Muxicongo: Arlindo Pintomeira mostra “Exteriores-Interiores” e “Outras Faces”

23-06-2020
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“Em
conclusão, podemos dizer que nesta poética da composição artística, em que
consiste «Interiores», Pintomeira isola as unidades mínimas da composição,
tentando aproximar-se, o mais que pode, das formas de vida contidas na
encenação dos objectos”.

Moisés de Lemos Martins

Pelas dezassete horas e
trinta minutos do dia 3 de Novembro, foram inauguradas duas exposições –
“Exteriores-Interiores” e “Outras Faces” –, em Viana do Castelo, do nosso
respeitável amigo e extraordinário artista Arlindo Pintomeira, nos Antigos
Paços do Concelho e na Galeria da Santa Casa da Misericórdia, respectivamente.
As duas exposições estarão patentes ao público até 31 de Dezembro, o que
significa que o envolvente à Praça da República será palco, tomando como nossas
as palavras de Moisés de Lemos Martins, da “poética da composição artística” de
Pintomeira, permitindo-nos, enquanto observadores sensíveis, explorar a
natureza das nossas próprias emoções, por temos consciência de que a expressão
bem-sucedida de uma emoção permite ao observador ganhar consciência dela; e a
noção clara de que – como um dia escreveria Nigel Warburton – “o artista mostra
aos observadores da obra de arte como expressar a emoção particular que se
encontra na obra”. Já há muito tempo que Pintomeira tem conseguido criar em nós
a útil magia da emoção, sem que para isso – e contrariando a sapiência redutora
de alguns pressupostos eruditos de Arte – tenhamos a necessidade de “desfiar
rosários” elementares ao conhecimento preconcebido, para usufruirmos da
liberdade do “gosto”, da “imaginação” e da “visão”, como corolário da velha
máxima: “a verdadeira obra existe na forma de ideias na mente do seu criador, e
na mente de quem está a apreciar a obra”. Temos vindo a apreciar a arte em
Pintomeira, valendo-nos também do factor da “imaginação”, tendo em conta que –
para R. G. Collingwood – “uma verdadeira obra de arte é uma actividade total
que a pessoa que dela desfruta apreende ou tem dela consciência pelo uso da sua
imaginação”. E esta nossa actividade imaginativa não é somente visual, mas
também emotiva, porque percepcionamos, apreendemos e deixamo-nos envolver pela
criação do artista. Mesmo que não bastasse tais “predicados”, só por isso (actividade
imaginativa) Arlindo Pintomeira é para nós um artista que nos agrada
profundamente.

Porque já nos alongamos
em demasia nas considerações “sensíveis-pessoais”, e sem nos querermos envolver
na crítica elaborada que, a nosso modesto ver, é dada “estatutariamente” ao
mundo da arte e seus entendidos, apenas nos apraz registar os bens elaborados
textos “crítico-literários” de José-Luís Ferreira (sociólogo, escritor,
investigador de arte) – A sua linguagem
pictórica, criada a partir de evidências imagéticas contextuais ou,
deliberadamente, (des)contextualizadas, adquire-se (ou provém) de um constante
e requintado exercício radical de exploração pangeométrica, buscada em
pressupostos íntimos duma génese anímica e (re)invencional da imagem de alto
contraste, com o objectivo da sua transposição, sob pretextos de equilíbrio
óptico, obedientes a um doseamento compositivo secreto (…) – e de Moisés de
Lemos Martins (professor da Universidade do Minho) – Existe hoje na pintura de Pintomeira este esplendor dos objectos, uma
poética que inscreve o humano naquilo que o não pode ser. O seu sistema de
objectos faz-nos pensar numa “autopoiesis”, que age no mundo como uma unidade
autónoma que se auto-engendra –, inseridos do catálogo da exposição
“Exteriores-Interiores”; e os de José Paulo Leite de Abreu (director do Museu
Pio XII) – Na obra de Pintomeira
sobressaem também os contornos, que focam o olhar do interlocutor, sublinham
centralidades e funcionam como útero onde se esconde e defende o essencial da
mensagem a transmitir – e de Moisés de Lemos Martins (professor da
Universidade do Minho) – Com o desenho de
linhas e o alinhamento de pontos, Pintomeira figura cordas físicas e tácteis.
As linhas, tal como os pontos alinhados em recta, são então cordas tensas,
abrigos contra o abandono, a impessoalidade e o isolamento. O artista
entrançou-os num tecido a que nos liga –, no que toca à exposição “Outras
Faces”. Escolhemos estas citações porque, de certa forma, vão de encontro aos
nossos iniciais devaneios da sensibilidade emocional.

Para os mais incautos,
convenhamos em dizer que Arlindo Pintomeira nasceu na Limiana freguesia de
Deocriste, Viana do Castelo, em 1946. É na cidade de Viana que, em 1966, realiza
a sua primeira exposição na Galeria da “Livraria Divulgação” (hoje Bertrand).
Desiste da sua formação em arquitectura e ingressa, em 1967, num dos mundos que
mais o fascinava: o da pintura. O outro era o cinema, uma paixão dos tempos do
Liceu. Vai para Lisboa, frequenta um atelier colectivo na Mouraria onde
encontra o pintor surrealista Raul Perez. Convive mais tarde com Mário
Cesariny, Cruzeiro Seixas e outros do movimento surrealista português. Anos
mais tarde, mais exactamente em 1972, e após uma curta passagem por África,
parte para Paris na companhia da pintora e modelo holandesa Marijke de Hartog que conhece em
Portugal e com quem casa em 1976, em Amesterdão. Os dois fixam-se na capital
holandesa. Abortada a possibilidade de inscrição na “Nederlandse Filmacademie”
( Academia de cinema da Holanda), razão primeira que o levou a deixar Portugal,
Pintomeira frequenta em 1978-1979 a CREA (Studentencentrum
van de Universiteit van Amsterdam) onde estuda pintura e cinema. Após
algumas exposições na Holanda, faz em 1978 a sua primeira exposição em Paris,
na “Galerie Entremonde”. No mesmo ano participa no “Salon Metamorphoses” em
homenagem a René Magritte realizado
no “Grand Palais” de Paris. Com esta participação, termina o seu período
surrealista.

Durante a década de 80,
no seu atelier em Amesterdão, Pintomeira recebe várias influências, sendo a
mais marcante a do grupo CoBrA (agregação das letras iniciais das cidades de
Copenhada, Bruxelas e Amesterdão) e do qual fazem parte grandes nomes como Karel Appel, Corneille, Asger Jorn e Lucebert. Algumas influências desse
movimento, como as texturas espessas, o desenho automático, as cores vivas e
primárias do expressionismo em combinações complementares, e ainda os motivos
simples e depurados com algumas ligações ao surrealismo e á arte primitiva,
acompanharam o artista durante grande parte da sua obra.

Na década de 90 inicia
uma fase de estilização e depuração da figura que consiste no constante
exercício e experimentação à volta do contorno, tornando-o preponderante
através do seu alargamento, prolongação e multiplicação; em 1999 Pintomeira
deixa Amesterdão e regressa a Portugal. O trabalho que realiza no seu novo
atelier no norte do país, dá origem um um vasto conjunto de obras figurativas,
ainda com influências do grupo CoBrA e que denomina de “Nova Linha”; entre 2003
e 2010, e alternando com “Nova Linha”, Pintomeira produz também um vasto
trabalho sobre tela e papel a que dá o nome de “Faces”; o ano de 2007 marca uma
viragem acentuada na sua obra figurativa. As influências CoBrA e os contornos
desaparecem. O tema “Interiores” apresenta trabalhos próximos da “Pop Art” com
influências do design gráfico. A figura está manifestamente presente e as cenas
de interiores denunciam representações teatralizadas. Neste sistema de objectos
sobressaem o palco, a tela e a encenação; em 2009 e 2010 é produzido o tema “
Outras Faces”; conjunto de obras realizadas em impressão digital e acrílico
sobre tela e que nos transportam para uma nova “Pop Art”; e, finalmente, em
2011 surge “Exteriores” que vem complementar “Interiores” produzido entre 2008
e 2009. É composto por uma série de trabalhos que reúnem figuras do quotidiano
em encenações urbanas, atravessando passadeiras de rua, onde a sinalética
rodoviária é fortemente explorada.

Terminaremos, agora
sim, recordando que desde 1966 e até à actualidade Pintomeira tem no seu
currículo uma quantidade enorme de exposições individuais, em Portugal e no
estrangeiro. Entre 1971 e 2010 participou em várias exposições colectivas,
bienais e feiras de arte, tanto em terras lusas como noutros estados europeus.
Está representado em várias colecções institucionais, colecções públicas e
privadas em diversos estados da União Europeia, nos Estados Unidos e Israel.

Aqui fica um apelo: procurem fazer uma visita às duas exposições e
deixem-se envolver pela mística das pessoas interessadas em obras de arte e não
apenas na ideia de arte. Desse mal padecemos nós, porque, infelizmente, carregamos
o “martírio” de sermos bibliófilos, condicionante circunstancial de apenas nos
ficarmos pela ideia de arte, em detrimento do interesse em obras de arte… Beati possidentes!

“Em
conclusão, podemos dizer que nesta poética da composição artística, em que
consiste «Interiores», Pintomeira isola as unidades mínimas da composição,
tentando aproximar-se, o mais que pode, das formas de vida contidas na
encenação dos objectos”.

Moisés de Lemos Martins

Pelas dezassete horas e
trinta minutos do dia 3 de Novembro, foram inauguradas duas exposições –
“Exteriores-Interiores” e “Outras Faces” –, em Viana do Castelo, do nosso
respeitável amigo e extraordinário artista Arlindo Pintomeira, nos Antigos
Paços do Concelho e na Galeria da Santa Casa da Misericórdia, respectivamente.
As duas exposições estarão patentes ao público até 31 de Dezembro, o que
significa que o envolvente à Praça da República será palco, tomando como nossas
as palavras de Moisés de Lemos Martins, da “poética da composição artística” de
Pintomeira, permitindo-nos, enquanto observadores sensíveis, explorar a
natureza das nossas próprias emoções, por temos consciência de que a expressão
bem-sucedida de uma emoção permite ao observador ganhar consciência dela; e a
noção clara de que – como um dia escreveria Nigel Warburton – “o artista mostra
aos observadores da obra de arte como expressar a emoção particular que se
encontra na obra”. Já há muito tempo que Pintomeira tem conseguido criar em nós
a útil magia da emoção, sem que para isso – e contrariando a sapiência redutora
de alguns pressupostos eruditos de Arte – tenhamos a necessidade de “desfiar
rosários” elementares ao conhecimento preconcebido, para usufruirmos da
liberdade do “gosto”, da “imaginação” e da “visão”, como corolário da velha
máxima: “a verdadeira obra existe na forma de ideias na mente do seu criador, e
na mente de quem está a apreciar a obra”. Temos vindo a apreciar a arte em
Pintomeira, valendo-nos também do factor da “imaginação”, tendo em conta que –
para R. G. Collingwood – “uma verdadeira obra de arte é uma actividade total
que a pessoa que dela desfruta apreende ou tem dela consciência pelo uso da sua
imaginação”. E esta nossa actividade imaginativa não é somente visual, mas
também emotiva, porque percepcionamos, apreendemos e deixamo-nos envolver pela
criação do artista. Mesmo que não bastasse tais “predicados”, só por isso (actividade
imaginativa) Arlindo Pintomeira é para nós um artista que nos agrada
profundamente.

Porque já nos alongamos
em demasia nas considerações “sensíveis-pessoais”, e sem nos querermos envolver
na crítica elaborada que, a nosso modesto ver, é dada “estatutariamente” ao
mundo da arte e seus entendidos, apenas nos apraz registar os bens elaborados
textos “crítico-literários” de José-Luís Ferreira (sociólogo, escritor,
investigador de arte) – A sua linguagem
pictórica, criada a partir de evidências imagéticas contextuais ou,
deliberadamente, (des)contextualizadas, adquire-se (ou provém) de um constante
e requintado exercício radical de exploração pangeométrica, buscada em
pressupostos íntimos duma génese anímica e (re)invencional da imagem de alto
contraste, com o objectivo da sua transposição, sob pretextos de equilíbrio
óptico, obedientes a um doseamento compositivo secreto (…) – e de Moisés de
Lemos Martins (professor da Universidade do Minho) – Existe hoje na pintura de Pintomeira este esplendor dos objectos, uma
poética que inscreve o humano naquilo que o não pode ser. O seu sistema de
objectos faz-nos pensar numa “autopoiesis”, que age no mundo como uma unidade
autónoma que se auto-engendra –, inseridos do catálogo da exposição
“Exteriores-Interiores”; e os de José Paulo Leite de Abreu (director do Museu
Pio XII) – Na obra de Pintomeira
sobressaem também os contornos, que focam o olhar do interlocutor, sublinham
centralidades e funcionam como útero onde se esconde e defende o essencial da
mensagem a transmitir – e de Moisés de Lemos Martins (professor da
Universidade do Minho) – Com o desenho de
linhas e o alinhamento de pontos, Pintomeira figura cordas físicas e tácteis.
As linhas, tal como os pontos alinhados em recta, são então cordas tensas,
abrigos contra o abandono, a impessoalidade e o isolamento. O artista
entrançou-os num tecido a que nos liga –, no que toca à exposição “Outras
Faces”. Escolhemos estas citações porque, de certa forma, vão de encontro aos
nossos iniciais devaneios da sensibilidade emocional.

Para os mais incautos,
convenhamos em dizer que Arlindo Pintomeira nasceu na Limiana freguesia de
Deocriste, Viana do Castelo, em 1946. É na cidade de Viana que, em 1966, realiza
a sua primeira exposição na Galeria da “Livraria Divulgação” (hoje Bertrand).
Desiste da sua formação em arquitectura e ingressa, em 1967, num dos mundos que
mais o fascinava: o da pintura. O outro era o cinema, uma paixão dos tempos do
Liceu. Vai para Lisboa, frequenta um atelier colectivo na Mouraria onde
encontra o pintor surrealista Raul Perez. Convive mais tarde com Mário
Cesariny, Cruzeiro Seixas e outros do movimento surrealista português. Anos
mais tarde, mais exactamente em 1972, e após uma curta passagem por África,
parte para Paris na companhia da pintora e modelo holandesa Marijke de Hartog que conhece em
Portugal e com quem casa em 1976, em Amesterdão. Os dois fixam-se na capital
holandesa. Abortada a possibilidade de inscrição na “Nederlandse Filmacademie”
( Academia de cinema da Holanda), razão primeira que o levou a deixar Portugal,
Pintomeira frequenta em 1978-1979 a CREA (Studentencentrum
van de Universiteit van Amsterdam) onde estuda pintura e cinema. Após
algumas exposições na Holanda, faz em 1978 a sua primeira exposição em Paris,
na “Galerie Entremonde”. No mesmo ano participa no “Salon Metamorphoses” em
homenagem a René Magritte realizado
no “Grand Palais” de Paris. Com esta participação, termina o seu período
surrealista.

Durante a década de 80,
no seu atelier em Amesterdão, Pintomeira recebe várias influências, sendo a
mais marcante a do grupo CoBrA (agregação das letras iniciais das cidades de
Copenhada, Bruxelas e Amesterdão) e do qual fazem parte grandes nomes como Karel Appel, Corneille, Asger Jorn e Lucebert. Algumas influências desse
movimento, como as texturas espessas, o desenho automático, as cores vivas e
primárias do expressionismo em combinações complementares, e ainda os motivos
simples e depurados com algumas ligações ao surrealismo e á arte primitiva,
acompanharam o artista durante grande parte da sua obra.

Na década de 90 inicia
uma fase de estilização e depuração da figura que consiste no constante
exercício e experimentação à volta do contorno, tornando-o preponderante
através do seu alargamento, prolongação e multiplicação; em 1999 Pintomeira
deixa Amesterdão e regressa a Portugal. O trabalho que realiza no seu novo
atelier no norte do país, dá origem um um vasto conjunto de obras figurativas,
ainda com influências do grupo CoBrA e que denomina de “Nova Linha”; entre 2003
e 2010, e alternando com “Nova Linha”, Pintomeira produz também um vasto
trabalho sobre tela e papel a que dá o nome de “Faces”; o ano de 2007 marca uma
viragem acentuada na sua obra figurativa. As influências CoBrA e os contornos
desaparecem. O tema “Interiores” apresenta trabalhos próximos da “Pop Art” com
influências do design gráfico. A figura está manifestamente presente e as cenas
de interiores denunciam representações teatralizadas. Neste sistema de objectos
sobressaem o palco, a tela e a encenação; em 2009 e 2010 é produzido o tema “
Outras Faces”; conjunto de obras realizadas em impressão digital e acrílico
sobre tela e que nos transportam para uma nova “Pop Art”; e, finalmente, em
2011 surge “Exteriores” que vem complementar “Interiores” produzido entre 2008
e 2009. É composto por uma série de trabalhos que reúnem figuras do quotidiano
em encenações urbanas, atravessando passadeiras de rua, onde a sinalética
rodoviária é fortemente explorada.

Terminaremos, agora
sim, recordando que desde 1966 e até à actualidade Pintomeira tem no seu
currículo uma quantidade enorme de exposições individuais, em Portugal e no
estrangeiro. Entre 1971 e 2010 participou em várias exposições colectivas,
bienais e feiras de arte, tanto em terras lusas como noutros estados europeus.
Está representado em várias colecções institucionais, colecções públicas e
privadas em diversos estados da União Europeia, nos Estados Unidos e Israel.

Aqui fica um apelo: procurem fazer uma visita às duas exposições e
deixem-se envolver pela mística das pessoas interessadas em obras de arte e não
apenas na ideia de arte. Desse mal padecemos nós, porque, infelizmente, carregamos
o “martírio” de sermos bibliófilos, condicionante circunstancial de apenas nos
ficarmos pela ideia de arte, em detrimento do interesse em obras de arte… Beati possidentes!

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