ABRUPTO

20-12-2019
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LENDO

VENDO

OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 18 de Novembro de 2006

A memória é um bem muito escasso, e nem sempre temos oportunidade de nos lembrarmos do que esquecemos. Aproveitemos os dias de hoje e os comentários generalizados ao livro de Santana Lopes para nos lembrarmos de algo muito esquecido: o modo como o seu acesso a Primeiro-ministro foi saudado por amigos e adversários. Sim por adversários, gente do PS, gente da alta cultura, gente do alto jornalismo, que nos queria convencer que ele "mudara", que ele tinha "virtudes" únicas, que devia ter o "benefício da dúvida", que ele ia "surpreender". Lembram-se? Não ninguém se quer lembrar. Foi saudado à chegada ao poder muito melhor do que hoje, reconstruída a memória, vasta gente se quer lembrar que o saudou. Foi saudado com uma gigantesca, enorme, vastíssima complacência. Complacência que escondia simpatia, admiração secreta pelas mesmas "virtudes" que agora são incensadas nos comentários ao seu livro num "remake" excepcional de uma atitude entretanto submergida nas trevas do Id. As excepções foram pouquíssimas, mas felizmente são as mesmas de hoje. Eu sei bem como se estava só naquilo que era visto como um excesso, e como me enfurecia com essa complacência. Complacência é o nome de uma das incubadoras em que Santana Lopes vive.

*

Uma das maneiras de identificar o chamado "jornalismo de causas", ou seja, o que não é jornalismo mas política, é perceber como é que um jornal conduz uma campanha, uma campanha militar, uma guerra, sobre um tema ou uma pessoa determinada. É o que faz o Público em relação a Rui Rio. Como é que se faz essa campanha? Tendo uma redacção empenhada e proactiva que, desde a "ocupação" do Rivoli, e em particular desde o anúncio do corte dos subsídios a fundo perdido às companhias de teatro, não passa um dia sem ter um artigo, uma entrevista, uma notícia sobre como essas decisões são cataclísmicas e mostram a especial maldade do "ditador" do Porto. Quando uma redacção escolhe um assunto para se fazerem entrevistas, para activamente se procurar todos os dias que ele não se esqueça, somando iniciativas que redundam em mais títulos hostis, mais declarações furiosas previsíveis, produzindo por si próprias notícias e contra-notícias, sabemos que não é apenas o mérito do assunto mas outra coisa. Não é que o assunto não tenha mérito, a subsidiodependência daria excelentes reportagens para efectivamente ficarmos a saber o que se passa com os dinheiros públicos nessa área intangível da "cultura", ou como foi gasto no Porto o dinheiro da "Capital da Cultura" e sobre onde é que estão esses "novos públicos" gerados que, pelos vistos, não iam ao Rivoli.

Depois há pequenos pormenores reveladores (hoje, por exemplo): " Porto gasta 10 vezes mais com a Cultura do que o Governo" - Rui Rio trouxe números para "responder" à ministra. Está reaberta a guerra com Isabel Pires de Lima " (de autoria de Inês Nadais). Aquelas aspas em " responder " estariam lá se fosse ao contrário? Porque é que eu tenho a séria suspeita que este título - " Isabel Pires de Lima trouxe números para "responder" a Rui Rio " - seria menos provável? É que as aspas são uma opinião que não se revela.

Seria mais transparente se os jornais tomassem posições editoriais, alinhassem com um dos lados, dissessem ao que vinham. Mas como se vê na questão do Iraque, não é esta a posição oficial do Público , pelo que a campanha contra Rio deve ser entendida como é, uma campanha política prosseguida como se fosse um trabalho jornalístico.

*

Admitindo que não tenha ficado clara, no texto que hoje assino no PÚBLICO, a razão porque coloquei o verbo responder entre aspas, aproveito para lhe anexar a convocatória enviada pela Câmara Municipal do Porto às redacções, com o título "Rui Rio responde à Ministra Isabel Pires de Lima sobre as verbas para a cultura". Pode também consultá-la aqui.

As aspas que coloquei no verbo em causa não revelam propriamente uma opinião - limitam-se a citar o objectivo da conferência de imprensa de ontem nos exactos termos em que o Dr. Rui (ou o seu gabinete de comunicação) o colocou. E sim, as aspas em "responder" estariam lá se fosse ao contrário.

(Inês Nadais) A memória é um bem muito escasso, e nem sempre temos oportunidade de nos lembrarmos do que esquecemos. Aproveitemos os dias de hoje e os comentários generalizados ao livro de Santana Lopes para nos lembrarmos de algo muito esquecido: o modo como o seu acesso a Primeiro-ministro foi saudado por amigos e adversários. Sim por adversários, gente do PS, gente da alta cultura, gente do alto jornalismo, que nos queria convencer que ele "mudara", que ele tinha "virtudes" únicas, que devia ter o "benefício da dúvida", que ele ia "surpreender". Lembram-se? Não ninguém se quer lembrar. Foi saudado à chegada ao poder muito melhor do que hoje, reconstruída a memória, vasta gente se quer lembrar que o saudou. Foi saudado com uma gigantesca, enorme, vastíssima complacência. Complacência que escondia simpatia, admiração secreta pelas mesmas "virtudes" que agora são incensadas nos comentários ao seu livro num "remake" excepcional de uma atitude entretanto submergida nas trevas do Id. As excepções foram pouquíssimas, mas felizmente são as mesmas de hoje. Eu sei bem como se estava só naquilo que era visto como um excesso, e como me enfurecia com essa complacência. Complacência é o nome de uma das incubadoras em que Santana Lopes vive.Uma das maneiras de identificar o chamado "jornalismo de causas", ou seja, o que não é jornalismo mas política, é perceber como é que um jornal conduz uma campanha, uma campanha militar, uma guerra, sobre um tema ou uma pessoa determinada. É o que faz oem relação a Rui Rio. Como é que se faz essa campanha? Tendo uma redacção empenhada e proactiva que, desde a "ocupação" do Rivoli, e em particular desde o anúncio do corte dos subsídios a fundo perdido às companhias de teatro, não passa um dia sem ter um artigo, uma entrevista, uma notícia sobre como essas decisões são cataclísmicas e mostram a especial maldade do "ditador" do Porto. Quando uma redacção escolhe um assunto para se fazerem entrevistas, para activamente se procurar todos os dias que ele não se esqueça, somando iniciativas que redundam em mais títulos hostis, mais declarações furiosas previsíveis, produzindo por si próprias notícias e contra-notícias, sabemos que não é apenas o mérito do assunto mas outra coisa. Não é que o assunto não tenha mérito, a subsidiodependência daria excelentes reportagens para efectivamente ficarmos a saber o que se passa com os dinheiros públicos nessa área intangível da "cultura", ou como foi gasto no Porto o dinheiro da "Capital da Cultura" e sobre onde é que estão esses "novos públicos" gerados que, pelos vistos, não iam ao Rivoli.Depois há pequenos pormenores reveladores (hoje, por exemplo): "" (de autoria de Inês Nadais). Aquelas aspas em "" estariam lá se fosse ao contrário? Porque é que eu tenho a séria suspeita que este título - "" - seria menos provável? É que as aspas são uma opinião que não se revela.Seria mais transparente se os jornais tomassem posições editoriais, alinhassem com um dos lados, dissessem ao que vinham. Mas como se vê na questão do Iraque, não é esta a posição oficial do, pelo que a campanha contra Rio deve ser entendida como é, uma campanha política prosseguida como se fosse um trabalho jornalístico.

(url) © José Pacheco Pereira

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ÁTOMOS E BITS

de 18 de Novembro de 2006

A memória é um bem muito escasso, e nem sempre temos oportunidade de nos lembrarmos do que esquecemos. Aproveitemos os dias de hoje e os comentários generalizados ao livro de Santana Lopes para nos lembrarmos de algo muito esquecido: o modo como o seu acesso a Primeiro-ministro foi saudado por amigos e adversários. Sim por adversários, gente do PS, gente da alta cultura, gente do alto jornalismo, que nos queria convencer que ele "mudara", que ele tinha "virtudes" únicas, que devia ter o "benefício da dúvida", que ele ia "surpreender". Lembram-se? Não ninguém se quer lembrar. Foi saudado à chegada ao poder muito melhor do que hoje, reconstruída a memória, vasta gente se quer lembrar que o saudou. Foi saudado com uma gigantesca, enorme, vastíssima complacência. Complacência que escondia simpatia, admiração secreta pelas mesmas "virtudes" que agora são incensadas nos comentários ao seu livro num "remake" excepcional de uma atitude entretanto submergida nas trevas do Id. As excepções foram pouquíssimas, mas felizmente são as mesmas de hoje. Eu sei bem como se estava só naquilo que era visto como um excesso, e como me enfurecia com essa complacência. Complacência é o nome de uma das incubadoras em que Santana Lopes vive.

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Uma das maneiras de identificar o chamado "jornalismo de causas", ou seja, o que não é jornalismo mas política, é perceber como é que um jornal conduz uma campanha, uma campanha militar, uma guerra, sobre um tema ou uma pessoa determinada. É o que faz o Público em relação a Rui Rio. Como é que se faz essa campanha? Tendo uma redacção empenhada e proactiva que, desde a "ocupação" do Rivoli, e em particular desde o anúncio do corte dos subsídios a fundo perdido às companhias de teatro, não passa um dia sem ter um artigo, uma entrevista, uma notícia sobre como essas decisões são cataclísmicas e mostram a especial maldade do "ditador" do Porto. Quando uma redacção escolhe um assunto para se fazerem entrevistas, para activamente se procurar todos os dias que ele não se esqueça, somando iniciativas que redundam em mais títulos hostis, mais declarações furiosas previsíveis, produzindo por si próprias notícias e contra-notícias, sabemos que não é apenas o mérito do assunto mas outra coisa. Não é que o assunto não tenha mérito, a subsidiodependência daria excelentes reportagens para efectivamente ficarmos a saber o que se passa com os dinheiros públicos nessa área intangível da "cultura", ou como foi gasto no Porto o dinheiro da "Capital da Cultura" e sobre onde é que estão esses "novos públicos" gerados que, pelos vistos, não iam ao Rivoli.

Depois há pequenos pormenores reveladores (hoje, por exemplo): " Porto gasta 10 vezes mais com a Cultura do que o Governo" - Rui Rio trouxe números para "responder" à ministra. Está reaberta a guerra com Isabel Pires de Lima " (de autoria de Inês Nadais). Aquelas aspas em " responder " estariam lá se fosse ao contrário? Porque é que eu tenho a séria suspeita que este título - " Isabel Pires de Lima trouxe números para "responder" a Rui Rio " - seria menos provável? É que as aspas são uma opinião que não se revela.

Seria mais transparente se os jornais tomassem posições editoriais, alinhassem com um dos lados, dissessem ao que vinham. Mas como se vê na questão do Iraque, não é esta a posição oficial do Público , pelo que a campanha contra Rio deve ser entendida como é, uma campanha política prosseguida como se fosse um trabalho jornalístico.

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Admitindo que não tenha ficado clara, no texto que hoje assino no PÚBLICO, a razão porque coloquei o verbo responder entre aspas, aproveito para lhe anexar a convocatória enviada pela Câmara Municipal do Porto às redacções, com o título "Rui Rio responde à Ministra Isabel Pires de Lima sobre as verbas para a cultura". Pode também consultá-la aqui.

As aspas que coloquei no verbo em causa não revelam propriamente uma opinião - limitam-se a citar o objectivo da conferência de imprensa de ontem nos exactos termos em que o Dr. Rui (ou o seu gabinete de comunicação) o colocou. E sim, as aspas em "responder" estariam lá se fosse ao contrário.

(Inês Nadais) A memória é um bem muito escasso, e nem sempre temos oportunidade de nos lembrarmos do que esquecemos. Aproveitemos os dias de hoje e os comentários generalizados ao livro de Santana Lopes para nos lembrarmos de algo muito esquecido: o modo como o seu acesso a Primeiro-ministro foi saudado por amigos e adversários. Sim por adversários, gente do PS, gente da alta cultura, gente do alto jornalismo, que nos queria convencer que ele "mudara", que ele tinha "virtudes" únicas, que devia ter o "benefício da dúvida", que ele ia "surpreender". Lembram-se? Não ninguém se quer lembrar. Foi saudado à chegada ao poder muito melhor do que hoje, reconstruída a memória, vasta gente se quer lembrar que o saudou. Foi saudado com uma gigantesca, enorme, vastíssima complacência. Complacência que escondia simpatia, admiração secreta pelas mesmas "virtudes" que agora são incensadas nos comentários ao seu livro num "remake" excepcional de uma atitude entretanto submergida nas trevas do Id. As excepções foram pouquíssimas, mas felizmente são as mesmas de hoje. Eu sei bem como se estava só naquilo que era visto como um excesso, e como me enfurecia com essa complacência. Complacência é o nome de uma das incubadoras em que Santana Lopes vive.Uma das maneiras de identificar o chamado "jornalismo de causas", ou seja, o que não é jornalismo mas política, é perceber como é que um jornal conduz uma campanha, uma campanha militar, uma guerra, sobre um tema ou uma pessoa determinada. É o que faz oem relação a Rui Rio. Como é que se faz essa campanha? Tendo uma redacção empenhada e proactiva que, desde a "ocupação" do Rivoli, e em particular desde o anúncio do corte dos subsídios a fundo perdido às companhias de teatro, não passa um dia sem ter um artigo, uma entrevista, uma notícia sobre como essas decisões são cataclísmicas e mostram a especial maldade do "ditador" do Porto. Quando uma redacção escolhe um assunto para se fazerem entrevistas, para activamente se procurar todos os dias que ele não se esqueça, somando iniciativas que redundam em mais títulos hostis, mais declarações furiosas previsíveis, produzindo por si próprias notícias e contra-notícias, sabemos que não é apenas o mérito do assunto mas outra coisa. Não é que o assunto não tenha mérito, a subsidiodependência daria excelentes reportagens para efectivamente ficarmos a saber o que se passa com os dinheiros públicos nessa área intangível da "cultura", ou como foi gasto no Porto o dinheiro da "Capital da Cultura" e sobre onde é que estão esses "novos públicos" gerados que, pelos vistos, não iam ao Rivoli.Depois há pequenos pormenores reveladores (hoje, por exemplo): "" (de autoria de Inês Nadais). Aquelas aspas em "" estariam lá se fosse ao contrário? Porque é que eu tenho a séria suspeita que este título - "" - seria menos provável? É que as aspas são uma opinião que não se revela.Seria mais transparente se os jornais tomassem posições editoriais, alinhassem com um dos lados, dissessem ao que vinham. Mas como se vê na questão do Iraque, não é esta a posição oficial do, pelo que a campanha contra Rio deve ser entendida como é, uma campanha política prosseguida como se fosse um trabalho jornalístico.

(url) © José Pacheco Pereira

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