Debaixo do Bulcão

21-06-2020
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Eis, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhesse, como penso, ainda se recordam de mim.Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzelque sente perpétua saudade daquele alcácer.Ali moravam guerreiros como leões e brancas gazelas,e em que belas silvas e em que belos covis!Quantas noites passei divertindo-me à sua sombracom mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado.Brancas e morenas que produziam na minha alma oefeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!Quantas noites passei deliciosamente frente a umrecôncavo do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corente!O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhare outras o do seu vaso, e outras o da sua boca.As cordas do seu alaúde feridas pelo plectroestremeciam-me como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.Ao retirar o seu manto, descobriu o seu talhe,florescente ramo de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.Al Mutamid (rei de Sevilha, natural de Beja, século XI)(Publicado em Debaixo do Bulcão nº16, Janeiro 2002)Mais sobre Almutamid:Guia da cidade de SilvesIslam y Al-Andalus: Andalusíes IlustresSaudi Aramco World: The Poet-King of Seville


Eis, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhesse, como penso, ainda se recordam de mim.Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzelque sente perpétua saudade daquele alcácer.Ali moravam guerreiros como leões e brancas gazelas,e em que belas silvas e em que belos covis!Quantas noites passei divertindo-me à sua sombracom mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado.Brancas e morenas que produziam na minha alma oefeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!Quantas noites passei deliciosamente frente a umrecôncavo do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corente!O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhare outras o do seu vaso, e outras o da sua boca.As cordas do seu alaúde feridas pelo plectroestremeciam-me como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.Ao retirar o seu manto, descobriu o seu talhe,florescente ramo de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.Al Mutamid (rei de Sevilha, natural de Beja, século XI)(Publicado em Debaixo do Bulcão nº16, Janeiro 2002)Mais sobre Almutamid:Guia da cidade de SilvesIslam y Al-Andalus: Andalusíes IlustresSaudi Aramco World: The Poet-King of Seville

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