GOTA DE ÁGUA: António Vitorino: na Europa o "único Partido Socialista com 37% nas sondagens é o PS"

04-01-2020
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Antigo comissário europeu e ex-ministro do Governo
de António Guterres defendeu o "cumprimento imperativo" do programa
de assistência e criticou a "pressão" feita sobre o Tribunal
Constitucional

Não deixou de ser um elogio à
liderança de António
José Seguro. O ex-ministro da Defesa e antigo comissário
europeu António Vitorino assinalou ontem o facto de o partido liderado por
Seguro estar, actualmente, "com o melhor resultado dos partidos
socialistas no espaço europeu" depois do desabafo de Mário Soares sobre o
PS.
Numa entrevista à TSF (...) Vitorino considerou "surpreendentes" algumas das críticas
feitas à liderança socialista. "Porque, se olhar para o panorama europeu,
o único Partido Socialista que está na oposição e que tem uma indicação de voto
na ordem dos 37% é o PS português.
O que se aproxima mais deste número é o Partido
Trabalhista inglês, que tem 33%. Se olhar aqui para a vizinha Espanha, o PSOE
tem 28% de indicações de voto. E o próprio SPD alemão, que acabou de disputar
eleições, teve um resultado bastante medíocre de 26%, isto é, três pontos acima
do que tinha tido nas anteriores eleições", sustentou.
O reparo do antigo responsável político surgiu um
dia depois de o ex-Presidente ter dito, no lançamento de um livro que, "se
o PS fosse um bocadinho mais activo, tinha 90%, com certeza". Ainda assim,
o ex-comissário europeu reconheceu que "o PS, neste momento, não é ainda a
alternativa que pudesse motivar uma alteração radical do panorama político
português".

Da parte da
direcção do PS não houve qualquer reacção oficial. Mas o secretário nacional
Eurico Dias assumiu ao PÚBLICO que Mário Soares "é livre de fazer o que
entende", assistindo ao antigo chefe de Estado o direito de ter "um
espaço de intervenção que o PS não tem de estar sempre a comentar". Apenas
acrescentou que, na sua opinião, a expressão dos 90% "não podia ser levada
à letra".
O distanciamento de António Vitorino em relação a
algumas posições socialistas também se verifica nas questões europeias, sendo
de destacar a defesa determinada do cumprimento imperativo do programa de
ajustamento acordado com a troika. 

"A verdade é muito simples: nós temos
absolutamente que concluir o programa de assistência financeira até Junho de
2014", defende o socialista António Vitorino. E deixa um aviso que é
dirigido também (e muito) aos que no PS têm levantado a voz para usar como
bandeira os falhanços do Governo: "Para a credibilidade do país, é
necessário que não se suscite qualquer dúvida sobre a capacidade que temos de
pagar a dívida."

O também
antigo juiz-conselheiro do Tribunal Constitucional considera que tem havido
sobre o TC uma "deriva de pressão que não se justifica". E faz
questão de citar um trabalho do PÚBLICO para afirmar que "não há nenhuma
relação directa" entre a variação dos juros da dívida pública no mercado
secundário em função das decisões do TC

Vitorino,
porém, não tem dúvidas: "Os juros subiram, e muito, para um nível quase
equiparável àquele em que estavam quando pedimos assistência financeira [Marco
de 2011] durante a crise governamental provocada pela demissão do ministro
Vítor Gaspar e depois pela irrevogabilidade da decisão do ministro Paulo Portas.
Aí [no início de Julho deste ano] sim, os juros subiram a sério e ainda estamos
a pagar esse preço", aponta o socialista.

A tendência para o actual Governo
responsabilizar aquela instituição, colocando-a "no pelourinho como o
culpado pela subida dos juros da dívida pública portuguesa, além de uma
falsidade, é uma ignomínia".

Há duas
palavras sobre a dívida que "queimam" os lábios de Vitorino, como o
próprio admite: reestruturação e mutualização. "Uma reestruturação da
dívida tal como sucedeu na Grécia significa que os credores não vão reaver tudo
o que emprestaram. E portanto eu não falo de reestruturação e acho muito
perigoso que responsáveis políticos portugueses andem a falar de segundo
resgate ou de reestruturação. Se quiser, no limite, eu falo de um
reescalonamento no tempo, semelhante àquele que já ocorreu e que pode ainda ser
levado mais além."

Sobre a
mutualização o socialista diz que são já aplicadas duas formas de mutualização,
através da intervenção do BCE e o mecanismo europeu de estabilidade. "O
problema é que não chega. Porque é preciso, além disso, em relação à dívida
acumulada, dar uma garantia de que ela será paga" - para que não haja
contágio de novo, como aconteceu com a Grécia.

Antigo comissário europeu e ex-ministro do Governo
de António Guterres defendeu o "cumprimento imperativo" do programa
de assistência e criticou a "pressão" feita sobre o Tribunal
Constitucional

Não deixou de ser um elogio à
liderança de António
José Seguro. O ex-ministro da Defesa e antigo comissário
europeu António Vitorino assinalou ontem o facto de o partido liderado por
Seguro estar, actualmente, "com o melhor resultado dos partidos
socialistas no espaço europeu" depois do desabafo de Mário Soares sobre o
PS.
Numa entrevista à TSF (...) Vitorino considerou "surpreendentes" algumas das críticas
feitas à liderança socialista. "Porque, se olhar para o panorama europeu,
o único Partido Socialista que está na oposição e que tem uma indicação de voto
na ordem dos 37% é o PS português.
O que se aproxima mais deste número é o Partido
Trabalhista inglês, que tem 33%. Se olhar aqui para a vizinha Espanha, o PSOE
tem 28% de indicações de voto. E o próprio SPD alemão, que acabou de disputar
eleições, teve um resultado bastante medíocre de 26%, isto é, três pontos acima
do que tinha tido nas anteriores eleições", sustentou.
O reparo do antigo responsável político surgiu um
dia depois de o ex-Presidente ter dito, no lançamento de um livro que, "se
o PS fosse um bocadinho mais activo, tinha 90%, com certeza". Ainda assim,
o ex-comissário europeu reconheceu que "o PS, neste momento, não é ainda a
alternativa que pudesse motivar uma alteração radical do panorama político
português".

Da parte da
direcção do PS não houve qualquer reacção oficial. Mas o secretário nacional
Eurico Dias assumiu ao PÚBLICO que Mário Soares "é livre de fazer o que
entende", assistindo ao antigo chefe de Estado o direito de ter "um
espaço de intervenção que o PS não tem de estar sempre a comentar". Apenas
acrescentou que, na sua opinião, a expressão dos 90% "não podia ser levada
à letra".
O distanciamento de António Vitorino em relação a
algumas posições socialistas também se verifica nas questões europeias, sendo
de destacar a defesa determinada do cumprimento imperativo do programa de
ajustamento acordado com a troika. 

"A verdade é muito simples: nós temos
absolutamente que concluir o programa de assistência financeira até Junho de
2014", defende o socialista António Vitorino. E deixa um aviso que é
dirigido também (e muito) aos que no PS têm levantado a voz para usar como
bandeira os falhanços do Governo: "Para a credibilidade do país, é
necessário que não se suscite qualquer dúvida sobre a capacidade que temos de
pagar a dívida."

O também
antigo juiz-conselheiro do Tribunal Constitucional considera que tem havido
sobre o TC uma "deriva de pressão que não se justifica". E faz
questão de citar um trabalho do PÚBLICO para afirmar que "não há nenhuma
relação directa" entre a variação dos juros da dívida pública no mercado
secundário em função das decisões do TC

Vitorino,
porém, não tem dúvidas: "Os juros subiram, e muito, para um nível quase
equiparável àquele em que estavam quando pedimos assistência financeira [Marco
de 2011] durante a crise governamental provocada pela demissão do ministro
Vítor Gaspar e depois pela irrevogabilidade da decisão do ministro Paulo Portas.
Aí [no início de Julho deste ano] sim, os juros subiram a sério e ainda estamos
a pagar esse preço", aponta o socialista.

A tendência para o actual Governo
responsabilizar aquela instituição, colocando-a "no pelourinho como o
culpado pela subida dos juros da dívida pública portuguesa, além de uma
falsidade, é uma ignomínia".

Há duas
palavras sobre a dívida que "queimam" os lábios de Vitorino, como o
próprio admite: reestruturação e mutualização. "Uma reestruturação da
dívida tal como sucedeu na Grécia significa que os credores não vão reaver tudo
o que emprestaram. E portanto eu não falo de reestruturação e acho muito
perigoso que responsáveis políticos portugueses andem a falar de segundo
resgate ou de reestruturação. Se quiser, no limite, eu falo de um
reescalonamento no tempo, semelhante àquele que já ocorreu e que pode ainda ser
levado mais além."

Sobre a
mutualização o socialista diz que são já aplicadas duas formas de mutualização,
através da intervenção do BCE e o mecanismo europeu de estabilidade. "O
problema é que não chega. Porque é preciso, além disso, em relação à dívida
acumulada, dar uma garantia de que ela será paga" - para que não haja
contágio de novo, como aconteceu com a Grécia.

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