GOTA DE ÁGUA: "Sócrates sondou Passos Coelho para ser seu vice-primeiro-ministro" . Será?

04-01-2020
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Síntese - No segundo mandato, José Sócrates terá oferecido a Pedro Passos Coelho o lugar de vice-primeiro-ministro com a garantia de que não se recandidataria às eleições seguintes, mas o actual chefe de Governo declinou o convite. (...) Na terça-feira, em entrevista à TSF, o ex-primeiro-ministro José Sócrates confidenciou que chegou a convidar Passos Coelho para o seu último Governo, mas não avançou detalhes: "Falei por duas ou três vezes com o então líder da oposição para entrar no Governo. Foi recusado. O líder da oposição queria ser primeiro ministro." (...) Muito antes, Sócrates, na sequência da sua eleição sem maioria absoluta em Setembro de 2009, também sondou Manuela Ferreira Leite, então presidente do PSD, para integrar o executivo. A economista e ex-ministra das Finanças de Durão Barroso respondeu-lhe que tinha sido nomeada para ser oposição e não para entrar no Governo
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"No seu segundo mandato, no
auge da crise financeira europeia, José Sócrates ofereceu a Pedro Passos Coelho
o lugar de vice-primeiro-ministro. Mas o actual chefe de Governo declinou o
convite. Ângelo Correia confirma ao PÚBLICO que foi sondado por Luís Amado
para interceder junto de Passos Coelho no sentido de saber se estaria
disponível para integrar um Governo de unidade nacional

No segundo mandato, José Sócrates terá oferecido a Pedro Passos Coelho o
lugar de vice-primeiro-ministro com a garantia de que não se recandidataria às
eleições seguintes, mas o actual chefe de Governo declinou o convite. No auge
da crise financeira europeia, o então ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros, Luís Amado, pediu a Ângelo Correia que sondasse Passos Coelho para
saber se este estava disponível para apoiar um Governo de unidade nacional ou
fazer uma coligação com o PS, uma iniciativa que culminou numa conversa entre
os dois líderes partidários.

Na terça-feira, em entrevista à TSF, o ex-primeiro-ministro José Sócrates
confidenciou que chegou a convidar Passos Coelho para o seu último Governo, mas
não avançou detalhes: "Falei por duas ou três vezes com o então líder da
oposição para entrar no Governo. Foi recusado. O líder da oposição queria ser
primeiroministro." Os contactos de Sócrates com Passos Coelho, que
substituiu em Março de 2010 Manuela Ferreira Leite na liderança do PSD,
ocorreram na sequência do agravamento da crise das dívidas públicas excessivas,
e quando o Governo socialista já sentia dificuldades de financiamento e que se
acentuaram com a ameaça de extensão a Portugal das crises grega (Maio de 2010)
e irlandesa (Novembro de 2010).

Foi no contexto das movimentações para que o PSD se juntasse ao PS num Governo
de coligação, que ocorreram entre 2010 e 2011, que o então ministro dos
Negócios Estrangeiros intercedeu junto de Ângelo Correia para que sondasse
Passos Coelho, entretanto eleito líder social-democrata. Luís Amado estava em
Nova Iorque quando telefonou a Ângelo Correia, que, ontem à tarde, em
declarações ao PÚBLICO, confirmou: "A certa altura, recebi um telefonema
de uma pessoa muito importante do Governo do PS que queria inteirar-se se eu
estava disponível para saber se o dr. Passos Coelho estava receptivo a apoiar
um Governo de unidade nacional ou a poder vir a entrar num Governo formado com
o PS". 

O gestor social-democrata, que preside à Fomentinvest, onde Passos
Coelho trabalhou até Junho de 2011, quando foi nomeado para formar Governo,
contou ainda que transmitiu "o recado": "Sei que ele pouco
depois falou com o eng. Sócrates, mas desconheço qual o sentido da conversa que
mantiveram." O PÚBLICO tentou, em vão, obter esclarecimentos por parte do
gabinete de Passos Coelho.

Ângelo Correia lembrou que "algumas pessoas do PSD eram a favor de
que o dr. Passos Coelho deixasse o eng. Sócrates governar por mais algum tempo,
pois tínhamos a consciência de que há reformas estruturais que necessitam da
revisão constitucional e para as quais o PS é indispensável." E observou
que, "embora o PEC IV [cujo chumbo em Março de 2011 ditou o pedido de
demissão do Governo e a ajuda externa] fosse necessário, não permitiria
concretizar um conjunto de reformas estruturais que nele não estavam
incluídas."

O PÚBLICO apurou também, junto de outras fontes, estas da esfera socialista,
que a dada altura Luís Amado terá mesmo admitido deixar a pasta de ministro de
Estado e dos Negócios Estrangeiros, o que abriria a porta a Passos Coelho. O
PÚBLICO não conseguiu confirmar as informações junto de Luís Amado, que não
esteve disponível para falar. A partir de 2010, durante o segundo mandato do
PS, o então ministro (hoje presidente nãoexecutivo do Banif) por várias vezes e
nessa condição defendeu publicamente a constituição de um Governo de unidade
nacional. No final de 2010, quando já se falava no pedido de intervenção da
troika, Amado acabou por se incompatibilizar com Sócrates, embora se tenha
mantido em funções até às eleições de Junho de 2011, que deram a vitória a
Passos Coelho.

Muito antes, Sócrates, na sequência da sua eleição sem maioria absoluta
em Setembro de 2009, também sondou Manuela Ferreira Leite, então presidente do
PSD, para integrar o executivo. A economista e ex-ministra das Finanças de
Durão Barroso respondeu-lhe que tinha sido nomeada para ser oposição e não para
entrar no Governo. Ao PÚBLICO, Ferreira Leite lembrou que "ele convidou
toda gente para formar Governo, desde o Bloco de Esquerda ao CDS." E
rematou: "Um gesto que não passou de uma mera performance, nada de sério,
sem qualquer significado."  

Cristina Ferreira e Luciano Alvarez  

Síntese - No segundo mandato, José Sócrates terá oferecido a Pedro Passos Coelho o lugar de vice-primeiro-ministro com a garantia de que não se recandidataria às eleições seguintes, mas o actual chefe de Governo declinou o convite. (...) Na terça-feira, em entrevista à TSF, o ex-primeiro-ministro José Sócrates confidenciou que chegou a convidar Passos Coelho para o seu último Governo, mas não avançou detalhes: "Falei por duas ou três vezes com o então líder da oposição para entrar no Governo. Foi recusado. O líder da oposição queria ser primeiro ministro." (...) Muito antes, Sócrates, na sequência da sua eleição sem maioria absoluta em Setembro de 2009, também sondou Manuela Ferreira Leite, então presidente do PSD, para integrar o executivo. A economista e ex-ministra das Finanças de Durão Barroso respondeu-lhe que tinha sido nomeada para ser oposição e não para entrar no Governo
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"No seu segundo mandato, no
auge da crise financeira europeia, José Sócrates ofereceu a Pedro Passos Coelho
o lugar de vice-primeiro-ministro. Mas o actual chefe de Governo declinou o
convite. Ângelo Correia confirma ao PÚBLICO que foi sondado por Luís Amado
para interceder junto de Passos Coelho no sentido de saber se estaria
disponível para integrar um Governo de unidade nacional

No segundo mandato, José Sócrates terá oferecido a Pedro Passos Coelho o
lugar de vice-primeiro-ministro com a garantia de que não se recandidataria às
eleições seguintes, mas o actual chefe de Governo declinou o convite. No auge
da crise financeira europeia, o então ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros, Luís Amado, pediu a Ângelo Correia que sondasse Passos Coelho para
saber se este estava disponível para apoiar um Governo de unidade nacional ou
fazer uma coligação com o PS, uma iniciativa que culminou numa conversa entre
os dois líderes partidários.

Na terça-feira, em entrevista à TSF, o ex-primeiro-ministro José Sócrates
confidenciou que chegou a convidar Passos Coelho para o seu último Governo, mas
não avançou detalhes: "Falei por duas ou três vezes com o então líder da
oposição para entrar no Governo. Foi recusado. O líder da oposição queria ser
primeiroministro." Os contactos de Sócrates com Passos Coelho, que
substituiu em Março de 2010 Manuela Ferreira Leite na liderança do PSD,
ocorreram na sequência do agravamento da crise das dívidas públicas excessivas,
e quando o Governo socialista já sentia dificuldades de financiamento e que se
acentuaram com a ameaça de extensão a Portugal das crises grega (Maio de 2010)
e irlandesa (Novembro de 2010).

Foi no contexto das movimentações para que o PSD se juntasse ao PS num Governo
de coligação, que ocorreram entre 2010 e 2011, que o então ministro dos
Negócios Estrangeiros intercedeu junto de Ângelo Correia para que sondasse
Passos Coelho, entretanto eleito líder social-democrata. Luís Amado estava em
Nova Iorque quando telefonou a Ângelo Correia, que, ontem à tarde, em
declarações ao PÚBLICO, confirmou: "A certa altura, recebi um telefonema
de uma pessoa muito importante do Governo do PS que queria inteirar-se se eu
estava disponível para saber se o dr. Passos Coelho estava receptivo a apoiar
um Governo de unidade nacional ou a poder vir a entrar num Governo formado com
o PS". 

O gestor social-democrata, que preside à Fomentinvest, onde Passos
Coelho trabalhou até Junho de 2011, quando foi nomeado para formar Governo,
contou ainda que transmitiu "o recado": "Sei que ele pouco
depois falou com o eng. Sócrates, mas desconheço qual o sentido da conversa que
mantiveram." O PÚBLICO tentou, em vão, obter esclarecimentos por parte do
gabinete de Passos Coelho.

Ângelo Correia lembrou que "algumas pessoas do PSD eram a favor de
que o dr. Passos Coelho deixasse o eng. Sócrates governar por mais algum tempo,
pois tínhamos a consciência de que há reformas estruturais que necessitam da
revisão constitucional e para as quais o PS é indispensável." E observou
que, "embora o PEC IV [cujo chumbo em Março de 2011 ditou o pedido de
demissão do Governo e a ajuda externa] fosse necessário, não permitiria
concretizar um conjunto de reformas estruturais que nele não estavam
incluídas."

O PÚBLICO apurou também, junto de outras fontes, estas da esfera socialista,
que a dada altura Luís Amado terá mesmo admitido deixar a pasta de ministro de
Estado e dos Negócios Estrangeiros, o que abriria a porta a Passos Coelho. O
PÚBLICO não conseguiu confirmar as informações junto de Luís Amado, que não
esteve disponível para falar. A partir de 2010, durante o segundo mandato do
PS, o então ministro (hoje presidente nãoexecutivo do Banif) por várias vezes e
nessa condição defendeu publicamente a constituição de um Governo de unidade
nacional. No final de 2010, quando já se falava no pedido de intervenção da
troika, Amado acabou por se incompatibilizar com Sócrates, embora se tenha
mantido em funções até às eleições de Junho de 2011, que deram a vitória a
Passos Coelho.

Muito antes, Sócrates, na sequência da sua eleição sem maioria absoluta
em Setembro de 2009, também sondou Manuela Ferreira Leite, então presidente do
PSD, para integrar o executivo. A economista e ex-ministra das Finanças de
Durão Barroso respondeu-lhe que tinha sido nomeada para ser oposição e não para
entrar no Governo. Ao PÚBLICO, Ferreira Leite lembrou que "ele convidou
toda gente para formar Governo, desde o Bloco de Esquerda ao CDS." E
rematou: "Um gesto que não passou de uma mera performance, nada de sério,
sem qualquer significado."  

Cristina Ferreira e Luciano Alvarez  

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