As linhas com que nos cosemos

25-06-2020
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Esta tarde vamos ficar a saber as linhas com que nos cosemos neste dia que devia ser o fim do estado de calamidade mas se calhar não, pelo menos para alguns concelhos (no limite, para algumas freguesias) da região de Lisboa, onde os casos de infeção por Covid 19 não param de surgir. O Conselho de Ministros reúne-se a partir desta hora para aprovar o que todos já percebemos desde segunda-feira ser um inevitável passo atrás no desconfinamento: regras específicas (bem como uma moldura penal, com uma tabela de coimas que podem chegar aos milhares de euros para o crime de desobediência) para travar os surtos nesta zona do país. O Público avança que está em cima da mesa a possibilidade de se voltar ao confinamento obrigatório nas 19 freguesias identificadas como o cerne do problema.

As informações sobre o que se passou ontem, na reunião da elite política com os técnicos e especialistas de saúde, não são tranquilizadoras. Se o primeiro-ministro procurou confirmar que o aumento de casos em Lisboa e Vale do Tejo se deve ao aumento de testes, os epidemiologistas contrapuseram que isso não explica toda a realidade e que existe um problema real, como real é a hipótese de uma segunda onda de contágios. Da reunião saiu também a certeza do que já suspeitávamos: começou a luta política a propósito da pandemia, como o Expresso lhe explica aqui.

Ainda sobre a situação em Lisboa vale a pena ouvir o que disse ontem, no Jornal da Noite da SIC, Fernando Maltez: "Um maior número de testes só encontra mais casos se eles existirem" diz o diretor do serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral. Parece óbvio, não é?

Outro médico, este a norte, confessa estar exausto, não só da intensidade do trabalho mas da inabilidade política. A conversa da Christiana Martins com Robert Roncon, "médico que viu provavelmente mais doentes com covid-19 e os casos mais graves desta infeção em Portugal" pode ser lida aqui.

OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO...

Por contraditório que possa parecer - e parece -, numa altura em que estão proibidos os ajuntamentos de mais de 10 pessoas na região de Lisboa, o direito à manifestação não está suspenso, o que explica/legitima que a CGTP tenha marcado nada menos do que nove ações de protesto para a capital, no âmbito de uma "semana de luta" por todo o país. Só hoje estão previstas quatro concentrações e um desfile de rua (entre o Rossio e a Praça do Município) ao fim do dia. A central sindical promete "respeitar todas as regras de segurança". Marcelo Rebelo de Sousa pede "um esforço cívico de respeito".

Em entrevista ao Público e à Renascença, Jerónimo de Sousa também promete estar atento à evolução da pandemia para decidir o que fazer relativamente à Festa do Avante, cujos preparativos prosseguem numa aparente "normalidade", o que leva à pergunta "mas cancelada não vai ser, correto?". Pela primeira vez, o líder comunista responde: "Eu não era tão rotundo". Talvez fosse disso que conversava ontem com António Costa num tête-a-tête (com o devido distanciamento) ao início da reunião no Infarmed captado pela câmara da SIC. Ou talvez não: na mesma entrevista, Jerónimo confessa a sua desilusão com o facto de o Orçamento Suplementar não conter algumas das propostas do PCP a que o Governo tinha dado a sua concordância "em termos gerais". Apesar disso garante não ver "a curto prazo uma possível crise" política no país.

Descontente com a providência cautelar interposta pela Associação Comercial do Porto para travar a injeção de 1,2 mil milhões de euros do Estado na TAP, o ministro das Infraestruturas garante que o plano de salvação da empresa foi imposto por Bruxelas. Declarações de Pedro Nuno Santos ao podcast do PS, "Política com palavra".

O advogado de José Paulo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates, acusado pelo Ministério Público do crime de branqueamento de capitais - por ser alegadamente um dos testas de ferro do ex-primeiro-ministro -, levou três horas de alegações ao debate instrutório da Operação Marquês. Segundo João Costa Andrade, a acusação é "delirante": "o Ministério Público quis acomodar os factos à história que pretendeu construir e se os factos não confirmam a tese, que se lixem os factos". Não será sobre "delírios" a discussão desta tarde na Assembleia da República, mas é para seguir com atenção: o PSD leva "a situação atual da justiça" a plenário.

A Federação Portuguesa de Futebol deixou cair o limite de 550 mil euros que tinha proposto para a massa salarial das 20 equipas da primeira divisão do futebol feminino "face ao clima de intranquilidade gerado pelo facto da medida ter sido interpretada como uma discriminação em função do género", explicou ontem em comunicado. "Não é nem poderia ser" discriminação, assegura a FPF. Mas lá que parecia...

As saudades que (não) tínhamos das crises no futebol: depois da derrota do Benfica, na terça-feira, por 4-3 frente ao Santa Clara (os erros da equipa são-lhe explicados aqui), não aparenta haver muita Luz no futuro de Bruno Lage, como analisa o Pedro Candeias aqui. A prova de que o técnico benfiquista é o primeiro a saber disso está nas declarações infelizes que fez na conferência de imprensa após o jogo, onde acusou os jornalistas de receberem "almoços, jantares e viagens" para promoverem outras pessoas para o seu lugar. O Sindicato de Jornalistas quer que Lage apresente provas ou se retrate publicamente. O Pedro Cruz, adepto do Varzim, endereçou-lhe uma carta.

...E LÁ FORA

Depois dos ventiladores, os concentradores: "Muitos países estão a ter dificuldades em obter concentradores de oxigénio [que extraem e purificam oxigénio a partir do ar e permitem armazená-lo na concentração aumentada de que os doentes precisam] porque 80% do mercado está na posse de apenas algumas empresas e a procura está a ultrapassar largamente a oferta", revelou o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Ghebreyesus. Isto, numa altura em que, palavras suas, a pandemia da Covid-19 "está a crescer a um ritmo alarmante". Os números não mentem: "Demorou três semanas, no princípio da pandemia, a atingir o primeiro milhão de infetados, mas agora houve mais um milhão em apenas uma semana". Ghebreyesus participa a partir das 15h45 num debate na comissão parlamentar da Saúde Pública do Parlamento Europeu sobre a resposta mundial ao coronavírus. Se quiser seguir a videoconferência em direto pode fazê-lo aqui.

Já se sabia que as pessoas com diabetes fazem parte dos grupos de risco para a Covid 19. Agora há um estudo que diz que a Covid pode desencadear diabetes. A Nature explica-lhe.

O Brasil contabilizou 42.725 novos casos nas últimas 24 horas, num total de 1.188.631 pessoas diagnosticadas com a doença. No meio da irresponsabilidade que tem caracterizado a gestão política da crise sanitária no país, surgiu agora um juíz a prometer multar Jair Bolsonaro por cada dia que o Presidente surja em público sem máscara.

Na Argentina preparam-se passos atrás. Os casos não param de crescer em Buenos Aires e três dias depois do fim do estado de emergência, o Governo admite voltar ao confinamento na capital do país para conter o surto.

Na Suécia faz-se mea culpa. Depois dos últimos números revelarem mais de 5000 vítimas mortais por Covid 19 no país, o epidemiologista chefe da Agência de Saúde Pública sueca e convicto defensor da teoria da imunidade de grupo lamenta que não se tenha adotado a estratégia do confinamento seguida em praticamente toda a Europa.

O New York Times dedica a sua manchete aos recordes de novos casos em vários estados norte-americanos: registaram-se quase 37000 novos casos só nesta quarta-feira. Em Houston, uma das maiores cidades do Texas, as unidades de cuidados intensivos estão à beira da rutura.

Uma sondagem nacional do mesmo diário nova-iorquino dá o candidato democrata às presidenciais de novembro, Joe Biden, confortavelmente à frente de Donald Trump com 50% das intenções de voto contra 36% do atual Presidente.

Stephen Colbert entrevistou John Bolton, o ex-conselheiro de segurança de Donald Trump que lançou esta terça-feira o livro "The room where it happened" onde detalha os 17 meses que trabalhou com o atual presidente dos EUA e faz revelações que fizeram com que este o chamasse "traidor" (e tentasse impedir a publicação da obra). Colbert interroga: "Face a tudo o que já se sabia de Trump e do caos da sua administração por que é que aceitou ir trabalhar com ele?". "Não podia acreditar que fosse assim tão mau", responde Bolton. Este episódio do The Late Show pode ser visto aqui.

Bruce Springsteen deu uma entrevista à revista The Atlantic onde admite/apela/faz figas que a democracia americana não aguenta mais quatro anos de Trump. A Blitz fez ontem um resumo da conversa (que pode ler na versão original aqui) a pretexto de uma playlist para a era Trump (audível no spotify). Na entrevista, Springsteen fala de "American Skin/41 shots", a canção que escreveu em 1999, muitos anos antes do movimento "Black lives matter", depois de saber da morte de Amadou Diallo, um negro de 22 anos abatido no Bronx por 41 tiros disparados por 4 agentes da polícia: "Foi escrita a partir da ideia que no âmago dos nosso problemas raciais está o medo. O ódio vem depois. O medo é instantâneo". É uma das canções de que mais se orgulha de ter escrito. É uma das canções de que eu mais gosto. "You can get killed just for living in your american skin" ("podes ser morto apenas por viveres na tua pele americana").

FRASES

"Temos adotado a metodologia da verdade. Não escondemos números. Não guardamos números por estarmos em disputa com outros países por causa da Champions"

Marcelo Rebelo de Sousa

"Em momento algum se encontrou a ideia de descontrolo da pandemia"

idem

"De acordo com os técnicos é que a situação que estamos a viver é, nas palavras deles, é o resultado de uma segunda onda e não do aumento da testagem"

Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD

"O melhor é fazer a tripla - sai, fica ou fica mais um bocadinho"

Jerónimo de Sousa, sobre o seu futuro à frente do PCP

"É delirante e inacreditável"

João Costa Andrade, advogado de defesa de José Paulo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates, sobre a acusação do Ministério Público

"Não podia acreditar que fosse assim tão mau"

John Bolton, ex-conselheiro nacional de Donald Trump, tentando explicar porque aceitou trabalhar para o presidente dos EUA

“A nossa democracia não consegue aguentar mais quatro anos sob custódia de Trump”

Bruce Springsteen

"Estávamos muito enganados"

Anders Tegnell, responsável pela Agência de Saúde Pública da Suécia, reconhecendo que a estratégia de recusar o confinamento do país foi errada

O QUE ANDO A LER

A palavra "distopia" foi uma das mais usadas para descrever este estranho período das nossas vidas em que assistimos a um mundo inteiro em inimaginável stand by aguardando que passasse o pior. Segundo o dicionário online Priberam, distopia significa "ideia ou descrição de um país ou de uma sociedade imaginários em que tudo está organizado de uma forma opressiva, assustadora ou totalitária, por oposição à utopia" e, com efeito, podemos encontrar na literatura e no cinema muitas "distopias" perturbadoramente próximas da pandemia da Covid 19 e do estado de coisas dela resultante. Uma delas é a criada por Margaret Atwood em "O ano do dilúvio", obra de 2009 assente na ideia de uma praga criada em laboratório que extermina toda a humanidade à excepção das duas protagonistas/narradoras: "Esta não era uma pandemia normal; não ia ser controlada ao fim de uns quantos milhares de mortes, depois obliterada com bioinstrumentos e lixívia".

Nunca tinha lido nada da escritora canadiana - mais conhecida por cá sobretudo a partir de 2017, quando a Netflix estreou "The handmaid's tale", série feita a partir do seu livro "A história de uma serva" - e ainda estou a pensar se gostei. Talvez porque não é possível gostar de algo que nos confronta com o que o futuro (por definição imaginado, mas bastante credível) nos reserva se nada fizermos para alterar o que já sabemos que vai dar mau resultado. "A nossa é uma queda em direção à cupidez; porque pensamos nós que tudo na Terra nos pertence quando, na realidade, nós é que pertencemos a tudo?" . A história (triste) da humanidade resumida num único parágrafo: "Os primatas ancestrais tinham caído das árvores, depois caíram do vegetarianismo para a ingestão de carne. Depois caíram do instinto para a razão e, por conseguinte, para a tecnologia; de sinais simples para uma gramática complexa e, por conseguinte, para a humanidade; da ausência de fogo para o fogo e, daí, para o armamento; e do acasalamento sazonal para uma convulsão sexual incessante. Depois caíram de uma vida feliz no momento para a contemplação ansiosa do passado desaparecido e do futuro distante". Não gosto do que leio. Mas o que leio faz-me pensar. E isso nunca é mau, nem nunca é demais. Aliás, como a informação. Este "poço sem fundo" encontra-o nos sites do Expresso, da Blitz, da Tribuna ou da SIC Notícias. Tenha um dia bom.

P.S. Hoje é dia nacional do multimédia (como se todos os outros não o fossem já). É só um pretexto para lhe recomendar o último 2:59 sobre as teorias da conspiração que se multiplicaram como cogumelos nestes tempos de pandemia.

Esta tarde vamos ficar a saber as linhas com que nos cosemos neste dia que devia ser o fim do estado de calamidade mas se calhar não, pelo menos para alguns concelhos (no limite, para algumas freguesias) da região de Lisboa, onde os casos de infeção por Covid 19 não param de surgir. O Conselho de Ministros reúne-se a partir desta hora para aprovar o que todos já percebemos desde segunda-feira ser um inevitável passo atrás no desconfinamento: regras específicas (bem como uma moldura penal, com uma tabela de coimas que podem chegar aos milhares de euros para o crime de desobediência) para travar os surtos nesta zona do país. O Público avança que está em cima da mesa a possibilidade de se voltar ao confinamento obrigatório nas 19 freguesias identificadas como o cerne do problema.

As informações sobre o que se passou ontem, na reunião da elite política com os técnicos e especialistas de saúde, não são tranquilizadoras. Se o primeiro-ministro procurou confirmar que o aumento de casos em Lisboa e Vale do Tejo se deve ao aumento de testes, os epidemiologistas contrapuseram que isso não explica toda a realidade e que existe um problema real, como real é a hipótese de uma segunda onda de contágios. Da reunião saiu também a certeza do que já suspeitávamos: começou a luta política a propósito da pandemia, como o Expresso lhe explica aqui.

Ainda sobre a situação em Lisboa vale a pena ouvir o que disse ontem, no Jornal da Noite da SIC, Fernando Maltez: "Um maior número de testes só encontra mais casos se eles existirem" diz o diretor do serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral. Parece óbvio, não é?

Outro médico, este a norte, confessa estar exausto, não só da intensidade do trabalho mas da inabilidade política. A conversa da Christiana Martins com Robert Roncon, "médico que viu provavelmente mais doentes com covid-19 e os casos mais graves desta infeção em Portugal" pode ser lida aqui.

OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO...

Por contraditório que possa parecer - e parece -, numa altura em que estão proibidos os ajuntamentos de mais de 10 pessoas na região de Lisboa, o direito à manifestação não está suspenso, o que explica/legitima que a CGTP tenha marcado nada menos do que nove ações de protesto para a capital, no âmbito de uma "semana de luta" por todo o país. Só hoje estão previstas quatro concentrações e um desfile de rua (entre o Rossio e a Praça do Município) ao fim do dia. A central sindical promete "respeitar todas as regras de segurança". Marcelo Rebelo de Sousa pede "um esforço cívico de respeito".

Em entrevista ao Público e à Renascença, Jerónimo de Sousa também promete estar atento à evolução da pandemia para decidir o que fazer relativamente à Festa do Avante, cujos preparativos prosseguem numa aparente "normalidade", o que leva à pergunta "mas cancelada não vai ser, correto?". Pela primeira vez, o líder comunista responde: "Eu não era tão rotundo". Talvez fosse disso que conversava ontem com António Costa num tête-a-tête (com o devido distanciamento) ao início da reunião no Infarmed captado pela câmara da SIC. Ou talvez não: na mesma entrevista, Jerónimo confessa a sua desilusão com o facto de o Orçamento Suplementar não conter algumas das propostas do PCP a que o Governo tinha dado a sua concordância "em termos gerais". Apesar disso garante não ver "a curto prazo uma possível crise" política no país.

Descontente com a providência cautelar interposta pela Associação Comercial do Porto para travar a injeção de 1,2 mil milhões de euros do Estado na TAP, o ministro das Infraestruturas garante que o plano de salvação da empresa foi imposto por Bruxelas. Declarações de Pedro Nuno Santos ao podcast do PS, "Política com palavra".

O advogado de José Paulo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates, acusado pelo Ministério Público do crime de branqueamento de capitais - por ser alegadamente um dos testas de ferro do ex-primeiro-ministro -, levou três horas de alegações ao debate instrutório da Operação Marquês. Segundo João Costa Andrade, a acusação é "delirante": "o Ministério Público quis acomodar os factos à história que pretendeu construir e se os factos não confirmam a tese, que se lixem os factos". Não será sobre "delírios" a discussão desta tarde na Assembleia da República, mas é para seguir com atenção: o PSD leva "a situação atual da justiça" a plenário.

A Federação Portuguesa de Futebol deixou cair o limite de 550 mil euros que tinha proposto para a massa salarial das 20 equipas da primeira divisão do futebol feminino "face ao clima de intranquilidade gerado pelo facto da medida ter sido interpretada como uma discriminação em função do género", explicou ontem em comunicado. "Não é nem poderia ser" discriminação, assegura a FPF. Mas lá que parecia...

As saudades que (não) tínhamos das crises no futebol: depois da derrota do Benfica, na terça-feira, por 4-3 frente ao Santa Clara (os erros da equipa são-lhe explicados aqui), não aparenta haver muita Luz no futuro de Bruno Lage, como analisa o Pedro Candeias aqui. A prova de que o técnico benfiquista é o primeiro a saber disso está nas declarações infelizes que fez na conferência de imprensa após o jogo, onde acusou os jornalistas de receberem "almoços, jantares e viagens" para promoverem outras pessoas para o seu lugar. O Sindicato de Jornalistas quer que Lage apresente provas ou se retrate publicamente. O Pedro Cruz, adepto do Varzim, endereçou-lhe uma carta.

...E LÁ FORA

Depois dos ventiladores, os concentradores: "Muitos países estão a ter dificuldades em obter concentradores de oxigénio [que extraem e purificam oxigénio a partir do ar e permitem armazená-lo na concentração aumentada de que os doentes precisam] porque 80% do mercado está na posse de apenas algumas empresas e a procura está a ultrapassar largamente a oferta", revelou o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Ghebreyesus. Isto, numa altura em que, palavras suas, a pandemia da Covid-19 "está a crescer a um ritmo alarmante". Os números não mentem: "Demorou três semanas, no princípio da pandemia, a atingir o primeiro milhão de infetados, mas agora houve mais um milhão em apenas uma semana". Ghebreyesus participa a partir das 15h45 num debate na comissão parlamentar da Saúde Pública do Parlamento Europeu sobre a resposta mundial ao coronavírus. Se quiser seguir a videoconferência em direto pode fazê-lo aqui.

Já se sabia que as pessoas com diabetes fazem parte dos grupos de risco para a Covid 19. Agora há um estudo que diz que a Covid pode desencadear diabetes. A Nature explica-lhe.

O Brasil contabilizou 42.725 novos casos nas últimas 24 horas, num total de 1.188.631 pessoas diagnosticadas com a doença. No meio da irresponsabilidade que tem caracterizado a gestão política da crise sanitária no país, surgiu agora um juíz a prometer multar Jair Bolsonaro por cada dia que o Presidente surja em público sem máscara.

Na Argentina preparam-se passos atrás. Os casos não param de crescer em Buenos Aires e três dias depois do fim do estado de emergência, o Governo admite voltar ao confinamento na capital do país para conter o surto.

Na Suécia faz-se mea culpa. Depois dos últimos números revelarem mais de 5000 vítimas mortais por Covid 19 no país, o epidemiologista chefe da Agência de Saúde Pública sueca e convicto defensor da teoria da imunidade de grupo lamenta que não se tenha adotado a estratégia do confinamento seguida em praticamente toda a Europa.

O New York Times dedica a sua manchete aos recordes de novos casos em vários estados norte-americanos: registaram-se quase 37000 novos casos só nesta quarta-feira. Em Houston, uma das maiores cidades do Texas, as unidades de cuidados intensivos estão à beira da rutura.

Uma sondagem nacional do mesmo diário nova-iorquino dá o candidato democrata às presidenciais de novembro, Joe Biden, confortavelmente à frente de Donald Trump com 50% das intenções de voto contra 36% do atual Presidente.

Stephen Colbert entrevistou John Bolton, o ex-conselheiro de segurança de Donald Trump que lançou esta terça-feira o livro "The room where it happened" onde detalha os 17 meses que trabalhou com o atual presidente dos EUA e faz revelações que fizeram com que este o chamasse "traidor" (e tentasse impedir a publicação da obra). Colbert interroga: "Face a tudo o que já se sabia de Trump e do caos da sua administração por que é que aceitou ir trabalhar com ele?". "Não podia acreditar que fosse assim tão mau", responde Bolton. Este episódio do The Late Show pode ser visto aqui.

Bruce Springsteen deu uma entrevista à revista The Atlantic onde admite/apela/faz figas que a democracia americana não aguenta mais quatro anos de Trump. A Blitz fez ontem um resumo da conversa (que pode ler na versão original aqui) a pretexto de uma playlist para a era Trump (audível no spotify). Na entrevista, Springsteen fala de "American Skin/41 shots", a canção que escreveu em 1999, muitos anos antes do movimento "Black lives matter", depois de saber da morte de Amadou Diallo, um negro de 22 anos abatido no Bronx por 41 tiros disparados por 4 agentes da polícia: "Foi escrita a partir da ideia que no âmago dos nosso problemas raciais está o medo. O ódio vem depois. O medo é instantâneo". É uma das canções de que mais se orgulha de ter escrito. É uma das canções de que eu mais gosto. "You can get killed just for living in your american skin" ("podes ser morto apenas por viveres na tua pele americana").

FRASES

"Temos adotado a metodologia da verdade. Não escondemos números. Não guardamos números por estarmos em disputa com outros países por causa da Champions"

Marcelo Rebelo de Sousa

"Em momento algum se encontrou a ideia de descontrolo da pandemia"

idem

"De acordo com os técnicos é que a situação que estamos a viver é, nas palavras deles, é o resultado de uma segunda onda e não do aumento da testagem"

Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD

"O melhor é fazer a tripla - sai, fica ou fica mais um bocadinho"

Jerónimo de Sousa, sobre o seu futuro à frente do PCP

"É delirante e inacreditável"

João Costa Andrade, advogado de defesa de José Paulo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates, sobre a acusação do Ministério Público

"Não podia acreditar que fosse assim tão mau"

John Bolton, ex-conselheiro nacional de Donald Trump, tentando explicar porque aceitou trabalhar para o presidente dos EUA

“A nossa democracia não consegue aguentar mais quatro anos sob custódia de Trump”

Bruce Springsteen

"Estávamos muito enganados"

Anders Tegnell, responsável pela Agência de Saúde Pública da Suécia, reconhecendo que a estratégia de recusar o confinamento do país foi errada

O QUE ANDO A LER

A palavra "distopia" foi uma das mais usadas para descrever este estranho período das nossas vidas em que assistimos a um mundo inteiro em inimaginável stand by aguardando que passasse o pior. Segundo o dicionário online Priberam, distopia significa "ideia ou descrição de um país ou de uma sociedade imaginários em que tudo está organizado de uma forma opressiva, assustadora ou totalitária, por oposição à utopia" e, com efeito, podemos encontrar na literatura e no cinema muitas "distopias" perturbadoramente próximas da pandemia da Covid 19 e do estado de coisas dela resultante. Uma delas é a criada por Margaret Atwood em "O ano do dilúvio", obra de 2009 assente na ideia de uma praga criada em laboratório que extermina toda a humanidade à excepção das duas protagonistas/narradoras: "Esta não era uma pandemia normal; não ia ser controlada ao fim de uns quantos milhares de mortes, depois obliterada com bioinstrumentos e lixívia".

Nunca tinha lido nada da escritora canadiana - mais conhecida por cá sobretudo a partir de 2017, quando a Netflix estreou "The handmaid's tale", série feita a partir do seu livro "A história de uma serva" - e ainda estou a pensar se gostei. Talvez porque não é possível gostar de algo que nos confronta com o que o futuro (por definição imaginado, mas bastante credível) nos reserva se nada fizermos para alterar o que já sabemos que vai dar mau resultado. "A nossa é uma queda em direção à cupidez; porque pensamos nós que tudo na Terra nos pertence quando, na realidade, nós é que pertencemos a tudo?" . A história (triste) da humanidade resumida num único parágrafo: "Os primatas ancestrais tinham caído das árvores, depois caíram do vegetarianismo para a ingestão de carne. Depois caíram do instinto para a razão e, por conseguinte, para a tecnologia; de sinais simples para uma gramática complexa e, por conseguinte, para a humanidade; da ausência de fogo para o fogo e, daí, para o armamento; e do acasalamento sazonal para uma convulsão sexual incessante. Depois caíram de uma vida feliz no momento para a contemplação ansiosa do passado desaparecido e do futuro distante". Não gosto do que leio. Mas o que leio faz-me pensar. E isso nunca é mau, nem nunca é demais. Aliás, como a informação. Este "poço sem fundo" encontra-o nos sites do Expresso, da Blitz, da Tribuna ou da SIC Notícias. Tenha um dia bom.

P.S. Hoje é dia nacional do multimédia (como se todos os outros não o fossem já). É só um pretexto para lhe recomendar o último 2:59 sobre as teorias da conspiração que se multiplicaram como cogumelos nestes tempos de pandemia.

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