As críticas do Bloco que irritaram o PCP

05-05-2020
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As farpas de Mariana Mortágua: Cavaco, Cristas e Saramago

O debate levava já mais de 90 minutos quando António Filipe interveio finalmente para fundamentar a oposição do PCP aos quatro diplomas que propunham a despenalização da morte assistida. O deputado comunista discursou durante mais de 15 minutos, sendo que o grupo parlamentar já tinha pedido dois minutos d’Os Verdes (PEV) para intervir. Acabou por esgotar o seu tempo, não assegurando margem para responder a qualquer questão que viesse a ser colocada — o contraditório previsto no regimento da Assembleia da República. Foi o que bastou para motivar a primeira crítica de Mariana Mortágua.

“Tenho pena que o senhor deputado António Filipe tenha preferido esgotar o seu tempo, não deixando tempo para debate”, começou por dizer a bloquista. Era um anúncio do que aí vinha.

No seu discurso, Mariana Mortágua acusou depois o PCP de usar uma “estratégia do medo, inventando “que a eutanásia é imposta a idosos ou a doentes mentais”. “O senhor deputado que leu os projetos e sabe que isso é uma mentira grotesca”, interpelou a bloquista.

O ataque da bloquista acabaria por atingir proporções de insulto para um partido como o PCP quando Mariana Mortágua comparou a posição dos comunistas às de Cavaco Silva, Isilda Pegado e Assunção Cristas. “A nossa diferença é sobre a escolha política. Se a consciência de Cavaco Silva, da Isilda Pegado, do deputado António Filipe ou da deputada Assunção Cristas determina que, independentemente do sofrimento, a vida só é digna se for até ao último sopro determinado por Deus ou pela sua condição física, eu respeito essa consciência”, ironizou Mortágua, provocando alguns protestos na bancada do PCP.

O golpe de misericórdia pensado por Mariana Mortágua veio pelas palavras de José Saramago, que chegou a ser um militante convicto do PCP antes de se ir afastando, progressivamente, do partido, sem que houvesse espaço, ainda assim, para uma rutura formal. Disse Mariana Mortágua: “Lembre-se das palavras de Saramago sobre Ramon Sampedro: ‘Ninguém tem o direito de dizer a uma pessoa, você vai ficar aí, ligado a esses tubos. Devemos aceitar-lhe a morte porque é isso que a pessoa quer. Não matamos, mas respeitamos quem nos diz por favor ajudem-me’”.

A intervenção de Mariana Mortágua, a mais dura crítica dirigida ao PCP na tarde de terça-feira, causou um incómodo generalizado na bancada comunista. O que aconteceu a seguir foi prova dessa tensão evidente: António Filipe fez uma interpelação à mesa, lamentando o facto de “um grupo parlamentar” ter feito uma pergunta “sabendo que não tinha tempo para responder” e perguntando se o Bloco disponibilizava algum do seu tempo para que pudesse responder.

Com Ferro Rodrigues a tentar mediar a situação, Pedro Filipe Soares acusou o comunista de “ter dado a entender” que o Bloco só tinha feito aquela intervenção por saber “de antemão que [António Filipe] não ia ter tempo para responder”. “É falso”, sugeriu. Ainda assim, os bloquistas decidiram conceder “30 segundos para a resposta”. “Agradeço encarecidamente os 30 segundos”, devolveu, ácido, António Filipe.

O deputado comunista voltou a defender a posição de princípio do PCP — a valorização da vida e o Estado como garante da dignidade em todas as fases da doença — e fez mais uma crítica implícita (e recorrente) ao Bloco de Esquerda, cuja coerência do projeto político os comunistas sempre contestaram. “Nós pensamos pela nossa cabeça e não tomamos as nossas oposições por oposição seja a quem for”, rematou António Filipe. Um duelo singular visto à lupa.

As farpas de Mariana Mortágua: Cavaco, Cristas e Saramago

O debate levava já mais de 90 minutos quando António Filipe interveio finalmente para fundamentar a oposição do PCP aos quatro diplomas que propunham a despenalização da morte assistida. O deputado comunista discursou durante mais de 15 minutos, sendo que o grupo parlamentar já tinha pedido dois minutos d’Os Verdes (PEV) para intervir. Acabou por esgotar o seu tempo, não assegurando margem para responder a qualquer questão que viesse a ser colocada — o contraditório previsto no regimento da Assembleia da República. Foi o que bastou para motivar a primeira crítica de Mariana Mortágua.

“Tenho pena que o senhor deputado António Filipe tenha preferido esgotar o seu tempo, não deixando tempo para debate”, começou por dizer a bloquista. Era um anúncio do que aí vinha.

No seu discurso, Mariana Mortágua acusou depois o PCP de usar uma “estratégia do medo, inventando “que a eutanásia é imposta a idosos ou a doentes mentais”. “O senhor deputado que leu os projetos e sabe que isso é uma mentira grotesca”, interpelou a bloquista.

O ataque da bloquista acabaria por atingir proporções de insulto para um partido como o PCP quando Mariana Mortágua comparou a posição dos comunistas às de Cavaco Silva, Isilda Pegado e Assunção Cristas. “A nossa diferença é sobre a escolha política. Se a consciência de Cavaco Silva, da Isilda Pegado, do deputado António Filipe ou da deputada Assunção Cristas determina que, independentemente do sofrimento, a vida só é digna se for até ao último sopro determinado por Deus ou pela sua condição física, eu respeito essa consciência”, ironizou Mortágua, provocando alguns protestos na bancada do PCP.

O golpe de misericórdia pensado por Mariana Mortágua veio pelas palavras de José Saramago, que chegou a ser um militante convicto do PCP antes de se ir afastando, progressivamente, do partido, sem que houvesse espaço, ainda assim, para uma rutura formal. Disse Mariana Mortágua: “Lembre-se das palavras de Saramago sobre Ramon Sampedro: ‘Ninguém tem o direito de dizer a uma pessoa, você vai ficar aí, ligado a esses tubos. Devemos aceitar-lhe a morte porque é isso que a pessoa quer. Não matamos, mas respeitamos quem nos diz por favor ajudem-me’”.

A intervenção de Mariana Mortágua, a mais dura crítica dirigida ao PCP na tarde de terça-feira, causou um incómodo generalizado na bancada comunista. O que aconteceu a seguir foi prova dessa tensão evidente: António Filipe fez uma interpelação à mesa, lamentando o facto de “um grupo parlamentar” ter feito uma pergunta “sabendo que não tinha tempo para responder” e perguntando se o Bloco disponibilizava algum do seu tempo para que pudesse responder.

Com Ferro Rodrigues a tentar mediar a situação, Pedro Filipe Soares acusou o comunista de “ter dado a entender” que o Bloco só tinha feito aquela intervenção por saber “de antemão que [António Filipe] não ia ter tempo para responder”. “É falso”, sugeriu. Ainda assim, os bloquistas decidiram conceder “30 segundos para a resposta”. “Agradeço encarecidamente os 30 segundos”, devolveu, ácido, António Filipe.

O deputado comunista voltou a defender a posição de princípio do PCP — a valorização da vida e o Estado como garante da dignidade em todas as fases da doença — e fez mais uma crítica implícita (e recorrente) ao Bloco de Esquerda, cuja coerência do projeto político os comunistas sempre contestaram. “Nós pensamos pela nossa cabeça e não tomamos as nossas oposições por oposição seja a quem for”, rematou António Filipe. Um duelo singular visto à lupa.

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