porosidade etérea: Cidade Universitária

15-11-2019
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Era em Setembro nos anfiteatros vazios,na alameda que subia para onde nos deviamos encontrar,e não estavas; era um outono que caía sobreas árvores do estádio, empurrando-lhesas folhas para cima da mesa da esplanada, onde está vazia a mesa emque as minhas mãos deviam procurar as tuas; eraa tua ausência em todos os lugares em que eu sabiaque poderias estar à minha espera, e só a sombradas nuvens me trazia a memória da tua passagem, comose fosses a ave que parte quando o primeiro soprodo inverno se anuncia.Que fazer sem ti, nestes anfiteatros de bancosvazios, nos corredores melancólicos que levam paraátrios e pátios, nesses relvados onde não vale a penasentar-me, perguntar-te se gostas do outono, ou dizer queos teus olhos é que valem a pena, agora que vejo, neles,as nuvens que correm para o sul? E tu, sem estares aqui,dizes-me que não é preciso que eu me lembre de ti; queestás para chegar, de trás das árvores do estádio, paralimpares de folhas a mesa da esplanada, e pedires-me quepegue nas tuas mãos, como se o invernonão estivesse para chegar.Mas um cansaço antigo prende-me a estes bancosde anfiteatro; uma indecisão de passos empurra-me porcorredores e salas, em busca de um bar que fechouhá muito; o vento varreu as folhas da mesada esplanada, tirando a única justificação para que venhas. Abro,então, as gavetas do passado. Tiro cartas, fotografias,poemas, o livro em que me escreveste a frase interrompidado amor. Como se eu não soubesse que as nuvens encheramde sombra todas as imagens; que os pássaros levarampara o sul tudo o que tinhas para me dizer; queas folhas no chão cobriram o teu corpo, antes queo inverno tivesse de o fazer.Nuno JúdiceNa voz de Frederico Hartley:


Era em Setembro nos anfiteatros vazios,na alameda que subia para onde nos deviamos encontrar,e não estavas; era um outono que caía sobreas árvores do estádio, empurrando-lhesas folhas para cima da mesa da esplanada, onde está vazia a mesa emque as minhas mãos deviam procurar as tuas; eraa tua ausência em todos os lugares em que eu sabiaque poderias estar à minha espera, e só a sombradas nuvens me trazia a memória da tua passagem, comose fosses a ave que parte quando o primeiro soprodo inverno se anuncia.Que fazer sem ti, nestes anfiteatros de bancosvazios, nos corredores melancólicos que levam paraátrios e pátios, nesses relvados onde não vale a penasentar-me, perguntar-te se gostas do outono, ou dizer queos teus olhos é que valem a pena, agora que vejo, neles,as nuvens que correm para o sul? E tu, sem estares aqui,dizes-me que não é preciso que eu me lembre de ti; queestás para chegar, de trás das árvores do estádio, paralimpares de folhas a mesa da esplanada, e pedires-me quepegue nas tuas mãos, como se o invernonão estivesse para chegar.Mas um cansaço antigo prende-me a estes bancosde anfiteatro; uma indecisão de passos empurra-me porcorredores e salas, em busca de um bar que fechouhá muito; o vento varreu as folhas da mesada esplanada, tirando a única justificação para que venhas. Abro,então, as gavetas do passado. Tiro cartas, fotografias,poemas, o livro em que me escreveste a frase interrompidado amor. Como se eu não soubesse que as nuvens encheramde sombra todas as imagens; que os pássaros levarampara o sul tudo o que tinhas para me dizer; queas folhas no chão cobriram o teu corpo, antes queo inverno tivesse de o fazer.Nuno JúdiceNa voz de Frederico Hartley:

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