Antes de irmos às notícias, aceite este convite do Expresso: debater a Europa com quem a vive e faz. Tem ainda duas semanas para se inscrever no desafio Europe Talks , que juntará dezenas de milhares de pessoas em todo o continente. O processo é fácil: responda sim ou não a sete perguntas sobre questões atuais e será posto em contacto com alguém que pense de forma muito diferente. A partir desse momento podem trocar impressões e conhecer-se melhor. O objetivo é incentivar conversas sem filtro que vão bem além da discussão tantas vezes binária, maniqueísta e pouco aprofundada nas redes sociais. Quinze órgãos de comunicação europeus — entre eles o Expresso — uniram-se para criar este espaço de discussão e partilha de ideias sobre o futuro do continente. Pretende-se estimular as capacidades de ouvir e conhecer outras experiências de vida, mais do que “marcar pontos” sobre a opinião do interlocutor. No dia 13 de dezembro pelas 14h (hora portuguesa) haverá milhares de encontros virtuais, cara a cara, entre os participantes que queriam dar seguimento à conversa numa videochamada. Trata-se de completos desconhecidos com opiniões contrárias sobre assuntos que vão do equilíbrio entre proteger a saúde dos cidadãos face à pandemia vs. assegurar que a economia não entre em colapso; a saber se as cidades europeias deviam ser todas livres de automóveis. Na primeira edição experimental Germany Talks, organizada pelo jornal “Die Zeit” em 2017, mais de 1200 pessoas oriundas de toda a Alemanha participaram em encontros cara a cara. Desde então este universo cresceu, envolvendo jornais como o italiano “La Repubblica”, o polaco “Gazeta Wyborcza”, o dinamarquês “Politiken”, o grego “Efsyn” ou o finlandês “Helsingin Sanomat”. Na última edição, em 2019, o Europe Talks controu com mais de 17 mil participantes de 33 países. Nos últimos anos mais de 100 mil pessoas com visões políticas conflituantes — de países tão variados como Noruega, Itália, Áustria ou Bélgica — trocaram ideias em mais de 40 mil encontros, quer presenciais quer à distância. Este ano o Europe Talks chega a Portugal, pela mão do Expresso. A pandemia de covid-19 torna os encontros pessoais mais difíceis, mas o diálogo é mais importante do que nunca. O Europe Talks 2020 será 100% digital, com milhares de conversas a acontecer online e programação digital de todo o continente. Consulte aqui a política de privacidade deste projeto.
O que ando a ler
Peguei há dias num romance português muito louvado, incluindo por pelo menos dois cronistas desta casa (José Tolentino Mendonça e Henrique Raposo). Tinham razão. “A Gorda”, de Isabela Figueiredo, lê-se com voracidade, espanto e, no caso de quem assina estas linhas, autocrítica. Leva-nos a um Portugal e a um mundo que é fácil esquecer do alto de um cosmopolitismo urbano que não pode tornar-nos desatentos a tudo quanto se passa à volta ou, como diria a autora, a quem se sente invisível.
Na mesa de cabeceira esperam livros recentes...
“Olhe que não, olhe que não!”, de José Pedro Castanheira (querido camarada do Expresso) e José Maria Brandão de Brito. Vai buscar título à famosa frase de Álvaro Cunhal no debate com Mário Soares, em 1975, que resume o que esteve em jogo durante o PREC (o nosso, o original). O engraçado é que a obra não fala de um mas de dois-debates-dois: o que todos recordam, na RTP, com 3h40 de duração e moderadores de cigarro em riste; mas também outro na francesa Antenne 2, uns meses antes. Transcrição completa de ambos e devida contextualização histórica prometem leitura cativante e esclarecedora.
“A grande escolha” é a reflexão de Adolfo Mesquita Nunes, uma das vozes mais corajosas e interessantes da direita democrática portuguesa, sobre um mundo que hesita entre manter-se aberto e fechar-se sobre si mesmo. Quem acompanhou os estimulantes direitos que o antigo dirigente do CDS encetou nas redes sociais durante o primeiro confinamento saberá ao que vai. Quem não os seguiu não perde pela demora.
Encomendados estão já o segundo número da refrescante revista literária “Lote”, a prometer poesia e ensaio de qualidade, e “A República à deriva”, compilação das colunas no Expresso de Sérgio Sousa Pinto, voz desafiante e sempre boa de ouvir na esquerda democrática portuguesa.
O que ando a ver
Estreou ontem a quarta temporada de “The Crown” e yours truly já deglutiu metade dos seus dez episódios. Centrada no período 1979-1990, a maravilhosa série sobre Isabel II. Quase a cumprir 69 anos de reinado, a soberana, com 94 de idade, já tem planos para celebrar os 70, em 2022. Fica aqui a crítica televisiva da revista “New Statesman”.
Se há semanas recomendei (e reafirmo a recomendação) “Pátria”, sobre o País Basco, hoje deixo esta interessante entrevista às duas magistrais atrizes que protagonizam a adaptação do romance de Fernando Aramburu.
Num estilo completamente diferente, intrigou-me e divertiu-me “O gambito da rainha”, sobre uma jovem promessa do xadrez, mas na verdade sobre muito mais do que isso.
Porque nem em tempos de coronavírus o pequeno ecrã deve esgotar os nossos horizontes, cabe recordar que começou sexta-feira o Lisbon and Sintra Film Festival (LEFFEST). O programa é riquíssimo, dura até dia 25 e inclui retrospetivas de Paul Thomas Anderson e Wong Kar-wai, além da estreia nacional do novo Pedro Almodóvar.
E porque os palcos precisam de vida, em cima deles mas também na plateia, estarei atento, às 10h de hoje, à divulgação dos próximos três meses de programação musical da Fundação Calouste Gulbenkian, onde até ao fim do ano ainda assistirei a três recitais. E aguardo pelo dia já marcado para ir ao Teatro Aberto ver “Só eu escapei”, da inglesa Caryl Churchill, com quatro portentos da representação lusa: Lídia Franco, Márcia Breia, Catarina Avelar e Maria Emília Correia.
Nas artes visuais, breve menção a um texto de intriga e conspiração mafiosa sobre o desaparecimento de um quadro do século XV. Melhor só se lesse Frederico Lourenço a escrever sobre a pintura propriamente dita...
O que ando a ouvir
De volta ao conforto do lar ou do passeio que ainda assim é permitido, há discos novos a não perder. Sexta-feira sai o álbum de Sérgio Godinho com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, gravado ao vivo no Teatro São Luiz. A primeira pérola a sair é este “Com um brilhozinho nos olhos”, clássico com novas roupagens que faz antever o melhor. Para fãs do músico e escritor que tenham crianças, há também peça na Malaposta adaptada de um livro seu.
Adrianne Lenker faz coisas belas da solidão, escreve com razão a Lia Pereira, na “Blitz”, a propósito do seu mais recente trabalho em dupla frente, vocal e instrumental. E se de milagres se trata, os AC/DC voltaram do abismo com um disco que não desmerece e que, sobretudo, fascina pela improbabilidade desta ressurreição, aqui escandida por “The Guardian”.
Por fim um guilty pleasure. Sabem família e amigos que sou tão entusiasta de celebrar o Natal quanto arredio a antecipar demasiado o começo da quadra. Em 2020 flexibilizei. Ainda não montámos a árvore mas já se toleram sons festivos, que anda toda a gente necessitada de calor e esperança. Disse “toleram”? Esqueçam. O disco natalíco de Chilly Gonzales ouve-se com gáudio e mescla clássicos antigos e modernos. Se, no título de uma das suas 15 faixas, “Maria caminhou por uma floresta de espinhos”, é com votos de caminhada limpa e feliz para Maria e todos que encerro este Expresso Curto. Estamos por aqui, esteja connosco.
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Antes de irmos às notícias, aceite este convite do Expresso: debater a Europa com quem a vive e faz. Tem ainda duas semanas para se inscrever no desafio Europe Talks , que juntará dezenas de milhares de pessoas em todo o continente. O processo é fácil: responda sim ou não a sete perguntas sobre questões atuais e será posto em contacto com alguém que pense de forma muito diferente. A partir desse momento podem trocar impressões e conhecer-se melhor. O objetivo é incentivar conversas sem filtro que vão bem além da discussão tantas vezes binária, maniqueísta e pouco aprofundada nas redes sociais. Quinze órgãos de comunicação europeus — entre eles o Expresso — uniram-se para criar este espaço de discussão e partilha de ideias sobre o futuro do continente. Pretende-se estimular as capacidades de ouvir e conhecer outras experiências de vida, mais do que “marcar pontos” sobre a opinião do interlocutor. No dia 13 de dezembro pelas 14h (hora portuguesa) haverá milhares de encontros virtuais, cara a cara, entre os participantes que queriam dar seguimento à conversa numa videochamada. Trata-se de completos desconhecidos com opiniões contrárias sobre assuntos que vão do equilíbrio entre proteger a saúde dos cidadãos face à pandemia vs. assegurar que a economia não entre em colapso; a saber se as cidades europeias deviam ser todas livres de automóveis. Na primeira edição experimental Germany Talks, organizada pelo jornal “Die Zeit” em 2017, mais de 1200 pessoas oriundas de toda a Alemanha participaram em encontros cara a cara. Desde então este universo cresceu, envolvendo jornais como o italiano “La Repubblica”, o polaco “Gazeta Wyborcza”, o dinamarquês “Politiken”, o grego “Efsyn” ou o finlandês “Helsingin Sanomat”. Na última edição, em 2019, o Europe Talks controu com mais de 17 mil participantes de 33 países. Nos últimos anos mais de 100 mil pessoas com visões políticas conflituantes — de países tão variados como Noruega, Itália, Áustria ou Bélgica — trocaram ideias em mais de 40 mil encontros, quer presenciais quer à distância. Este ano o Europe Talks chega a Portugal, pela mão do Expresso. A pandemia de covid-19 torna os encontros pessoais mais difíceis, mas o diálogo é mais importante do que nunca. O Europe Talks 2020 será 100% digital, com milhares de conversas a acontecer online e programação digital de todo o continente. Consulte aqui a política de privacidade deste projeto.
O que ando a ler
Peguei há dias num romance português muito louvado, incluindo por pelo menos dois cronistas desta casa (José Tolentino Mendonça e Henrique Raposo). Tinham razão. “A Gorda”, de Isabela Figueiredo, lê-se com voracidade, espanto e, no caso de quem assina estas linhas, autocrítica. Leva-nos a um Portugal e a um mundo que é fácil esquecer do alto de um cosmopolitismo urbano que não pode tornar-nos desatentos a tudo quanto se passa à volta ou, como diria a autora, a quem se sente invisível.
Na mesa de cabeceira esperam livros recentes...
“Olhe que não, olhe que não!”, de José Pedro Castanheira (querido camarada do Expresso) e José Maria Brandão de Brito. Vai buscar título à famosa frase de Álvaro Cunhal no debate com Mário Soares, em 1975, que resume o que esteve em jogo durante o PREC (o nosso, o original). O engraçado é que a obra não fala de um mas de dois-debates-dois: o que todos recordam, na RTP, com 3h40 de duração e moderadores de cigarro em riste; mas também outro na francesa Antenne 2, uns meses antes. Transcrição completa de ambos e devida contextualização histórica prometem leitura cativante e esclarecedora.
“A grande escolha” é a reflexão de Adolfo Mesquita Nunes, uma das vozes mais corajosas e interessantes da direita democrática portuguesa, sobre um mundo que hesita entre manter-se aberto e fechar-se sobre si mesmo. Quem acompanhou os estimulantes direitos que o antigo dirigente do CDS encetou nas redes sociais durante o primeiro confinamento saberá ao que vai. Quem não os seguiu não perde pela demora.
Encomendados estão já o segundo número da refrescante revista literária “Lote”, a prometer poesia e ensaio de qualidade, e “A República à deriva”, compilação das colunas no Expresso de Sérgio Sousa Pinto, voz desafiante e sempre boa de ouvir na esquerda democrática portuguesa.
O que ando a ver
Estreou ontem a quarta temporada de “The Crown” e yours truly já deglutiu metade dos seus dez episódios. Centrada no período 1979-1990, a maravilhosa série sobre Isabel II. Quase a cumprir 69 anos de reinado, a soberana, com 94 de idade, já tem planos para celebrar os 70, em 2022. Fica aqui a crítica televisiva da revista “New Statesman”.
Se há semanas recomendei (e reafirmo a recomendação) “Pátria”, sobre o País Basco, hoje deixo esta interessante entrevista às duas magistrais atrizes que protagonizam a adaptação do romance de Fernando Aramburu.
Num estilo completamente diferente, intrigou-me e divertiu-me “O gambito da rainha”, sobre uma jovem promessa do xadrez, mas na verdade sobre muito mais do que isso.
Porque nem em tempos de coronavírus o pequeno ecrã deve esgotar os nossos horizontes, cabe recordar que começou sexta-feira o Lisbon and Sintra Film Festival (LEFFEST). O programa é riquíssimo, dura até dia 25 e inclui retrospetivas de Paul Thomas Anderson e Wong Kar-wai, além da estreia nacional do novo Pedro Almodóvar.
E porque os palcos precisam de vida, em cima deles mas também na plateia, estarei atento, às 10h de hoje, à divulgação dos próximos três meses de programação musical da Fundação Calouste Gulbenkian, onde até ao fim do ano ainda assistirei a três recitais. E aguardo pelo dia já marcado para ir ao Teatro Aberto ver “Só eu escapei”, da inglesa Caryl Churchill, com quatro portentos da representação lusa: Lídia Franco, Márcia Breia, Catarina Avelar e Maria Emília Correia.
Nas artes visuais, breve menção a um texto de intriga e conspiração mafiosa sobre o desaparecimento de um quadro do século XV. Melhor só se lesse Frederico Lourenço a escrever sobre a pintura propriamente dita...
O que ando a ouvir
De volta ao conforto do lar ou do passeio que ainda assim é permitido, há discos novos a não perder. Sexta-feira sai o álbum de Sérgio Godinho com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, gravado ao vivo no Teatro São Luiz. A primeira pérola a sair é este “Com um brilhozinho nos olhos”, clássico com novas roupagens que faz antever o melhor. Para fãs do músico e escritor que tenham crianças, há também peça na Malaposta adaptada de um livro seu.
Adrianne Lenker faz coisas belas da solidão, escreve com razão a Lia Pereira, na “Blitz”, a propósito do seu mais recente trabalho em dupla frente, vocal e instrumental. E se de milagres se trata, os AC/DC voltaram do abismo com um disco que não desmerece e que, sobretudo, fascina pela improbabilidade desta ressurreição, aqui escandida por “The Guardian”.
Por fim um guilty pleasure. Sabem família e amigos que sou tão entusiasta de celebrar o Natal quanto arredio a antecipar demasiado o começo da quadra. Em 2020 flexibilizei. Ainda não montámos a árvore mas já se toleram sons festivos, que anda toda a gente necessitada de calor e esperança. Disse “toleram”? Esqueçam. O disco natalíco de Chilly Gonzales ouve-se com gáudio e mescla clássicos antigos e modernos. Se, no título de uma das suas 15 faixas, “Maria caminhou por uma floresta de espinhos”, é com votos de caminhada limpa e feliz para Maria e todos que encerro este Expresso Curto. Estamos por aqui, esteja connosco.