Muxicongo: V Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental!...

23-06-2020
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“Já
ninguém tem dúvidas, hoje em dia, que o diagnóstico precoce é o factor
primordial na prevenção da deficiência mental”.

António Alfredo Simões Viana

Pelo segundo ano
consecutivo, sob “égide” da Sociedade de
História Interdisciplinar da Saúde (SHIS) e colaboração científica e
institucional do Grupo de História e
Sociologia da Ciência e da Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares
do Século XX (CEIS20) da Universidade de Coimbra, participamos nas Jornadas Internacionais de História da
Psiquiatria e Saúde Mental, realizadas em Coimbra, nos dias 5 e 6 de Maio
último, jornadas essas que, há cinco anos a esta parte, visam dar continuidade
a temáticas apresentadas e aprofundar as frentes de discussão abertas desde a
primeira edição. Este ano, as mesmas articularam-se com um simpósio temático
comemorativo do centenário do médico psiquiatra Joaquim Seabra-Dinis
(1914-2014) e também com o Seminário sobre Direito, Neurociências e
Psiquiatria.

E porque seria
incomportável falar aqui de todos os participantes nas referidas Jornadas – por
onde passaram, entre outros, Kamilla Dantas Matias, Maria Miguel Brenha, Ana
Catarina Necho, Nuno Borja-Santos, Miguel Palma, Bruno Trancas, Pedro Macedo,
Filipa Veríssimo, David Simón Lorda, Emilio González Fernández, Tatiana Bustos
Cardona, María Victoria Rodríguez Noguera, Mónica Minoshka Moreira Martínez,
Miguel Angel Miguélez Silva, María Piñeiro Fraga, María José Louzao Martinez,
Vanessa Cerqueira Pujales, Tiburcio Angosto Saura, Inês Pinto da Cruz, Manuel
Correia, Maria Gabriela Marinho, Adrián Gramary, Sara Repolho, Manuel Viegas
Abreu, Paulo Archer de Carvalho –, apenas iremos fazer uma pequena síntese das
comunicações da área da Filosofia, porque enquadradas na vertente da Mente e da
Cognição: a nossa; as do Professor Doutor Manuel Curado, dado que foram duas; e
a do Mestre José António Alves.

5.ª Sessão de apresentação de comunicações e debate - Da esquerda para a direita: Professor Doutor Manuel Curado, Porfírio Silva, Doutora Inês Pinto da Cruz e Professor Doutor João Rui Pita (moderador) 

A nossa comunicação,
trouxe à coacção “António Alfredo Simões Viana: da Medicina Tropical a um olharuto
psiquiátrico sob a criança no século XX”, médico psiquiatra nascido em Viana do
Castelo (1922), reconhecido Especialista de Psiquiatria e Medicina Tropical, que
teve um papel importantíssimo nas áreas das Medicinas Tropical e Sanitária, mas
seria na área da Psiquiatria que mais se destacaria, sobretudo pelo seu olhar
psiquiátrico sob a criança. Defensor do diagnóstico precoce como factor
primordial na prevenção da deficiência mental, desejava que as histórias
clínicas dos recém-nascidos fossem completas e revelassem, deste modo, “dados concretos
a quem recorra a elas em busca de antecedentes vinculados às primeiras horas de
vida de crianças que posteriormente apresentem problemas psíquicos, motores ou
sensoriais”. Várias foram as suas intervenções em jornadas e congressos,
abordando temas como a “simulação e dissimulação de transtornos mentais” e “a
confusão mental e o seu tratamento”, gravitando na certeza de que a deficiência
mental era considerada como um dos problemas mais preocupantes, dadas as suas
múltiplas implicações quer na saúde, quer na educação ou no bem-estar de uma
nação.

Por seu lado, o
Professor Doutor Manuel Curado, começou por abordar “a vida como loucura: os
erasmistas da cultura psiquiátrica portuguesa”, dizendo que Sebastian Brant e
Erasmo de Roterdão autoraram elogios célebres da loucura. É conhecido o
trabalho que Foucault dedicou a estes dois autores. Menos conhecida é a rica
tradição dos erasmistas portugueses que se dedicaram a denunciar a vida humana
como uma manifestação de loucura. A comunicação deste ilustre docente da
Universidade do Minho, propôs-se inventariar esses vultos que já não estão no
horizonte dos debates contemporâneos sobre o alcance da ciência médica da mente
humana anómala. Em particular, foi analisado o Contra a Loucura do humanista Aires Barbosa, bem como a influência
que exerceu em vários autores portugueses até ao século XIX. A comunicação
terminou com uma reflexão sobre o valor perene, não susceptível de ser
acantonado a uma época histórica, desta tradição erasmista. Acrescentou ainda
que algumas perplexidades epistemológicas sobre a ciência psiquiátrica têm
antecedentes nesta tradição, nomeadamente a delimitação de normal e anormal, e
o problema momentoso do sentido da ciência mental como um todo. A sua segunda
comunicação foi para falar dos “semiloucos de José Saavedra”, de seu nome
completo José Nevil de Ascensão Pinto da Cunha Saavedra, que defendeu na
Universidade de Coimbra uma tese de doutoramento em Medicina com o título sugestivo
de «Os Semi-Loucos na Psichiatria, na Sociedade,
nas Lettras» (1922). Apesar de ter abandonado a docência universitária
quatro anos depois, seguindo a carreira de médico militar, este trabalho merece
ser relido e enquadrado na história da Psiquiatria portuguesa do primeiro
quartel do século XX. A comunicação do Professor Manuel Curado propôs-se, por conseguinte,
uma leitura desta obra que viu nela a continuação da influência do paradigma
oitocentista da degenerescência. Em particular, reflectiu-se sobre o perigo de
alargamento excessivo da área de actuação da Psiquiatria, contribuindo esta
para assuntos que ainda preocupam os filósofos da Medicina, como o paternalismo
médico e a medicalização excessiva da sociedade.

Mestre José António Alves apresentando a sua comunicação sobre M. Serras Pereira

Por último, o bom amigo
e doutorando da Universidade do Minho, José António Alves abordou “a Psicologia
Experimental segundo M. Serras Pereira”, sendo que o mesmo Manuel Serras
Pereira é uma figura esquecida, mas que merece um lugar na história da
psicologia em Portugal. Aluno e depois professor na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, aí apresentou três trabalhos sobre Psicologia e aí
leccionou Psicologia Geral e Psicologia Experimental nos anos lectivos de
1923-24 e 1924-25. Os trabalhos apresentados foram os seguintes: em 1920, a
tese de licenciatura com o título Da
possibilidade do método científico em Psicologia; em 1923, a tese de
doutoramento intitulada A tese
escolástica do composto humano; e, em 1925, a dissertação para concurso com
o título A função da análise quantitativa
em psicologia experimental. A tese de doutoramento terá sido inclusive a
primeira em Psicologia a ser desenvolvida nas Universidades portuguesas. A
referida comunicação propôs-se apresentar, a partir das três obras referidas, o
pensamento psicológico de Manuel Serras Pereira e enquadrá-lo no âmbito da
História da Psiquiatria em Portugal.

          Para terminar, diremos que as mesmas Jornadas contaram com a Professora
Doutora Ana Leonor Pereira (FLUC-CEIS20), Professor Doutor João Rui Pita
(FFUC-CEIS20) e Dr. José Morgado Pereira (CEIS20) na Comissão Organizadora.

“Já
ninguém tem dúvidas, hoje em dia, que o diagnóstico precoce é o factor
primordial na prevenção da deficiência mental”.

António Alfredo Simões Viana

Pelo segundo ano
consecutivo, sob “égide” da Sociedade de
História Interdisciplinar da Saúde (SHIS) e colaboração científica e
institucional do Grupo de História e
Sociologia da Ciência e da Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares
do Século XX (CEIS20) da Universidade de Coimbra, participamos nas Jornadas Internacionais de História da
Psiquiatria e Saúde Mental, realizadas em Coimbra, nos dias 5 e 6 de Maio
último, jornadas essas que, há cinco anos a esta parte, visam dar continuidade
a temáticas apresentadas e aprofundar as frentes de discussão abertas desde a
primeira edição. Este ano, as mesmas articularam-se com um simpósio temático
comemorativo do centenário do médico psiquiatra Joaquim Seabra-Dinis
(1914-2014) e também com o Seminário sobre Direito, Neurociências e
Psiquiatria.

E porque seria
incomportável falar aqui de todos os participantes nas referidas Jornadas – por
onde passaram, entre outros, Kamilla Dantas Matias, Maria Miguel Brenha, Ana
Catarina Necho, Nuno Borja-Santos, Miguel Palma, Bruno Trancas, Pedro Macedo,
Filipa Veríssimo, David Simón Lorda, Emilio González Fernández, Tatiana Bustos
Cardona, María Victoria Rodríguez Noguera, Mónica Minoshka Moreira Martínez,
Miguel Angel Miguélez Silva, María Piñeiro Fraga, María José Louzao Martinez,
Vanessa Cerqueira Pujales, Tiburcio Angosto Saura, Inês Pinto da Cruz, Manuel
Correia, Maria Gabriela Marinho, Adrián Gramary, Sara Repolho, Manuel Viegas
Abreu, Paulo Archer de Carvalho –, apenas iremos fazer uma pequena síntese das
comunicações da área da Filosofia, porque enquadradas na vertente da Mente e da
Cognição: a nossa; as do Professor Doutor Manuel Curado, dado que foram duas; e
a do Mestre José António Alves.

5.ª Sessão de apresentação de comunicações e debate - Da esquerda para a direita: Professor Doutor Manuel Curado, Porfírio Silva, Doutora Inês Pinto da Cruz e Professor Doutor João Rui Pita (moderador) 

A nossa comunicação,
trouxe à coacção “António Alfredo Simões Viana: da Medicina Tropical a um olharuto
psiquiátrico sob a criança no século XX”, médico psiquiatra nascido em Viana do
Castelo (1922), reconhecido Especialista de Psiquiatria e Medicina Tropical, que
teve um papel importantíssimo nas áreas das Medicinas Tropical e Sanitária, mas
seria na área da Psiquiatria que mais se destacaria, sobretudo pelo seu olhar
psiquiátrico sob a criança. Defensor do diagnóstico precoce como factor
primordial na prevenção da deficiência mental, desejava que as histórias
clínicas dos recém-nascidos fossem completas e revelassem, deste modo, “dados concretos
a quem recorra a elas em busca de antecedentes vinculados às primeiras horas de
vida de crianças que posteriormente apresentem problemas psíquicos, motores ou
sensoriais”. Várias foram as suas intervenções em jornadas e congressos,
abordando temas como a “simulação e dissimulação de transtornos mentais” e “a
confusão mental e o seu tratamento”, gravitando na certeza de que a deficiência
mental era considerada como um dos problemas mais preocupantes, dadas as suas
múltiplas implicações quer na saúde, quer na educação ou no bem-estar de uma
nação.

Por seu lado, o
Professor Doutor Manuel Curado, começou por abordar “a vida como loucura: os
erasmistas da cultura psiquiátrica portuguesa”, dizendo que Sebastian Brant e
Erasmo de Roterdão autoraram elogios célebres da loucura. É conhecido o
trabalho que Foucault dedicou a estes dois autores. Menos conhecida é a rica
tradição dos erasmistas portugueses que se dedicaram a denunciar a vida humana
como uma manifestação de loucura. A comunicação deste ilustre docente da
Universidade do Minho, propôs-se inventariar esses vultos que já não estão no
horizonte dos debates contemporâneos sobre o alcance da ciência médica da mente
humana anómala. Em particular, foi analisado o Contra a Loucura do humanista Aires Barbosa, bem como a influência
que exerceu em vários autores portugueses até ao século XIX. A comunicação
terminou com uma reflexão sobre o valor perene, não susceptível de ser
acantonado a uma época histórica, desta tradição erasmista. Acrescentou ainda
que algumas perplexidades epistemológicas sobre a ciência psiquiátrica têm
antecedentes nesta tradição, nomeadamente a delimitação de normal e anormal, e
o problema momentoso do sentido da ciência mental como um todo. A sua segunda
comunicação foi para falar dos “semiloucos de José Saavedra”, de seu nome
completo José Nevil de Ascensão Pinto da Cunha Saavedra, que defendeu na
Universidade de Coimbra uma tese de doutoramento em Medicina com o título sugestivo
de «Os Semi-Loucos na Psichiatria, na Sociedade,
nas Lettras» (1922). Apesar de ter abandonado a docência universitária
quatro anos depois, seguindo a carreira de médico militar, este trabalho merece
ser relido e enquadrado na história da Psiquiatria portuguesa do primeiro
quartel do século XX. A comunicação do Professor Manuel Curado propôs-se, por conseguinte,
uma leitura desta obra que viu nela a continuação da influência do paradigma
oitocentista da degenerescência. Em particular, reflectiu-se sobre o perigo de
alargamento excessivo da área de actuação da Psiquiatria, contribuindo esta
para assuntos que ainda preocupam os filósofos da Medicina, como o paternalismo
médico e a medicalização excessiva da sociedade.

Mestre José António Alves apresentando a sua comunicação sobre M. Serras Pereira

Por último, o bom amigo
e doutorando da Universidade do Minho, José António Alves abordou “a Psicologia
Experimental segundo M. Serras Pereira”, sendo que o mesmo Manuel Serras
Pereira é uma figura esquecida, mas que merece um lugar na história da
psicologia em Portugal. Aluno e depois professor na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, aí apresentou três trabalhos sobre Psicologia e aí
leccionou Psicologia Geral e Psicologia Experimental nos anos lectivos de
1923-24 e 1924-25. Os trabalhos apresentados foram os seguintes: em 1920, a
tese de licenciatura com o título Da
possibilidade do método científico em Psicologia; em 1923, a tese de
doutoramento intitulada A tese
escolástica do composto humano; e, em 1925, a dissertação para concurso com
o título A função da análise quantitativa
em psicologia experimental. A tese de doutoramento terá sido inclusive a
primeira em Psicologia a ser desenvolvida nas Universidades portuguesas. A
referida comunicação propôs-se apresentar, a partir das três obras referidas, o
pensamento psicológico de Manuel Serras Pereira e enquadrá-lo no âmbito da
História da Psiquiatria em Portugal.

          Para terminar, diremos que as mesmas Jornadas contaram com a Professora
Doutora Ana Leonor Pereira (FLUC-CEIS20), Professor Doutor João Rui Pita
(FFUC-CEIS20) e Dr. José Morgado Pereira (CEIS20) na Comissão Organizadora.

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