Covid-19. Confinamento prolongado dos idosos? Especialista diz que “viver isolado propicia outro tipo de riscos”

13-12-2020
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O isolamento nos idosos pode ser mais penoso do que nas outras faixas etárias da população. Desde logo, pela falta de opções para socializar. A infoexclusão desta classe etária não permite aceder com facilidade e relativa autonomia às novas tecnologias, presentes na quarentena de uma grande franja da população.

“O confinamento não pode ser apenas fechar a porta, tem de ser acompanhado de outras medidas”, aconselha Alexandra Lopes, socióloga e especialista em questões demográficas, de envelhecimento e saúde, em reação à hipótese anunciada por António Costa esta terça-feira de prolongar o confinamento dos mais idosos, quando do alívio de algumas medidas para a população de menor risco. Numa entrevista à rádio Observador, o primeiro ministro afirmava ser “evidente que teremos de manter essas restrições e que elas podem ser mais exigentes para quem tem mais idade”, por serem a faixa etária que, atingida pela covid-19, mais graves manifestações da doença vai apresentar.

Para a investigadora da Universidade do Porto, “não podemos permitir que o discurso sanitário, da necessidade de adotar um conjunto de medidas de prevenção e proteção de grupos de risco para a infeção - que é um discurso válido -, faça desaparecer outras dimensões da vida das pessoas que são, no mínimo, tão importantes como a da sua saúde física”. Alexandra fala da saúde mental, que “terá impactos gravíssimos” e de que “não se fala”.

Um trabalho sobre o isolamento dos idosos em tempo de pandemia, assinado pelas investigadoras Ana Henriques e Isabel Dias, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), menciona uma associação entre o isolamento social na velhice e a existência de maus-tratos e de negligência, mesmo em contexto institucional, provocando um declínio do estado geral de saúde. Por esta razão, “o suporte social emerge como um fator protetor dos mais velhos, sendo ainda mais exigível em tempos de pandemia”, assumem.

O discurso “estereotipado idadista”

Com uma taxa de mortalidade mais de três vezes superior à geral, as pessoas com mais de 70 anos têm sido alvo, na opinião de Alexandra Lopes, de “um discurso coletivo, público e político extremamente perigoso”: o da naturalização da ideia de que um idoso “é uma pessoa vulnerável, que tem de ser protegida, sendo proteção igual a isolamento, quase que a prisão”, admite.

Por isto, a investigadora acredita estar a ver “a luta que temos tido ao longos dos últimos anos para contrariar os estereótipos idadistas, de associação da velhice à vulnerabilidade e à dependência, a ir por água abaixo”.

Se o isolamento prolongado da população idosa é essencial para a proteção da saúde física, Alexandra Lopes aconselha a fazê-lo acompanhar de medidas de mitigação para a falta de sociabilidade, especialmente em lares, como a criação de programas promotores da qualidade de vida, a manutenção dos laços familiares, ainda que à distância. E, assim, tentar-se achatar também a curva da solidão.

O isolamento nos idosos pode ser mais penoso do que nas outras faixas etárias da população. Desde logo, pela falta de opções para socializar. A infoexclusão desta classe etária não permite aceder com facilidade e relativa autonomia às novas tecnologias, presentes na quarentena de uma grande franja da população.

“O confinamento não pode ser apenas fechar a porta, tem de ser acompanhado de outras medidas”, aconselha Alexandra Lopes, socióloga e especialista em questões demográficas, de envelhecimento e saúde, em reação à hipótese anunciada por António Costa esta terça-feira de prolongar o confinamento dos mais idosos, quando do alívio de algumas medidas para a população de menor risco. Numa entrevista à rádio Observador, o primeiro ministro afirmava ser “evidente que teremos de manter essas restrições e que elas podem ser mais exigentes para quem tem mais idade”, por serem a faixa etária que, atingida pela covid-19, mais graves manifestações da doença vai apresentar.

Para a investigadora da Universidade do Porto, “não podemos permitir que o discurso sanitário, da necessidade de adotar um conjunto de medidas de prevenção e proteção de grupos de risco para a infeção - que é um discurso válido -, faça desaparecer outras dimensões da vida das pessoas que são, no mínimo, tão importantes como a da sua saúde física”. Alexandra fala da saúde mental, que “terá impactos gravíssimos” e de que “não se fala”.

Um trabalho sobre o isolamento dos idosos em tempo de pandemia, assinado pelas investigadoras Ana Henriques e Isabel Dias, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), menciona uma associação entre o isolamento social na velhice e a existência de maus-tratos e de negligência, mesmo em contexto institucional, provocando um declínio do estado geral de saúde. Por esta razão, “o suporte social emerge como um fator protetor dos mais velhos, sendo ainda mais exigível em tempos de pandemia”, assumem.

O discurso “estereotipado idadista”

Com uma taxa de mortalidade mais de três vezes superior à geral, as pessoas com mais de 70 anos têm sido alvo, na opinião de Alexandra Lopes, de “um discurso coletivo, público e político extremamente perigoso”: o da naturalização da ideia de que um idoso “é uma pessoa vulnerável, que tem de ser protegida, sendo proteção igual a isolamento, quase que a prisão”, admite.

Por isto, a investigadora acredita estar a ver “a luta que temos tido ao longos dos últimos anos para contrariar os estereótipos idadistas, de associação da velhice à vulnerabilidade e à dependência, a ir por água abaixo”.

Se o isolamento prolongado da população idosa é essencial para a proteção da saúde física, Alexandra Lopes aconselha a fazê-lo acompanhar de medidas de mitigação para a falta de sociabilidade, especialmente em lares, como a criação de programas promotores da qualidade de vida, a manutenção dos laços familiares, ainda que à distância. E, assim, tentar-se achatar também a curva da solidão.

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