"No dia em que a sua subsistência depender do PSD, este governo acabou."

01-09-2020
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“No dia em que a sua subsistência depender do PSD, este Governo acabou” - é com esta frase que António Costa, em entrevista ao Expresso, faz ruir, de vez, a estratégia com que Rui Rio se candidatou à liderança do PSD. A saber, a estratégia de Rui Rio assentou em três pressupostos:

1. O PSD tinha-se acantonado à Direita;

2. O PS precisava de ser libertado dos braços do BE e do PCP;

3. E só o acordo entre o PS e o PSD permitiria que se fizessem reformas importantes e duradouras para o país.

No entanto, foi sempre evidente para mim que:

1. O PSD nunca tinha deixado de ocupar o centro-direita e foi e será o referencial da social-democracia portuguesa;

2. O PS estava nos braços da esquerda radical por necessidade de sobrevivência política, mas também por alguma convicção. O PS deixou-se condicionar pela sua ala radical para quem o modelo de sociedade é a que o BE defende;

3. O PS (e este PS em particular) nunca foi reformista e nunca faria qualquer uma das reformas que Portugal precisava, quer porque o seu programa económico se resumiu às “contra-reformas”, quer porque o seu programa político reforçou a visão de pendor estatizante, conveniente para quem, desconfiado dos privados e das pessoas, deseja ter uma sociedade dependente ao máximo do Estado para assim garantir satisfação de uma clientela eleitoral.

Mas a verdade é que Rui Rio, admito que por convicção, acreditava naqueles pressupostos, enunciou-os e candidatou-se com aquela estratégia.

É verdade que muitos, dentro do PSD, afastaram-se da liderança de Rui Rio por considerarem que este tinham como ambição última ser uma espécie de Vice Primeiro-Ministro de António Costa. Faço-lhe a justiça de pensar que, e tive ocasião de lho dizer, na sua profunda convicção, Rui Rio acredita que o País precisa do PS a governar e a fazer reformas estruturais ao “centro-esquerda” com o PSD. No seu íntimo, Rio acreditou que o PS queria ser resgatado e quis ser uma espécie de “bóia salvadora”. E decidiu então, para mostrar capacidade de liderança, fazer oposição ao seu próprio Partido, em vez de oposição ao PS. Já o disse: Rio não gosta do PSD como o PSD sempre foi e, como todos os dirigentes autocráticos, quer moldar o maior partido português à sua imagem e jeito; se para isso, em vez de um PSD tiver sob a sua batuta um “psdsinho”, tanto melhor.

Fique, então, claro: foi Rio quem afirmou, ao se candidatar à liderança do PSD, que a sua missão era resgatar o PS da extrema-esquerda para libertar o País da esquerda radical, afirmando-se mesmo como de centro-esquerda e anunciando, até, que se não fosse Sá Carneiro teria provavelmente aderido ao Partido Socialista!

Para seguir a sua estratégia, Rui Rio começou por vilipendiar o caminho político que Pedro Passos Coelho, a sua direção e todo o partido estavam a fazer: o de demonstrar ao País que o PS se tinha radicalizado e que a responsabilidade do adiamento a que Portugal estava a ser condenado era responsabilidade dos três partidos que governavam sem terem a legitimidade eleitoral para o efeito. Da geringonça, em conjunto. Acresce que Pedro Passos Coelho deixou sempre claro: uma vez que o PS não deixaria o PSD governar, e tinha escolhido os seus parceiros à esquerda, seria a estes que deveria recorrer para apoiar o seu Governo, pelo que se o PS viesse a precisar do PSD, isso significaria o falhanço da sua estratégia, pelo que só lhe restaria então a demissão. O PSD não seria muleta de ninguém; o PSD seria alternativa!

Mas foi precisamente o contrário que Rui Rui fez. E fez o contrário afirmando-o e materializando-o. Claro que, com a sua estratégia de moderar o PS, voluntariamente deu a ideia de que o PS era o partido central no espectro político-partidário e permitiu a António Costa, habilmente, fazer discurso político à Direita e à Esquerda, sempre que lhe convinha.

Ora, para materializar essa ideia, Rui Rio teve pressa em assinar com António Costa dois acordos absolutamente vazios de conteúdo (um na área da descentralização, outro sobre a futura negociação dos fundos europeus), estendeu ao PS a tábua de salvação na questão dos professores (isto depois de ter alinhado com a esquerda radical no parlamento e de ter dado a entender que tal alinhamento não teria tido o seu conhecimento), fez-se cúmplice do PS acabando com os debates quinzenais, ficando para a história pela falta de comparência no combate político ao governo e, sobretudo, ao Primeiro-Ministro (a culpa é sempre dos serviços do estado, nunca de António Costa). Todavia, como se não bastasse ser conivente com o PS, para se poder afirmar como líder com força, o que fez Rui Rio? Deliberada e conscientemente, provocou militantes do PSD, afastou outros e criou um clima de guerrilha interna permanente para poder mostrar a sua autoridade. Com tudo isto, descurou o seu eleitorado, não se apresentou como alternativa ao socialismo e falhou ao País. E o PSD não pode falhar a Portugal.

É, por isso ,que a frase desta semana de António Costa arruína de vez a estratégia de Rui Rio: uma vez que nem António Costa confia no líder do PSD, se Rio não serve, como se propôs, para ajudar o PS e não serve para ser alternativa ao PS, então para que serve?

Curioso é que a frase de António Costa “no dia em que a subsistência deste governo depender do PSD, então este governo acabou” releva exatamente a mesma ideia que Pedro Passos Coelho, em 2015, deixou claro: os parceiros do governo são os que Costa escolheu (PCP, BE e Verdes) e o PSD será sempre oposição ao governo. No entanto, à data, Passos Coelho foi acusado de radicalismo... talvez os mesmos agora cataloguem a frase de Costa como de “coerência”.

E, em consequência de tudo isto, Rui Rio vê assim a pedra angular da sua liderança desmoronar: a ideia de poder contribuir, na governação socialista, para reformar o País. Perdeu, pois, a possibilidade de se apresentar aos eleitores como alternativa e de poder responsabilizar toda a esquerda pelo fracasso da governação e aparece ao País como uma espécie de noiva enjeitada. Desta maneira, vem esvaziando o PSD como alternativa credível e alimentando outras formações partidárias que pressentem a oportunidade que a ausência de combate e estratégia política do PSD lhes oferece.

É tempo, pois, de o PSD arrepiar caminho. E de Rui Rio assumir os seus equívocos.

O caminho passa por liderar a oposição e combater o PS e António Costa como nunca fez. Assumir a representação do eleitorado do PSD. E apresentar um projeto político que deixe a conversa de café e as banalidades populistas, mas que seja capaz conquistar a confiança do eleitorado de centro-direita para guindar Portugal a um caminho de prosperidade que podemos ainda vir a alcançar, não com o PS, mas contra a visão socialista e socializante. Mas a verdade é que toda esta nova estratégia é a antítese daquela que Rui Rio acreditou e defendeu... e aí pode colocar-se um problema de credibilidade.

Ou seja, Rui Rio corre o risco de ser visto como uma espécie de Groucho Marx: “ Estes são os meus princípios. Se não gostar tenho outros...”. Penso que ainda está nas mãos de Rui Rio escolher o caminho certo e digno para um Presidente do PSD.

“No dia em que a sua subsistência depender do PSD, este Governo acabou” - é com esta frase que António Costa, em entrevista ao Expresso, faz ruir, de vez, a estratégia com que Rui Rio se candidatou à liderança do PSD. A saber, a estratégia de Rui Rio assentou em três pressupostos:

1. O PSD tinha-se acantonado à Direita;

2. O PS precisava de ser libertado dos braços do BE e do PCP;

3. E só o acordo entre o PS e o PSD permitiria que se fizessem reformas importantes e duradouras para o país.

No entanto, foi sempre evidente para mim que:

1. O PSD nunca tinha deixado de ocupar o centro-direita e foi e será o referencial da social-democracia portuguesa;

2. O PS estava nos braços da esquerda radical por necessidade de sobrevivência política, mas também por alguma convicção. O PS deixou-se condicionar pela sua ala radical para quem o modelo de sociedade é a que o BE defende;

3. O PS (e este PS em particular) nunca foi reformista e nunca faria qualquer uma das reformas que Portugal precisava, quer porque o seu programa económico se resumiu às “contra-reformas”, quer porque o seu programa político reforçou a visão de pendor estatizante, conveniente para quem, desconfiado dos privados e das pessoas, deseja ter uma sociedade dependente ao máximo do Estado para assim garantir satisfação de uma clientela eleitoral.

Mas a verdade é que Rui Rio, admito que por convicção, acreditava naqueles pressupostos, enunciou-os e candidatou-se com aquela estratégia.

É verdade que muitos, dentro do PSD, afastaram-se da liderança de Rui Rio por considerarem que este tinham como ambição última ser uma espécie de Vice Primeiro-Ministro de António Costa. Faço-lhe a justiça de pensar que, e tive ocasião de lho dizer, na sua profunda convicção, Rui Rio acredita que o País precisa do PS a governar e a fazer reformas estruturais ao “centro-esquerda” com o PSD. No seu íntimo, Rio acreditou que o PS queria ser resgatado e quis ser uma espécie de “bóia salvadora”. E decidiu então, para mostrar capacidade de liderança, fazer oposição ao seu próprio Partido, em vez de oposição ao PS. Já o disse: Rio não gosta do PSD como o PSD sempre foi e, como todos os dirigentes autocráticos, quer moldar o maior partido português à sua imagem e jeito; se para isso, em vez de um PSD tiver sob a sua batuta um “psdsinho”, tanto melhor.

Fique, então, claro: foi Rio quem afirmou, ao se candidatar à liderança do PSD, que a sua missão era resgatar o PS da extrema-esquerda para libertar o País da esquerda radical, afirmando-se mesmo como de centro-esquerda e anunciando, até, que se não fosse Sá Carneiro teria provavelmente aderido ao Partido Socialista!

Para seguir a sua estratégia, Rui Rio começou por vilipendiar o caminho político que Pedro Passos Coelho, a sua direção e todo o partido estavam a fazer: o de demonstrar ao País que o PS se tinha radicalizado e que a responsabilidade do adiamento a que Portugal estava a ser condenado era responsabilidade dos três partidos que governavam sem terem a legitimidade eleitoral para o efeito. Da geringonça, em conjunto. Acresce que Pedro Passos Coelho deixou sempre claro: uma vez que o PS não deixaria o PSD governar, e tinha escolhido os seus parceiros à esquerda, seria a estes que deveria recorrer para apoiar o seu Governo, pelo que se o PS viesse a precisar do PSD, isso significaria o falhanço da sua estratégia, pelo que só lhe restaria então a demissão. O PSD não seria muleta de ninguém; o PSD seria alternativa!

Mas foi precisamente o contrário que Rui Rui fez. E fez o contrário afirmando-o e materializando-o. Claro que, com a sua estratégia de moderar o PS, voluntariamente deu a ideia de que o PS era o partido central no espectro político-partidário e permitiu a António Costa, habilmente, fazer discurso político à Direita e à Esquerda, sempre que lhe convinha.

Ora, para materializar essa ideia, Rui Rio teve pressa em assinar com António Costa dois acordos absolutamente vazios de conteúdo (um na área da descentralização, outro sobre a futura negociação dos fundos europeus), estendeu ao PS a tábua de salvação na questão dos professores (isto depois de ter alinhado com a esquerda radical no parlamento e de ter dado a entender que tal alinhamento não teria tido o seu conhecimento), fez-se cúmplice do PS acabando com os debates quinzenais, ficando para a história pela falta de comparência no combate político ao governo e, sobretudo, ao Primeiro-Ministro (a culpa é sempre dos serviços do estado, nunca de António Costa). Todavia, como se não bastasse ser conivente com o PS, para se poder afirmar como líder com força, o que fez Rui Rio? Deliberada e conscientemente, provocou militantes do PSD, afastou outros e criou um clima de guerrilha interna permanente para poder mostrar a sua autoridade. Com tudo isto, descurou o seu eleitorado, não se apresentou como alternativa ao socialismo e falhou ao País. E o PSD não pode falhar a Portugal.

É, por isso ,que a frase desta semana de António Costa arruína de vez a estratégia de Rui Rio: uma vez que nem António Costa confia no líder do PSD, se Rio não serve, como se propôs, para ajudar o PS e não serve para ser alternativa ao PS, então para que serve?

Curioso é que a frase de António Costa “no dia em que a subsistência deste governo depender do PSD, então este governo acabou” releva exatamente a mesma ideia que Pedro Passos Coelho, em 2015, deixou claro: os parceiros do governo são os que Costa escolheu (PCP, BE e Verdes) e o PSD será sempre oposição ao governo. No entanto, à data, Passos Coelho foi acusado de radicalismo... talvez os mesmos agora cataloguem a frase de Costa como de “coerência”.

E, em consequência de tudo isto, Rui Rio vê assim a pedra angular da sua liderança desmoronar: a ideia de poder contribuir, na governação socialista, para reformar o País. Perdeu, pois, a possibilidade de se apresentar aos eleitores como alternativa e de poder responsabilizar toda a esquerda pelo fracasso da governação e aparece ao País como uma espécie de noiva enjeitada. Desta maneira, vem esvaziando o PSD como alternativa credível e alimentando outras formações partidárias que pressentem a oportunidade que a ausência de combate e estratégia política do PSD lhes oferece.

É tempo, pois, de o PSD arrepiar caminho. E de Rui Rio assumir os seus equívocos.

O caminho passa por liderar a oposição e combater o PS e António Costa como nunca fez. Assumir a representação do eleitorado do PSD. E apresentar um projeto político que deixe a conversa de café e as banalidades populistas, mas que seja capaz conquistar a confiança do eleitorado de centro-direita para guindar Portugal a um caminho de prosperidade que podemos ainda vir a alcançar, não com o PS, mas contra a visão socialista e socializante. Mas a verdade é que toda esta nova estratégia é a antítese daquela que Rui Rio acreditou e defendeu... e aí pode colocar-se um problema de credibilidade.

Ou seja, Rui Rio corre o risco de ser visto como uma espécie de Groucho Marx: “ Estes são os meus princípios. Se não gostar tenho outros...”. Penso que ainda está nas mãos de Rui Rio escolher o caminho certo e digno para um Presidente do PSD.

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