Muxicongo: Desencarnou o Professor António Eugénio Peixoto, um dos maiores impulsionadores e apaixonados pelo debate filosófico.

23-06-2020
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“Há
três espécies de homens com os quais é útil ligarmo-nos pela amizade: os homens
justos, os homens sinceros e os homens que muito aprenderam”.

Confúcio

Ao início da tarde do
dia 29 de Setembro de 2012, pela voz de um dos nossos inesquecíveis mestres (assim
o designamos pelo facto de todos nós – discentes pioneiros do Curso de
Filosofia na Universidade do Minho – nos acharmos simples peripatéticos),
Professor José Marques Fernandes, recebemos a triste – já há algum tempo
esperada – notícia da desencarnação (preferimos à macabra designação da morte)
do Professor António Eugénio Correia Braga Peixoto, emérito intelectual bracarense
e Assistente Convidado em Regime de Requisição Especial na Universidade do
Minho, onde foi nosso professor, nomeadamente nos “cadeirões” de Filosofia Moderna
e Contemporânea. Tal acontecimento é deveras constrangedor, principalmente para
todos nós que com ele convivemos afincadamente, debatendo as fronteiras do
pensamento entre Idade-Média, Idade Moderna e Contemporânea, superando – mesmo aquando
de algumas crispações da nossa parte, pelo formulado e/ou pretenso (ir)reconhecimento
da nossa própria ignorância –, ao mesmo tempo, as teorias do conhecimento, da
ciência e da lógica, a “crítica da razão pura”, a ética, estética, dialéctica, lógica
e analítica transcendentais, e o imperativo categórico em Immanuel Kant
(filósofo de “charneira” para este memorável professor); o “mundo como vontade
e representação” em Arthur Schopenhauer; o idealismo e o materialismo alemães,
perpassando por Fichte, Hegel e Karl Marx; a oposição de Kierkegaard a Hegel; a
“origem da tragédia” em Friedrich Nietzsche, etc., etc… Belos debates, lições acutilantes,
por parte de quem tinha uma desmesurada paixão pela leccionação das disciplinas
de Filosofia e pelo próprio debate filosófico. Não é por acaso que estava
indelevelmente ligado à criação e animação da “Comunidade de Leitores de
Filosofia”, da qual era o seu coordenador. 

 
           

O Professor António
Eugénio Correia Braga Peixoto, nascido na Bracara Augusta, em 3 de Julho de
1953, era licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, pós-graduado pela Universidade do Minho em Filosofia da Educação e
doutorando desta Universidade, nela tendo leccionado as disciplinas de
Filosofia Social e Política, de História das Ideias Políticas e Sociais,
Paradigmas Políticos Contemporâneos, na área de Filosofia Política; na área de
Filosofia e Cultura Portuguesa as de Mentalidade e Cultura Portuguesa, de
Pensamento Político Português e de Ideias e Estéticas no Portugal Contemporâneo.
Por isso, as áreas de interesse do Professor Eugénio Peixoto, gravitavam à
volta do Pensamento Social e Político, nomeadamente, nos seus reflexos
(recepção e difusão) na cultura portuguesa dos séculos XIX e XX, e na área das
mentalidades e da cultura portuguesa.

Outro dos factos
relevantes na vida deste incansável professor era o de ele ter sido membro da
Comissão Coordenadora do Curso Livre de Preparação para o Exame “Ad Hoc”,
responsável pela sua implantação e organização. Em Outubro de 2007, escreveríamos
na nossa crónica semanal “Impressões”, num dos jornais regionais – felizmente,
um dia destes, ressurgirá das cinzas, qual “fénix” se materializará no “Falcão
do Minho” – que colaborávamos, com o título «Universidade do Minho: antigos exames “Had Hoc” dão lugar a Cursos
Livres de Preparação», realçando o papel preponderante (de líder) do
Professor Eugénio Peixoto na iniciativa pioneira de criar Cursos Livres de
Preparação para todos aqueles que pretendessem candidatar-se ao Ensino Superior.
Destacávamos, também, o facto da Universidade do Minho, através do seu Conselho
Académico, ter criado, no ano lectivo de 2003/2004, um Curso Livre de
Preparação para o “Exame Extraordinário de Acesso ao Ensino Superior”, com base
no desafio das sociedades modernas de informação e de formação ao longo da vida.
Soubemos, mais tarde, que outras universidades e institutos politécnicos
“copiaram” este modelo, dada a sua eficácia na resposta às solicitações,
necessidades e desejos da região onde se inseriam. E o rosto de toda esta
dinâmica era o Professor Eugénio Peixoto, levando a que a Universidade do Minho
fosse pioneira nesta área.

O Professor Eugénio
Peixoto deixa uma fabulosa e/ou excepcional (talvez única) biblioteca privada,
nos domínios da filosofia, da literatura e da cultura portuguesas, a merecer a
atenção da Universidade onde leccionava com empenho. Literariamente falando,
conhecíamos-lhe – quantas conversas e segredos partilhados nos corredores da
universidade – uma assoberbada paixão por Agustina Bessa-Luís. Partilhamos da
convicção do Professor José Marques Fernandes, aquando da irreversível
constatação do seu passamento (vítima de doença prolongada) – e sempre que nos
lembrarmos das “Aulas Abertas”, dos “Colóquios”, dos “Seminários” e dos
“Simpósios” onde participava afincadamente e partilhava muito do seu
conhecimento e sabedoria, enriquecendo os debates filosóficos –, que os alunos
e professores ficarão mais órfãos, a partir daqui.

Que descanse em paz, entre os filósofos que tanto amava!

“Há
três espécies de homens com os quais é útil ligarmo-nos pela amizade: os homens
justos, os homens sinceros e os homens que muito aprenderam”.

Confúcio

Ao início da tarde do
dia 29 de Setembro de 2012, pela voz de um dos nossos inesquecíveis mestres (assim
o designamos pelo facto de todos nós – discentes pioneiros do Curso de
Filosofia na Universidade do Minho – nos acharmos simples peripatéticos),
Professor José Marques Fernandes, recebemos a triste – já há algum tempo
esperada – notícia da desencarnação (preferimos à macabra designação da morte)
do Professor António Eugénio Correia Braga Peixoto, emérito intelectual bracarense
e Assistente Convidado em Regime de Requisição Especial na Universidade do
Minho, onde foi nosso professor, nomeadamente nos “cadeirões” de Filosofia Moderna
e Contemporânea. Tal acontecimento é deveras constrangedor, principalmente para
todos nós que com ele convivemos afincadamente, debatendo as fronteiras do
pensamento entre Idade-Média, Idade Moderna e Contemporânea, superando – mesmo aquando
de algumas crispações da nossa parte, pelo formulado e/ou pretenso (ir)reconhecimento
da nossa própria ignorância –, ao mesmo tempo, as teorias do conhecimento, da
ciência e da lógica, a “crítica da razão pura”, a ética, estética, dialéctica, lógica
e analítica transcendentais, e o imperativo categórico em Immanuel Kant
(filósofo de “charneira” para este memorável professor); o “mundo como vontade
e representação” em Arthur Schopenhauer; o idealismo e o materialismo alemães,
perpassando por Fichte, Hegel e Karl Marx; a oposição de Kierkegaard a Hegel; a
“origem da tragédia” em Friedrich Nietzsche, etc., etc… Belos debates, lições acutilantes,
por parte de quem tinha uma desmesurada paixão pela leccionação das disciplinas
de Filosofia e pelo próprio debate filosófico. Não é por acaso que estava
indelevelmente ligado à criação e animação da “Comunidade de Leitores de
Filosofia”, da qual era o seu coordenador. 

 
           

O Professor António
Eugénio Correia Braga Peixoto, nascido na Bracara Augusta, em 3 de Julho de
1953, era licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, pós-graduado pela Universidade do Minho em Filosofia da Educação e
doutorando desta Universidade, nela tendo leccionado as disciplinas de
Filosofia Social e Política, de História das Ideias Políticas e Sociais,
Paradigmas Políticos Contemporâneos, na área de Filosofia Política; na área de
Filosofia e Cultura Portuguesa as de Mentalidade e Cultura Portuguesa, de
Pensamento Político Português e de Ideias e Estéticas no Portugal Contemporâneo.
Por isso, as áreas de interesse do Professor Eugénio Peixoto, gravitavam à
volta do Pensamento Social e Político, nomeadamente, nos seus reflexos
(recepção e difusão) na cultura portuguesa dos séculos XIX e XX, e na área das
mentalidades e da cultura portuguesa.

Outro dos factos
relevantes na vida deste incansável professor era o de ele ter sido membro da
Comissão Coordenadora do Curso Livre de Preparação para o Exame “Ad Hoc”,
responsável pela sua implantação e organização. Em Outubro de 2007, escreveríamos
na nossa crónica semanal “Impressões”, num dos jornais regionais – felizmente,
um dia destes, ressurgirá das cinzas, qual “fénix” se materializará no “Falcão
do Minho” – que colaborávamos, com o título «Universidade do Minho: antigos exames “Had Hoc” dão lugar a Cursos
Livres de Preparação», realçando o papel preponderante (de líder) do
Professor Eugénio Peixoto na iniciativa pioneira de criar Cursos Livres de
Preparação para todos aqueles que pretendessem candidatar-se ao Ensino Superior.
Destacávamos, também, o facto da Universidade do Minho, através do seu Conselho
Académico, ter criado, no ano lectivo de 2003/2004, um Curso Livre de
Preparação para o “Exame Extraordinário de Acesso ao Ensino Superior”, com base
no desafio das sociedades modernas de informação e de formação ao longo da vida.
Soubemos, mais tarde, que outras universidades e institutos politécnicos
“copiaram” este modelo, dada a sua eficácia na resposta às solicitações,
necessidades e desejos da região onde se inseriam. E o rosto de toda esta
dinâmica era o Professor Eugénio Peixoto, levando a que a Universidade do Minho
fosse pioneira nesta área.

O Professor Eugénio
Peixoto deixa uma fabulosa e/ou excepcional (talvez única) biblioteca privada,
nos domínios da filosofia, da literatura e da cultura portuguesas, a merecer a
atenção da Universidade onde leccionava com empenho. Literariamente falando,
conhecíamos-lhe – quantas conversas e segredos partilhados nos corredores da
universidade – uma assoberbada paixão por Agustina Bessa-Luís. Partilhamos da
convicção do Professor José Marques Fernandes, aquando da irreversível
constatação do seu passamento (vítima de doença prolongada) – e sempre que nos
lembrarmos das “Aulas Abertas”, dos “Colóquios”, dos “Seminários” e dos
“Simpósios” onde participava afincadamente e partilhava muito do seu
conhecimento e sabedoria, enriquecendo os debates filosóficos –, que os alunos
e professores ficarão mais órfãos, a partir daqui.

Que descanse em paz, entre os filósofos que tanto amava!

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