O PS radicalizou-se

11-09-2020
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Sérgio Sousa Pinto escreveu no Expresso sobre um PS que já não existe. Como o PS não mudou de repente, quem faz parte dos primórdios do partido, como Sousa Pinto, não se apercebeu das alterações que ocorreram com o decorrer dos anos. Por exemplo, o PS não mudou radicalmente em 2015 quando Costa criou a geringonça ou afastou Seguro da liderança do partido. Nem sequer quando os socialistas se inebriaram com Sócrates (o ‘engenheiro’, não o filósofo). Esses foram momentos marcantes num processo invisível e de difícil percepção, principalmente para quem é do partido desde o início. Talvez a mudança se tenha iniciado em 1989 com a queda do comunismo. Nessa altura uma geração de esquerda, não muito mais nova que Sousa Pinto, viu na queda do Muro de Berlim não o fim de um mundo utópico mas um pretexto para um ajuste de contas político. Para estes socialistas que transformaram o PS era preciso reafirmar aqueles valores de esquerda que desabavam na TV. Este processo não sucedeu só com o PS português. Passou-se o mesmo com o PSOE, o PSF e os trabalhistas britânicos. Só para mencionar os mais importantes. A esquerda radicalizou-se e, em Portugal, não foi toda para o BE. Parte dela aderiu ao PS, subiu na hierarquia e tomou conta do partido que Soares deixou a Sousa Pinto. Em 2014 tive oportunidade de escrever sobre isso no Diário Económico. Alguns socialistas de outras eras, muito poucos, ainda se aguentam e esperam que a maré mude. Não creio que tal venha a suceder. Passo a explicar porquê.

O processo de radicalização do PS, que se tornou notório em 2015 e que se tem acentuado, visa agora transformar a direita. Durante décadas, comunistas e socialistas acusaram de fascista ou neoliberal quem deles discordasse. Foi uma manobra fácil e preguiçosa que evitava o debate político, indispensável numa democracia liberal. Desde 1974 nunca o PSD ou o CDS foram fascistas ou neoliberais. Acusar a direita de fascista ou de qualquer outro palavrão foi uma forma de validar a radicalização da esquerda. Tal como acusar a esquerda de comunista era uma forma de o Estado Novo se validar. Gritar é a estratégia habitual dos que não acreditam na força dos seus argumentos. E quanto mais inexistentes estes forem maior será o histerismo e a indignação do BE, PCP e deste PS do século XXI. A radicalização da esquerda encontra-se na teimosia com os milhões despejados na TAP ou no finca-pé moralista na matéria da disciplina de Cidadania. Assuntos relativamente aos quais quem apresentar a mínima objecção é liminarmente acusado de não ser um bom cidadão. Não há lugar a compromissos, menos ainda a debate. Salazar não fez diferente.

A esquerda radical precisa de uma direita radical para desviar as atenções. Nessa medida a chegada do Chega foi abençoada. Este partido ainda não tinha representação parlamentar e já era apontado como um perigo para a democracia. Tanto o PS como o BE têm um interesse profundo no crescimento do Chega. Por três razões: primeiro, desviam as atenções da sua própria radicalização; segundo, o extremar de posições no debate político favorece a esquerda radical, que passa a ter um parceiro do outro lado; terceiro, o Chega tira votos ao PCP e coloca um ponto final num partido que tem um peso sindical desmesurado. Tanto o PS como o BE julgam que os sindicatos lhes vão cair no colo. Talvez se enganem.

É por estes três motivos que PS e BE têm tudo a ganhar com o enfraquecimento do PSD e do CDS (a Iniciativa Liberal tem outro registo e uma base diferente para ser combatida desta forma pela esquerda). A recusa de António Costa em dialogar com Rui Rio nasce daqui. O PSD tem de ser inútil. Inútil porque não é oposição (para a esquerda esta está no Chega) e inútil porque nem serve para dialogar, ao contrário do que acontece com o BE. Quanto ao CDS, o seu enfraquecimento é também desejável pela esquerda contanto que os votos deste partido sigam para o de André Ventura.

O PS radicalizou-se. Transformou-se num BE com votos suficientes para governar. Já não é um partido perigoso porque liderado por José Sócrates. Tornou-se num partido perigoso porque tem militantes radicais que conquistaram lugares de destaque. António Costa, que nunca teve uma ideia que fosse e cujo único objectivo na vida é ser primeiro-ministro, não viu outro remédio que não usar a ala radical a seu favor, o que António José Seguro teve o pudor de não fazer. Findo o tempo de Costa e o PS deixa cair a máscara. A aliança entre PS e BE, que já se discute nos bastidores, será apenas mais um passo neste processo de radicalização eventualmente chocante. Um processo imparável à esquerda. Um processo a que apenas uma direita não socialista nem autoritária, que não receie o equilíbrio e a justiça que apenas a liberdade concebe, lhe pode por termo. Foi assim em 1979. Não há motivo para que seja diferente agora.

Sérgio Sousa Pinto escreveu no Expresso sobre um PS que já não existe. Como o PS não mudou de repente, quem faz parte dos primórdios do partido, como Sousa Pinto, não se apercebeu das alterações que ocorreram com o decorrer dos anos. Por exemplo, o PS não mudou radicalmente em 2015 quando Costa criou a geringonça ou afastou Seguro da liderança do partido. Nem sequer quando os socialistas se inebriaram com Sócrates (o ‘engenheiro’, não o filósofo). Esses foram momentos marcantes num processo invisível e de difícil percepção, principalmente para quem é do partido desde o início. Talvez a mudança se tenha iniciado em 1989 com a queda do comunismo. Nessa altura uma geração de esquerda, não muito mais nova que Sousa Pinto, viu na queda do Muro de Berlim não o fim de um mundo utópico mas um pretexto para um ajuste de contas político. Para estes socialistas que transformaram o PS era preciso reafirmar aqueles valores de esquerda que desabavam na TV. Este processo não sucedeu só com o PS português. Passou-se o mesmo com o PSOE, o PSF e os trabalhistas britânicos. Só para mencionar os mais importantes. A esquerda radicalizou-se e, em Portugal, não foi toda para o BE. Parte dela aderiu ao PS, subiu na hierarquia e tomou conta do partido que Soares deixou a Sousa Pinto. Em 2014 tive oportunidade de escrever sobre isso no Diário Económico. Alguns socialistas de outras eras, muito poucos, ainda se aguentam e esperam que a maré mude. Não creio que tal venha a suceder. Passo a explicar porquê.

O processo de radicalização do PS, que se tornou notório em 2015 e que se tem acentuado, visa agora transformar a direita. Durante décadas, comunistas e socialistas acusaram de fascista ou neoliberal quem deles discordasse. Foi uma manobra fácil e preguiçosa que evitava o debate político, indispensável numa democracia liberal. Desde 1974 nunca o PSD ou o CDS foram fascistas ou neoliberais. Acusar a direita de fascista ou de qualquer outro palavrão foi uma forma de validar a radicalização da esquerda. Tal como acusar a esquerda de comunista era uma forma de o Estado Novo se validar. Gritar é a estratégia habitual dos que não acreditam na força dos seus argumentos. E quanto mais inexistentes estes forem maior será o histerismo e a indignação do BE, PCP e deste PS do século XXI. A radicalização da esquerda encontra-se na teimosia com os milhões despejados na TAP ou no finca-pé moralista na matéria da disciplina de Cidadania. Assuntos relativamente aos quais quem apresentar a mínima objecção é liminarmente acusado de não ser um bom cidadão. Não há lugar a compromissos, menos ainda a debate. Salazar não fez diferente.

A esquerda radical precisa de uma direita radical para desviar as atenções. Nessa medida a chegada do Chega foi abençoada. Este partido ainda não tinha representação parlamentar e já era apontado como um perigo para a democracia. Tanto o PS como o BE têm um interesse profundo no crescimento do Chega. Por três razões: primeiro, desviam as atenções da sua própria radicalização; segundo, o extremar de posições no debate político favorece a esquerda radical, que passa a ter um parceiro do outro lado; terceiro, o Chega tira votos ao PCP e coloca um ponto final num partido que tem um peso sindical desmesurado. Tanto o PS como o BE julgam que os sindicatos lhes vão cair no colo. Talvez se enganem.

É por estes três motivos que PS e BE têm tudo a ganhar com o enfraquecimento do PSD e do CDS (a Iniciativa Liberal tem outro registo e uma base diferente para ser combatida desta forma pela esquerda). A recusa de António Costa em dialogar com Rui Rio nasce daqui. O PSD tem de ser inútil. Inútil porque não é oposição (para a esquerda esta está no Chega) e inútil porque nem serve para dialogar, ao contrário do que acontece com o BE. Quanto ao CDS, o seu enfraquecimento é também desejável pela esquerda contanto que os votos deste partido sigam para o de André Ventura.

O PS radicalizou-se. Transformou-se num BE com votos suficientes para governar. Já não é um partido perigoso porque liderado por José Sócrates. Tornou-se num partido perigoso porque tem militantes radicais que conquistaram lugares de destaque. António Costa, que nunca teve uma ideia que fosse e cujo único objectivo na vida é ser primeiro-ministro, não viu outro remédio que não usar a ala radical a seu favor, o que António José Seguro teve o pudor de não fazer. Findo o tempo de Costa e o PS deixa cair a máscara. A aliança entre PS e BE, que já se discute nos bastidores, será apenas mais um passo neste processo de radicalização eventualmente chocante. Um processo imparável à esquerda. Um processo a que apenas uma direita não socialista nem autoritária, que não receie o equilíbrio e a justiça que apenas a liberdade concebe, lhe pode por termo. Foi assim em 1979. Não há motivo para que seja diferente agora.

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