picosderoseirabrava: Tiago Veiga. Uma Biografia

24-06-2020
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Acabei finalmente de ler o grosso romance de Mário Cláudio “Tiago Veiga. Uma Biografia”. Chamou-me a atenção o que sobre este livro ficou dito no Jornal de Letras de Junho último e que foi o seguinte:  «Não será um “grande poeta”, mas é seguramente um “caso” na poesia do século XX. E quem é este poeta que em vida preferiu o anonimato, andou pelo mundo, frequentou salões literários e conviveu com grandes nomes da literatura portuguesa e europeia, sempre mostrando-se e escondendo-se, para acabar na sua velha casa do Alto Minho? É o que agora no mostra Mário Cláudio, numa longa biografia, depois de ter revelado três livros póstumos de sua autoria: Os Sonetos Italianos, Gondelim e Do Espelho de Vénus.

Mas o escritor, biógrafo, não revela, é a verdadeira identidade do biografado. É Tiago Veiga um heterónimo de Mário Cláudio? Um pseudónimo? Um outro modo de dizer-se em verso? Um misterioso alter ego ou simplesmente mais uma personagem na galeria romanesca da sua obra(…)?»

O próprio autor, na entrevista que lhe foi feita pelo JL, afirma que «Para ser um heterónimo meu teria que manter comigo um certo umbicalismo. Se pensarmos no grande exemplo da heteronímia em Portugal, os heterónimos pessoanos, verificamos que todos eles são mais ou menos contemporâneos do ortónimo. Se TV fosse meu heterónimo, e digo francamente que não é, não poderia tê-lo inventado a fabricar, muito antes de eu ter nascido, coisas que eu próprio fabricaria… (risos)». E depois: «Não o inventei. Digamos que a questão se resume a saber se TV teve ou não existência em termos de registo civil. E esse é um esforço que os leitores poderão fazer. Os que quiserem ter a certeza de que de facto existiu, basta irem às Conservatórias do Registo Civil e verificarem se o nome dele consta e com aquela data de nascimento. (…)»

Perante estas dúvidas e com o que ficou dito a propósito por Miguel Real no seu artigo “Nova teoria da heteronímia” (JL de Junho de 2011), fiquei cheia de vontade de ler o livro para chegar a uma conclusão minha.

Gostei bastante de ler o livro que, de facto, não tem uma leitura fácil, mas que nos transporta pela literatura portuguesa e estrangeira do século XX, já que Tiago Veiga nasceu em 1900 e morreu em 1988, depois de viajar pela Europa, África e Estados Unidos, tendo conhecido e contactado com grandes nomes desde Fernando Pessoa a José Régio e Rui Cinattie Luis Miguel Nava, ou desde Edith Sitwell a Jean Cocteau, W. B. Yeats, Benedetto Croce,  ou Marianne Moore. Moveu-se entre políticos como Bernardino Machado e Manuel Teixeira Gomes ou mesmo António Ferro. Viveu em conventos e deu-se com os fascistas italianos.
Trata-se de uma belo romance picaresco no âmbito da literatura e da vida social do século XX – se se puder dizer isto – à laia de um Tom Jones de Fielding, de um Fernão Mendes Pinto da atualidade, ou de um Tristram Shandy de Sterne.

Se tiverem paciência, leiam.

Casa dos Anjos, em Venade, Paredes de Coura, onde  viveu e morreu Tiago Veiga

Igreja de Venade

Rio Coura

Acabei finalmente de ler o grosso romance de Mário Cláudio “Tiago Veiga. Uma Biografia”. Chamou-me a atenção o que sobre este livro ficou dito no Jornal de Letras de Junho último e que foi o seguinte:  «Não será um “grande poeta”, mas é seguramente um “caso” na poesia do século XX. E quem é este poeta que em vida preferiu o anonimato, andou pelo mundo, frequentou salões literários e conviveu com grandes nomes da literatura portuguesa e europeia, sempre mostrando-se e escondendo-se, para acabar na sua velha casa do Alto Minho? É o que agora no mostra Mário Cláudio, numa longa biografia, depois de ter revelado três livros póstumos de sua autoria: Os Sonetos Italianos, Gondelim e Do Espelho de Vénus.

Mas o escritor, biógrafo, não revela, é a verdadeira identidade do biografado. É Tiago Veiga um heterónimo de Mário Cláudio? Um pseudónimo? Um outro modo de dizer-se em verso? Um misterioso alter ego ou simplesmente mais uma personagem na galeria romanesca da sua obra(…)?»

O próprio autor, na entrevista que lhe foi feita pelo JL, afirma que «Para ser um heterónimo meu teria que manter comigo um certo umbicalismo. Se pensarmos no grande exemplo da heteronímia em Portugal, os heterónimos pessoanos, verificamos que todos eles são mais ou menos contemporâneos do ortónimo. Se TV fosse meu heterónimo, e digo francamente que não é, não poderia tê-lo inventado a fabricar, muito antes de eu ter nascido, coisas que eu próprio fabricaria… (risos)». E depois: «Não o inventei. Digamos que a questão se resume a saber se TV teve ou não existência em termos de registo civil. E esse é um esforço que os leitores poderão fazer. Os que quiserem ter a certeza de que de facto existiu, basta irem às Conservatórias do Registo Civil e verificarem se o nome dele consta e com aquela data de nascimento. (…)»

Perante estas dúvidas e com o que ficou dito a propósito por Miguel Real no seu artigo “Nova teoria da heteronímia” (JL de Junho de 2011), fiquei cheia de vontade de ler o livro para chegar a uma conclusão minha.

Gostei bastante de ler o livro que, de facto, não tem uma leitura fácil, mas que nos transporta pela literatura portuguesa e estrangeira do século XX, já que Tiago Veiga nasceu em 1900 e morreu em 1988, depois de viajar pela Europa, África e Estados Unidos, tendo conhecido e contactado com grandes nomes desde Fernando Pessoa a José Régio e Rui Cinattie Luis Miguel Nava, ou desde Edith Sitwell a Jean Cocteau, W. B. Yeats, Benedetto Croce,  ou Marianne Moore. Moveu-se entre políticos como Bernardino Machado e Manuel Teixeira Gomes ou mesmo António Ferro. Viveu em conventos e deu-se com os fascistas italianos.
Trata-se de uma belo romance picaresco no âmbito da literatura e da vida social do século XX – se se puder dizer isto – à laia de um Tom Jones de Fielding, de um Fernão Mendes Pinto da atualidade, ou de um Tristram Shandy de Sterne.

Se tiverem paciência, leiam.

Casa dos Anjos, em Venade, Paredes de Coura, onde  viveu e morreu Tiago Veiga

Igreja de Venade

Rio Coura

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