Ídolos: a promoção do lixo musical

19-12-2019
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Audição de Sandra Pereira. Declarações absolutamente vergonhosas do “júri”.

O panorama actual da cultura é o que se vê nas montras das lojas. Entramos numa livraria e as publicações mais vendidas são as obras de Margarida Rebelo Pinto, José Rodrigues dos Santos e Miguel Sousa Tavares. Se passarmos à lista de discos mais vendidos, encontramos todo o tipo de lixo musical que promovem as grandes editoras. E se nos detivermos num ou outro programa televisivo assistimos à formatação da população.

Hoje, vi o Ídolos. O programa do terceiro canal da televisão portuguesa dedica-se a promover jovens músicos. Mas como o faz? Curiosamente, é interessante reparar que o vencedor do ano passado conseguiu ganhar remando contra a corrente comercial. Num estilo mais grunge, arrastou uma audiência, normalmente, afastada deste tipo de programas. Nunca pensei ver no Ídolos alguém interpretar Ornatos Violeta, Nirvana, The Smashing Pumpkins ou Zeca Afonso.

Na primeira audição, o júri arrasou-o. Como é hábito, escolhem quatro tipos que encarnem o pior da cultura e consigam transformar as audições em espectáculos de humilhação pública. O agente de Jorge Palma, Manuel Moura dos Santos, é o pior. Uma espécie rasteira sempre pronto a defender a música comercial e a atacar todos os que se afastem desse caminho. Entretanto, há uma brasileira que ninguém percebe porque está ali, senão por ser bonita e filha do patrão do Rock in Rio. O responsável pelos canais temáticos da SIC e, finalmente, um músico, Laurent Filipe.

Em relação ao Filipe Pinto, atacaram-no por afirmar que não queria tocar música comercial. Acabou por ganhar o concurso. Este ano, a história repetiu-se. Sandra Pereira apareceu na audição a tocar e cantar Zeca Afonso com uma guitarra com a bandeira basca. Foi criticada violentamente quando explicou que tinha um grupo de música de intervenção. O agente de Jorge Palma disse que Zeca Afonso não era música pop e que não fazia parte da linha musical do concurso. Depois de perguntar a idade à concorrente, o responsável da SIC foi nojento: “portanto, deve estar quase a passar essa dimensão retro-hippie-chique-esquerda”. “Queres salvar as focas, os glaciares e os icebergues ou queres ganhar este concurso e ir em frente?”, acrescentou depois.

Já Martim Vicente, o outro finalista deste ano, optou por uma postura mais prudente. Ainda assim, não despiu o seu amor pela música popular portuguesa que tantas vezes expressou na Festa do «Avante!» e em concertos da União de Resistentes Antifascistas Portugueses. Ambos são óptimos artistas mas foram obrigados a ceder às imposições musicais do programa. O objectivo não é promover bons músicos. O objectivo é promover o espectáculo vazio e comercial que dá todos os domingos na SIC.

Depois do programa, o vencedor só terá uma hipótese se quiser afirmar-se no mercado português: despir o carácter mais interventivo das suas letras, abraçar as sonoridades comerciais e apostar na imagem. Prefiro-os desconhecidos a tocar do nosso lado que conhecidos a tocar do outro lado. Da barricada, claro.

Audição de Sandra Pereira. Declarações absolutamente vergonhosas do “júri”.

O panorama actual da cultura é o que se vê nas montras das lojas. Entramos numa livraria e as publicações mais vendidas são as obras de Margarida Rebelo Pinto, José Rodrigues dos Santos e Miguel Sousa Tavares. Se passarmos à lista de discos mais vendidos, encontramos todo o tipo de lixo musical que promovem as grandes editoras. E se nos detivermos num ou outro programa televisivo assistimos à formatação da população.

Hoje, vi o Ídolos. O programa do terceiro canal da televisão portuguesa dedica-se a promover jovens músicos. Mas como o faz? Curiosamente, é interessante reparar que o vencedor do ano passado conseguiu ganhar remando contra a corrente comercial. Num estilo mais grunge, arrastou uma audiência, normalmente, afastada deste tipo de programas. Nunca pensei ver no Ídolos alguém interpretar Ornatos Violeta, Nirvana, The Smashing Pumpkins ou Zeca Afonso.

Na primeira audição, o júri arrasou-o. Como é hábito, escolhem quatro tipos que encarnem o pior da cultura e consigam transformar as audições em espectáculos de humilhação pública. O agente de Jorge Palma, Manuel Moura dos Santos, é o pior. Uma espécie rasteira sempre pronto a defender a música comercial e a atacar todos os que se afastem desse caminho. Entretanto, há uma brasileira que ninguém percebe porque está ali, senão por ser bonita e filha do patrão do Rock in Rio. O responsável pelos canais temáticos da SIC e, finalmente, um músico, Laurent Filipe.

Em relação ao Filipe Pinto, atacaram-no por afirmar que não queria tocar música comercial. Acabou por ganhar o concurso. Este ano, a história repetiu-se. Sandra Pereira apareceu na audição a tocar e cantar Zeca Afonso com uma guitarra com a bandeira basca. Foi criticada violentamente quando explicou que tinha um grupo de música de intervenção. O agente de Jorge Palma disse que Zeca Afonso não era música pop e que não fazia parte da linha musical do concurso. Depois de perguntar a idade à concorrente, o responsável da SIC foi nojento: “portanto, deve estar quase a passar essa dimensão retro-hippie-chique-esquerda”. “Queres salvar as focas, os glaciares e os icebergues ou queres ganhar este concurso e ir em frente?”, acrescentou depois.

Já Martim Vicente, o outro finalista deste ano, optou por uma postura mais prudente. Ainda assim, não despiu o seu amor pela música popular portuguesa que tantas vezes expressou na Festa do «Avante!» e em concertos da União de Resistentes Antifascistas Portugueses. Ambos são óptimos artistas mas foram obrigados a ceder às imposições musicais do programa. O objectivo não é promover bons músicos. O objectivo é promover o espectáculo vazio e comercial que dá todos os domingos na SIC.

Depois do programa, o vencedor só terá uma hipótese se quiser afirmar-se no mercado português: despir o carácter mais interventivo das suas letras, abraçar as sonoridades comerciais e apostar na imagem. Prefiro-os desconhecidos a tocar do nosso lado que conhecidos a tocar do outro lado. Da barricada, claro.

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