Debaixo do Bulcão

09-12-2019
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Quando vendi a minha Alma ao Diabo… ele foi gentil!Quando a comprou tinha os olhos fixos nos meus, e os meus não conseguiam desprender-se dos dele.Estava um calor tão envolvente que me aqueceu, muito. Aquecia-me até aos ossos, depois do longo Inverno. Só ele me acalmava, e eu, tão fatigada que estava de correr, e não achar fim… À minha grande solidão. Ele surgiu.Com o sorriso nos lábios avermelhados pelo vinho, que saboreava calmamente, sentado na sua poltrona de veludo, tão vermelha como os seus lábios, falava baixinho e ao mesmo tempo as mãos, vagarosamente, acompanhavam os gestos meigos das suas palavras. Disse-me:- Não te preocupes… tudo correrá como desejas!Deitei-me a seu lado, deixei que me acarinhasse, e aninhei-me nele. O calor era cada vez maior, o meu desejo também, e ele sabia de tudo.Perguntei-lhe: - De que depende a minha destreza na Vida, para poder lidar com o desprezo humano?Ele disse meigamente, colocando o seu dedo nos meus lábios:- Chiuummm… Ama-me muito.Encheu um copo, e entregou-mo. Disse-lhe:-Je suis tellement perdue! -Moi aussi! -É bom… -Bem vejo!E despiu-se para mim, a cantar:- Sex... Beat.A face molhada de Sexo aqueceu-me. Ofegante… queria senti-lo mais… mais profundo… fundo de tanto quanto o podia ter… em momentos lentos, mas violentos da minha força carnaz, enquanto bebíamos o licor espaçadamente entre os abraços e beijos … doces, em que ele com o dedo me molhava os lábios. no sofá de veludo… tudo perfeito tão suave… Sussurrou: - Sexo saboreia-se em doces modos na violência do desejo concretizado.Pareceu-me que todos os Mortos se levantariam hoje para poderem eles, beijar os seus Amantes, Se na carne ainda lhes corresse Vida! Se o tutano ainda lhe humedecesse os Ossos! Se as pupilas se dilatassem com o Desejo! As minhas mãos nas suas costas, fecharam-se em abraço... e abraçando-o, disse-lhe: -Quero-te… quero-te…Depois disto, Os mortos descansaram os corpos, E dançaram com a Alma a balalaica do Desejo.- Je suis ton fou - Moi aussi!As nuvens suspensas no imensurável céu Azul eram também a água evaporada, do suor dos Amantes. E todos os dias de Sol me queimaram a face de sal e rugas... a pele branca. Porque só ele me aquece!Aonde estará ele agora?…Quando… voltará a dançar… a minha Alma?VioletaDebaixo do Bulcão poezineNúmero 34 - Almada, Outubro 2008(ilustração da mesma autora)


Quando vendi a minha Alma ao Diabo… ele foi gentil!Quando a comprou tinha os olhos fixos nos meus, e os meus não conseguiam desprender-se dos dele.Estava um calor tão envolvente que me aqueceu, muito. Aquecia-me até aos ossos, depois do longo Inverno. Só ele me acalmava, e eu, tão fatigada que estava de correr, e não achar fim… À minha grande solidão. Ele surgiu.Com o sorriso nos lábios avermelhados pelo vinho, que saboreava calmamente, sentado na sua poltrona de veludo, tão vermelha como os seus lábios, falava baixinho e ao mesmo tempo as mãos, vagarosamente, acompanhavam os gestos meigos das suas palavras. Disse-me:- Não te preocupes… tudo correrá como desejas!Deitei-me a seu lado, deixei que me acarinhasse, e aninhei-me nele. O calor era cada vez maior, o meu desejo também, e ele sabia de tudo.Perguntei-lhe: - De que depende a minha destreza na Vida, para poder lidar com o desprezo humano?Ele disse meigamente, colocando o seu dedo nos meus lábios:- Chiuummm… Ama-me muito.Encheu um copo, e entregou-mo. Disse-lhe:-Je suis tellement perdue! -Moi aussi! -É bom… -Bem vejo!E despiu-se para mim, a cantar:- Sex... Beat.A face molhada de Sexo aqueceu-me. Ofegante… queria senti-lo mais… mais profundo… fundo de tanto quanto o podia ter… em momentos lentos, mas violentos da minha força carnaz, enquanto bebíamos o licor espaçadamente entre os abraços e beijos … doces, em que ele com o dedo me molhava os lábios. no sofá de veludo… tudo perfeito tão suave… Sussurrou: - Sexo saboreia-se em doces modos na violência do desejo concretizado.Pareceu-me que todos os Mortos se levantariam hoje para poderem eles, beijar os seus Amantes, Se na carne ainda lhes corresse Vida! Se o tutano ainda lhe humedecesse os Ossos! Se as pupilas se dilatassem com o Desejo! As minhas mãos nas suas costas, fecharam-se em abraço... e abraçando-o, disse-lhe: -Quero-te… quero-te…Depois disto, Os mortos descansaram os corpos, E dançaram com a Alma a balalaica do Desejo.- Je suis ton fou - Moi aussi!As nuvens suspensas no imensurável céu Azul eram também a água evaporada, do suor dos Amantes. E todos os dias de Sol me queimaram a face de sal e rugas... a pele branca. Porque só ele me aquece!Aonde estará ele agora?…Quando… voltará a dançar… a minha Alma?VioletaDebaixo do Bulcão poezineNúmero 34 - Almada, Outubro 2008(ilustração da mesma autora)

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