Muxicongo: O ensaísta e filósofo português Manuel Curado e “a consciência no mundo físico”!

28-09-2020
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“Consciência.
Esta é uma das palavras mais importantes de cada ser humano. Porquê? Porque
tudo o que fazemos, sentimos ou pensamos tem a ver com ela. Tudo mesmo? Sim,
tudo mesmo. Apenas os seres humanos em sono profundo e em coma não têm
consciência. Porém, mesmo estas duas excepções aparentes têm muito a dizer
sobre a consciência”.

Manuel Curado

Falar do Professor
Doutor Manuel Curado, pressupõe sempre alguma elevada ou dimensional veneração
intelectual da nossa parte, pelo facto de o considerarmos um dos grandes
filósofos da Filosofia da Mente e das Ciências Cognitivas, em Portugal. Ainda
que este nosso “presunçoso devaneio” possa parecer suspeito, face à nossa
condição peripatética – quantas caminhadas a par pelos corredores das
bibliotecas, da academia e encontros de circunstância, mesmo gastronomicamente
falando, nos tem aproximado irmãmente –, estaremos em dizer, mesmo contrariando
aqueles que defendem a inexistência de filosofia e filósofos portugueses (depreciando
de uma forma “ociosa/ignorante”, nomes como, entre outros, o nosso Domingos
Tarrozo, Agostinho da Silva, Álvaro de Carvalho de Sousa Ribeiro, António Braz
Teixeira, António Quadros, Pe. António Vieira, Bento de Sousa Farinha, Delfim
Santos, Edmundo Curvelo, Francisco Sanches, Joaquim de Carvalho, Leonardo
Coimbra, Luís António Verney, Pedro da Fonseca, Silvestre Pinheiro Ferreira, Teodoro
de Almeida, Uriel Acosta e Vieira da Almeida), que o Professor Doutor Manuel
Curado se nos afigura como uma das grandes promessas da filosofia em Portugal.
Para além de se dedicar à Ética Biomédica, Filosofia da Mente e à História das
Ideias, o nosso bom amigo/irmão Manuel Curado – Professor da Universidade do
Minho, Auditor de Defesa Nacional, Doutor “cum laude” pela Universidade de
Salamanca, Mestre pela Universidade Nova de Lisboa, Licenciado em Filosofia
pela Universidade Católica Portuguesa (Lisboa), Curso de Alta Direcção para a
Administração Pública, foi professor visitante em Moscovo, Rússia (“Moscow
State Institute of Internacional Relations” e “Moscow State Linguistic
University”) e em Pádua, Itália, na “Università degli Studi di Pavoa” – tem
trabalhado os seguintes assuntos: história intelectual da língua universal e da
tradução automática, o problema da consciência humana e da sua relação com o
cérebro, as relações entre a ciência e a religião, estudos de história
intelectual europeia e portuguesa, editor de obras de autores passados
(nomeadamente o matemático José Maria Dantas Pereira, o lógico Edmundo Curvelo
e outros), história da Psiquiatria e história da herança judaica portuguesa na
Medicina e na Filosofia (nomeadamente, Isaac Samuda e Jacob de Castro Sarmento)
e história das representações literárias da vida mental.

Como se nada mais
bastasse para percepcionarmos a sua verdadeira e inultrapassável dimensão
intelectual, gostaríamos de acrescentar que o Professor Manuel Curado tem vindo
a traduzir o problema difícil da consciência do seguinte modo: por que razão
existe consciência no mundo físico quando é pensável a sua não existência? A
resposta que o filósofo apresenta é a solução através da dissolução do
problema. Para ele, o argumento desenvolve-se em torno da possibilidade de
contornar o problema da consciência natural através do conhecimento científico
para produzir artificialmente a consciência. De acordo com o Professor Curado,
o problema foi solucionado não por que tenhamos respostas claras sobre o que é
a consciência, qual o papel da consciência no mundo físico, qual o poder causal
da consciência, qual a relação da consciência com o cérebro, mas porque existe
a capacidade científica para produzir artificialmente a consciência e de esta,
funcionalmente, não se distinguir da consciência natural. Prevê assim um tempo
futuro em que será impossível distinguir entre a consciência natural e
consciência produzida artificialmente. Esta impossibilidade de distinguir é
interpretada como uma condição epistémica normal que ocorre em muitas outras
situações: «O manto de ignorância sobre
os momentos do passado evolutivo que tornaram a presença da consciência no
mundo uma mais-valia para a vida dos indivíduos biológicos não impossibilita
que o problema duro seja resolvido por dissolução: a atribuição de função a
esse primeiro momento pode ser feita por analogia com a atribuição de função a
cada uma das consciências artificiais» (Curado, 2007: 266), qual “Luz
Misteriosa” nos ajuda a descodificar “a consciência no mundo físico”.

Outro factor relevante
(diríamos até, mais original) a ter em conta no pensamento filosófico do
Professor Manuel Curado é aquele em que ele se ocupa das relações entre os
crentes e o objecto da sua fé ou crença religiosa, e onde argumenta que a
relação entre o crente e Deus deve ser baseada na suposição de que existe Deus.
Contudo, esta suposição não implica necessariamente amor a Deus ou respeito a
Deus, tendo em conta que a relação entre Deus e os seres humanos é concebida de
formas muito originais. Este ilustre filósofo vê Deus como um objecto do mundo,
ao lado dos predadores contra os quais lutou o ser humano no seu passado
evolutivo, ao lado dos objectos físicos da natureza, ao lado dos objectos
preternaturais (situações inexplicáveis que ocorrem raramente na história) e ao
lado de seres ou objectos sobrenaturais (representados de modo literário,
religioso, filosófico e testemunhal desde a origem da civilização). Para Manuel
Curado “os seres humanos são adversários de Deus e de todos os outros seres que
existem no mundo físico, preternatural e sobrenatural”.

Para terminarmos,
diremos que para o Professor Manuel Curado “um outro modo de pensar a relação
dos seres humanos com os objectos que existem no mundo é a actividade
científica”, defendendo que a interpretação que se dá habitualmente da
actividade científica moderna é muito pobre. Do seu ponto de vista, compreender
o mundo é uma descrição muito pobre dessa actividade científica. Para ele, os
cientistas descrevem o mundo, evidentemente, mas também o inventam, criando
novos objectos, propondo uma contabilidade filosófica entre o mundo natural e o
mundo artificial. Do seu ponto de vista, o mundo natural está ficar mais
pequeno todos os dias e o interesse último dos seres humanos é rivalizar com
Deus: «Porquê tudo isto? Eis a resposta
óbvia: porque os seres humanos não estão interessados em deuses, nem no
sobrenatural, nem sequer no Deus supremo ou Criador. Se este assunto fosse um
negócio, diríamos que as pessoas destas organizações religiosas estão
sabiamente interessadas num negócio melhor. Qual é esse negócio? Se não é
conhecer Deus, é o quê? Todos sabemos sinceramente a resposta: o que de facto
nos interessa é sermos nós próprios deuses e, já agora, sermos melhores do que
Deus» (Curado, 2009: 96) – Simplesmente, sublime!... E fiquemo-nos por
aqui, já que, como diria Álvaro Balsas, “a ciência e a fé em Deus compõem duas
visões do mundo e da realidade, do cosmos e da vida, que se apresentam como
duas instâncias, mais que competidoras, verdadeiramente incompatíveis e em
múltiplo conflito”.

Obrigado Professor
Curado, por tudo o que tem feito por nós e pela permanente procura de respostas
para “a consciência no mundo físico”!  

“Consciência.
Esta é uma das palavras mais importantes de cada ser humano. Porquê? Porque
tudo o que fazemos, sentimos ou pensamos tem a ver com ela. Tudo mesmo? Sim,
tudo mesmo. Apenas os seres humanos em sono profundo e em coma não têm
consciência. Porém, mesmo estas duas excepções aparentes têm muito a dizer
sobre a consciência”.

Manuel Curado

Falar do Professor
Doutor Manuel Curado, pressupõe sempre alguma elevada ou dimensional veneração
intelectual da nossa parte, pelo facto de o considerarmos um dos grandes
filósofos da Filosofia da Mente e das Ciências Cognitivas, em Portugal. Ainda
que este nosso “presunçoso devaneio” possa parecer suspeito, face à nossa
condição peripatética – quantas caminhadas a par pelos corredores das
bibliotecas, da academia e encontros de circunstância, mesmo gastronomicamente
falando, nos tem aproximado irmãmente –, estaremos em dizer, mesmo contrariando
aqueles que defendem a inexistência de filosofia e filósofos portugueses (depreciando
de uma forma “ociosa/ignorante”, nomes como, entre outros, o nosso Domingos
Tarrozo, Agostinho da Silva, Álvaro de Carvalho de Sousa Ribeiro, António Braz
Teixeira, António Quadros, Pe. António Vieira, Bento de Sousa Farinha, Delfim
Santos, Edmundo Curvelo, Francisco Sanches, Joaquim de Carvalho, Leonardo
Coimbra, Luís António Verney, Pedro da Fonseca, Silvestre Pinheiro Ferreira, Teodoro
de Almeida, Uriel Acosta e Vieira da Almeida), que o Professor Doutor Manuel
Curado se nos afigura como uma das grandes promessas da filosofia em Portugal.
Para além de se dedicar à Ética Biomédica, Filosofia da Mente e à História das
Ideias, o nosso bom amigo/irmão Manuel Curado – Professor da Universidade do
Minho, Auditor de Defesa Nacional, Doutor “cum laude” pela Universidade de
Salamanca, Mestre pela Universidade Nova de Lisboa, Licenciado em Filosofia
pela Universidade Católica Portuguesa (Lisboa), Curso de Alta Direcção para a
Administração Pública, foi professor visitante em Moscovo, Rússia (“Moscow
State Institute of Internacional Relations” e “Moscow State Linguistic
University”) e em Pádua, Itália, na “Università degli Studi di Pavoa” – tem
trabalhado os seguintes assuntos: história intelectual da língua universal e da
tradução automática, o problema da consciência humana e da sua relação com o
cérebro, as relações entre a ciência e a religião, estudos de história
intelectual europeia e portuguesa, editor de obras de autores passados
(nomeadamente o matemático José Maria Dantas Pereira, o lógico Edmundo Curvelo
e outros), história da Psiquiatria e história da herança judaica portuguesa na
Medicina e na Filosofia (nomeadamente, Isaac Samuda e Jacob de Castro Sarmento)
e história das representações literárias da vida mental.

Como se nada mais
bastasse para percepcionarmos a sua verdadeira e inultrapassável dimensão
intelectual, gostaríamos de acrescentar que o Professor Manuel Curado tem vindo
a traduzir o problema difícil da consciência do seguinte modo: por que razão
existe consciência no mundo físico quando é pensável a sua não existência? A
resposta que o filósofo apresenta é a solução através da dissolução do
problema. Para ele, o argumento desenvolve-se em torno da possibilidade de
contornar o problema da consciência natural através do conhecimento científico
para produzir artificialmente a consciência. De acordo com o Professor Curado,
o problema foi solucionado não por que tenhamos respostas claras sobre o que é
a consciência, qual o papel da consciência no mundo físico, qual o poder causal
da consciência, qual a relação da consciência com o cérebro, mas porque existe
a capacidade científica para produzir artificialmente a consciência e de esta,
funcionalmente, não se distinguir da consciência natural. Prevê assim um tempo
futuro em que será impossível distinguir entre a consciência natural e
consciência produzida artificialmente. Esta impossibilidade de distinguir é
interpretada como uma condição epistémica normal que ocorre em muitas outras
situações: «O manto de ignorância sobre
os momentos do passado evolutivo que tornaram a presença da consciência no
mundo uma mais-valia para a vida dos indivíduos biológicos não impossibilita
que o problema duro seja resolvido por dissolução: a atribuição de função a
esse primeiro momento pode ser feita por analogia com a atribuição de função a
cada uma das consciências artificiais» (Curado, 2007: 266), qual “Luz
Misteriosa” nos ajuda a descodificar “a consciência no mundo físico”.

Outro factor relevante
(diríamos até, mais original) a ter em conta no pensamento filosófico do
Professor Manuel Curado é aquele em que ele se ocupa das relações entre os
crentes e o objecto da sua fé ou crença religiosa, e onde argumenta que a
relação entre o crente e Deus deve ser baseada na suposição de que existe Deus.
Contudo, esta suposição não implica necessariamente amor a Deus ou respeito a
Deus, tendo em conta que a relação entre Deus e os seres humanos é concebida de
formas muito originais. Este ilustre filósofo vê Deus como um objecto do mundo,
ao lado dos predadores contra os quais lutou o ser humano no seu passado
evolutivo, ao lado dos objectos físicos da natureza, ao lado dos objectos
preternaturais (situações inexplicáveis que ocorrem raramente na história) e ao
lado de seres ou objectos sobrenaturais (representados de modo literário,
religioso, filosófico e testemunhal desde a origem da civilização). Para Manuel
Curado “os seres humanos são adversários de Deus e de todos os outros seres que
existem no mundo físico, preternatural e sobrenatural”.

Para terminarmos,
diremos que para o Professor Manuel Curado “um outro modo de pensar a relação
dos seres humanos com os objectos que existem no mundo é a actividade
científica”, defendendo que a interpretação que se dá habitualmente da
actividade científica moderna é muito pobre. Do seu ponto de vista, compreender
o mundo é uma descrição muito pobre dessa actividade científica. Para ele, os
cientistas descrevem o mundo, evidentemente, mas também o inventam, criando
novos objectos, propondo uma contabilidade filosófica entre o mundo natural e o
mundo artificial. Do seu ponto de vista, o mundo natural está ficar mais
pequeno todos os dias e o interesse último dos seres humanos é rivalizar com
Deus: «Porquê tudo isto? Eis a resposta
óbvia: porque os seres humanos não estão interessados em deuses, nem no
sobrenatural, nem sequer no Deus supremo ou Criador. Se este assunto fosse um
negócio, diríamos que as pessoas destas organizações religiosas estão
sabiamente interessadas num negócio melhor. Qual é esse negócio? Se não é
conhecer Deus, é o quê? Todos sabemos sinceramente a resposta: o que de facto
nos interessa é sermos nós próprios deuses e, já agora, sermos melhores do que
Deus» (Curado, 2009: 96) – Simplesmente, sublime!... E fiquemo-nos por
aqui, já que, como diria Álvaro Balsas, “a ciência e a fé em Deus compõem duas
visões do mundo e da realidade, do cosmos e da vida, que se apresentam como
duas instâncias, mais que competidoras, verdadeiramente incompatíveis e em
múltiplo conflito”.

Obrigado Professor
Curado, por tudo o que tem feito por nós e pela permanente procura de respostas
para “a consciência no mundo físico”!  

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