Nesta hora: A propósito de premiados nas Olimpíadas da Matemática

15-11-2019
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Três estudantes portugueses foram os vencedores das Olimpíadas Ibero-Americanas de Matemática, sendo dois deles alunos de escolas públicas. Se chamo esta origem para aqui é para insistir no mérito que existe também nas escolas públicas, de tal forma ele é por vezes escamoteado, como se não pudesse ser um dos seus atributos! Obviamente, há que felicitar os estudantes que cometeram o feito, assim como todos os outros que com eles comungaram na peregrinação matemática ao longo do Verão.Mas há também que pensar no que, no editorial de hoje [16 de Setembro] do diário Público, o seu director, José Manuel Fernandes, escreveu a propósito do assunto: “O nosso sistema de ensino não está, contudo, desenhado para estudantes como aqueles. Na maior parte dos casos, os bons alunos, os que podiam evoluir mais depressa, arrastam-se em turmas onde os professores têm, sobretudo, de tentar recuperar os que estão a ficar para trás. Ou, nalguns casos, em turmas onde há colegas com problemas reais de aprendizagem. O erro não está, como é óbvio, em não querer deixar para trás os mais fracos, mas sim nos preconceitos que impedem que sejam dadas aos mais válidos, aos mais talentosos, as melhores condições. Sem olhar à sua origem social, sem ficar condicionado pelo tipo de escola em que anda a estudar. Sem que isso aconteça, nunca teremos uma massa crítica mínima de talentos nas principais áreas do conhecimento. Teremos apenas excepções. Mas para criar essa massa crítica de talentos é necessário tratar de forma diferente alunos diferentes, não querer impor o mesmo padrão (necessariamente baixo) a todas as escolas (…)”Não teria sido necessário ao editorialista chamar o caso das elites para o seu título. É que o problema indicado existe e a valorização dos alunos mais esforçados, dos “bons alunos”, não passa, com frequência, do que, no final de cada período lectivo, sai como avaliação. No entanto, teria sido útil a este comentário jornalístico o apontar de algumas pistas para essa criação de talentos, sem se resumir apenas à diferença.A escola passa por isto todos os dias. E a imagem deste tempo, em que o trabalho nem sempre é valorizado, também paira nas escolas (onde, além dos tais alunos com "dificuldades reais", coexistem outros, os que seguem os ícones deste tempo).Mas… que soluções adoptar para lá daquilo que possa ser a divisão do mundo na esfera das elites e nos outros? Por outras palavras: como levar a educação a pautar-se por um padrão mais elevado? Essa, creio, terá de ser uma preocupação profissional (na escola), política (na governação e na gestão) e social (na família e na comunidade).


Três estudantes portugueses foram os vencedores das Olimpíadas Ibero-Americanas de Matemática, sendo dois deles alunos de escolas públicas. Se chamo esta origem para aqui é para insistir no mérito que existe também nas escolas públicas, de tal forma ele é por vezes escamoteado, como se não pudesse ser um dos seus atributos! Obviamente, há que felicitar os estudantes que cometeram o feito, assim como todos os outros que com eles comungaram na peregrinação matemática ao longo do Verão.Mas há também que pensar no que, no editorial de hoje [16 de Setembro] do diário Público, o seu director, José Manuel Fernandes, escreveu a propósito do assunto: “O nosso sistema de ensino não está, contudo, desenhado para estudantes como aqueles. Na maior parte dos casos, os bons alunos, os que podiam evoluir mais depressa, arrastam-se em turmas onde os professores têm, sobretudo, de tentar recuperar os que estão a ficar para trás. Ou, nalguns casos, em turmas onde há colegas com problemas reais de aprendizagem. O erro não está, como é óbvio, em não querer deixar para trás os mais fracos, mas sim nos preconceitos que impedem que sejam dadas aos mais válidos, aos mais talentosos, as melhores condições. Sem olhar à sua origem social, sem ficar condicionado pelo tipo de escola em que anda a estudar. Sem que isso aconteça, nunca teremos uma massa crítica mínima de talentos nas principais áreas do conhecimento. Teremos apenas excepções. Mas para criar essa massa crítica de talentos é necessário tratar de forma diferente alunos diferentes, não querer impor o mesmo padrão (necessariamente baixo) a todas as escolas (…)”Não teria sido necessário ao editorialista chamar o caso das elites para o seu título. É que o problema indicado existe e a valorização dos alunos mais esforçados, dos “bons alunos”, não passa, com frequência, do que, no final de cada período lectivo, sai como avaliação. No entanto, teria sido útil a este comentário jornalístico o apontar de algumas pistas para essa criação de talentos, sem se resumir apenas à diferença.A escola passa por isto todos os dias. E a imagem deste tempo, em que o trabalho nem sempre é valorizado, também paira nas escolas (onde, além dos tais alunos com "dificuldades reais", coexistem outros, os que seguem os ícones deste tempo).Mas… que soluções adoptar para lá daquilo que possa ser a divisão do mundo na esfera das elites e nos outros? Por outras palavras: como levar a educação a pautar-se por um padrão mais elevado? Essa, creio, terá de ser uma preocupação profissional (na escola), política (na governação e na gestão) e social (na família e na comunidade).

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