Nós os Poucos...

23-06-2020
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1. Todos os anos, desde 2012, a Federação Portuguesa
Pela Vida organiza a Caminhada Pela Vida. São milhares de pessoas que
descem à rua para se manifestar publicamente pela defesa da Vida desde o
momento da concepção até à morte natural. No ano passado foram mais de 4
mil só em Lisboa, a juntar às centenas que caminharam em Aveiro e no
Porto. Este ano a Caminhada Pela Vida irá realizar-se em mais duas
cidades: Braga e Aveiro.

Na Caminhada pela Vida foi lançada a Iniciativa Legislativa
de Cidadãos “Pelo Direito a Nascer” que recolheu mais de 50 mil
assinaturas e resultou numa lei aprovada pelo parlamento e cuja
revogação foi decidida pela “gerigonça” no primeiro dia da nova
legislatura. Foi na Caminhada pela Vida que se lançou a petição “Toda a
Vida tem Dignidade” que, após recolher quase quinze mil assinaturas,
continua à espera de ser debatida no Parlamento. Foi na Caminhada pela
Vida que começou a campanha contra a eutanásia que incluiu dezenas de
sessões de esclarecimento, vigílias por todo o país e uma grande
manifestação contra a eutanásia no dia 29 de Maio.

A Caminhada
pela Vida é apenas a face mais visível do activismo cívico pró-vida em
Portugal. Na última década a Federação Portuguesa Pela Vida, assim como
outras associações e grupos cívicos, têm mantido uma enérgica actividade
na defesa dos seus ideais. Conferências, petições, sessões de
esclarecimento, seminários, estudos. Num país onde escasseia o activismo
cívico, a causa da defesa da vida tem demonstrado uma rara vivacidade.

2.
Infelizmente esta actividade tem sido invisível para a maior parte dos
portugueses.  Invisível porque ignorado pela esmagadora maioria da
comunicação social. Mesmo num país onde o activismo cívico é raro, a
comunicação social parece nunca reparar quando um grupo de cidadãos se
organiza para defender o valor da Vida Humana. Na comunicação social
portuguesa parece não haver espaço para a política para além da
partidária. De facto, as iniciativas pró-vida só são parcamente
noticiadas quando acontecem durante um debate iniciado pelos partidos.

E para provar o que afirmo não preciso de ir muito longe, basta referir três acontecimentos do último ano.

O
primeiro: a Caminhada pela Vida, já acima descrita, que apesar de
juntar milhares de pessoas, de se realizar em várias cidades do país, de
acontecer no contexto do debate da eutanásia, conseguiu ser ignorada
pela esmagadora maioria da comunicação social.

O segundo: o
congresso sobre a eutanásia organizado pela Universidade Católica, a
Rádio Renascença e a Federação Portuguesa Pela Vida, que contou com a
presença de grandes académicos portugueses como o Professor Germano de
Sousa ou o Professor Miguel Oliveira e Silva e com o especialista
holandês Professor Theo Boer. Organizado um mês antes da discussão da
legalização da morte a pedido no parlamento não mereceu qualquer tipo de
cobertura da comunicação social.

Por fim, a cobertura após a
derrota da legalização da morte a pedido. Os telejornais dessa noite
limitaram-se a cinco minutos sobre o tema, preenchidos quase totalmente
com declarações dos partidos derrotados, aparentemente sem espaço para
os movimentos cívicos que realizaram uma grande campanha nacional em
defesa da Vida.

3. Mas mais grave do que o
silêncio da comunicação social é a falta de representatividade política
do movimento pró-vida nos partidos.

Nos últimos 20 anos o Bloco de
Esquerda tem dominado a agenda dos chamados “temas fracturantes” em
Portugal. O Bloco faz uma política baseada num activismo cívico que tem
dominado completamente a agenda do parlamento no que respeita às
questões da Vida e da Família. Nestes mesmos vinte anos os partidos de
centro esquerda e centro direita (com honrosas excepções no CDS) varia
entre uma vaga defesa dos valores da Vida e da Família e uma verdadeira
rendição à agenda do Bloco.

E repare-se que não estou a acusar o
Bloco de nada: eles têm uma agenda pública, defendem-na sem medo e sem
problema algum de utilizar os meios ao seu alcance para a levar por
diante.

O problema é mesmo o PS e o PSD que se tornaram reféns
desta agenda. O PS simplesmente cedeu à agenda fracturante, tornando-se
refém de Isabel Moreira, Pedro Delgado Alves e seus companheiros. Em
questões fracturantes já nada hoje distingue o PS do Bloco.

O PSD
tem-se mantido mais neutro, mas incapaz de combater esta agenda. Basta
lembra que a adopção por pessoas do mesmo sexo foi aprovada com 19 votos
do PSD e que as barrigas de aluguer tiveram direito a uma proposta de
lei desse partido. Se já no PS é claro que há uma separação entre os
eleitores mais conservadores nos costumes e o seu grupo parlamentar, no
PSD é cada vez mais evidente que entre as bases e o grupo parlamentar
existe uma separação cada vez maior nestes temas.

4.
Muito se tem discutido sobre os populismos no nosso tempo. Fenómenos
como Trump nos Estado Unidos ou, mais recentemente, Bolsonaro no Brasil
têm apanhado de surpresa a maior parte dos jornalistas, comentadores e
políticos. Não admira. É sinal evidente que existe uma separação cada
vez maior entre estas elites e o povo.

Parte desta separação está
na população pró-vida, que (não apenas em Portugal) é ignorada e
desprezada pela comunicação social e pelos políticos. De tal modo que
muitos dos apoiantes desta causa, frustrados pela invisibilidade do seu
trabalho, acabam lá fora por aderir a líderes demagogos que, por ideal
ou conveniência (maioritariamente por conveniência) juntam os temas
pró-vida a um discurso de revolta contra as elites. De tal modo que
conseguem chamar a si, apesar das suas contradições e fraquezas, boa
parte daqueles que activamente defendem as causas da vida.

Os
movimentos pró-vida em Portugal não têm até agora sido submetidos a essa
tentação. Para nós é claro que a dignidade da Vida Humana é um bem não
apenas no seu inicio e no seu fim, mas também em todas as fases do seu
desenvolvimento. Não aderimos por isso a discursos que defendem a Vida
por nascer, mas não o fazem depois do nascimento. Contudo sentimos e
notamos entre nós uma frustração crescente pela constante invisibilidade
a que o nosso trabalho é votado pela comunicação social e pelos
políticos.

5. Vamos entrar em ano de eleições.
Primeiro europeias, depois legislativas. Para garantir que o povo
pró-vida não volta a ver as suas perspectivas iludidas pelos partidos
que supostamente partilham dos nossos ideais para conseguir os votos,
mas que os renegam depois na Assembleia da República, a Federação
Portuguesa pela Vida vai lançar um questionário a todos os partidos e
cabeças de listas que concorrerem às duas eleições. Nesse questionário
será perguntado de maneira clara qual a sua posição sobre os temas que
movem os movimentos pró-vida.

Assim saberemos com clareza quem de
facto defende a causa da Vida na política, assim saberemos com o que
contamos quando formos votar. Aquando da discussão da eutanásia o
Professor Cavaco Silva falou em duas armas: a voz e o voto. A nossa voz
temo-la usado muitas vezes nos últimos anos e somos das poucas forças
políticas e cívicas em Portugal que não receia descer à rua. O nosso
voto iremos usá-lo no próximo ano denunciando aqueles que promovem a
cultura da morte e apoiando aqueles que se comprometeram a colocar a
Vida em primeiro lugar.

Membro da direcção da Federação Portuguesa pela Vida.

1. Todos os anos, desde 2012, a Federação Portuguesa
Pela Vida organiza a Caminhada Pela Vida. São milhares de pessoas que
descem à rua para se manifestar publicamente pela defesa da Vida desde o
momento da concepção até à morte natural. No ano passado foram mais de 4
mil só em Lisboa, a juntar às centenas que caminharam em Aveiro e no
Porto. Este ano a Caminhada Pela Vida irá realizar-se em mais duas
cidades: Braga e Aveiro.

Na Caminhada pela Vida foi lançada a Iniciativa Legislativa
de Cidadãos “Pelo Direito a Nascer” que recolheu mais de 50 mil
assinaturas e resultou numa lei aprovada pelo parlamento e cuja
revogação foi decidida pela “gerigonça” no primeiro dia da nova
legislatura. Foi na Caminhada pela Vida que se lançou a petição “Toda a
Vida tem Dignidade” que, após recolher quase quinze mil assinaturas,
continua à espera de ser debatida no Parlamento. Foi na Caminhada pela
Vida que começou a campanha contra a eutanásia que incluiu dezenas de
sessões de esclarecimento, vigílias por todo o país e uma grande
manifestação contra a eutanásia no dia 29 de Maio.

A Caminhada
pela Vida é apenas a face mais visível do activismo cívico pró-vida em
Portugal. Na última década a Federação Portuguesa Pela Vida, assim como
outras associações e grupos cívicos, têm mantido uma enérgica actividade
na defesa dos seus ideais. Conferências, petições, sessões de
esclarecimento, seminários, estudos. Num país onde escasseia o activismo
cívico, a causa da defesa da vida tem demonstrado uma rara vivacidade.

2.
Infelizmente esta actividade tem sido invisível para a maior parte dos
portugueses.  Invisível porque ignorado pela esmagadora maioria da
comunicação social. Mesmo num país onde o activismo cívico é raro, a
comunicação social parece nunca reparar quando um grupo de cidadãos se
organiza para defender o valor da Vida Humana. Na comunicação social
portuguesa parece não haver espaço para a política para além da
partidária. De facto, as iniciativas pró-vida só são parcamente
noticiadas quando acontecem durante um debate iniciado pelos partidos.

E para provar o que afirmo não preciso de ir muito longe, basta referir três acontecimentos do último ano.

O
primeiro: a Caminhada pela Vida, já acima descrita, que apesar de
juntar milhares de pessoas, de se realizar em várias cidades do país, de
acontecer no contexto do debate da eutanásia, conseguiu ser ignorada
pela esmagadora maioria da comunicação social.

O segundo: o
congresso sobre a eutanásia organizado pela Universidade Católica, a
Rádio Renascença e a Federação Portuguesa Pela Vida, que contou com a
presença de grandes académicos portugueses como o Professor Germano de
Sousa ou o Professor Miguel Oliveira e Silva e com o especialista
holandês Professor Theo Boer. Organizado um mês antes da discussão da
legalização da morte a pedido no parlamento não mereceu qualquer tipo de
cobertura da comunicação social.

Por fim, a cobertura após a
derrota da legalização da morte a pedido. Os telejornais dessa noite
limitaram-se a cinco minutos sobre o tema, preenchidos quase totalmente
com declarações dos partidos derrotados, aparentemente sem espaço para
os movimentos cívicos que realizaram uma grande campanha nacional em
defesa da Vida.

3. Mas mais grave do que o
silêncio da comunicação social é a falta de representatividade política
do movimento pró-vida nos partidos.

Nos últimos 20 anos o Bloco de
Esquerda tem dominado a agenda dos chamados “temas fracturantes” em
Portugal. O Bloco faz uma política baseada num activismo cívico que tem
dominado completamente a agenda do parlamento no que respeita às
questões da Vida e da Família. Nestes mesmos vinte anos os partidos de
centro esquerda e centro direita (com honrosas excepções no CDS) varia
entre uma vaga defesa dos valores da Vida e da Família e uma verdadeira
rendição à agenda do Bloco.

E repare-se que não estou a acusar o
Bloco de nada: eles têm uma agenda pública, defendem-na sem medo e sem
problema algum de utilizar os meios ao seu alcance para a levar por
diante.

O problema é mesmo o PS e o PSD que se tornaram reféns
desta agenda. O PS simplesmente cedeu à agenda fracturante, tornando-se
refém de Isabel Moreira, Pedro Delgado Alves e seus companheiros. Em
questões fracturantes já nada hoje distingue o PS do Bloco.

O PSD
tem-se mantido mais neutro, mas incapaz de combater esta agenda. Basta
lembra que a adopção por pessoas do mesmo sexo foi aprovada com 19 votos
do PSD e que as barrigas de aluguer tiveram direito a uma proposta de
lei desse partido. Se já no PS é claro que há uma separação entre os
eleitores mais conservadores nos costumes e o seu grupo parlamentar, no
PSD é cada vez mais evidente que entre as bases e o grupo parlamentar
existe uma separação cada vez maior nestes temas.

4.
Muito se tem discutido sobre os populismos no nosso tempo. Fenómenos
como Trump nos Estado Unidos ou, mais recentemente, Bolsonaro no Brasil
têm apanhado de surpresa a maior parte dos jornalistas, comentadores e
políticos. Não admira. É sinal evidente que existe uma separação cada
vez maior entre estas elites e o povo.

Parte desta separação está
na população pró-vida, que (não apenas em Portugal) é ignorada e
desprezada pela comunicação social e pelos políticos. De tal modo que
muitos dos apoiantes desta causa, frustrados pela invisibilidade do seu
trabalho, acabam lá fora por aderir a líderes demagogos que, por ideal
ou conveniência (maioritariamente por conveniência) juntam os temas
pró-vida a um discurso de revolta contra as elites. De tal modo que
conseguem chamar a si, apesar das suas contradições e fraquezas, boa
parte daqueles que activamente defendem as causas da vida.

Os
movimentos pró-vida em Portugal não têm até agora sido submetidos a essa
tentação. Para nós é claro que a dignidade da Vida Humana é um bem não
apenas no seu inicio e no seu fim, mas também em todas as fases do seu
desenvolvimento. Não aderimos por isso a discursos que defendem a Vida
por nascer, mas não o fazem depois do nascimento. Contudo sentimos e
notamos entre nós uma frustração crescente pela constante invisibilidade
a que o nosso trabalho é votado pela comunicação social e pelos
políticos.

5. Vamos entrar em ano de eleições.
Primeiro europeias, depois legislativas. Para garantir que o povo
pró-vida não volta a ver as suas perspectivas iludidas pelos partidos
que supostamente partilham dos nossos ideais para conseguir os votos,
mas que os renegam depois na Assembleia da República, a Federação
Portuguesa pela Vida vai lançar um questionário a todos os partidos e
cabeças de listas que concorrerem às duas eleições. Nesse questionário
será perguntado de maneira clara qual a sua posição sobre os temas que
movem os movimentos pró-vida.

Assim saberemos com clareza quem de
facto defende a causa da Vida na política, assim saberemos com o que
contamos quando formos votar. Aquando da discussão da eutanásia o
Professor Cavaco Silva falou em duas armas: a voz e o voto. A nossa voz
temo-la usado muitas vezes nos últimos anos e somos das poucas forças
políticas e cívicas em Portugal que não receia descer à rua. O nosso
voto iremos usá-lo no próximo ano denunciando aqueles que promovem a
cultura da morte e apoiando aqueles que se comprometeram a colocar a
Vida em primeiro lugar.

Membro da direcção da Federação Portuguesa pela Vida.

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