Muxicongo: Colóquio na Universidade do Minho aborda a questão dos «Judeus Portugueses no Mundo: Pensamento, Medicina e Cultura»

23-06-2020
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“Na
chamada História da Filosofia, a nação judaica tem um lugar, como todas as
demais nações, incluindo as que não tiveram o dom de escrever o que pensavam,
mas esse lugar é geralmente considerado secundário, quando comparado com o
significado do saber teológico e messianológico de Israel”.

J. Pinharanda Gomes

No dia 19 de Outubro
último, demos por bem empregue o dia que passamos na Universidade do Minho,
Campus de Gualtar (Braga), para assistirmos e participarmos no Colóquio «Judeus
Portugueses no Mundo: Pensamento, Medicina e Cultura», onde se procurou
reflectir sobre a grande ciência e o grande pensamento de autores
judaico-portugueses, tendo sempre a consciência de que este é um património
cultural riquíssimo que merece ser estudado pelos investigadores. Tal como era
propósito dos organizadores – Professores Manuel Curado (Departamento de
Filosofia) e Virgínia Soares Pereira (Centro de Estudos Lusíadas) da
Universidade do Minho – alertar para o facto de que o contributo dos Judeus
Portugueses para a história da cultura em Portugal dificilmente pode ser
apoucado, dada a sua vastidão, denunciando, ao mesmo tempo, os aspectos mais
infelizes da relação entre Judeus e Portugal que ofuscam muitas vezes este
património. Por isso, com este Colóquio pretendeu-se despoletar um certo
entusiasmo para o seu estudo.

Desta vez não iremos discorrer
como pretendíamos ao sabor da nossa pena e da nossa mente (sendo que, até aqui,
sempre procuramos explanar o nosso pensamento, à volta dos temas que abordamos),
por forma a descrevermos um pouco mais os conteúdos das intervenções magistrais
neste magnífico Colóquio. E foram elas: PINHARANDA GOMES, justificada a sua
ausência por motivos de saúde, sendo a sua comunicação lida pelo Professor José
Marques Fernandes, acabando por trazer a este Colóquio «Aspectos da Filosofia
Hebraico-Portuguesa» – em substituição do título proposto no programa, que nos
propunha um «Itinerário do Pensamento Judaico-Português» –, onde são abordadas
as épocas medieval, renascentista, moderna e contemporânea, perpassando
questões como no caso dos Hebreus, a Filosofia ser considerada estranha à
missão judaica, que consiste em conhecer Deus e em dá-Lo a conhecer (no
pensamento hebraico, Filosofia tem um irrecusável sinónimo: Teologia – pensar a
Deus super omnia, sobre todas as
coisas, seres, visíveis e invisíveis ideias), a diáspora hispânica, o cabalismo,
a expulsão dos Judeus, as comunas judaicas, o manter integra a “Arca da
Aliança”, Bento Espinosa, junção da Filosofia e da Teologia, radical
naturalismo na comunidade judaica, António Ribeiro Sanches e a abolição da
Inquisição; ANTÓNIO ANDRADE, onde nos falou do tema que envolvia o «Mestre
Dionísio, Manuel Brudo e Amato Lusitano: Três Médicos no Exílio»; ELVIRA
AZEVEDO MEA, abordando «Alguns Aspectos da Diáspora Judaica (Séculos XVI-XVII),
onde acaba por nos recordar que o movimento expansionista na Europa é a
Diáspora Judaica, sendo que a dos Judeus Portugueses se estendeu através do
Mediterrâneo, levando à formação das comunidades judaicas-italianas e a
sobressaltos existenciais desta gente, a que denominavam de Cristãos-Novos;
JOSHUA RUAH, médico judeu portuense, explanaria «O Pensamento Científico
Judaico-português nos Séculos XVI e XVII», reforçando a convicção da existência
da Bíblia e não do Velho Testamento (segundo ele, forma corrupta de chamar à
Bíblia para os Judeus, pelos cristãos) e trazendo à discussão diversos
argumentos filosóficos – judaísmo espiritualista para o judaísmo racionalista –
o critério da morte cerebral, sendo que a sede da vida não é o coração mas o
cérebro, a noção de que a evolução científica é uma continuação da criação divina,
a demanda do regresso à cidade de Jerusalém e a Diáspora, como a maior
dispersão de um povo; JORGE MARTINS, substituiu a sua comunicação programada de
«O Marranismo como Cultura: Práticas Criptojudaicas nos Processos da Inquisição
(Sécs. XVI a XVIII)» para «Marranismo, cultura e identidade», debruçando-se,
indelevelmente, sobre alguns dos interrogatórios “In Gerene” na Inquisição e os
significados depreciativos nos dicionários de português acerca das palavras que
se ligam ao conceito de judeu, judia, judaísmo, etc. (o que nos deixou
perplexos), terminando com uma interrogação de Fernando Pessoa: “Quem, que seja
português, pode viver a estreiteza de uma só personalidade, de uma só nação, de
uma só fé?”; PAULO ARCHER DE CARVALHO, espelhou a sua comunicação em «Joaquim
de Carvalho, os estudos judaicos e o esquecimento da Shoah», que o mesmo será
dizer “holocausto”, a cultura filosófica e científica judaica, sendo que para
Joaquim de Carvalho – Espinosa é um filósofo, interrogando-se em “que Deus é
que Espinosa (para Paulo Archer, mais um teosófico do que um teólogo) acredita?”,
reforçando a máxima de “Deus existe em tudo, mas não existe em nada”, a
liberdade das filosofias e a luta pela liberdade, a expulsão de Joaquim de
Carvalho da Universidade de Coimbra, por se tratar de um republicano histórico
e frequentemente não-alinhado, obediente à sua própria consciência, sendo
tenazmente perseguido por Salazar; JOSÉ EDUARDO FRANCO e CRISTIANA LUCAS DA
SILVA, professor e sua doutoranda, deambularam pela «Distinção entre Cristãos
Velhos e Cristãos Novos e a Questão Judaica em Portugal: Representações e
Posições», lembrando a legislação pombalina que extinguia as diferenças entre
cristãos-velhos (católicos sem suspeitas de antepassados judeus) e
cristãos-novos, tornando inválidos todos os anteriores decretos e leis que
discriminavam os cristãos-novos e impunham critérios de “limpeza de sangue”, a
proposta do Pe. António Vieira a D. João IV, onde se declara favorável aos
cristãos- novos e apresenta um plano de recuperação económica (estruturando a
proposta, entre outras ideias, na preservação da independência de Portugal,
admissão de judeus em Portugal, dado que os judeus portugueses enriqueceram
outros reinos cristãos – os hereges são mais promíscuos que os judeus –, a liberdade
religiosa como forma de levar à reconversão), batendo-se pela não divisão entre
cristãos-velhos e cristãos-novos; RUI BERTRAND ROMÃO, falou sobre «Erro, Exame
e Decisão em Francisco Sanches», fulcro do pensamento bracarense, filósofo-médico
capaz de grandes sínteses, a sua ascendência judaica, o périplo de estudos pela
Itália, o anti-aristotelismo e aristotelismo involuntária, fazendo ainda uma
referência passageira à obra “Examen rerum”; MANUEL CURADO, professor
anfitrião, numa alocução peculiar, a que já nos vai habituando, trouxe a este
Colóquio «O Palácio do Sono do Doutor Isaac Samuda»; ADELINO CARDOSO, através
dos «Requisitos do Médico Perfeito na Obra de Rodrigo de Castro O Médico
Político» fazendo uma alusão à obra como sendo de ética médica, mas também uma
obra mais ampla – jurisprudência – a questão da liberdade, alertando para o
facto de Isaac Cardoso afirmar que “a filosofia começa por falar hebraico e não
grego”, o médico deve começar pelas humanidades (retórica e dialéctica – arte
que ajuda a pensar e argumentar – a anatomia, a terapêutica, etc.), a
relevância da filosofia natural como sendo mestra do médico, tornando o acto
médico enquanto tal um acto moral, relevando a certeza de que a arte médica
aperfeiçoa a natureza do homem e a medicina é uma arte de tolerância, sendo que
ninguém deve ser excluído por razões económicas e a prática da “mentira”
utilizada com o medicamento, remetendo a verdade para os mais próximos do
doente, comutando, assim, o médico como um cultor da alegria; JAMES W. NELSON
NOVOA, com a comunicação «Leão Hebreu, Médico e Filósofo Português no
Renascimento Italiano», de seu nome completo Jehudah Abravanel (1460-1521?) – filho
de Isaac Abravanel (1430-1508) – filósofo marcado pelo espírito renascentista,
de tendência sincrética, tentou mostrar o acordo da Bíblia com a filosofia
grega, acaba por nos revelar que a obra principal deste médico-filósofo é “Diálogos
de Amor”, onde o mesmo expõe a sua doutrina, segundo a qual o amor é o
fundamento ontológico do real, concebido não apenas como sentimental, mas
também como intelectual: deste modo pretende unificar fé e razão, embora
deixando clara a prevalência da primeira; e, por fim, FERNANDO MACHADO, um dos
maiores especialistas de Jean-Jacques Rousseau em Portugal (conhecemos-lhe a
sua grande obra de referência “Rousseau em Portugal”), trouxe-nos «O
despatriado Ribeiro Sanches na terra dos czares: débitos e créditos»,
referindo-se à pátria portuguesa como tendo sido madrasta para muitos dos
ilustres pensadores portugueses e a Ribeiro Sanches como um dos homens mais
lidos pelas comunidades científicas no século XVIII, contrastando o tratamento
que teve na sua pátria e fora dela, aludindo aos cerca de dezassete anos que
passou na Rússia, onde teve uma merecidíssima projecção científica, médica e
académica, e onde chegou a ser nomeado médico dos exércitos imperiais.

Muito haveria para dizer – salvaguardando os “erros de simpatia”, tendo
em conta que o que atrás descrevemos, é fruto da nossa apreensão e não “Ipsis
verbis” dos comunicadores –, mas somos forçados a ficar por aqui porque,
conscientemente, temos noção do quanto fastidiosos nos tornaríamos se
cometêssemos a “leviandade” da pormenorização descritiva de todas as
comunicações. Essa tarefa, diríamos científica, fica para a publicação das
actas, prometidas para 2013. Tal como atrás referimos, concordamos plenamente
com facto de que o contributo dos Judeus Portugueses para a história da cultura
em Portugal dificilmente pode ser apoucado, dada a sua vastidão, sendo urgente estudar
e dar a conhecer às novas gerações de universitários portugueses muitos autores
cuja obra continua a influenciar e a inspirar o que fazemos em Medicina, em
Filosofia e em muitas outras áreas da Cultura. E nesse dia 19 de Outubro de
2012, tendo como pano de fundo a Universidade do Minho, foi dado um grande
contributo nesse sentido!

“Na
chamada História da Filosofia, a nação judaica tem um lugar, como todas as
demais nações, incluindo as que não tiveram o dom de escrever o que pensavam,
mas esse lugar é geralmente considerado secundário, quando comparado com o
significado do saber teológico e messianológico de Israel”.

J. Pinharanda Gomes

No dia 19 de Outubro
último, demos por bem empregue o dia que passamos na Universidade do Minho,
Campus de Gualtar (Braga), para assistirmos e participarmos no Colóquio «Judeus
Portugueses no Mundo: Pensamento, Medicina e Cultura», onde se procurou
reflectir sobre a grande ciência e o grande pensamento de autores
judaico-portugueses, tendo sempre a consciência de que este é um património
cultural riquíssimo que merece ser estudado pelos investigadores. Tal como era
propósito dos organizadores – Professores Manuel Curado (Departamento de
Filosofia) e Virgínia Soares Pereira (Centro de Estudos Lusíadas) da
Universidade do Minho – alertar para o facto de que o contributo dos Judeus
Portugueses para a história da cultura em Portugal dificilmente pode ser
apoucado, dada a sua vastidão, denunciando, ao mesmo tempo, os aspectos mais
infelizes da relação entre Judeus e Portugal que ofuscam muitas vezes este
património. Por isso, com este Colóquio pretendeu-se despoletar um certo
entusiasmo para o seu estudo.

Desta vez não iremos discorrer
como pretendíamos ao sabor da nossa pena e da nossa mente (sendo que, até aqui,
sempre procuramos explanar o nosso pensamento, à volta dos temas que abordamos),
por forma a descrevermos um pouco mais os conteúdos das intervenções magistrais
neste magnífico Colóquio. E foram elas: PINHARANDA GOMES, justificada a sua
ausência por motivos de saúde, sendo a sua comunicação lida pelo Professor José
Marques Fernandes, acabando por trazer a este Colóquio «Aspectos da Filosofia
Hebraico-Portuguesa» – em substituição do título proposto no programa, que nos
propunha um «Itinerário do Pensamento Judaico-Português» –, onde são abordadas
as épocas medieval, renascentista, moderna e contemporânea, perpassando
questões como no caso dos Hebreus, a Filosofia ser considerada estranha à
missão judaica, que consiste em conhecer Deus e em dá-Lo a conhecer (no
pensamento hebraico, Filosofia tem um irrecusável sinónimo: Teologia – pensar a
Deus super omnia, sobre todas as
coisas, seres, visíveis e invisíveis ideias), a diáspora hispânica, o cabalismo,
a expulsão dos Judeus, as comunas judaicas, o manter integra a “Arca da
Aliança”, Bento Espinosa, junção da Filosofia e da Teologia, radical
naturalismo na comunidade judaica, António Ribeiro Sanches e a abolição da
Inquisição; ANTÓNIO ANDRADE, onde nos falou do tema que envolvia o «Mestre
Dionísio, Manuel Brudo e Amato Lusitano: Três Médicos no Exílio»; ELVIRA
AZEVEDO MEA, abordando «Alguns Aspectos da Diáspora Judaica (Séculos XVI-XVII),
onde acaba por nos recordar que o movimento expansionista na Europa é a
Diáspora Judaica, sendo que a dos Judeus Portugueses se estendeu através do
Mediterrâneo, levando à formação das comunidades judaicas-italianas e a
sobressaltos existenciais desta gente, a que denominavam de Cristãos-Novos;
JOSHUA RUAH, médico judeu portuense, explanaria «O Pensamento Científico
Judaico-português nos Séculos XVI e XVII», reforçando a convicção da existência
da Bíblia e não do Velho Testamento (segundo ele, forma corrupta de chamar à
Bíblia para os Judeus, pelos cristãos) e trazendo à discussão diversos
argumentos filosóficos – judaísmo espiritualista para o judaísmo racionalista –
o critério da morte cerebral, sendo que a sede da vida não é o coração mas o
cérebro, a noção de que a evolução científica é uma continuação da criação divina,
a demanda do regresso à cidade de Jerusalém e a Diáspora, como a maior
dispersão de um povo; JORGE MARTINS, substituiu a sua comunicação programada de
«O Marranismo como Cultura: Práticas Criptojudaicas nos Processos da Inquisição
(Sécs. XVI a XVIII)» para «Marranismo, cultura e identidade», debruçando-se,
indelevelmente, sobre alguns dos interrogatórios “In Gerene” na Inquisição e os
significados depreciativos nos dicionários de português acerca das palavras que
se ligam ao conceito de judeu, judia, judaísmo, etc. (o que nos deixou
perplexos), terminando com uma interrogação de Fernando Pessoa: “Quem, que seja
português, pode viver a estreiteza de uma só personalidade, de uma só nação, de
uma só fé?”; PAULO ARCHER DE CARVALHO, espelhou a sua comunicação em «Joaquim
de Carvalho, os estudos judaicos e o esquecimento da Shoah», que o mesmo será
dizer “holocausto”, a cultura filosófica e científica judaica, sendo que para
Joaquim de Carvalho – Espinosa é um filósofo, interrogando-se em “que Deus é
que Espinosa (para Paulo Archer, mais um teosófico do que um teólogo) acredita?”,
reforçando a máxima de “Deus existe em tudo, mas não existe em nada”, a
liberdade das filosofias e a luta pela liberdade, a expulsão de Joaquim de
Carvalho da Universidade de Coimbra, por se tratar de um republicano histórico
e frequentemente não-alinhado, obediente à sua própria consciência, sendo
tenazmente perseguido por Salazar; JOSÉ EDUARDO FRANCO e CRISTIANA LUCAS DA
SILVA, professor e sua doutoranda, deambularam pela «Distinção entre Cristãos
Velhos e Cristãos Novos e a Questão Judaica em Portugal: Representações e
Posições», lembrando a legislação pombalina que extinguia as diferenças entre
cristãos-velhos (católicos sem suspeitas de antepassados judeus) e
cristãos-novos, tornando inválidos todos os anteriores decretos e leis que
discriminavam os cristãos-novos e impunham critérios de “limpeza de sangue”, a
proposta do Pe. António Vieira a D. João IV, onde se declara favorável aos
cristãos- novos e apresenta um plano de recuperação económica (estruturando a
proposta, entre outras ideias, na preservação da independência de Portugal,
admissão de judeus em Portugal, dado que os judeus portugueses enriqueceram
outros reinos cristãos – os hereges são mais promíscuos que os judeus –, a liberdade
religiosa como forma de levar à reconversão), batendo-se pela não divisão entre
cristãos-velhos e cristãos-novos; RUI BERTRAND ROMÃO, falou sobre «Erro, Exame
e Decisão em Francisco Sanches», fulcro do pensamento bracarense, filósofo-médico
capaz de grandes sínteses, a sua ascendência judaica, o périplo de estudos pela
Itália, o anti-aristotelismo e aristotelismo involuntária, fazendo ainda uma
referência passageira à obra “Examen rerum”; MANUEL CURADO, professor
anfitrião, numa alocução peculiar, a que já nos vai habituando, trouxe a este
Colóquio «O Palácio do Sono do Doutor Isaac Samuda»; ADELINO CARDOSO, através
dos «Requisitos do Médico Perfeito na Obra de Rodrigo de Castro O Médico
Político» fazendo uma alusão à obra como sendo de ética médica, mas também uma
obra mais ampla – jurisprudência – a questão da liberdade, alertando para o
facto de Isaac Cardoso afirmar que “a filosofia começa por falar hebraico e não
grego”, o médico deve começar pelas humanidades (retórica e dialéctica – arte
que ajuda a pensar e argumentar – a anatomia, a terapêutica, etc.), a
relevância da filosofia natural como sendo mestra do médico, tornando o acto
médico enquanto tal um acto moral, relevando a certeza de que a arte médica
aperfeiçoa a natureza do homem e a medicina é uma arte de tolerância, sendo que
ninguém deve ser excluído por razões económicas e a prática da “mentira”
utilizada com o medicamento, remetendo a verdade para os mais próximos do
doente, comutando, assim, o médico como um cultor da alegria; JAMES W. NELSON
NOVOA, com a comunicação «Leão Hebreu, Médico e Filósofo Português no
Renascimento Italiano», de seu nome completo Jehudah Abravanel (1460-1521?) – filho
de Isaac Abravanel (1430-1508) – filósofo marcado pelo espírito renascentista,
de tendência sincrética, tentou mostrar o acordo da Bíblia com a filosofia
grega, acaba por nos revelar que a obra principal deste médico-filósofo é “Diálogos
de Amor”, onde o mesmo expõe a sua doutrina, segundo a qual o amor é o
fundamento ontológico do real, concebido não apenas como sentimental, mas
também como intelectual: deste modo pretende unificar fé e razão, embora
deixando clara a prevalência da primeira; e, por fim, FERNANDO MACHADO, um dos
maiores especialistas de Jean-Jacques Rousseau em Portugal (conhecemos-lhe a
sua grande obra de referência “Rousseau em Portugal”), trouxe-nos «O
despatriado Ribeiro Sanches na terra dos czares: débitos e créditos»,
referindo-se à pátria portuguesa como tendo sido madrasta para muitos dos
ilustres pensadores portugueses e a Ribeiro Sanches como um dos homens mais
lidos pelas comunidades científicas no século XVIII, contrastando o tratamento
que teve na sua pátria e fora dela, aludindo aos cerca de dezassete anos que
passou na Rússia, onde teve uma merecidíssima projecção científica, médica e
académica, e onde chegou a ser nomeado médico dos exércitos imperiais.

Muito haveria para dizer – salvaguardando os “erros de simpatia”, tendo
em conta que o que atrás descrevemos, é fruto da nossa apreensão e não “Ipsis
verbis” dos comunicadores –, mas somos forçados a ficar por aqui porque,
conscientemente, temos noção do quanto fastidiosos nos tornaríamos se
cometêssemos a “leviandade” da pormenorização descritiva de todas as
comunicações. Essa tarefa, diríamos científica, fica para a publicação das
actas, prometidas para 2013. Tal como atrás referimos, concordamos plenamente
com facto de que o contributo dos Judeus Portugueses para a história da cultura
em Portugal dificilmente pode ser apoucado, dada a sua vastidão, sendo urgente estudar
e dar a conhecer às novas gerações de universitários portugueses muitos autores
cuja obra continua a influenciar e a inspirar o que fazemos em Medicina, em
Filosofia e em muitas outras áreas da Cultura. E nesse dia 19 de Outubro de
2012, tendo como pano de fundo a Universidade do Minho, foi dado um grande
contributo nesse sentido!

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