? “Qualquer” mesmo ou qualquer um daqueles do círculo de Mendes, por quem ele tem estima? Da variedade dos “temíveis”, como o Galamba? E o que é que Mendes considera “boas razões”? Quem é o candidato a governante que não acredita ter “boas razões” para querer o poder? Compreendi mal ou Mendes considera legítimo e aceitável que um político, por ter sido derrotado ou por ter “boas razões”, traga o radicalismo para o poder? E que em troca de apoio parlamentar esse político “qualquer” aceite entregar aos extremistas todos os lugares importantes que eles quiserem no aparelho do Estado, para que nunca mais se possam de lá tirar? O cavalheiro é dirigente do CDS, e anda à solta pela paisagem a dizer estas preciosidades. Ele confessa, a dada altura, que há lá gente ainda mais socialista do que ele. E eu, que já vou conhecendo o meu partido, confirmo que também vi. O que não sei, e era bom que alguém se ocupasse de explicar, é se há lá alguém que reconheça e confirme esta linha política. Só para percebermos onde anda a direita, se essa escolha existe, ou se temos de nos resignar para sempre a estes “príncipes da política”.

Pedro Passos Coelho, sem noção do que se preparava para fazer, esteve perto de apresentar um livro com as intrigas do sr. Saraiva. Mas apeou-se antes do vexame. Sérgio Sousa Pinto apresentou hoje a segunda infantilidade "literária" do pensador Sócrates, escrita sabe-se lá por quem, regiamente paga (segundo consta) a um tal Domingos, professor universitário obscuro. Admiremos Sérgio, no cantinho esquerdo da fotografia, posando com o putativo profeta (e um senhor cuja cara não me é estranha). Sérgio está sozinho. Escolheu embarcar nesta peripécia e ninguém lhe deu um encontrão a tempo.

O Ministério das Finanças não quer mostrar todos os números que permitem avaliar o Orçamento. Só o fará contrariado, sabe Deus em que condições, depois de a UTAO dizer que isto assim é ilegal. No gabinete do primeiro-ministro há mais um doutor (ou engenheiro?) da mula russa. Não se percebe o motivo: para exercer cargos políticos não é obrigatório ter um título académico. Ou percebe: esta gente sem experiência nem currículo não tem outra maneira de se fazer respeitar socialmente. E assim arranja uma licenciatura falsa, que dura até ser descoberta, para forçar um estatuto e fingir uma superioridade igual à de qualquer um. Verdadeira ou de fancaria, quem é que hoje em Portugal não tem uma licenciatura? Os senhores administradores do banco do Estado são deixados em sossego, dispensados de entregar declarações de rendimentos e de interesses; quem recebe as pensões mínimas prepara-se para ficar sujeito a "condição de recursos", que o mesmo é dizer que o Estado não lhes dá uma moeda sem antes lhes virar a vida do avesso. Talvez levem uma sopa em troca da privacidade. Bruxelas, incompreensivelmente, não acredita nas contas do governo. Exige informação adicional para decidir se lhes aprova o papel ou nos corta os víveres. Ao princípio, quando as esquerdas se entenderam nesta “posição”, parecia que íamos ficar entregues a um comando de oportunistas desmoralizados. Pouco a pouco as dúvidas desaparecem.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 13:32

O dr. Medina? Sim. Desfazia-lhe a cara com um martelo pneumático e arrancava-lhe o escalpe. Depois, com muito cuidado, semeava-lhe um jacarandá no lugar do nariz. Toda a área que, no tempo velho, estava ocupada com tufos de cabelo era substituída por um relvado. Durante os trabalhos, executados a frio, o dr. Medina guinchava. E eu esclarecia: "É o progresso!". E ele impacientava-se, e respondia com pontapés. E eu sossegava-o: "Tenha paciência, dr. Medina, eu sei que isto agora custa um bocadinho, mas vai ver que vale a pena. No fim vai ficar muito bonito!". Sim, mas não. Que eu não era pessoa para uma obra destas. Só pensei no projecto, e sobrou-me tempo para todos os requintes durante a hora e meia que demorei a atravessar a Av. da República. __________ Imagem daqui.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 19:28

Há muitos anos, mais de 42, antes das maravilhas do "poder local", não havia eleições autárquicas. Quem escolhia os presidentes das câmaras era o dr. Salazar através do Ministério do Interior. Como sucedeu naquele caso. E no dia agendado o povo reuniu-se no Salão Nobre para assistir à sessão solene da tomada de posse. Chegada a sua vez, o alentejano levantou-se e discursou: - O meu nome é Francisco Palma e fui nomeado para ser o novo presidente da Câmara Municipal de Serpa; - ouviu-se a si mesmo, baixou o tom de voz, e tirou a conclusão: - O que é que não irá por esse país fora... Lembrei-me desta franqueza a propósito de Guterres, que chegou agora a presidente do Mundo. Também ele terá de apresentar as suas perplexidades, cinquenta e tal anos depois do presidente Palma.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 14:37

Se o Estado fechasse 4 ou 5 desses pseudo-museus que ornamentam os panfletos "culturais" do país sem absolutamente nada para mostrar, pegava em 18 inúteis e dava-lhes préstimo no Museu de Arte Antiga. Um por sala aberta ao público, a juntar aos 64 que já lá trabalham. E outros tantos para ajudar a manter, limpar, programar, tratar da burocracia (que é muita), e cuidar de um dos poucos museus nacionais com toda a razão de existir. Mais: o Museu de Arte Antiga tem (ou tinha?) um excelente departamento de restauro (ou laboratório, não sei como lhe chamam), com óptimos profissionais, que podia não só ocupar-se das peças do próprio museu como vender os serviços a coleccionadores, antiquários, e particulares que têm (como vi em Agosto) quadros espantosos de autores respeitáveis (não são Mirós) a estalar escurecidos nos solares portugueses. Ainda que tivesse de lá meter uns milhares para actualização do equipamento; ainda que tivesse de fechar outras tantas "fundações" para arranjar os milhares, e vendesse os edifícios ao McDonalds - para gáudio do povo e desmaio da Catarina Portas. Governar é conhecer os assuntos e fazer escolhas. Há um par de semanas, a direita chocou-se a propósito da ex-ministra Rodrigues; agora chega-nos este Pimentel. O CDS está imparável no combate às esquerdas, crescendo como um fenómeno na consideração do eleitorado, a acertar em cheio nos seus convidados.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 16:54

Estranhei na quarta-feira à noite, quando ouvi no noticiário da Sic. A história começou com um desacato entre bandos de miudagem; depois de separados, dois deles seguiram um miúdo de 15 anos, apanharam-no sozinho, e aplicaram-lhe um ensaio de pancada com toda a brutalidade. Foi encontrado, sem sentidos, pelos homens do lixo. Sabemos que os bombeiros o trouxeram de helicóptero para um hospital de Lisboa, onde ficou internado entre a vida e a morte. "Os agressores, ambos estrangeiros, já foram identificados", dizia a voz do jornalista. Mostrava a fachada do prédio, esticava o depoimento do padrasto que, confirmando a tradição da grande escola portuguesa de jornalismo, não tinha visto nada nem sabia de coisa nenhuma. E a reportagem não desistia, era facto atrás de facto, e o bocado de alcatrão ensanguentado onde o miúdo tinha caído com o crânio desfeito por dois estudantes da escola de pilotos, "ambos estrangeiros". E a nacionalidade dos "estrangeiros"? Nada. E o que fazia um par de "estrangeiros" na escola de pilotos de Ponte de Sor? Nada, e mais nada, nem a mais pequena pista. O canal do "interesse público", compreensivelmente, em lugar de notícias passava um jogo de futebol. Já o dr. Balsemão paga às suas redacções para lhes dar soltura, deixando-as ao critério de quem calha publicar notícias de fancaria aldrabadas pelos códigos do politicamente correcto. Quem quiser saber o fim da história pode agradecer ao Correio da Manhã. Os jovens criminosos são iraquianos, filhos do senhor embaixador.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 13:44

A direita "dos negócios" deixou cair Ricardo Salgado e o grupo Espírito Santo. A esquerda da "transparência" limpou o BANIF com dinheiros públicos e tratou de o entregar ao Santander. A direita "trauliteira" quer saber como e quem estoirou a Caixa Geral de Depósitos. A esquerda "unida" levanta obstáculos à comissão de inquérito, em nome da "estabilidade" do sistema financeiro e da "reputação" do banco do Estado. E assim mesmo, às escuras, subiu para 19 o número de administradores, aumentou-lhes os ordenados, e prepara-se para lá meter mais 4 mil milhões dos nossos euros. A direita "determinista" quer que as crianças pobres tenham escolas com qualidade. A esquerda "das pessoas" quer ter os seus filhos nos colégios privados e atirar com os pobres para a bagunça do sistema público. E argumenta: “a liberdade existe", quem quer melhor "que pague do seu bolso". A direita "autoritária" quer dar às famílias pobres o direito a escolher o ensino dos filhos, laico ou religioso, público ou privado, comunista, clássico ou experimental. A esquerda da “diversidade” quer as crianças pobres “protegidas” da Igreja e do “lado errado da história”, impondo a FENPROF, o sr. Nogueira, o Plano Nacional de Leitura (uma lista de livros “certos”), e as matérias politicamente correctas escritas com os pés. Explicando que a liberdade de ensino deve ser distribuída com precaução, reservada aos esclarecidos, uma vez que nem todos estão “filosoficamente preparados”. Curiosamente a Igreja, que devia ter neste assunto uma posição oficial, pede licença para vir aos jornais gemer baixinho a sua perda de influência. A esquerda chega ao poder aos encontrões e faz o que quer, com uma cartilha infantil. A direita espera quieta pelo resultado. Ou apresenta a sua cordura, a sua “moderação”, sem perceber que escolhe o caminho mais curto para se diminuir; a “moderação” não é um plano nem uma identidade, é uma maneira secundarizada de reconhecer a virtude da esquerda. A natureza de uns e outros é hoje visível, talvez mais do que alguma vez foi nos últimos 40 anos. Quando a direita apanhar os restos da sua decepção tem de interpretar o país, descrever o arranjo que está a mandar nisto, explicar os riscos, fabricar uma proposta clara e construir uma retórica para se definir. Não existe “centro” (nem “moderação”) quando as pessoas estão aflitas e precisam de escolher a quem entregar os seus sacrifícios.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 13:51

José Rodrigues dos Santos é apresentador de televisão e escreve novelas de série B. António Araújo, hipotético "historiador", é o boneco do "intelectual" português. No blog enfrenta gigantes literários como Isabel Moreira, ou Domingos Freitas do Amaral; sobre as grandes fraudes que a "cultura" leva a sério, nem uma única linha. Se António Araújo tivesse algum estatuto aparecia em polémicas relevantes. Ou profissionais, como por exemplo aquela que opôs Rui Ramos a uma matilha de zelotes da 1ª República. Mas não. Senta-se no jornal Público a meter na ordem uma personagem menor. Na prosa mais chata de Portugal, típica de "académico", um saco de citações e notas remissivas para opinar por interposta pessoa. Talvez António Araújo tenha ganho um convite para outro "colóquio". Talvez lhe sirva para apresentar serviço, neste tempo de "afectos" e "consensos". De resto não se compreende a utilidade do exercício. Quem é que aprende marxismo com o José Rodrigues dos Santos?

Diz que chegou “da província” e vê-se que diz a verdade. Não que Viseu seja a terra inferior e apalermada que Mendes sugere, espreitando por cima do ombro, imaginando que desceu a Lisboa e encontrou uma grande civilização entre São Bento e os festivais de rock. “A província”, tal como era entendida no tempo em que essa expressão se usava, não se aplica a Viseu e já quase nem faz sentido no país que existe hoje, mas encaixa perfeitamente na maneira retrógrada e preguiçosa, até um bocadinho salazarista, como Francisco Mendes da Silva constrói a ambição dele. Pobre Viseu que criou mais este medíocre. O ministro Centeno, famoso por mentir ao país, merece-lhe a simpatia porque Mendes acha que “ainda não sabemos” o que “esteve em causa”; e por isso não houve “qualquer imoralidade”. Aprecia a indefinição ideológica, defende certas “causas”, diz que é pouco ortodoxo; declara que o “acusam” de “não ser de direita”. Efectivamente não é de direita, até me custa escrever uma evidência destas, mas esse não é o ponto; ele diz isto convencido da sua extraordinária complexidade, uma obra de arte da filosofia política com uma combinação de perspectivas tão pessoal que tentar classificá-lo como esquerda ou direita é um exercício de excessiva simplificação. Mendes quer que o vejam assim, vive neste capricho, e declama as platitudes dele olhando o mundo pela janela com um sorrisinho de satisfação intriguista. Cheguei a sentir pena do incapaz. Que ele vá expandir-se para a televisão com dois carroceiros e um possidónio faz parte dos planos: os Mendes da vida precisam de se fazer notados. Que ele respeite Galamba pela grosseria, pela falta de escrúpulos e pela capacidade de se malcriar, também não é uma informação nova. Não lhe devia tocar (a não ser com um pau), se fosse inteligente; Galamba é uma ofensa estética, Mendes é candidato a governante (Deus se amerceie de nós!), a exibição pública de uma amizade é um gesto político e tem consequências. De resto estas amizades nunca foram, que eu tivesse dado conta, publicamente correspondidas. Galamba trata Mendes como o patife trata a namorada púbere: com algum nojo e sobranceira brutalidade. A entrevista (“i”, 27 de Março 2017) anda para a frente e para trás, encaracola-se em voltinhas sem saída, sem nunca se afastar da ideia principal: dada por estabelecida a incompetência de Mendes para afirmar a direita, este profeta consome-se em maquinações para se pendurar no PS. Prevenido, como manda a sabedoria e a prudência, com um sistema teórico aprimorado e firme, assente em subtilezas finíssimas, que o deixam livre para adornar à esquerda ou à direita consoante a oportunidade. O que importa é concertar um entendimento, um acordo entre ele e os outros democratas, que garanta um grau de respeitabilidade sem vigilância nem oposição; e que, ao mesmo tempo, alivie os rústicos do peso das escolhas, das decisões, das eleições, desejavelmente até do livre arbítrio e da opinião própria – que é, como sabemos, meio caminho andado para a dissidência e a desarmonia, mas não vamos exagerar. O bom povo, como as crianças, precisa de ser conduzido e protegido, não é assim? Mendes tem sentimentos, “irritou-se” quando o PS não viu as coisas da mesma maneira. Acha que foi “artificial”. Não percebe que o PS é aquilo que o PS faz. Se o PS decidiu rejeitar os partidos do sistema e formou uma aliança aberrante com a extrema-esquerda, o PS é hoje um partido aberrante e radicalizado. Convém meter isto na cabeça, muito bem arrumadinho, de uma vez por todas: como avisou Paulo Portas, a direita só volta a ser governo com uma maioria absoluta. Mas não, o nosso herói não gosta da ideia: “o CDS não nasceu para ser mordomo do PSD”. Curiosíssimo. O CDS acabou de governar com o PSD por 4 anos, do princípio ao fim do mandato, durante um dos períodos mais difíceis e cruéis da nossa história. Ajudou a livrar o país de uma encrenca colossal; e a ganhar as eleições seguintes, ficando a meia dúzia de deputados para voltar a governar. Mendes não vê dignidade nisto. No entendimento dele, o CDS não contribuiu para alterar a natureza de um governo do PSD; o CDS foi “mordomo”. E Mendes não quer vê-lo descer nunca mais a essa circunstância vil. Suponho que o PS, coligado com Mendes, reservaria para o CDS um lugar mais honrado. O raciocínio não parece lúcido, pelo menos à primeira vista; mas em algum plano ele deve ser impecável, porque o homem pensa à luz das “influências do parlamentarismo britânico”. Também diz que desde a geringonça “o regime constitucional mudou”, e nós já sabemos, neste ponto da entrevista, que a tradução desta frase em língua de Mendes é: “está aberta a porta para todos os conúbios torpes”. A direita, continua ele, deve defender o Estado Social - para recuperar o voto dos funcionários públicos. Mendes não pensa no país. Se pensasse prevenia que o Estado Social, se o quisermos conservar, tem de ser visto e revisto com muita atenção, e sujeito a escolhas, porque não há nem vai haver dinheiro para o manter desordenado e gigantesco como está. Como também não percebeu que não é possível haver “elevador social” numa economia estagnada. E diz que “a ideologia foi suspensa no tempo da troika”, talvez a frase mais incompreensível da entrevista inteira; a ideologia é um ponto de vista, nunca pode ser “suspensa” e não foi, sobretudo no tempo da troika. Como é que este filósofo imagina que “a salvação do país” é possível sem um ponto de vista? Nenhuma destas gotas de sabedoria em estado concentrado chega sequer perto do momento em que Mendes declara o seguinte: “qualquer político que queira o poder por boas razões faria a mesma coisa na posição de António Costa”. É preciso ler a frase duas vezes para acreditar. “Qualquer” político? “Qualquer” mesmo ou qualquer um daqueles do círculo de Mendes, por quem ele tem estima? Da variedade dos “temíveis”, como o Galamba? E o que é que Mendes considera “boas razões”? Quem é o candidato a governante que não acredita ter “boas razões” para querer o poder? Compreendi mal ou Mendes considera legítimo e aceitável que um político, por ter sido derrotado ou por ter “boas razões”, traga o radicalismo para o poder? E que em troca de apoio parlamentar esse político “qualquer” aceite entregar aos extremistas todos os lugares importantes que eles quiserem no aparelho do Estado, para que nunca mais se possam de lá tirar? O cavalheiro é dirigente do CDS, e anda à solta pela paisagem a dizer estas preciosidades. Ele confessa, a dada altura, que há lá gente ainda mais socialista do que ele. E eu, que já vou conhecendo o meu partido, confirmo que também vi. O que não sei, e era bom que alguém se ocupasse de explicar, é se há lá alguém que reconheça e confirme esta linha política. Só para percebermos onde anda a direita, se essa escolha existe, ou se temos de nos resignar para sempre a estes “príncipes da política”.

Pedro Passos Coelho, sem noção do que se preparava para fazer, esteve perto de apresentar um livro com as intrigas do sr. Saraiva. Mas apeou-se antes do vexame. Sérgio Sousa Pinto apresentou hoje a segunda infantilidade "literária" do pensador Sócrates, escrita sabe-se lá por quem, regiamente paga (segundo consta) a um tal Domingos, professor universitário obscuro. Admiremos Sérgio, no cantinho esquerdo da fotografia, posando com o putativo profeta (e um senhor cuja cara não me é estranha). Sérgio está sozinho. Escolheu embarcar nesta peripécia e ninguém lhe deu um encontrão a tempo.

O Ministério das Finanças não quer mostrar todos os números que permitem avaliar o Orçamento. Só o fará contrariado, sabe Deus em que condições, depois de a UTAO dizer que isto assim é ilegal. No gabinete do primeiro-ministro há mais um doutor (ou engenheiro?) da mula russa. Não se percebe o motivo: para exercer cargos políticos não é obrigatório ter um título académico. Ou percebe: esta gente sem experiência nem currículo não tem outra maneira de se fazer respeitar socialmente. E assim arranja uma licenciatura falsa, que dura até ser descoberta, para forçar um estatuto e fingir uma superioridade igual à de qualquer um. Verdadeira ou de fancaria, quem é que hoje em Portugal não tem uma licenciatura? Os senhores administradores do banco do Estado são deixados em sossego, dispensados de entregar declarações de rendimentos e de interesses; quem recebe as pensões mínimas prepara-se para ficar sujeito a "condição de recursos", que o mesmo é dizer que o Estado não lhes dá uma moeda sem antes lhes virar a vida do avesso. Talvez levem uma sopa em troca da privacidade. Bruxelas, incompreensivelmente, não acredita nas contas do governo. Exige informação adicional para decidir se lhes aprova o papel ou nos corta os víveres. Ao princípio, quando as esquerdas se entenderam nesta “posição”, parecia que íamos ficar entregues a um comando de oportunistas desmoralizados. Pouco a pouco as dúvidas desaparecem.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 13:32

O dr. Medina? Sim. Desfazia-lhe a cara com um martelo pneumático e arrancava-lhe o escalpe. Depois, com muito cuidado, semeava-lhe um jacarandá no lugar do nariz. Toda a área que, no tempo velho, estava ocupada com tufos de cabelo era substituída por um relvado. Durante os trabalhos, executados a frio, o dr. Medina guinchava. E eu esclarecia: "É o progresso!". E ele impacientava-se, e respondia com pontapés. E eu sossegava-o: "Tenha paciência, dr. Medina, eu sei que isto agora custa um bocadinho, mas vai ver que vale a pena. No fim vai ficar muito bonito!". Sim, mas não. Que eu não era pessoa para uma obra destas. Só pensei no projecto, e sobrou-me tempo para todos os requintes durante a hora e meia que demorei a atravessar a Av. da República. __________ Imagem daqui.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 19:28

Há muitos anos, mais de 42, antes das maravilhas do "poder local", não havia eleições autárquicas. Quem escolhia os presidentes das câmaras era o dr. Salazar através do Ministério do Interior. Como sucedeu naquele caso. E no dia agendado o povo reuniu-se no Salão Nobre para assistir à sessão solene da tomada de posse. Chegada a sua vez, o alentejano levantou-se e discursou: - O meu nome é Francisco Palma e fui nomeado para ser o novo presidente da Câmara Municipal de Serpa; - ouviu-se a si mesmo, baixou o tom de voz, e tirou a conclusão: - O que é que não irá por esse país fora... Lembrei-me desta franqueza a propósito de Guterres, que chegou agora a presidente do Mundo. Também ele terá de apresentar as suas perplexidades, cinquenta e tal anos depois do presidente Palma.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 14:37

Se o Estado fechasse 4 ou 5 desses pseudo-museus que ornamentam os panfletos "culturais" do país sem absolutamente nada para mostrar, pegava em 18 inúteis e dava-lhes préstimo no Museu de Arte Antiga. Um por sala aberta ao público, a juntar aos 64 que já lá trabalham. E outros tantos para ajudar a manter, limpar, programar, tratar da burocracia (que é muita), e cuidar de um dos poucos museus nacionais com toda a razão de existir. Mais: o Museu de Arte Antiga tem (ou tinha?) um excelente departamento de restauro (ou laboratório, não sei como lhe chamam), com óptimos profissionais, que podia não só ocupar-se das peças do próprio museu como vender os serviços a coleccionadores, antiquários, e particulares que têm (como vi em Agosto) quadros espantosos de autores respeitáveis (não são Mirós) a estalar escurecidos nos solares portugueses. Ainda que tivesse de lá meter uns milhares para actualização do equipamento; ainda que tivesse de fechar outras tantas "fundações" para arranjar os milhares, e vendesse os edifícios ao McDonalds - para gáudio do povo e desmaio da Catarina Portas. Governar é conhecer os assuntos e fazer escolhas. Há um par de semanas, a direita chocou-se a propósito da ex-ministra Rodrigues; agora chega-nos este Pimentel. O CDS está imparável no combate às esquerdas, crescendo como um fenómeno na consideração do eleitorado, a acertar em cheio nos seus convidados.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 16:54

Estranhei na quarta-feira à noite, quando ouvi no noticiário da Sic. A história começou com um desacato entre bandos de miudagem; depois de separados, dois deles seguiram um miúdo de 15 anos, apanharam-no sozinho, e aplicaram-lhe um ensaio de pancada com toda a brutalidade. Foi encontrado, sem sentidos, pelos homens do lixo. Sabemos que os bombeiros o trouxeram de helicóptero para um hospital de Lisboa, onde ficou internado entre a vida e a morte. "Os agressores, ambos estrangeiros, já foram identificados", dizia a voz do jornalista. Mostrava a fachada do prédio, esticava o depoimento do padrasto que, confirmando a tradição da grande escola portuguesa de jornalismo, não tinha visto nada nem sabia de coisa nenhuma. E a reportagem não desistia, era facto atrás de facto, e o bocado de alcatrão ensanguentado onde o miúdo tinha caído com o crânio desfeito por dois estudantes da escola de pilotos, "ambos estrangeiros". E a nacionalidade dos "estrangeiros"? Nada. E o que fazia um par de "estrangeiros" na escola de pilotos de Ponte de Sor? Nada, e mais nada, nem a mais pequena pista. O canal do "interesse público", compreensivelmente, em lugar de notícias passava um jogo de futebol. Já o dr. Balsemão paga às suas redacções para lhes dar soltura, deixando-as ao critério de quem calha publicar notícias de fancaria aldrabadas pelos códigos do politicamente correcto. Quem quiser saber o fim da história pode agradecer ao Correio da Manhã. Os jovens criminosos são iraquianos, filhos do senhor embaixador.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 13:44

A direita "dos negócios" deixou cair Ricardo Salgado e o grupo Espírito Santo. A esquerda da "transparência" limpou o BANIF com dinheiros públicos e tratou de o entregar ao Santander. A direita "trauliteira" quer saber como e quem estoirou a Caixa Geral de Depósitos. A esquerda "unida" levanta obstáculos à comissão de inquérito, em nome da "estabilidade" do sistema financeiro e da "reputação" do banco do Estado. E assim mesmo, às escuras, subiu para 19 o número de administradores, aumentou-lhes os ordenados, e prepara-se para lá meter mais 4 mil milhões dos nossos euros. A direita "determinista" quer que as crianças pobres tenham escolas com qualidade. A esquerda "das pessoas" quer ter os seus filhos nos colégios privados e atirar com os pobres para a bagunça do sistema público. E argumenta: “a liberdade existe", quem quer melhor "que pague do seu bolso". A direita "autoritária" quer dar às famílias pobres o direito a escolher o ensino dos filhos, laico ou religioso, público ou privado, comunista, clássico ou experimental. A esquerda da “diversidade” quer as crianças pobres “protegidas” da Igreja e do “lado errado da história”, impondo a FENPROF, o sr. Nogueira, o Plano Nacional de Leitura (uma lista de livros “certos”), e as matérias politicamente correctas escritas com os pés. Explicando que a liberdade de ensino deve ser distribuída com precaução, reservada aos esclarecidos, uma vez que nem todos estão “filosoficamente preparados”. Curiosamente a Igreja, que devia ter neste assunto uma posição oficial, pede licença para vir aos jornais gemer baixinho a sua perda de influência. A esquerda chega ao poder aos encontrões e faz o que quer, com uma cartilha infantil. A direita espera quieta pelo resultado. Ou apresenta a sua cordura, a sua “moderação”, sem perceber que escolhe o caminho mais curto para se diminuir; a “moderação” não é um plano nem uma identidade, é uma maneira secundarizada de reconhecer a virtude da esquerda. A natureza de uns e outros é hoje visível, talvez mais do que alguma vez foi nos últimos 40 anos. Quando a direita apanhar os restos da sua decepção tem de interpretar o país, descrever o arranjo que está a mandar nisto, explicar os riscos, fabricar uma proposta clara e construir uma retórica para se definir. Não existe “centro” (nem “moderação”) quando as pessoas estão aflitas e precisam de escolher a quem entregar os seus sacrifícios.

link do post | comentar publicado por Margarida Bentes Penedo às 13:51

José Rodrigues dos Santos é apresentador de televisão e escreve novelas de série B. António Araújo, hipotético "historiador", é o boneco do "intelectual" português. No blog enfrenta gigantes literários como Isabel Moreira, ou Domingos Freitas do Amaral; sobre as grandes fraudes que a "cultura" leva a sério, nem uma única linha. Se António Araújo tivesse algum estatuto aparecia em polémicas relevantes. Ou profissionais, como por exemplo aquela que opôs Rui Ramos a uma matilha de zelotes da 1ª República. Mas não. Senta-se no jornal Público a meter na ordem uma personagem menor. Na prosa mais chata de Portugal, típica de "académico", um saco de citações e notas remissivas para opinar por interposta pessoa. Talvez António Araújo tenha ganho um convite para outro "colóquio". Talvez lhe sirva para apresentar serviço, neste tempo de "afectos" e "consensos". De resto não se compreende a utilidade do exercício. Quem é que aprende marxismo com o José Rodrigues dos Santos?

marcar artigo