Debaixo do Bulcão: Ratos de esgoto e outras bichezas

09-12-2019
marcar artigo


Caminhava pela rua, quando descobri uma fila de ratos,a bom correr, assustados...Uns bons metros à frente descobri um clarão de luz e uma multidão,que parecia sôfrega. Pensei: «talvez estivessem a dar alguma coisa...»Fui-me aproximando e desviando de carros grandes, escuros,com estofos de pele, conduzidos por choféres com bonés de porteiro,dos hoteis estrelados que se encontram nos filmes.Comecei a notar um cheiro esquisito no ar, pouco agradável.À minha frente já era possível ver uma passadeira vermelha (são sempre vermelhas, porque será?) e um desfile festivo de mulheres bonitas e elegantes,cujos sorrisos e colares ao pescoço brilhavam com os holofotes, com vestidos nocturnos multicolores, curtos em cima, compridos em baixo.Davam as mãos a uns tipos de laçarote, género actor secundário, também sorridentes e orgulhosos, das suas damas de companhia.E o maldito cheiro tornava-se cada vez mais desagradável...Não sabia o que se passava, aquela gente fina e bonita,que governava empresas, cidades, ministérios, jornais, televisões, bancos,não podia cheirar mal, além dos banhos de imersão, tomavam banhos secos com os perfumes de Paris...Mas cheirava mesmo mal e não era eu!Antes de voltar costas àquele espectáculo deslumbrante, pensei:«talvez o cheiro nauseabundo que me inundava as fuças só pudesse ser detectado, por ratos de esgoto..».Luís Milheirohttp://www.casariodoginjal.blogspot.com/em Debaixo do Bulcão poezineNúmero 32 - Almada, Março 2008


Caminhava pela rua, quando descobri uma fila de ratos,a bom correr, assustados...Uns bons metros à frente descobri um clarão de luz e uma multidão,que parecia sôfrega. Pensei: «talvez estivessem a dar alguma coisa...»Fui-me aproximando e desviando de carros grandes, escuros,com estofos de pele, conduzidos por choféres com bonés de porteiro,dos hoteis estrelados que se encontram nos filmes.Comecei a notar um cheiro esquisito no ar, pouco agradável.À minha frente já era possível ver uma passadeira vermelha (são sempre vermelhas, porque será?) e um desfile festivo de mulheres bonitas e elegantes,cujos sorrisos e colares ao pescoço brilhavam com os holofotes, com vestidos nocturnos multicolores, curtos em cima, compridos em baixo.Davam as mãos a uns tipos de laçarote, género actor secundário, também sorridentes e orgulhosos, das suas damas de companhia.E o maldito cheiro tornava-se cada vez mais desagradável...Não sabia o que se passava, aquela gente fina e bonita,que governava empresas, cidades, ministérios, jornais, televisões, bancos,não podia cheirar mal, além dos banhos de imersão, tomavam banhos secos com os perfumes de Paris...Mas cheirava mesmo mal e não era eu!Antes de voltar costas àquele espectáculo deslumbrante, pensei:«talvez o cheiro nauseabundo que me inundava as fuças só pudesse ser detectado, por ratos de esgoto..».Luís Milheirohttp://www.casariodoginjal.blogspot.com/em Debaixo do Bulcão poezineNúmero 32 - Almada, Março 2008

marcar artigo