Os Tempos e as Vontades

01-06-2020
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José Sócrates habituou-nos ao longo de seis anos ao pior, e os anos que o antecederam não foram propriamente bons. Foi um péssimo primeiro-ministro que levou o país à bancarrota, negando as evidências, ocultando factos, mentindo. Viu-se, ele e a sua família, envolvidos em casos da justiça, esbanjou milhões em projectos sem nexo nem futuro, foi autoritário, autocrático, puniu a critica à sua pessoa. Agora, em fim de ciclo JS – e o seu governo – são o peso e a medida, são a referencia. Para nosso mal, e perante tal peso e tal medida não é difícil encontrar melhor. Perante o mau, o medíocre até brilha e parece bom, ou dizendo de outra maneira: em terra de cego, quem tem um olho é rei. É neste contexto que se enquadra Pedro Passos Coelho: ele tem o dito olho na terra de cegos. É muito melhor do que José Sócrates, mas é fraco, é um mau líder, é uma pessoa sem o peso que se acredita que homens(mulheres) de estado devem ter. O facto de eu votar nele não diz bem dele, diz mal das alternativas. E diz também que eu acredito que só um resultado bastante favorável ao PSD (e não ao CDS) dá a mínima esperança de um governo credível e estável, e que gostava de acreditar que PPC será melhor primeiro-ministro do que é líder do partido. Somos muitos a pensar assim. Não pertencemos às estruturas de nenhum partido, não somos filiados, mas votamos de acordo com o que, no momento, acreditamos ser o melhor para o país. Se PPC não percebe, não vê, não sente este fenómeno então anda mais alheado da realidade do que seria desejável, e esse alheamento não é bom. Muitos votantes do PSD preferiam claramente outro líder: Paulo Rangel, Rui Rio, mas terão que votar neste. E votam, mas o voto não é certificado de cegueira, surdez, placidez acrítica ou estupidez.Exultaram quando PPC, com mérito, fez um bom debate com José Sócrates, rejubilaram com o primeiro vislumbre de derrota no semblante, gestos, e argumentos do actual primeiro-ministro, mas todos os dias se sentem frustrados com os sucessivos tiros no pé da liderança do PSD, dos quais destaco o caso Fernando Nobre que custará alguns votos que se desviam para o CDS. Ontem, PPC armado em virgem ofendida, como se nós tivéssemos esquecido a contra-campanha orquestrada por ele (seus conselheiros, sua máquina comunicacional, com o apoio de tantos meios de comunicação) contra Manuela Ferreira Leite na anterior campanha eleitoral, queixa-se de José Pacheco Pereira que, segundo Maria João Marques que escreve este post a merecer leitura na íntegra, tem mais neurónios que os conselheiros de PPC todos juntos, como de resto se vê pelos resultados das sondagens depois de seis anos de Sócrates e da sua tão pessoalíssima bancarrota.É sintomático este desconforto perante a crítica, José Sócrates sempre o teve (caso Manuela Moura Guedes) e Pedro Santana Lopes também (caso Marcelo Rebelo de Sousa). Ambos (MMG e MRS) tinham um espaço de grande audiência e de qualidade (outro valor normalmente desprezado). Também sintomático é o pouco apreço que os portugueses, através da vozes dos seus líderes políticos, dão à liberdade. Liberdade de pensar, de opinar, de escrever com qualidade, liberdade de querer ou não ser deputado. Liberdade de ‘ser’ fora do controle do aparelho partidário. Preferiam pensadores e opinadores formatados pelo partido (pelo menos para efeitos de intervenção pública), que – à maneira de António Costa, por exemplo, se contorcem tantas vezes para defender o indefensável. Disso já gostam. Disso não se queixam. Outro tiro no pé. Resta saber quantos pés sobram até ao dia 5.


José Sócrates habituou-nos ao longo de seis anos ao pior, e os anos que o antecederam não foram propriamente bons. Foi um péssimo primeiro-ministro que levou o país à bancarrota, negando as evidências, ocultando factos, mentindo. Viu-se, ele e a sua família, envolvidos em casos da justiça, esbanjou milhões em projectos sem nexo nem futuro, foi autoritário, autocrático, puniu a critica à sua pessoa. Agora, em fim de ciclo JS – e o seu governo – são o peso e a medida, são a referencia. Para nosso mal, e perante tal peso e tal medida não é difícil encontrar melhor. Perante o mau, o medíocre até brilha e parece bom, ou dizendo de outra maneira: em terra de cego, quem tem um olho é rei. É neste contexto que se enquadra Pedro Passos Coelho: ele tem o dito olho na terra de cegos. É muito melhor do que José Sócrates, mas é fraco, é um mau líder, é uma pessoa sem o peso que se acredita que homens(mulheres) de estado devem ter. O facto de eu votar nele não diz bem dele, diz mal das alternativas. E diz também que eu acredito que só um resultado bastante favorável ao PSD (e não ao CDS) dá a mínima esperança de um governo credível e estável, e que gostava de acreditar que PPC será melhor primeiro-ministro do que é líder do partido. Somos muitos a pensar assim. Não pertencemos às estruturas de nenhum partido, não somos filiados, mas votamos de acordo com o que, no momento, acreditamos ser o melhor para o país. Se PPC não percebe, não vê, não sente este fenómeno então anda mais alheado da realidade do que seria desejável, e esse alheamento não é bom. Muitos votantes do PSD preferiam claramente outro líder: Paulo Rangel, Rui Rio, mas terão que votar neste. E votam, mas o voto não é certificado de cegueira, surdez, placidez acrítica ou estupidez.Exultaram quando PPC, com mérito, fez um bom debate com José Sócrates, rejubilaram com o primeiro vislumbre de derrota no semblante, gestos, e argumentos do actual primeiro-ministro, mas todos os dias se sentem frustrados com os sucessivos tiros no pé da liderança do PSD, dos quais destaco o caso Fernando Nobre que custará alguns votos que se desviam para o CDS. Ontem, PPC armado em virgem ofendida, como se nós tivéssemos esquecido a contra-campanha orquestrada por ele (seus conselheiros, sua máquina comunicacional, com o apoio de tantos meios de comunicação) contra Manuela Ferreira Leite na anterior campanha eleitoral, queixa-se de José Pacheco Pereira que, segundo Maria João Marques que escreve este post a merecer leitura na íntegra, tem mais neurónios que os conselheiros de PPC todos juntos, como de resto se vê pelos resultados das sondagens depois de seis anos de Sócrates e da sua tão pessoalíssima bancarrota.É sintomático este desconforto perante a crítica, José Sócrates sempre o teve (caso Manuela Moura Guedes) e Pedro Santana Lopes também (caso Marcelo Rebelo de Sousa). Ambos (MMG e MRS) tinham um espaço de grande audiência e de qualidade (outro valor normalmente desprezado). Também sintomático é o pouco apreço que os portugueses, através da vozes dos seus líderes políticos, dão à liberdade. Liberdade de pensar, de opinar, de escrever com qualidade, liberdade de querer ou não ser deputado. Liberdade de ‘ser’ fora do controle do aparelho partidário. Preferiam pensadores e opinadores formatados pelo partido (pelo menos para efeitos de intervenção pública), que – à maneira de António Costa, por exemplo, se contorcem tantas vezes para defender o indefensável. Disso já gostam. Disso não se queixam. Outro tiro no pé. Resta saber quantos pés sobram até ao dia 5.

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